sexta-feira, 11 de outubro de 2013

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Após a "falta" de Barack Obama, retido em Washington em razão da crise orçamentária americana, a China não teve dificuldades em exercer o papel principal nas diferentes cúpulas regionais e internacionais realizadas esta semana no Sudeste Asiático.
Para os países da região, cujos sentimentos em relação à ascensão chinesa continuam divididos, a ausência de Barack Obama, após as postergações deste último na questão da Síria, faz com que eles se perguntem quão verdadeira seria essa vontade dos americanos de reinvestirem na Ásia após o parêntese de Bush, que havia ignorado amplamente esse continente.
Seria Washington realmente um aliado com o qual se pode contar? É o que alguns se perguntam no Sudeste Asiático, diante daquilo que é visto como uma dificuldade, da parte de Obama em seu segundo mandato, de tomar decisões firmes e se ater a elas.
A cúpula dos países membros da Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (Apec) terminou na terça-feira (8), em Bali, na Indonésia. Ela foi seguida do encontro anual, na quarta-feira, dos dez chefes de Estado dos membros da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean) no emirado de Brunei. Depois, na quinta-feira pela manhã, ainda no emirado, a cúpula do Sudeste Asiático reuniu, como a cada ano, os russos, os americanos, os japoneses e os chineses com seus colegas da região. A semana diplomática foi pesada e o cancelamento da vinda de Barack Obama, substituído pelo secretário de Estado, John Kerry, amplamente comentado.

Barack Obama se destacou ainda mais por sua ausência pelo fato de que seu homólogo chinês, Xi Jinping, acabara de visitar dois países-chaves da região, a Indonésia e a Malásia. Dirigindo-se ao parlamento indonésio, Xi, também líder do Partido Comunista Chinês, prometeu, na quinta-feira (3), que o montante das trocas comerciais da China com a Asean chegaria a US$ 1 trilhão (R$ 2,18 trilhões) até 2020.
Todos os países da região, com exceção das Filipinas, já têm a China como principal parceiro econômico. No dia seguinte, em Kuala Lumpur, capital da Malásia, o dirigente chinês também reiterou a vontade de Pequim de "apoiar o papel central da Asean". A maior parte dos países do Sudeste Asiático vê o lugar ocupado agora pela China ao mesmo tempo como uma bênção e uma ameaça.
A Malásia, o Vietnã, as Filipinas e Brunei --sem falar de Taiwan--, na verdade, estão em conflito com a China sobre questões de soberania de arquipélagos situados no Mar do Sul da China. Para eles, o "guarda-chuva" americano e o fato de Barack Obama ter anunciado que redirecionaria 60% da capacidade marítima da U.S. Navy para a Ásia, constituíam uma garantia de segurança regional. Essa estratégia visava aumentar a presença militar americana na região empregando os navios o mais perto possível da zona de operações, evitando assim as duas semanas de travessia a partir da costa oeste americana.
Agora, Washington não fala mais em redirecionamento, mas sim em "reequilíbrio", e a crise orçamentária e suas consequências preocupam os dirigentes da Asean. Para Simon Tay, presidente do Instituto de Relações Internacionais de Cingapura, "a decisão de Obama de cancelar sua ida às cúpulas poderia ser o sinal da quebra das promessas desse 'redirecionamento'". Charles Morrison, presidente do East-West Center de Honolulu, acredita que esse "episódio da crise orçamentária faz pensar se o sistema político americano está realmente funcionando bem e se os Estados Unidos são capazes de manter uma posição de liderança".
A maneira como os chineses apostaram na moderação durante as cúpulas, esta semana, teria sido a contrapartida da percepção de uma suposta perda de influência americana. Em Brunei, na quarta-feira, Pequim deixou de lado sua agressividade a respeito de suas reivindicações territoriais. "Devemos trabalhar juntos para fazer do Mar do Sul da China um mar de paz, de amizade e de cooperação", declarou o novo primeiro-ministro chinês, Li Keqiang.
No dia 4 de setembro, Li havia esboçado essa nova abordagem ao prometer ao Sudeste Asiático uma "década de diamantes", ou seja, prosperidade econômica, após a "década dourada" que acabara de passar. No entanto, a China havia redobrado sua agressividade contra a Asean nos meses que antecederam a nomeação de Xi Jinping à liderança do partido, em novembro de 2012. Os chineses haviam provado que possuíam esse "mare nostrum" legalmente.
Mas os momentos de tensão orquestrados por Pequim seguem ciclos, dependendo das iniciativas americanas e das necessidades da política interna. Por enquanto, o momento parece ser de pacificação no Sudeste Asiático, enquanto a China compete com o Japão no nordeste da Ásia. Tóquio e Pequim reivindicam a soberania sobre as ilhas de Senkaku, chamadas de Diaoyu pelos chineses.

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