As empresas americanas de tecnologia querem desesperadamente conquistar pessoas como Rakesh Padachuri e sua família.
Padachuri, dono de uma construtora, usa seu smartphone para comprar
ingressos de cinema pelo BookMyShow e para pedir pizzas da rede
Domino’s. Sua mulher, Vasavi, encomenda roupas da Myntra e da
Amazon.com. Sua cunhada Sonika gosta de publicar selfies no Facebook e
acompanha no YouTube a comediante indo-canadense Lilly Singh.
Todos eles se mantêm em contato pelo WhatsApp, serviço gratuito de
mensagens que pertence ao Facebook. “Não há necessidade de ligarmos uns
para os outros”, disse Padachuri. Mal há necessidade, aliás, de sair de
casa, já que mantimentos, bolos de aniversário e até um cabeleireiro
podem ser trazidos por aplicativo.
O amor da família Padachuri pela tecnologia ajuda a explicar por que a
Índia e os seus 1,25 bilhão de habitantes se tornaram a mais atrativa
oportunidade de crescimento —a nova China— para empresas de internet dos
EUA.
“Elas estão olhando para a Índia e pensando: ‘Há cinco anos, era a
China, e eu provavelmente perdi o trem por lá. Agora eu tenho uma chance
de conseguir’”, disse Punit Soni, ex-executivo do Google que
recentemente foi atraído de volta à Índia para se tornar diretor de
produto da Flipkart, start-up de comércio eletrônico com sede em
Bangalore.
Dois anos atrás, a ascensão da Índia como nação digital era difícil
de imaginar. A penetração da internet era modesta, as redes de telefonia
celular eram exasperantemente lentas e os smartphones eram exceção.
Desde 2013, no entanto, o número de usuários de smartphones disparou
na Índia, devendo chegar a 168 milhões neste ano, segundo estimativas da
empresa de pesquisas eMarketer, que prevê um total de 277 milhões de
usuários da internet no país.
A Índia já realiza mais buscas via celular no Google do que qualquer
outro país, com exceção dos EUA. No entanto, “mal começamos a arranhar a
superfície da disponibilidade da internet para as massas”, disse Amit
Singhal, vice-presidente-sênior de buscas do Google, que emigrou da
Índia para os EUA há 25 anos.
Os indianos sempre adoraram a internet, sendo responsáveis por grande
parte do crescimento inicial de redes sociais como o Friendster.
Portanto, não surpreende que o Facebook já tenha 132 milhões de usuários
indianos, ficando atrás apenas dos EUA.
Como parte de uma ampla iniciativa chamada internet.org, o Facebook
também está colaborando com uma operadora de celular local para oferecer
um pacote de serviços gratuitos, incluindo notícias, listas de empregos
e versões do Messenger e do próprio Facebook apenas com textos, para
quem não tem condições de pagar um plano de dados.
Embora o faturamento por enquanto seja pequeno, as empresas da
internet dizem que estão mirando no longo prazo, concentrando-se em
trazer cada vez mais pessoas para a rede com a intenção de lucrar mais
tarde.
O Google, por exemplo, quer que 500 milhões de indianos estejam
on-line até 2017. A maioria desses recém-chegados usará telefones com o
sistema operacional Android, do Google, que responde pela maior parte do
mercado indiano de smartphones. Isso permitirá que o Google exponha
esses usuários a outros serviços seus, como o YouTube, assim como a
anúncios.
O esforço para levar mais indianos à internet, porém, obriga as
empresas de tecnologia a rever premissas fundamentais. Apenas um em cada
seis indianos sabe inglês o suficiente para navegar num site nesse
idioma, mas há poucos sites em hindi e nas outras 21 línguas oficiais da
Índia.
Para lidar com as deficiências nas conexões de dados na Índia, o
Google está comprimindo sites em seus servidores para que usem 80% menos
dados, o que permite que sejam carregados quatro vezes mais rápido.
É claro que nada disso importa para quem jamais usou a internet. Para
alcançar esse contingente, o Google formou uma parceria com a Intel e
com uma instituição beneficente local para enviar tutoras que ensinem
rudimentos tecnológicos a mulheres em milhares de aldeias rurais.
A imaturidade do mercado de internet permite que empresas como o
Twitter, que tem apenas 20 milhões de usuários no país, tratem a Índia
como um laboratório. “É um mercado onde podemos fazer testes”, disse
Pathak Amiya, diretor de gestão de produto do Twitter. “A gente
experimenta primeiro na Índia. Se dá certo, levamos para outros
mercados.”
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