PARA O PRÓXIMO SEMESTRE DOS ENCONTROS DO CEO ESTÁ DISPONÍVEL CÓPIA DE ALTERNATIVES: DEBATING THEATRE CULTURE IN THE AGE OF CON-FUSION NA PASTA 285 DO XEROX DA CAFIL NA PUC-SP.
terça-feira, 29 de junho de 2010
O governo chinês proibiu os soldados do país de procurar namoradas na internet, com medo de vazamento de dados confidenciais, informou ontem a mídia estatal.
A medida está forçando as autoridades do Exército a pensar em maneiras de agir como "cupido" para seus subordinados.
Segundo o jornal "China Daily", a Regulamentação de Assuntos Internos do Exército -assinada pelo presidente Hu Jintao no início do mês e em vigor desde o dia 15- proíbe os soldados de buscar parceiros e empregos ou mesmo fazer amigos on-line.
Escrever em sites e blogs também é vetado, sob a justificativa de que "pessoas com segundas intenções podem usar as informações pessoais dos soldados e ameaçar a segurança do Exército", disse o comandante Yang Jigui.
"A divulgação de segredos militares pela internet tem sido [um problema] sério nos últimos anos, em especial informações sobre armas", disse um coronel aposentado pedindo anonimato.
Um dos casos que alarmaram os militares foi o de um soldado solteiro de 32 anos que recebeu cartas de mais de 30 garotas após sua família colocar seu perfil na internet, na tentativa de ajudá-lo a conseguir uma namorada.
Yang disse que entendia a angústia da família do soldado. "Eles [militares] defendem as fronteiras a maior parte do ano e têm poucas oportunidades de fazer contato com o mundo exterior."
Por conta disso, os comandantes dos 2,3 milhões de membros do Exército Popular de Libertação estão estudando formas de ajudar os soldados solteiros.
Yang afirma ter feito uma reunião, no dia 17, para discutir internamente o problema e pedir que departamentos civis chineses e a Federação de Mulheres do Partido Comunista ajudem a identificar potenciais parceiras para os militares, segundo a imprensa local.
Apesar da proibição oficial, uma busca do "China Daily" na internet, anteontem, encontrou um servidor com diversos sites pessoais contendo informações sobre soldados.
Enquanto isso, na Província de Hainan (sul), um paramilitar organizou uma festa para que oficiais solteiros do Exército pudessem encontrar namoradas.
A medida está forçando as autoridades do Exército a pensar em maneiras de agir como "cupido" para seus subordinados.
Segundo o jornal "China Daily", a Regulamentação de Assuntos Internos do Exército -assinada pelo presidente Hu Jintao no início do mês e em vigor desde o dia 15- proíbe os soldados de buscar parceiros e empregos ou mesmo fazer amigos on-line.
Escrever em sites e blogs também é vetado, sob a justificativa de que "pessoas com segundas intenções podem usar as informações pessoais dos soldados e ameaçar a segurança do Exército", disse o comandante Yang Jigui.
"A divulgação de segredos militares pela internet tem sido [um problema] sério nos últimos anos, em especial informações sobre armas", disse um coronel aposentado pedindo anonimato.
Um dos casos que alarmaram os militares foi o de um soldado solteiro de 32 anos que recebeu cartas de mais de 30 garotas após sua família colocar seu perfil na internet, na tentativa de ajudá-lo a conseguir uma namorada.
Yang disse que entendia a angústia da família do soldado. "Eles [militares] defendem as fronteiras a maior parte do ano e têm poucas oportunidades de fazer contato com o mundo exterior."
Por conta disso, os comandantes dos 2,3 milhões de membros do Exército Popular de Libertação estão estudando formas de ajudar os soldados solteiros.
Yang afirma ter feito uma reunião, no dia 17, para discutir internamente o problema e pedir que departamentos civis chineses e a Federação de Mulheres do Partido Comunista ajudem a identificar potenciais parceiras para os militares, segundo a imprensa local.
Apesar da proibição oficial, uma busca do "China Daily" na internet, anteontem, encontrou um servidor com diversos sites pessoais contendo informações sobre soldados.
Enquanto isso, na Província de Hainan (sul), um paramilitar organizou uma festa para que oficiais solteiros do Exército pudessem encontrar namoradas.
Histórias reais de palestinos que vivem na faixa de Gaza viraram um jogo didático na internet. A missão deles é chegar à Cisjordânia. Ao longo do caminho, o jogador descobre as leis e dificuldades reais dos moradores de Gaza. O "Safe Passage" (passagem segura) foi criado pela ONG israelense Gisha com financiamento de um programa da União Europeia para democracia e direitos humanos e mostra como o bloqueio impede o trânsito entre os territórios palestinos.
Um comerciante de sorvetes, uma estudante que passou para a universidade e o caso de um homem que, por problemas de registro, não consegue visitar a filha, são os avatares do jogo.
Para a diretora da Gisha, Sari Bashi, é "um desafio" fazer governo e sociedade israelense reconhecerem os direitos humanos dos que vivem nos territórios. Segundo ela, a única mudança após o ataque à frota humanitária foi a permissão de itens como presunto e maionese. "Isso é bom, mas o bloqueio a bens primários e às exportações ainda acontece." Para ela, Israel não se preocupa só com a segurança, mas em fazer uma guerra econômica contra o Hamas.
O jogo pode ser acessado em inglês, hebraico e árabe em http://www.spg.org.il/. Segundo Bashi, a página às vezes trava por excesso de visitas.
Um comerciante de sorvetes, uma estudante que passou para a universidade e o caso de um homem que, por problemas de registro, não consegue visitar a filha, são os avatares do jogo.
Para a diretora da Gisha, Sari Bashi, é "um desafio" fazer governo e sociedade israelense reconhecerem os direitos humanos dos que vivem nos territórios. Segundo ela, a única mudança após o ataque à frota humanitária foi a permissão de itens como presunto e maionese. "Isso é bom, mas o bloqueio a bens primários e às exportações ainda acontece." Para ela, Israel não se preocupa só com a segurança, mas em fazer uma guerra econômica contra o Hamas.
O jogo pode ser acessado em inglês, hebraico e árabe em http://www.spg.org.il/. Segundo Bashi, a página às vezes trava por excesso de visitas.
domingo, 27 de junho de 2010
De 30 de junho a 25 de julho, o CCBB promove uma mostra do cineasta Yasujiro Ozu, aclamado como um dos mais importantes do cinema japonês e da história do cinema. Ele era considerado o cineasta mais japonês do cinema, até pelos próprios compatriotas, que o achavam “japonês” demais para o gosto ocidental – o que talvez explique a descoberta tardia deste excepcional cineasta no ocidente somente na década de 1960. A mostra traz os primeiros filmes mudos ainda existentes, entre eles, duas exibições com acompanhamento de música ao vivo; as produções pós-guerra e as mais recentes.
