Após a "falta" de Barack Obama, retido em Washington em razão da crise
orçamentária americana, a China não teve dificuldades em exercer o papel
principal nas diferentes cúpulas regionais e internacionais realizadas
esta semana no Sudeste Asiático.
Para os países da região, cujos sentimentos em relação à ascensão
chinesa continuam divididos, a ausência de Barack Obama, após as
postergações deste último na questão da Síria, faz com que eles se
perguntem quão verdadeira seria essa vontade dos americanos de
reinvestirem na Ásia após o parêntese de Bush, que havia ignorado
amplamente esse continente.
Seria Washington realmente um aliado com o qual se pode contar? É o que
alguns se perguntam no Sudeste Asiático, diante daquilo que é visto
como uma dificuldade, da parte de Obama em seu segundo mandato, de tomar
decisões firmes e se ater a elas.
A cúpula dos países membros da Cooperação Econômica da Ásia e do
Pacífico (Apec) terminou na terça-feira (8), em Bali, na Indonésia. Ela
foi seguida do encontro anual, na quarta-feira, dos dez chefes de Estado
dos membros da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean) no
emirado de Brunei. Depois, na quinta-feira pela manhã, ainda no emirado,
a cúpula do Sudeste Asiático reuniu, como a cada ano, os russos, os
americanos, os japoneses e os chineses com seus colegas da região. A
semana diplomática foi pesada e o cancelamento da vinda de Barack Obama,
substituído pelo secretário de Estado, John Kerry, amplamente
comentado.
Barack Obama se destacou ainda mais por sua ausência pelo fato de que
seu homólogo chinês, Xi Jinping, acabara de visitar dois países-chaves
da região, a Indonésia e a Malásia. Dirigindo-se ao parlamento
indonésio, Xi, também líder do Partido Comunista Chinês, prometeu, na
quinta-feira (3), que o montante das trocas comerciais da China com a
Asean chegaria a US$ 1 trilhão (R$ 2,18 trilhões) até 2020.
Todos os países da região, com exceção das Filipinas, já têm a China
como principal parceiro econômico. No dia seguinte, em Kuala Lumpur,
capital da Malásia, o dirigente chinês também reiterou a vontade de
Pequim de "apoiar o papel central da Asean". A maior parte dos países do
Sudeste Asiático vê o lugar ocupado agora pela China ao mesmo tempo
como uma bênção e uma ameaça.
A Malásia, o Vietnã, as Filipinas e Brunei --sem falar de Taiwan--, na
verdade, estão em conflito com a China sobre questões de soberania de
arquipélagos situados no Mar do Sul da China. Para eles, o
"guarda-chuva" americano e o fato de Barack Obama ter anunciado que
redirecionaria 60% da capacidade marítima da U.S. Navy para a Ásia,
constituíam uma garantia de segurança regional. Essa estratégia visava
aumentar a presença militar americana na região empregando os navios o
mais perto possível da zona de operações, evitando assim as duas semanas
de travessia a partir da costa oeste americana.
Agora, Washington não fala mais em redirecionamento, mas sim em
"reequilíbrio", e a crise orçamentária e suas consequências preocupam os
dirigentes da Asean. Para Simon Tay, presidente do Instituto de
Relações Internacionais de Cingapura, "a decisão de Obama de cancelar
sua ida às cúpulas poderia ser o sinal da quebra das promessas desse
'redirecionamento'". Charles Morrison, presidente do East-West Center de
Honolulu, acredita que esse "episódio da crise orçamentária faz pensar
se o sistema político americano está realmente funcionando bem e se os
Estados Unidos são capazes de manter uma posição de liderança".
A maneira como os chineses apostaram na moderação durante as cúpulas,
esta semana, teria sido a contrapartida da percepção de uma suposta
perda de influência americana. Em Brunei, na quarta-feira, Pequim deixou
de lado sua agressividade a respeito de suas reivindicações
territoriais. "Devemos trabalhar juntos para fazer do Mar do Sul da
China um mar de paz, de amizade e de cooperação", declarou o novo
primeiro-ministro chinês, Li Keqiang.
No dia 4 de setembro, Li havia esboçado essa nova abordagem ao prometer
ao Sudeste Asiático uma "década de diamantes", ou seja, prosperidade
econômica, após a "década dourada" que acabara de passar. No entanto, a
China havia redobrado sua agressividade contra a Asean nos meses que
antecederam a nomeação de Xi Jinping à liderança do partido, em novembro
de 2012. Os chineses haviam provado que possuíam esse "mare nostrum"
legalmente.
Mas os momentos de tensão orquestrados por Pequim seguem ciclos,
dependendo das iniciativas americanas e das necessidades da política
interna. Por enquanto, o momento parece ser de pacificação no Sudeste
Asiático, enquanto a China compete com o Japão no nordeste da Ásia.
Tóquio e Pequim reivindicam a soberania sobre as ilhas de Senkaku,
chamadas de Diaoyu pelos chineses.
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