Horas depois que o presidente Recep Tayyip Erdogan criticou um
importante jornal local, um bando furioso se dirigiu à sede da
publicação, onde destruiu janelas, proferiu insultos e tentou invadir o
prédio.
Dois dias depois, enquanto o governo mantinha silêncio sobre o
episódio, Erdogan atacou o jornal pela segunda vez, criticando seus
funcionários por supostamente distorcerem suas palavras em uma postagem
no Twitter. Esse ataque produziu uma segunda onda de protestos
violentos, levando o editor do jornal a fugir do edifício e a fazer um
pedido ao vivo pela televisão de intervenção policial.
“Sou jornalista há 40 anos, e é a primeira vez que sou submetido a um
ataque envolvendo paus e pedras”, disse Sedat Ergin, editor-chefe do
“Hurriyet”, um dos mais influentes jornais da Turquia. “Se nosso jornal
está sendo fisicamente atacado pela segunda vez em 48 horas por grupos
violentos, devemos admitir que é uma questão de segurança para nossa
vida.”
Os ataques fazem parte de uma campanha crescente de intimidação
contra a mídia de oposição no país. Recentemente, três jornalistas
estrangeiros foram deportados da Turquia; dezenas de pessoas foram
investigadas por acusações de insultar o presidente; e uma revista e
organização de mídia de oposição foram invadidas, com alguns de seus
executivos investigados por acusações de terrorismo.
Mesmo para a Turquia, conhecida por ser um ambiente hostil para
jornalistas e estar em 149º lugar entre 180 países no índice de
liberdade de imprensa da Repórteres Sem Fronteiras, as batidas foram
ferozes, demonstrando uma nova tendência de ataques violentos inspirados
por políticos turcos.
“O constante declínio da Turquia em liberdade de imprensa se acelerou
desde o mês passado”, escreveu em um e-mail, em setembro, a
coordenadora de programa para Europa e Ásia Central do Comitê de
Proteção a Jornalistas, Nina Ognianova.
Um dos líderes do primeiro protesto contra o “Hurriyet”, em 6 de
setembro, foi Abdurrahim Boynukalin, deputado do Partido Justiça e
Desenvolvimento, no governo. Em um discurso diante dos escritórios do
jornal, ele prometeu fazer de Erdogan um presidente poderoso ao garantir
que seu partido ganhe a maioria absoluta na próxima eleição em
novembro.
Em um vídeo que veio à tona depois do episódio, Boynukalin é visto
falando com um grupo de seguidores, lamentando-se por não ter atacado
antes os jornalistas do “Hurriyet”. “Nosso erro foi não os ter espancado
mais cedo.”
Jornalista a favor do governo participaram da campanha de difamação.
Em uma coluna no mês passado, Cem Kucuk, do jornal “Star”, acusou o
veterano colunista do “Hurriyet” Ahmet Hakan de apoiar rebeldes curdos
que combatem as forças do governo na instável região sudeste do país.
“Poderíamos esmagá-lo como uma mosca, se quiséssemos”, escreveu Kucuk.
“Fomos misericordiosos até hoje e você continua vivo.”
O primeiro-ministro Ahmet Davutoglu manifestou sua desaprovação ao
ataque ao “Hurriyet”, mas grupos de direitos da mídia criticaram o
governo por demorar a dar uma resposta.
Analistas dizem que a tática de intimidação parece estar funcionando.
Alguns veículos passaram a censurar a cobertura da escalada de
violência no sudeste curdo por medo de serem processados por terrorismo.
Apesar disso, depois dos ataques ao “Hurriyet”, a presidente do jornal,
Vuslat Dogan Sabanci, reuniu a equipe editorial e prometeu continuar
produzindo jornalismo independente. “Nossos leitores devem saber uma
coisa: sofrer ataques de intimidação por grupos que usam paus e pedras
não vai nos assustar”, disse ela.
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