Esta é a primeira vez que um programa tão completo se dedica exclusivamente ao cineasta japonês reconhecido em todo o mundo por sua sensibilidade e poesia únicas. Serão exibidos 32 longas e 2 curtas inéditos, além de todos os 35 títulos disponíveis atualmente. Desde os primeiros filmes mudos até os últimos trabalhos, a mostra percorre uma retomada de cada fase de Ozu.
No CCBB paulistano, haverá ainda um debate com o Secretário Municipal de Cultura de São Paulo, Carlos Augusto Calil. Já no Rio será promovida uma masterclass com o prof.João Luiz Vieira, do Depto. de Cinema e Audiovisual da UFF. Apresentações do filme mudo Benshi serão acompanhadas de narrações da especialista Angela Nagai e músicos de tocamokoto e shamisen, tradicionais instrumentos japoneses.
Além dos filmes do próprio cineasta, serão exibidas quatro produções que homenageiam o mestre: Tokyo-Ga, de Wim Wenders, Cinco Dedicados a Ozu, de Abbas Kiarostami, 35 Doses De Rum, de Claire Denis, e Hanami – Cerejeiras em Flor, de Doris Dörrie. Os dias do CCBB de São Paulo são 30 de julho a 25 de julho e do carioca de 27 de julho a 22 de agosto.
Nascido em 1903, Yasugiro Ozu iniciou sua carreira com vinte anos, até que em 1927 estreou na direção de Espada da penitência. Fui reprovado (1930) é sua primeira obra de grande repercussão. O diretor começa a usar o som em suas obras apenas a partir de 1936 em Filho Único, pois até então não considerava a tecnologia satisfatória.
No ano seguinte Ozu foi convocado para servir durante dois anos na China, na Segunda Guerra Sino-Japonesa. A participação conflitava bastante com o perfil anti-bélico do cineasta. E foi este espírito que inspirou algumas de suas obras que denunciavam circunstâncias censuradas pelo Estado. Os irmãos da família Toda e O sabor do chá verde sobre o arroz foram roteirizados nesta época.
Pai e filha e Também fomos felizes foram suas principais realizações do pós-guerra. Mas Era uma vez em Tóquio é considerada até hoje sua obra-prima. Seu último filme foi A rotina tem seu encanto (1962), pouco antes de sua morte aos 60 anos.
Data: 30 de junho a 25 de julho
Local: Centro Cultural Banco do Brasil, Cinema (70 lugares), Rua Álvares Penteado, 112 – Centro
Ingressos: R$ 4 e R$ 2 (meia-entrada)
(Clientes BB, funcionários do Banco Nossa Caixa, estudantes, professores da rede pública e maiores de 60 anos pagam meia-entrada. É indispensável a apresentação de documento que comprove o direito à meia-entrada)
Classificação indicativa: de acordo com o filme.
Maiores Informações: (11) 3113-3651/52
Esta é a primeira vez que um programa tão completo se dedica exclusivamente ao cineasta japonês reconhecido em todo o mundo por sua sensibilidade e poesia únicas. Serão exibidos 32 longas e 2 curtas inéditos, além de todos os 35 títulos disponíveis atualmente. Desde os primeiros filmes mudos até os últimos trabalhos, a mostra percorre uma retomada de cada fase de Ozu.
No CCBB paulistano, haverá ainda um debate com o Secretário Municipal de Cultura de São Paulo, Carlos Augusto Calil. Já no Rio será promovida uma masterclass com o prof.João Luiz Vieira, do Depto. de Cinema e Audiovisual da UFF. Apresentações do filme mudo Benshi serão acompanhadas de narrações da especialista Angela Nagai e músicos de tocamokoto e shamisen, tradicionais instrumentos japoneses.
Além dos filmes do próprio cineasta, serão exibidas quatro produções que homenageiam o mestre: Tokyo-Ga, de Wim Wenders, Cinco Dedicados a Ozu, de Abbas Kiarostami, 35 Doses De Rum, de Claire Denis, e Hanami – Cerejeiras em Flor, de Doris Dörrie. Os dias do CCBB de São Paulo são 30 de julho a 25 de julho e do carioca de 27 de julho a 22 de agosto.
Nascido em 1903, Yasugiro Ozu iniciou sua carreira com vinte anos, até que em 1927 estreou na direção de Espada da penitência. Fui reprovado (1930) é sua primeira obra de grande repercussão. O diretor começa a usar o som em suas obras apenas a partir de 1936 em Filho Único, pois até então não considerava a tecnologia satisfatória.
No ano seguinte Ozu foi convocado para servir durante dois anos na China, na Segunda Guerra Sino-Japonesa. A participação conflitava bastante com o perfil anti-bélico do cineasta. E foi este espírito que inspirou algumas de suas obras que denunciavam circunstâncias censuradas pelo Estado. Os irmãos da família Toda e O sabor do chá verde sobre o arroz foram roteirizados nesta época.
Pai e filha e Também fomos felizes foram suas principais realizações do pós-guerra. Mas Era uma vez em Tóquio é considerada até hoje sua obra-prima. Seu último filme foi A rotina tem seu encanto (1962), pouco antes de sua morte aos 60 anos.
Data: 30 de junho a 25 de julho
Local: Centro Cultural Banco do Brasil, Cinema (70 lugares), Rua Álvares Penteado, 112 – Centro
Ingressos: R$ 4 e R$ 2 (meia-entrada)
(Clientes BB, funcionários do Banco Nossa Caixa, estudantes, professores da rede pública e maiores de 60 anos pagam meia-entrada. É indispensável a apresentação de documento que comprove o direito à meia-entrada)
Classificação indicativa: de acordo com o filme.
Maiores Informações: (11) 3113-3651/52
Kofun, que significa túmulo antigo, são tumbas construídas entre os anos 250-538 d.C, e remontam a um período da historia do Japão Antigo conhecido como Kofun, ou Tumular. Esse período demarca-se devido aos grandes túmulos construídos para nobres e príncipes. As imagens aéreas reveladas pelo satélite do Google são impressionantes, revelando-nos imensas fechaduras sobre a terra.
A maior delas é o túmulo do imperador Nintoku Teano, cercada por três grandes fossos e com uma dimensão de 2.718m de diâmetro e 21m de altura, tornando-se assim umas das maiores tumbas no mundo.
Construída aproximadamente no ano de 399 d.C, demorou cerca de dezesseis anos para ser concluída. Uma mão de obra de dois mil homens por dia foi utilizada para a construção deste gigantesco túmulo.
Existem outras cinco tumbas um pouco menores ao redor desta, mas não menos intrigantes. Todas são de imperadores importantes. Uma delas, com cerca de 186m de comprimento é a tumba do imperador Ojin, pai de Nintoku.
