O governo de Mianmar indicou nesta sexta-feira (15) que não acolherá de
volta os milhares de membros da minoria rohingya que fugiram do país em
embarcações clandestinas e que, rejeitados por países vizinhos, foram
abandonados em alto-mar por contrabandistas.
O Sudeste Asiático enfrenta uma crise de migração que foi intensificada
pela repressão regional ao contrabando ilegal. A OIM (Organização
Internacional para as Migrações) estima que até 8.000 imigrantes de
Mianmar e de Bangladesh estejam à deriva.
"A maioria das vítimas de tráfico humano alega ser de Mianmar. Isso é
muito fácil e conveniente para eles", disse o porta-voz do governo
birmanês, Ye Htut. "Não se pode dizer que os imigrantes vieram de
Mianmar sem que possamos identificá-los."
Mianmar também ameaçou não ir a uma cúpula sobre o tema na Tailândia no dia 29 caso seja citada a questão dos rohingyas.
Os muçulmanos rohingya são uma minoria étnica em Mianmar, que os
considera imigrantes bengaleses clandestinos e impede que tenham
direitos como casamento civil, liberdade de locomoção e posse de terra.
A ONU (Organização das Nações Unidas) os considera uma das minorias mais
perseguidas do planeta. Nos últimos três anos, 120 mil rohingyas
fugiram de Mianmar em busca de asilo em países da região --a Malásia,
principal destino dos imigrantes, recebeu mais de 45 mil pessoas e diz
não poder abrigar outras.
A Malásia, assim como a Indonésia e a Tailândia, vem recebendo pressão
internacional para acolher os imigrantes e resolver a crise.
Com a ajuda de pescadores, 790 imigrantes que estavam naufragando em um
barco conseguiram chegar nesta sexta à costa da Indonésia.
Segundo a OIM, o governo indonésio pediu ajuda do órgão para receber os
imigrantes, cuja embarcação havia sido abandonada e rebocada pela
Tailândia até as águas do país. No grupo, havia cerca de 370 rohingyas.
Outros barcos foram rejeitados por Malásia e Tailândia, apesar de as
Nações Unidas terem pedido aos países do Sudeste Asiático que
resgatassem os refugiados.
O abandono por parte das autoridades dos países da região e dos capitães
das embarcações agrava a situação humanitária desses migrantes em
alto-mar.
Manu Abudul Salam, 19, uma das rohingyas resgatados pelos pescadores,
relatou situações que vivenciou em sua embarcação. A falta de comida e
de água provocou brigas entre os imigrantes. Em uma delas, o seu irmão
mais velho foi morto.
"Se eu soubesse que a viagem de barco seria tão horrorosa, eu teria preferido simplesmente morrer em Mianmar", disse ela.
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