domingo, 1 de julho de 2012

Não resta muito tempo para a rebelião tuaregue malinesa do Movimento Nacional de Libertação do Azawad (MNLA) evitar ser expulsa pelos grupos armados islamitas do norte do país, nem muito espaço para recuperar as forças em uma região cuja secessão foi proclamada por seus líderes políticos no dia 6 de abril. Seu secretário-geral, Bilal Ag Cherif, ferido no rosto em Gao na terça-feira (26), foi levado para Burkina Fasso. Seus combatentes, nas horas seguintes, foram expulsos pelo Mujao (Movimento pela Unidade e pelo Jihad na África Ocidental) das três posições que ocupavam na cidade, da qual eles queriam fazer sua “capital”. Em Timbuktu, o MNLA havia sido intimado a deixar suas posições nos limites da cidade pelo Ansar Eddine, aliado da Al-Qaeda no Magreb Islâmico (AQMI). Na quinta-feira (28) à noite ele saiu do aeroporto. Restam ao MNLA “bolsões” em cidades secundárias, que não é o suficiente para sobreviver frente à quantidade de movimentos jihadistas que exigem a imposição da sharia ou sonham, como a AQMI, instalar um emirado de onde se conduziria o jihad. A menos que haja uma surpresa, será recriada uma “união sagrada” tuaregue. Se ele não quiser desaparecer, o MNLA deverá se restabelecer, através da força, em uma das três cidades do norte do Mali. Timbuktu e Kidal parecem fora de alcance, então seria preciso que fosse Gao. Na sexta-feira de manhã (29), surgiram informações de que comboios do MNLA estariam a caminho dessa cidade saindo de pelo menos dois bolsões onde a rebelião ainda tem influência, na região de Ménaka e de Niafunké. Se eles conseguirem chegar a Gao, onde o MNLA instalou seu conselho de transição do Estado de Azawad, eles estarão sendo esperados resolutamente pelo Mujao, cujo porta-voz, Adnane Aby Wali Sahraoui, declarou à Agence France Presse: “Nós os perseguiremos em qualquer lugar até a derrota final desse movimento (o MNLA)”. Apresentado originalmente como uma “dissidência” da AQMI, esse movimento é uma aliança complexa. O Mujao é primeiramente um grupo jihadista que reúne combatentes de diversas nacionalidades. Ele realiza a captura de reféns para a AQMI de forma “terceirizada”, como observam os negociadores de várias nacionalidades envolvidas nas libertações de reféns ocidentais. O Mujao é constituído também de milícias “árabes” locais. Alguns de seus líderes têm ligações com os grandes narcotraficantes, acreditam fontes bem informadas. Mas a ideia da criação do Azawad lhes inspira repulsa e seus combatentes estendem bandeiras malinesas ao lado de suas bandeiras negras islamitas. Em Gao, o Mujao e seus companheiros de estrada da AQMI empregaram nos últimos meses grandes esforços para conquistar os moradores da cidade quando esta caiu nas mãos de grupos rebeldes, no início de abril. “Eles têm muito, muito dinheiro”, conta uma fonte. Pagamentos a associações locais, distribuição de ajuda alimentar – sendo que parte dela teria sido desviada do Programa Alimentar Mundial, segundo uma fonte humanitária - , o Mujao também estendeu sua influência se aproveitando dos abusos (estupros e roubos) dos combatentes do MNLA. Além disso, o MNLA perdeu sua vantagem do início que eram seus estoques de armas, entre elas baterias de Grads (foguetes montados sobre veículos), levados da Líbia durante a queda de seu empregador na época, Muammar Gaddafi. Hama Ag Sid’Hamed, porta-voz do conselho de transição do MNLA, reconhece: “Nossos homens venderam suas armas e suas munições para o Mujao. Dizíamos a eles, não vendam, vocês ficarão desarmados e, pior ainda, essas armas logo serão voltadas contra vocês! Mas como explicar isso para quem não tem nada?” O MNLA está sem recursos financeiros, ao contrário dos movimentos islamitas, cujos caixas foram alimentados pelas tomadas de reféns, mas também pelos tráficos que estão nas mãos de uma “máfia” que não teme as relações com os jihadistas. A cocaína, os cigarros proibidos e a gasolina racionada acabam entrando em Azawad e não é o MNLA, ao que tudo indica, que recebe essa fortuna. No dia 26 de maio, o MNLA, já em dificuldades, havia tentado assinar um acordo com o Ansar Eddine para instaurar um Estado islâmico do Azawad. Texto rapidamente desaprovado pelas duas partes, em razão de diferenças internas e de pressões de países da região. Desde então, Burkina Fasso vem tentando organizar em Uagadugu as premissas de negociações entre os dois grupos armados. “Não há negociações, há grupos que estão tentando se escutar. Nada foi proposto”, corrige Hama Ag Sid’Hamed, acrescentando que “as conversas não foram rompidas”. Para dar prosseguimento a elas, o MNLA precisa provar que ainda existe.

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