A introdução do Budismo no Japão marcou o final desse período, e a tradição dos Kofun se perdeu devido às crenças budistas que enaltecem o caráter mais efêmero e simples do ser humano. Essas impressionantes câmeras funerárias, antes apenas utilizadas pelas pessoas da alta hierarquia, passaram então a ser utilizadas por pessoas comuns e de elite de regiões distantes.
Muitos povos antigos sempre enalteceram o fato de serem lembrados pela eternidade após a morte, por meio de mega construções. Kofun é um ótimo exemplo disso. Hoje, sendo um símbolo da cidade de Sakai, cercado de casas e ruas asfaltadas, fica nítido um contraste entre as raízes de um povo com a sua mais atual arquitetura, não os fazendo nunca, esquecerem de sua história e origem.
A maior delas é o túmulo do imperador Nintoku Teano, cercada por três grandes fossos e com uma dimensão de 2.718m de diâmetro e 21m de altura, tornando-se assim umas das maiores tumbas no mundo.
Construída aproximadamente no ano de 399 d.C, demorou cerca de dezesseis anos para ser concluída. Uma mão de obra de dois mil homens por dia foi utilizada para a construção deste gigantesco túmulo.
Existem outras cinco tumbas um pouco menores ao redor desta, mas não menos intrigantes. Todas são de imperadores importantes. Uma delas, com cerca de 186m de comprimento é a tumba do imperador Ojin, pai de Nintoku.
A introdução do Budismo no Japão marcou o final desse período, e a tradição dos Kofun se perdeu devido às crenças budistas que enaltecem o caráter mais efêmero e simples do ser humano. Essas impressionantes câmeras funerárias, antes apenas utilizadas pelas pessoas da alta hierarquia, passaram então a ser utilizadas por pessoas comuns e de elite de regiões distantes.
Muitos povos antigos sempre enalteceram o fato de serem lembrados pela eternidade após a morte, por meio de mega construções. Kofun é um ótimo exemplo disso. Hoje, sendo um símbolo da cidade de Sakai, cercado de casas e ruas asfaltadas, fica nítido um contraste entre as raízes de um povo com a sua mais atual arquitetura, não os fazendo nunca, esquecerem de sua história e origem.
sábado, 26 de junho de 2010
terça-feira, 22 de junho de 2010
Para um artista contemporâneo qualquer material é bom o suficiente para trabalhar, seja nobre e suave ou pobre e agressivo. Cai Guo-Qiang fez uma escolha radical: ele escolheu pólvora. Com o pó negro e com a sabedoria adquirida em centenas de anos de tradição pirotécnica chinesa, ele compõe obras de arte que se tornam visíveis em uma explosão de luz, fumaça e da cor. Cai Guo-Qiang nasceu em Quanzhou, na China, em 1957. Depois de estudar em Xangai, ele se mudou para o Japão e, mais tarde, para Nova York, onde vive e trabalha desde 1995. Atualmente, ele é conhecido no mundo da arte por suas instalações em grande escala e, acima de tudo, pelos seus “projetos explosivos” e, literalmente, bombásticos, que tem mostrado em todo o mundo, em lugares como o MoMA, em Nova York, o Tate Modern, em Londres e o Centro Pompidou, em Paris. Cada instalação explosiva começa da mesma forma: diante de uma platéia mais ou menos numerosa, o artista espalha cuidadosamente a pólvora pelo chão, em cima de uma lona ou de tecido, criando desenhos que são mais ou menos figurativos. Após essa etapa terminar, todo o material explosivo é coberto com placas sobre as quais pesos, geralmente pedras, são colocados. Essa proteção é utilizada para controlar a explosão e para circunscrevê-la aos limites das formas desejadas. O espaço inteiro é inundado por uma nuvem de fumaça, recortada por pequenas chamas crepitando. Finalmente, Cai Guo-Qiang e os seus assistentes assumem a composição para revelar o resultado final, em lonas que serão penduradas em paredes para exposição.
"Mithly" não é uma revista como as outras, mas não porque deve ser lida da direita para a esquerda. Lançada em abril, é a primeira revista gay a circular em árabe num país de maioria muçulmana, o Marrocos. O pioneirismo conseguiu uma divulgação inédita para a causa, mas vem causando polêmica nos jornais locais e o silêncio do governo do rei Mohammed 6º. No país, "atos licenciosos ou contra a natureza cometidos com indivíduos do mesmo sexo" podem ser punidos com prisão de seis meses a três anos, além de eventuais multas.
O site da revista (http://mithly.net/), em árabe, já atingiu, desde sua criação, mais de 1 milhão de visitantes únicos, segundo Samir Bergachi, redator-chefe da "Mithly". Mas o fenômeno mesmo é que os 200 exemplares impressos em Madri e distribuídos em Rabat, a capital marroquina, de mão em mão, gratuitamente, na mais rigorosa clandestinidade, viraram notícia na Europa e nos EUA. O impacto do papel e de ser escrito em árabe clássico deu destaque internacional à revista, que deixou de ser uma rede de militância na internet para se tornar um instrumento de ação política inédito no mundo islâmico.
Para batizar a revista, foi necessário também sustentar o uso de um termo novo. "Homossexual" não tem equivalente em árabe, a não ser os pejorativos "zamel" (efeminado) ou "chaddh" (perverso). "Mithly" -- em tradução literal, "igual a mim" -- ganhou o que os especialistas chamam de "nova carga semântica", quando um sufixo ("y") amplia o significado de uma palavra já existente ("mithl", igual).
A publicação é iniciativa da associação Kif Kif, legalizada em 2005 na Espanha. Mais do que uma rede de contatos entre compatriotas gays de Madri, Paris, Roma e Montréal, os fundadores, todos marroquinos expatriados, pretendiam interferir na vida do país que deixaram para trás. A sede da organização em Rabat tem três mil inscritos, segundo seus líderes. A identidade dos associados permanece escondida; a Kif Kif nem sequer é legalizada no país. "O governo não responde nossas cartas", diz Bergachi, estudante de jornalismo da Universidade Complutense de Madri. "O que temos é o silêncio."
Escritórios fora do Marrocos, com 50 a 60 militantes em média, captam pequenas doações que, sozinhas, mantêm o site, a consultoria legal e, mais recentemente, a revista "Mithly".
Num projeto gráfico simples e com apenas 20 páginas, a revista não faz provocações nem procura atrair leitores com consumismo, pornografia ou "nus artísticos". Engajado, o primeiro número traz um artigo sobre o Dia Internacioial da Mulher, testemunhos de homossexuais que "saíram do armário", repercute as manifestações públicas contra o show do cantor britânico Elton John no festival Mawazine, em Rabat, e traz um conto do escritor Abdellah Taïa.
