"Terremotos não matam as pessoas", dizem os sismólogos. "Os prédios é que matam."
Um forte terremoto atingiu o Nepal nesta terça, 17 dias após o abalo de
magnitude 7,8 que derrubou imóveis. Os dois voltaram a demonstrar essa
obviedade.
Mas para Brian Tucker, fundador de uma ONG chamada GeoHazards
International, dois terremotos no final da década de 1980 foram
inspiradores.
Em 1988, um sismo de magnitude 6,8 devastou a Armênia, então parte da União Soviética.
O número oficial de mortos foi de 25 mil, mas estimativas extraoficiais apontam para 40 mil.
Dez meses depois, um tremor de magnitude 6,9 ocorreu ao sul de San
Francisco, afetando mais ou menos o mesmo número de pessoas que no
terremoto armênio. Apenas 63 morreram.
"Fiquei chocado com isso", disse Tucker. "Meio que confirmou a minha intuição da enorme disparidade na letalidade dos abalos."
Em lugares como a Califórnia e o Japão, é padrão que as construções
sejam resistentes a terremotos. Em outros, as leis de construção civil
são negligentes, e os construtores fazem gambiarras.
"Achei que deveríamos descobrir uma forma de exportar essas práticas
-adaptando-as, é claro- a países em desenvolvimento que estivessem
realmente sob risco", disse Tucker, cuja ONG atualmente ajuda países em
desenvolvimento a se prepararem melhor para terremotos.
Em Aizawl, no nordeste da Índia -uma região propensa a terremotos-, a
GeoHazards convenceu a prefeitura a proibir a construção de casas em
morros suscetíveis a deslizamentos.
Katmandu, a capital do Nepal, estava no topo da lista de prioridades da GeoHazards.
A cidade fica em cima da faixa onde o subcontinente indiano está sendo empurrado para baixo da placa tectônica eurasiana.
A GeoHazards ajudou a criar uma ONG local, chamada Sociedade Nacional
para a Tecnologia de Terremotos -Nepal, que agiu para adequar escolas e
hospitais, treinar socorristas e conscientizar a população sobre os
cuidados necessários. "Acho que eles salvaram vidas", disse Tucker.
As mais de 8.000 mortes registradas no tremor de 25 de abril no Nepal foram menos que muitos temiam para um forte terremoto.
"Eles fizeram um trabalho fabuloso durante décadas, projetos que fazem a
diferença, como a adaptação de escolas e o treinamento a construtores
de vários países", disse a sismóloga Susan Hough, do Departamento de
Pesquisas Geológicas dos EUA, referindo-se à GeoHazards.
Durante terremotos, os alunos em áreas vulneráveis são instruídos a se
abrigarem sob suas carteiras, mas isso de pouco adianta se o móvel não
resistir à queda de destroços do teto.
O terremoto do mês passado no Nepal ocorreu num sábado, quando as
escolas estavam vazias. Mas, em Sichuan (China), em 2008, milhares de
crianças e professores morreram esmagados em escolas que desabaram en um
abalo de magnitude 8,0.
Cerca de um mês atrás, Tucker orientou Arthur Brutter, aluno da Academia
Bezalel de Artes e Design, em Jerusalém, na criação de uma carteira à
prova de terremotos, com tampo capaz de resistir a uma tonelada de peso,
mas custando apenas US$ 70.
Na cidade indonésia de Padang, a GeoHazards coordena um projeto para
criar um platô de terra, com 7 metros de altura, onde até 20 mil pessoas
poderiam se refugiar em caso de tsunami.
"O progresso é lento", disse Tucker. "Sinto como se estivesse escrevendo
a eles por causa desse terremoto no Nepal e lhes dizendo: 'Gente, isso
vai acontecer na sua cidade'."
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