quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012


Zahra Noorbakhsh tinha 14 anos quando sua mãe, imigrante iraniana, descobriu que Zahra estava desafiando a proibição familiar de se misturar com meninos. Havia um deles no grupo de quatro amigos que ia com ela ao cinema, toda semana. Por isso, a conversa sobre educação sexual, que em outra vida, na cidade sagrada de Qom, esperaria até a noite de núpcias, acabou acontecendo no estacionamento de carros de um shopping da Califórnia. "Zahra, você tem um buraco", começou a mãe. "Pelo resto da sua vida, os homens vão querer colocar seus pênis no seu buraco. Não importa quem você seja, qual seja a sua aparência e quem seja o seu 'amigo'." A conversa é narrada em uma nova antologia de ensaios sobre paquera, namoro e sexo, publicada recentemente sob o título "Love, InshAllah: The Secret Love Lives of American Muslim Women" ("Amor, se Deus Quiser: as Vidas Amorosas Secretas das Muçulmanas Americanas"). As duas editoras, Ayesha Mattu e Nura Maznavi, queriam fazer um livro que contrariasse o estereótipo das muçulmanas como mulheres caladas e oprimidas. Elas reuniram 24 relatos que expõem um grupo que, em alguns casos, é mantido literalmente velado, mas que também ilustra como as muçulmanas que vivem nos Estados Unidos lidam com questões universais. "Pensam em nós como sendo submissas e dadas a casamento com homenzarrões barbudos", disse Mattu, 39, consultora de desenvolvimento internacional. "Enquanto a realidade é que a maioria das muçulmanas americanas é criativa, divertida, inteligente e cheia de opinião", acrescentou. Embora as editoras, americanas filhas de imigrantes, buscassem combater a tendência da sociedade a ver todos os muçulmanos como extremistas, elas também esbarraram no tabu cultural contra a descrição pública de assuntos privados. "Dentro da comunidade muçulmana dos EUA, não tem havido espaço para que as mulheres falem abertamente sobre suas vidas amorosas", disse Maznavi, 33, advogada de direitos civis.
As autoras solicitaram o envio de textos, principalmente via Facebook e Twitter, peneirando algumas centenas deles até chegarem a uma coleção que representasse mulheres de diversas idades, profissões e orientações sexuais, com origens que iam da África Oriental ao Paquistão, passando pelo Oriente Médio. Muitas questões são específicas da religião, como o que fazer quando o seu namorado a presenteia com uma garrafa de champanhe, e você precisa explicar que os muçulmanos são abstêmios. Mesmo em famílias não muito praticantes, muitas mulheres muçulmanas se deparam com a questão do sexo antes do casamento. Uma judia convertida ao islã contou sobre a dor de se afastar do pai, e outra colaboradora falou com entusiasmo sobre a entrada em uma família que praticava a poligamia. O volume inclui apenas uma história realmente triste, a de uma mulher abandonada por seu noivo italiano, que condenava sua fé por tachar todos os muçulmanos de terroristas. "Há esse medo de que lhe digam: 'Eu falei, você não deveria ter abandonado sua fé'", disse a mulher. Muitas autoras disseram que, ao colocar suas experiências no papel, tinham noção de que poderiam estar dando munição a quem qualifica todos os muçulmanos como antiamericanos. "É duplamente difícil para as muçulmanas, porque queremos nos queixar sobre os nossos homens sem que todo mundo se vire e diga: 'Olha, eu sabia que eram todos terroristas loucos'", disse Noorbakhsh, hoje uma comediante de 31 anos, que depois de descrever sua educação sexual conta detalhes sobre a perda da virgindade na faculdade. "Você fica vulnerável às pessoas usando a sua voz para atacar a comunidade, por isso meio que censuramos nossas próprias vozes."

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