O marroquino Taïa, 36, vive autoexilado em Paris há dez anos. Por escrever em francês, alcançou boa projeção no circuito literário internacional: publicou três romances por uma das grifes do livro francês, a editora Seuil. Participa de festivais literários internacionais, como o Beiruth 39 (com 39 autores de menos de 39 anos, selecionados pela Unesco), e o mais famoso de todos, o de Hay-on-Wye, no Reino Unido (que começou no dia 27). Os romances de Taïa são todos autobiográficos, ficção misturada às memórias de sua vida na pequena cidade de Salem. Até mesmo no Marrocos, onde a Unesco registra 50% de analfabetismo, os livros de Taïa vendem bem: segundo ele, "Le Rouge du Tarbouche" ["O vermelho do turbante"] vendeu 15 mil exemplares. Como ele diz, é "muito, muitíssimo". Dificilmente os escritores brasileiros com sua idade e projeção atingem esse resultado.
Taïa é um ícone gay no Marrocos desde que, em 2007, foi capa da revista semanal de informação "Tel Quel", editada em francês. Com tiragem de 20 mil exemplares -- apenas 100 vezes a da "Mithly" --, é a mais progressista do país e acaba de ganhar uma irmã em árabe. Além de expor-se numa entrevista, Taïa publicou o texto "A homossexualidade explicada à minha mãe".
E por quê? "Porque nós, homossexuais, estamos emprestando a voz a uma sociedade que está presa no silêncio de uma ditadura." A situação é parecida nos outros países da África do Norte. Na Argélia, "todos os culpados de atos homossexuais são punidos com dois meses a dois anos de prisão" (artigo 338 do Código Penal), além de multa. Na Tunísia, o artigo 230 do Código Penal prevê prisão de até três anos por "sodomia consentida entre adultos". Como em inúmeros outros exemplos ao redor do mundo, os gays marroquinos são os primeiros a reagir à repressão moral -- que eles também foram os primeiros a sofrer.
Embora escorada na tradição, a atual cultura repressiva nos países muçulmanos é um dado cultural relativamente novo, associado à recente islamização política. Abdellah Taïa cita o poeta árabe Abu Nuwas (756-814), que escrevia cânticos de amor aos rapazes. "É um clássico, e ainda é estudado nas escolas públicas", diz ele. "Todos sabem que era homossexual."
O mesmo acontece com Al-Jahiz (781-869), que escreveu um livro sobre "efebos e cortesãs", "um diálogo entre homens que amam mulheres e homens que amam homens". Nas "Mil e Uma Noites" (os manuscritos datam dos séculos 9º ao 18), não faltam histórias que narram, metaforicamente, relações de amor sensual entre pessoas do mesmo sexo. Não se trata de querer ver uma linhagem gay na tradição literária árabe. Segundo Mamede Mustafa Jarouche, 47, que assina a mais recente tradução brasileira do "Livro das Mil e Uma Noites" (Editora Globo) e dá aulas de árabe na USP, "nos tratados eróticos clássicos, e em boa parte da narrativa literária, não há exatamente uma visão essencialista sobre a escolha do parceiro". Jarouche, que morou no Cairo, conta que, em 2000, uma editora do governo egípcio teve a gráfica invadida por fundamentalistas que rasgaram livros de Abu Nuwas, que viveu, vale repetir, no século 8. E em 2001, na feira do livro do Cairo, houve uma tentativa de censurar a tradução árabe de "A sexualidade no Islã" (1975), do tunisiano Abdelwahab Bouhdiba, publicado no Brasil pela editora Globo.
Para a comunidade islâmica do Brasil, a tentativa de moralizar a literatura é uma volta aos "critérios claros" da religião. Um de seus líderes, o xeque Jihad Hassan Hammadeh, 44, diz que não há margem para dúvida na interpretação da lei corânica. "Homossexualidade é proibida, é pecado."
Nascido na Síria e vivendo em São Paulo desde 1991, o xeque não comenta os casos que ocorrem na comunidade islâmica que dirige. Mas não deixa de ser um tanto brasileira a solução que propõe: para ele, a religião dá ao crente a possibilidade de não divulgar seu pecado, para que haja espaço para voltar atrás. Assim, o acerto de contas acontecerá entre o fiel e Deus. "Se pecou, não divulgue."
Os marroquinos da "Mithly" estão divulgando, e além da repressão do Estado, recebem objeções intelectuais: publicar uma revista gay poderia ser um programa elitista e ocidental.
Paulo Hilu Pinto, 42, antropólogo da Universidade Federal Fluminense (UFF), especialista na Síria contemporânea, enxerga o risco de "colonialismo militante" que pode haver na iniciativa. "O movimento gay organizado é libertador para quem?", questiona. "Um morador da periferia, que faz sexo com parceiros do mesmo sexo, pode nunca ter se enxergado assim." Hilu Pinto acredita que, com a moral religiosa, o gay pobre acaba se vendo como pecador. Os editores da "Mithly", de fato, pertencem a uma elite intelectual que mora e estuda na Europa. Os escassos 200 exemplares que circularam na capital marroquina não deixam de ser um sinal de elitismo, embora a íntegra da revista esteja disponível (e de graça) na internet. Mas não importa a tiragem: a mera existência da revista já é um respiro no abafado ambiente cultural do Marrocos.
O sociólogo marroquino Mohammed Mezziane, 47, afirma que a "Mithly" não propõe uma ruptura com o Estado ou com a religião. Pelo contrário, seu objetivo é integrar o discurso homossexual na vida do país. Cautelosos, os editores da revista ainda não reivindicam os temas da pauta ocidental, como o casamento gay ou as pensões e planos de saúde para parceiros do mesmo sexo.
O número 2 da "Mithly" saiu em 01/06, apenas na internet, com reportagem sobre o alto índice de suicídio entre os homossexuais. O terceiro número está prometido para julho que é o mês do orgulho gay, e também é o aniversário de cinco anos da associação Kif Kif. Os editores preparam uma reportagem sobre o lesbianismo no mundo árabe, história ainda mais escondida. Samir Bergachi, o redator-chefe, diz que quando os tradicionalistas querem mostrar os riscos da descriminalização da homossexualidade no Marrocos, exibem imagens do Carnaval carioca.
A associação Kif Kif, segundo Bergachi, foi convidada para participar do congresso internacional de direitos LGBT, em 2011, no Rio de Janeiro. "Finalmente vou conhecer o Rio", comemora.
O site da revista (http://mithly.net/), em árabe, já atingiu, desde sua criação, mais de 1 milhão de visitantes únicos, segundo Samir Bergachi, redator-chefe da "Mithly". Mas o fenômeno mesmo é que os 200 exemplares impressos em Madri e distribuídos em Rabat, a capital marroquina, de mão em mão, gratuitamente, na mais rigorosa clandestinidade, viraram notícia na Europa e nos EUA. O impacto do papel e de ser escrito em árabe clássico deu destaque internacional à revista, que deixou de ser uma rede de militância na internet para se tornar um instrumento de ação política inédito no mundo islâmico.
