segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Folha de São Paulo
Segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Vida noturna floresce no Azerbaijão

Capital do país asiático, Baku sedia maior torneio mundial de DJs, vive proliferação de boates e visa turista europeu
Nas pistas de dança da cidade, ex-soviética e de maioria muçulmana, coreografias misturam break e dança folclórica
CLAUDIA ASSEF COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE BAKU (AZERBAIJÃO) A mistura de história milenar com uma "modernidade ostentação" bancada principalmente pelo petróleo grita aos olhos de quem visita Baku, a capital do Azerbaijão, pela primeira vez.
Durante o dia, a dica é passear pelas ruelas da Cidade Fortificada, que abriga dois patrimônios da humanidade, e visitar lojinhas de bugigangas onde senhores com dentes de ouro tentam se comunicar com turistas em inglês.
À noite, o quente é ir a algum clube noturno da cidade, turbinado por DJs que tocam de hits pop a house music e pista de dança onde se veem coreografias que fundem passos de break com dança folclórica.
"Em Baku a cena noturna está crescendo bastante", diz o ídolo local DJ Twist, codinome de Akper Annaghiyev. Ele foi um dos finalistas do Thre3Style, maior campeonato de DJs do mundo, sediado no país no início deste mês --DJ Twist já venceu três vezes esse torneio.
Neste ano, a quinta edição do torneio teve uma DJ brasileira, a paulistana Cinara Martins --primeira mulher a chegar a uma final-- entre os seis melhores do mundo.
O alemão Eskei83 foi eleito campeão na final do torneio, que ocorreu no sábado (6) na suntuosa casa de shows Crystal Hall, diante de um público de cerca de 3.000 azeris. Ele foi escolhido por um corpo de jurados composto por alguns dos melhores DJs do mundo, entre eles o inglês Krafty Kuts e os americanos Jazzy Jeff e Qbert.
EFERVESCÊNCIA
Ao longo de cinco noites de batalhas entre os 20 DJs finalistas do Thre3style, a vida noturna da cidade ferveu, graças a um público local carismático e muito dançarino.
"Estamos começando também uma cena de produção de música eletrônica. Tudo é muito recente, mas por aqui tudo está acontecendo muito rápido. Baku ainda não tem uma cultura enraizada de clubes noturnos, mas acho que estamos caminhando para isso", diz Twist.
O povo que lota casas noturnas locais como Pasifico, Eleven e The Public é jovem e parece querer romper com algumas limitações impostas pela religião muçulmana, praticada por mais de 90% dos azeris. Por isso, são vistas poucas meninas usando lenços na cabeça. Na noite de Baku vale até usar minissaia e sensualizar na pista.
"As pessoas gostam muito de exibir seus passos de dança, realmente damos duro na pista", afirma o estudante de tecnologia Akim Guliyev, 17.
Os passos misturam movimentos que lembram os de b-boys (como são conhecidos os dançarinos de break) com danças típicas do país.
CONEXÃO EUROPA
"Gostamos de dançar, de garotas, de curtir. Nos sentimos bem próximos da Europa agora e estamos gostando disso", resumiu um rapaz encostado numa Mercedes estacionada na porta da The Public, na noite em que a brasileira Cinara ganhou a etapa eliminatória.
A proximidade com a Europa tem motivações econômicas. Com dinheiro do petróleo oriundo da exploração do combustível fóssil em terra e no mar, o Azerbaijão virou o primo rico da região do Cáucaso, uma das fronteiras entre os continentes asiático e europeu. O boom ocorreu em meados dos anos 2000, com a inauguração de um gasoduto que incrementou o escoamento da produção do país.
O Azerbaijão, que pertenceu à União Soviética até 1991, tem sua história marcada por invasões e massacres: árabes, persas, mongóis, russos, armênios, otomanos ou turcos de olho no ouro negro dominaram o país em diferentes épocas, deixando nítida uma herança multiétnica e cultural nos costumes e também nos traços da população.
Agora, há uma profusão de prédios cheirando a fita inaugural recém-cortada, como o impressionante Heydar Aliyev Centre, um museu projetado pela arquiteta iraquiana Zaha Hadid.
Há ainda as Flame Towers, conjunto de três prédios que imitam o fogo eterno, um dos símbolos do Azerbaijão. O fogo é um elemento sagrado no zoroastrismo, religião fundada na região e uma das mais antigas da humanidade.

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