sexta-feira, 11 de outubro de 2013

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O encontro aconteceu em um lugar discreto, longe dos olhares, como ele havia pedido. Falar com jornalistas é arriscado: os empregadores estão nervosos e poderiam fazer disso um pretexto para demissões. "É como no caso de acidentes de trabalho, existe uma solidariedade coletiva: se não for muito grave, eles são escondidos para que não haja problemas com a seguridade social", explica um dos "liquidadores" da usina nuclear de Fukushima, encarregados de proteger e desmantelar as instalações.
O homem de 30 e poucos anos trabalhava em uma empresa terceirizada da usina no momento do acidente que ocorreu após o tsunami do dia 11 de março de 2011. Depois disso, o contrato de sua empresa não foi renovado. Ele acaba de retomar o trabalho no local. "A situação dos trabalhadores melhorou no sentido da segurança, mas o nível salarial baixou e há cada vez menos gente qualificada", ele conta, pedindo que seu nome não seja mencionado.
"A qualidade do trabalho deixa a desejar, pois a direção pede que se ande mais rápido, mas os rapazes não têm experiência suficiente. Às vezes eles nem mesmo conhecem o nome das ferramentas", comenta um contramestre de uma empresa de inspeção de radioatividade que comanda cerca de 50 operários. "As equipes mudam com frequência. Há uma rotatividade obrigatória porque os operários que receberam a taxa máxima de radiação por ano, 50 millisieverts --a norma internacional é de 20 mSv/ano para trabalhadores do setor nuclear--, devem deixar a área, mas outros vão embora antes porque se consideram muito mal pagos. Se não formarmos rapidamente operários qualificados e confiáveis, não poderemos ir mais rápido e fazer um bom trabalho. Faltam até mesmo chefes de equipe qualificados. Os trabalhos muitas vezes são falhos e descuidados."
Essas deficiências explicam, em parte, os vazamentos de água contaminada que se proliferaram nos últimos meses. Nossos interlocutores sorriem: "Os vazamentos? Eles existiam há muito tempo, mas não se falava deles. Foi só depois das eleições senatoriais de julho que a grande mídia os revelou!"
Mesmo os funcionários contratados diretamente pela Tokyo Electric Power Company (Tepco), a operadora da usina, deixaram a empresa em razão da insuficiência dos salários e de adicionais de risco ou do não pagamento de horas extras. "Faltam braços na usina. Há mais de mil ofertas de emprego na província de Fukushima: nem um quarto dessas vagas é preenchido", explica o vice-diretor da agência de empregos de Iwaki. Os trabalhos de descontaminação menos perigosos e a perspectiva dos Jogos Olímpicos de Tóquio em 2020 estão drenando a mão de obra para outros lugares, em detrimento da usina acidentada.

São pouco mais de 3.000 trabalhando na usina: 1.400 vivem em J-Village --Japan Football Village, um complexo esportivo da Tepco transformado em abrigo para os operários-- e os outros, cerca de 1.600, nos arredores, em albergues ou alojamentos provisórios construídos em estacionamentos diante dos quais se alinham os mini-ônibus que os levam de volta a J-Village à noite. Eles vão até a usina, a uma dezena de quilômetros, e voltam em uma van especial.
Uma parte dos liquidadores são originários da região --em alguns casos, são agricultores expulsos de suas lavouras situadas em zona contaminada. Os outros vêm dos quatro cantos do Japão, até mesmo de Okinawa, mais de 2.000 quilômetros ao sul. A contratação se opera através de uma cascata de terceirizados: de seis a oito intermediários, dependendo da categoria de trabalho.
"Para os três primeiros, os terceirizados diretos da Tepco que são grandes empresas, é possível saber como são efetuadas as contratações, mas nos níveis inferiores, é muito difícil", comenta Hiroyuki Watanabe, vereador comunista em Iwaki, que organizou um serviço de aconselhamento para os funcionários da usina. "Tem-se a impressão de que o Japão, país tecnologicamente avançado, utiliza os métodos mais sofisticados, com seus robôs, na usina acidentada, mas a realidade é diferente. Muitas vezes se usa material antigo, pois uma vez contaminado, ele se torna inutilizável."
O pessoal menos qualificado não recebe proteção suficiente e é vítima de "descontos" em seus salários pelos intermediários que os contrataram. No final, recebem somente 6 mil ienes (R$ 133) por dia. "As conversas com os trabalhadores revelam um descontentamento e uma preocupação latente daqueles que estão mais expostos. Alguns tentam trapacear no limite de exposição cumulativa de radiação para continuar trabalhando o maior tempo possível", explica Watanabe. Eles escondem seu dosímetro em um lugar pouco contaminado para reduzir o nível de radiação registrado ao longo de um dia.
As empresas queriam baixar o limite de 50 para 20 mSv/ano, "mas os operários resistem porque eles querem trabalho. Ao mesmo tempo, ficam amargurados por se sentirem isolados do resto do país. Tóquio é indiferente às condições deles", diz Watanabe. No J-Village há cartas expostas de estudantes enviadas de todo o país para encorajá-los.
A época de bons salários, no desespero do ano que se seguiu à catástrofe com o fluxo de trabalhadores e, na esteira, os prostíbulos nas cidades do entorno, se foi. Os funcionários da usina permanecem enclausurados nos dormitórios pré-fabricados de suas empresas ou nos albergues da região. Cidades mortas, como Hirono, a uma dezena de quilômetros ao sul da usina.
Evacuada, a pequena cidade foi reaberta em agosto de 2012. É a última parada da ferrovia que vai para o norte, que é interrompida. Cerca de mil habitantes voltaram, dentre os 5.800 de antes do desastre. As escolas estão vazias. A maior parte das casas está fechada e as portas de ferro das lojas, abaixadas. No início da noite, a rua principal fica fracamente iluminada, soturna. O único sinal luminoso é o do bistrô Maehama. A pequena sala no primeiro andar está quase vazia. "Perdemos os clientes regulares", lamenta o dono. "Os trabalhadores não vêm mais. Eles compram comida nos mercadinhos na beira da estrada."
Os liquidadores moram nas casas alugadas pelos proprietários que não querem mais viver ali. Eles são vistos somente no comecinho da manhã e no fim do dia, subindo e descendo dos mini-ônibus. O desmantelamento da usina provavelmente levará uns quarenta anos: serão necessários dezenas de milhares de "peões" como esses, invisíveis e vulneráveis.

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