Para batizar a revista, foi necessário também sustentar o uso de um termo novo. "Homossexual" não tem equivalente em árabe, a não ser os pejorativos "zamel" (efeminado) ou "chaddh" (perverso). "Mithly" -- em tradução literal, "igual a mim" -- ganhou o que os especialistas chamam de "nova carga semântica", quando um sufixo ("y") amplia o significado de uma palavra já existente ("mithl", igual).
A publicação é iniciativa da associação Kif Kif, legalizada em 2005 na Espanha. Mais do que uma rede de contatos entre compatriotas gays de Madri, Paris, Roma e Montréal, os fundadores, todos marroquinos expatriados, pretendiam interferir na vida do país que deixaram para trás. A sede da organização em Rabat tem três mil inscritos, segundo seus líderes. A identidade dos associados permanece escondida; a Kif Kif nem sequer é legalizada no país. "O governo não responde nossas cartas", diz Bergachi, estudante de jornalismo da Universidade Complutense de Madri. "O que temos é o silêncio."
Escritórios fora do Marrocos, com 50 a 60 militantes em média, captam pequenas doações que, sozinhas, mantêm o site, a consultoria legal e, mais recentemente, a revista "Mithly".
Num projeto gráfico simples e com apenas 20 páginas, a revista não faz provocações nem procura atrair leitores com consumismo, pornografia ou "nus artísticos". Engajado, o primeiro número traz um artigo sobre o Dia Internacioial da Mulher, testemunhos de homossexuais que "saíram do armário", repercute as manifestações públicas contra o show do cantor britânico Elton John no festival Mawazine, em Rabat, e traz um conto do escritor Abdellah Taïa.
O marroquino Taïa, 36, vive autoexilado em Paris há dez anos. Por escrever em francês, alcançou boa projeção no circuito literário internacional: publicou três romances por uma das grifes do livro francês, a editora Seuil. Participa de festivais literários internacionais, como o Beiruth 39 (com 39 autores de menos de 39 anos, selecionados pela Unesco), e o mais famoso de todos, o de Hay-on-Wye, no Reino Unido (que começou no dia 27). Os romances de Taïa são todos autobiográficos, ficção misturada às memórias de sua vida na pequena cidade de Salem. Até mesmo no Marrocos, onde a Unesco registra 50% de analfabetismo, os livros de Taïa vendem bem: segundo ele, "Le Rouge du Tarbouche" ["O vermelho do turbante"] vendeu 15 mil exemplares. Como ele diz, é "muito, muitíssimo". Dificilmente os escritores brasileiros com sua idade e projeção atingem esse resultado.
Taïa é um ícone gay no Marrocos desde que, em 2007, foi capa da revista semanal de informação "Tel Quel", editada em francês. Com tiragem de 20 mil exemplares -- apenas 100 vezes a da "Mithly" --, é a mais progressista do país e acaba de ganhar uma irmã em árabe. Além de expor-se numa entrevista, Taïa publicou o texto "A homossexualidade explicada à minha mãe".
E por quê? "Porque nós, homossexuais, estamos emprestando a voz a uma sociedade que está presa no silêncio de uma ditadura." A situação é parecida nos outros países da África do Norte. Na Argélia, "todos os culpados de atos homossexuais são punidos com dois meses a dois anos de prisão" (artigo 338 do Código Penal), além de multa. Na Tunísia, o artigo 230 do Código Penal prevê prisão de até três anos por "sodomia consentida entre adultos". Como em inúmeros outros exemplos ao redor do mundo, os gays marroquinos são os primeiros a reagir à repressão moral -- que eles também foram os primeiros a sofrer.
Embora escorada na tradição, a atual cultura repressiva nos países muçulmanos é um dado cultural relativamente novo, associado à recente islamização política. Abdellah Taïa cita o poeta árabe Abu Nuwas (756-814), que escrevia cânticos de amor aos rapazes. "É um clássico, e ainda é estudado nas escolas públicas", diz ele. "Todos sabem que era homossexual."
O mesmo acontece com Al-Jahiz (781-869), que escreveu um livro sobre "efebos e cortesãs", "um diálogo entre homens que amam mulheres e homens que amam homens". Nas "Mil e Uma Noites" (os manuscritos datam dos séculos 9º ao 18), não faltam histórias que narram, metaforicamente, relações de amor sensual entre pessoas do mesmo sexo. Não se trata de querer ver uma linhagem gay na tradição literária árabe. Segundo Mamede Mustafa Jarouche, 47, que assina a mais recente tradução brasileira do "Livro das Mil e Uma Noites" (Editora Globo) e dá aulas de árabe na USP, "nos tratados eróticos clássicos, e em boa parte da narrativa literária, não há exatamente uma visão essencialista sobre a escolha do parceiro". Jarouche, que morou no Cairo, conta que, em 2000, uma editora do governo egípcio teve a gráfica invadida por fundamentalistas que rasgaram livros de Abu Nuwas, que viveu, vale repetir, no século 8. E em 2001, na feira do livro do Cairo, houve uma tentativa de censurar a tradução árabe de "A sexualidade no Islã" (1975), do tunisiano Abdelwahab Bouhdiba, publicado no Brasil pela editora Globo.
Para a comunidade islâmica do Brasil, a tentativa de moralizar a literatura é uma volta aos "critérios claros" da religião. Um de seus líderes, o xeque Jihad Hassan Hammadeh, 44, diz que não há margem para dúvida na interpretação da lei corânica. "Homossexualidade é proibida, é pecado."
Nascido na Síria e vivendo em São Paulo desde 1991, o xeque não comenta os casos que ocorrem na comunidade islâmica que dirige. Mas não deixa de ser um tanto brasileira a solução que propõe: para ele, a religião dá ao crente a possibilidade de não divulgar seu pecado, para que haja espaço para voltar atrás. Assim, o acerto de contas acontecerá entre o fiel e Deus. "Se pecou, não divulgue."
Os marroquinos da "Mithly" estão divulgando, e além da repressão do Estado, recebem objeções intelectuais: publicar uma revista gay poderia ser um programa elitista e ocidental.
Paulo Hilu Pinto, 42, antropólogo da Universidade Federal Fluminense (UFF), especialista na Síria contemporânea, enxerga o risco de "colonialismo militante" que pode haver na iniciativa. "O movimento gay organizado é libertador para quem?", questiona. "Um morador da periferia, que faz sexo com parceiros do mesmo sexo, pode nunca ter se enxergado assim." Hilu Pinto acredita que, com a moral religiosa, o gay pobre acaba se vendo como pecador. Os editores da "Mithly", de fato, pertencem a uma elite intelectual que mora e estuda na Europa. Os escassos 200 exemplares que circularam na capital marroquina não deixam de ser um sinal de elitismo, embora a íntegra da revista esteja disponível (e de graça) na internet. Mas não importa a tiragem: a mera existência da revista já é um respiro no abafado ambiente cultural do Marrocos.
O sociólogo marroquino Mohammed Mezziane, 47, afirma que a "Mithly" não propõe uma ruptura com o Estado ou com a religião. Pelo contrário, seu objetivo é integrar o discurso homossexual na vida do país. Cautelosos, os editores da revista ainda não reivindicam os temas da pauta ocidental, como o casamento gay ou as pensões e planos de saúde para parceiros do mesmo sexo.
O número 2 da "Mithly" saiu em 01/06, apenas na internet, com reportagem sobre o alto índice de suicídio entre os homossexuais. O terceiro número está prometido para julho que é o mês do orgulho gay, e também é o aniversário de cinco anos da associação Kif Kif. Os editores preparam uma reportagem sobre o lesbianismo no mundo árabe, história ainda mais escondida. Samir Bergachi, o redator-chefe, diz que quando os tradicionalistas querem mostrar os riscos da descriminalização da homossexualidade no Marrocos, exibem imagens do Carnaval carioca.
A associação Kif Kif, segundo Bergachi, foi convidada para participar do congresso internacional de direitos LGBT, em 2011, no Rio de Janeiro. "Finalmente vou conhecer o Rio", comemora.
sexta-feira, 18 de junho de 2010
LETÍCIA QUE MANDOU
Crônica de Kazuo Ohno, a última visita
O testemunho de Matthieu Doze
Kazuo Ohno
08/06/2010
Aos 103 anos, Kazuo Ohno, uma das maiores figuras do Butô, morreu, recentemente, em sua casa em Tóquio. Algumas semanas antes do falecimento, Matthieu Doze, dançarino e, atualmente, artista em residência na Vila Kujoyama em Quioto, foi visitá-lo. O que o permitiu proporcionar um testemunho emotivo e emocionante para a Mouvement.net.
Durante conversas, era comum surpreender-se pelo fato dele ainda estar vivo. Isto finalmente se encerrou. No dia 1 de junho de 2010, Kazuo Ohno foi enredado pela teia de aranha que capturou Louise Bourgeois. Ele nunca foi tão popular no Japão quanto foi (quanto é) na França. Desde o primeiro convite feito pelo Festival de Nancy, em 14 de agosto de 1980 e aonde foi apresentado o seu consagrado solo La Argentina (criado três anos antes), ele ficou no nosso imaginário como a principal referência de qualidade e de inquietação da dança contemporânea japonesa. Não faz nem um ano que o inestimável festival Vídeo-Dança que Michelle Bargues programa para o Centro Pompidou projetou as imagens desta estranha cerimônia de homenagem que este japonês rendeu para uma espanhola.
Como intérprete, eu digo que sou uma superfície de projeção, e foi, precisamente, por causa deste sentido de homenagem como fonte de inspiração que me motivou por muito tempo, que eu queria falar com ele sobre questões relacionadas ao desenvolvimento do trabalho e do processo de identificação de suas criações fantásticas e fantasmáticas.
Depois de se chegar a Kamihoshikawa, que fica a algumas estações de Yokohama, para ir ao estúdio de Ohno, tem que se escalar um caminho sinuoso. Quanto mais se avança, mais a encosta é íngreme. Para alguns, isto deve até ser visto como uma espécie de peregrinação. No estúdio, é Yoshito, seu filho, que, por três dias da semana, realiza oficinas de duas horas. E é sem que eu lhe peça qualquer coisa que seja, que ele sugere, logo no segundo dia de visita, conhecer seu pai. A casa deles é junto do estúdio.
Aos cento e três anos, as pernas de Kazuo já não o sustentam mais, sua capacidade pulmonar não é mais suficiente para nada, mas, mesmo assim, estão lá para perpetuar um movimento capaz de prolongar a ilusão de vida. Eu o vi deitado, como que em um estado de suspensão e rodeado pela benevolência de máquinas, tubos e duas mulheres que estão lá para alimentá-lo e higienizá-lo.
Às palavras que lhe são endereçadas, ele responde um pouco depois por um sussurro que parece dizer: “eu ouvi”, em seguida, percebe-se um esforço descomunal para entreabrir um olho, na tentativa de enxergar quem está ao redor dele. Não há mais nada a dizer, portanto, talvez feche seus olhos para tentar escutar novas ressonâncias na sombria tocata de Bach, e quem sabe, imaginá-lo saindo do recinto e avançando em direção ao palco, para, pacientemente, se vestir com várias camadas de roupas capazes de instaurar uma aparência etérea ― a da dançarina de flamenco, conhecida como a “rainha das castanholas”, que viu dançar em 1926 ― que ostenta flores que parecem ter nascido em seus cabelos, e com ambas, castanholas e flores, ao alcance de suas mãos extraordinárias.
Nas paredes do estúdio estão armários contendo todas as suas vestimentas cênicas e sua extraordinária coleção de chapéus. Tudo organizado em invólucros com seu nome ou suas iniciais. Ao fundo, quatro fotografias alinhadas em uma única tela e acima da qual está posicionado um retrato de La Argentina.
http://www.mouvement.net/critiques-f588c7bf1e548530-kazuo-ohno-la-derniere-visite
O testemunho de Matthieu Doze
Kazuo Ohno
08/06/2010
Aos 103 anos, Kazuo Ohno, uma das maiores figuras do Butô, morreu, recentemente, em sua casa em Tóquio. Algumas semanas antes do falecimento, Matthieu Doze, dançarino e, atualmente, artista em residência na Vila Kujoyama em Quioto, foi visitá-lo. O que o permitiu proporcionar um testemunho emotivo e emocionante para a Mouvement.net.
Durante conversas, era comum surpreender-se pelo fato dele ainda estar vivo. Isto finalmente se encerrou. No dia 1 de junho de 2010, Kazuo Ohno foi enredado pela teia de aranha que capturou Louise Bourgeois. Ele nunca foi tão popular no Japão quanto foi (quanto é) na França. Desde o primeiro convite feito pelo Festival de Nancy, em 14 de agosto de 1980 e aonde foi apresentado o seu consagrado solo La Argentina (criado três anos antes), ele ficou no nosso imaginário como a principal referência de qualidade e de inquietação da dança contemporânea japonesa. Não faz nem um ano que o inestimável festival Vídeo-Dança que Michelle Bargues programa para o Centro Pompidou projetou as imagens desta estranha cerimônia de homenagem que este japonês rendeu para uma espanhola.
Como intérprete, eu digo que sou uma superfície de projeção, e foi, precisamente, por causa deste sentido de homenagem como fonte de inspiração que me motivou por muito tempo, que eu queria falar com ele sobre questões relacionadas ao desenvolvimento do trabalho e do processo de identificação de suas criações fantásticas e fantasmáticas.
Depois de se chegar a Kamihoshikawa, que fica a algumas estações de Yokohama, para ir ao estúdio de Ohno, tem que se escalar um caminho sinuoso. Quanto mais se avança, mais a encosta é íngreme. Para alguns, isto deve até ser visto como uma espécie de peregrinação. No estúdio, é Yoshito, seu filho, que, por três dias da semana, realiza oficinas de duas horas. E é sem que eu lhe peça qualquer coisa que seja, que ele sugere, logo no segundo dia de visita, conhecer seu pai. A casa deles é junto do estúdio.
Aos cento e três anos, as pernas de Kazuo já não o sustentam mais, sua capacidade pulmonar não é mais suficiente para nada, mas, mesmo assim, estão lá para perpetuar um movimento capaz de prolongar a ilusão de vida. Eu o vi deitado, como que em um estado de suspensão e rodeado pela benevolência de máquinas, tubos e duas mulheres que estão lá para alimentá-lo e higienizá-lo.
Às palavras que lhe são endereçadas, ele responde um pouco depois por um sussurro que parece dizer: “eu ouvi”, em seguida, percebe-se um esforço descomunal para entreabrir um olho, na tentativa de enxergar quem está ao redor dele. Não há mais nada a dizer, portanto, talvez feche seus olhos para tentar escutar novas ressonâncias na sombria tocata de Bach, e quem sabe, imaginá-lo saindo do recinto e avançando em direção ao palco, para, pacientemente, se vestir com várias camadas de roupas capazes de instaurar uma aparência etérea ― a da dançarina de flamenco, conhecida como a “rainha das castanholas”, que viu dançar em 1926 ― que ostenta flores que parecem ter nascido em seus cabelos, e com ambas, castanholas e flores, ao alcance de suas mãos extraordinárias.
Nas paredes do estúdio estão armários contendo todas as suas vestimentas cênicas e sua extraordinária coleção de chapéus. Tudo organizado em invólucros com seu nome ou suas iniciais. Ao fundo, quatro fotografias alinhadas em uma única tela e acima da qual está posicionado um retrato de La Argentina.
http://www.mouvement.net/critiques-f588c7bf1e548530-kazuo-ohno-la-derniere-visite
quinta-feira, 17 de junho de 2010
Divulgando: BOLSAS DE ESTUDO MEXT
BOLSAS DE ESTUDO MEXT
Ministério da Educação, Cultura, Esportes, Ciência e Tecnologia do Japão (Monbukagakusho)
Graduação, Escola Técnica Superior e Curso Profissionalizante
2011
O Governo do Japão, através do MEXT *, oferece as bolsas de estudo para brasileiros que queiram estudar em universidades e escolas japonesas, com passagens de ida e volta, bolsa mensal e isenção de taxas escolares.
Para pleitear as bolsas de Graduação, Escola Técnica Superior ou Curso Profissionalizante, os requisitos mínimos são: nacionalidade brasileira, idade entre 17 e 21 anos em 01/04/2011, ensino médio completo ou conclusão até dezembro de 2010, fluência na língua inglesa ou japonesa e disponibilidade de embarque na primeira semana de abril de 2011.
As inscrições serão recebidas gratuitamente no Consulado Geral do Japão em São Paulo até o dia 25 de junho de 2010.
O informativo completo com a documentação necessária e a ficha de inscrição das bolsas estão disponíveis em nossa homepage: www.sp.br.emb-japan.go.jp (clicar em "Cultura e Educação" e "Bolsas MEXT")
As dúvidas podem ser esclarecidas pelo telefone: (11)3254-0100 r. 356 ou através do e-mail: cgjcultural5@arcstar.com.br .
Ministério da Educação, Cultura, Esportes, Ciência e Tecnologia do Japão (Monbukagakusho)
Graduação, Escola Técnica Superior e Curso Profissionalizante
2011
O Governo do Japão, através do MEXT *, oferece as bolsas de estudo para brasileiros que queiram estudar em universidades e escolas japonesas, com passagens de ida e volta, bolsa mensal e isenção de taxas escolares.
Para pleitear as bolsas de Graduação, Escola Técnica Superior ou Curso Profissionalizante, os requisitos mínimos são: nacionalidade brasileira, idade entre 17 e 21 anos em 01/04/2011, ensino médio completo ou conclusão até dezembro de 2010, fluência na língua inglesa ou japonesa e disponibilidade de embarque na primeira semana de abril de 2011.
As inscrições serão recebidas gratuitamente no Consulado Geral do Japão em São Paulo até o dia 25 de junho de 2010.
O informativo completo com a documentação necessária e a ficha de inscrição das bolsas estão disponíveis em nossa homepage: www.sp.br.emb-japan.go.jp (clicar em "Cultura e Educação" e "Bolsas MEXT")
As dúvidas podem ser esclarecidas pelo telefone: (11)3254-0100 r. 356 ou através do e-mail: cgjcultural5@arcstar.com.br .
terça-feira, 15 de junho de 2010
domingo, 13 de junho de 2010
domingo, 6 de junho de 2010
INSTANTÂNEO (HOMENAGEM À KAZUO OHNO)
A Companhia Flutuante apresenta a performance interativa de dança contemporânea e paisagem sonora, criada exclusivamente para um lugar específico, com composição coreográfica em tempo real, através da linguagem da improvisação.
...O foco da performance está em concretizar as possibilidades estéticas do corpo no espaço/tempo, através de uma dinâmica interativa entre o corpo da artista, a arquitetura do lugar específico e o público presente.
Em Instantâneo, a dançarina Letícia Sekito e o sonoplasta Jorge Peña, vão transitar pelos espaços externos/internos disponíveis, criando momentos de “aparição surpresa”, se relacionando com o público de forma intimista/não invasiva, ao mesmo tempo estabelecendo uma conexão com o ambiente destinado `a performance.
Apresentações: Festival para a Juventude, Teatro Fábrica 2007. Mostra de Artes do SESC/Inteirior 2007, Verbo 2006, na Galeria Vermelho; evento “Porta Aberta”, do Espaço Sete; Sesc Pompéia 2005 e 2006, SESC Bertioga 2006 e no Festival da Nova Dança 2001, em Brasília. Ficha técnica:
Concepção: Companhia Flutuante
Dança: Letícia Sekito
Paisagem Sonora: Jorge Peña
Figurino: Cláudia Schapira
Fotos: Gil Grossi e Luciana Bortoletto
Produção: Companhia Flutuante
Apoio cultural: Lado B Filmes Digital, Cantina e Pizzaria da Conchetta
Duração: 40 minutos.
Gratuito
Dias 9 e 10 de junho, `as 19h
Local:
Sesc Santana, Convivência
Avenida Luiz Dumont Villares, 579
Santana São Paulo - SP
...O foco da performance está em concretizar as possibilidades estéticas do corpo no espaço/tempo, através de uma dinâmica interativa entre o corpo da artista, a arquitetura do lugar específico e o público presente.
Em Instantâneo, a dançarina Letícia Sekito e o sonoplasta Jorge Peña, vão transitar pelos espaços externos/internos disponíveis, criando momentos de “aparição surpresa”, se relacionando com o público de forma intimista/não invasiva, ao mesmo tempo estabelecendo uma conexão com o ambiente destinado `a performance.
Apresentações: Festival para a Juventude, Teatro Fábrica 2007. Mostra de Artes do SESC/Inteirior 2007, Verbo 2006, na Galeria Vermelho; evento “Porta Aberta”, do Espaço Sete; Sesc Pompéia 2005 e 2006, SESC Bertioga 2006 e no Festival da Nova Dança 2001, em Brasília. Ficha técnica:
Concepção: Companhia Flutuante
Dança: Letícia Sekito
Paisagem Sonora: Jorge Peña
Figurino: Cláudia Schapira
Fotos: Gil Grossi e Luciana Bortoletto
Produção: Companhia Flutuante
Apoio cultural: Lado B Filmes Digital, Cantina e Pizzaria da Conchetta
Duração: 40 minutos.
Gratuito
Dias 9 e 10 de junho, `as 19h
Local:
Sesc Santana, Convivência
Avenida Luiz Dumont Villares, 579
Santana São Paulo - SP
Para homenagear os 130 anos da imigração árabe no Brasil, o Icarabe (Instituto da Cultura Árabe), com o apoio do Ministério da Cultura do Egito, traz nove clássicos do cinema egípcio para as salas de cinema de São Paulo.
A maioria dos filmes da "Mostra de Cinema Imagens do Oriente" é da década de 1960 e revela a história do cinema árabe para o público brasileiro. O festival será realizado de 24 de junho a 06 de julho no CineSesc, Cine Olido e Cinemateca.
A "Mostra de Cinema Imagens do Oriente" é realizada pelo Icarabe desde 2007 e tem como objetivo trazer mais informações sobre o mundo islâmico aos brasileiros. Nesta edição, os filmes que serão apresentados trazem temas como conflito de classes, degradação social e perda de valores. O longa-metragem mais antigo é Algodão Doce, de 1949, gênero musical.
O Desejo da Garça, de 1959, é baseado no romance, de 1934, do escritor egípcio Taha Hussein. O filme se passa na zona rural do Alto Egito, no sul do país, e conta a história de uma jovem que planeja vingança contra o engenheiro que destruiu sua família. Outro filme é A Segunda Esposa, de 1967, que mostra a história de um homem casado que não consegue ter filhos e decide, com sua esposa, ter uma segunda mulher.
O quarto filme, Diário de um promotor rural, que também é baseado num romance egípcio, de 1937, registra as atividades diárias de um funcionário público nomeado para exercer as funções de justiça numa aldeia do interior do Egito, mostrando os conflitos sociais na região. Já O Carteiro, de 1968, conta a história de Abbás, fiscal de uma agência de correio, que abre uma carta que contém segredos de um caso de amor escondido.
O sexto filme, de 1969, foi um dos mais polêmicos na época. Algum Medo relata a história de uma gangue que se apodera de um vilarejo do sul do Egito, aterrorizando seus habitantes. O filme foi tido como uma metáfora do regime do governo Nasser e foi banido até que o próprio presidente o liberasse.
Segundo o cronograma, os filmes serão exibidos de 24/6 a 1º/7 no CineSesc (abertura do evento com o filme A múmia - A noite da passagem dos anos) e Cine Olido e de 30/6 a 6/7 na Cinemateca.
A maioria dos filmes da "Mostra de Cinema Imagens do Oriente" é da década de 1960 e revela a história do cinema árabe para o público brasileiro. O festival será realizado de 24 de junho a 06 de julho no CineSesc, Cine Olido e Cinemateca.
A "Mostra de Cinema Imagens do Oriente" é realizada pelo Icarabe desde 2007 e tem como objetivo trazer mais informações sobre o mundo islâmico aos brasileiros. Nesta edição, os filmes que serão apresentados trazem temas como conflito de classes, degradação social e perda de valores. O longa-metragem mais antigo é Algodão Doce, de 1949, gênero musical.
O Desejo da Garça, de 1959, é baseado no romance, de 1934, do escritor egípcio Taha Hussein. O filme se passa na zona rural do Alto Egito, no sul do país, e conta a história de uma jovem que planeja vingança contra o engenheiro que destruiu sua família. Outro filme é A Segunda Esposa, de 1967, que mostra a história de um homem casado que não consegue ter filhos e decide, com sua esposa, ter uma segunda mulher.
O quarto filme, Diário de um promotor rural, que também é baseado num romance egípcio, de 1937, registra as atividades diárias de um funcionário público nomeado para exercer as funções de justiça numa aldeia do interior do Egito, mostrando os conflitos sociais na região. Já O Carteiro, de 1968, conta a história de Abbás, fiscal de uma agência de correio, que abre uma carta que contém segredos de um caso de amor escondido.
O sexto filme, de 1969, foi um dos mais polêmicos na época. Algum Medo relata a história de uma gangue que se apodera de um vilarejo do sul do Egito, aterrorizando seus habitantes. O filme foi tido como uma metáfora do regime do governo Nasser e foi banido até que o próprio presidente o liberasse.
Segundo o cronograma, os filmes serão exibidos de 24/6 a 1º/7 no CineSesc (abertura do evento com o filme A múmia - A noite da passagem dos anos) e Cine Olido e de 30/6 a 6/7 na Cinemateca.
Satomi Sato, uma viúva de 51 anos, sabia que teria dificuldades para criar sua filha adolescente com os menos de US$ 17 mil por ano que ganha em dois empregos. Ainda assim, ficou surpresa quando o governo anunciou pela primeira vez, no semestre passado, uma linha de pobreza oficial -e ela se situava abaixo.
"Não quero usar a palavra 'pobreza', mas realmente estou pobre", disse Sato, que trabalha de manhã fazendo refeições embaladas e à tarde entregando jornais. "'Pobreza' ainda é uma palavra muito estranha no Japão."
Após anos de estagnação econômica e crescentes disparidades de renda, o Japão, que já foi orgulhosamente igualitário, está acordando atrasado para o fato de que tem um grande e crescente número de pobres.
A revelação pelo Ministério do Trabalho de que quase 1 em cada 6 japoneses (ou 20 milhões de pessoas) vivia na pobreza em 2007 surpreendeu o país e provocou um debate sobre possíveis soluções.
Muitos japoneses que se atêm ao mito popular de que seu país é uniformemente de classe média ficaram ainda mais chocados ao ver que o índice de pobreza do país, de 15,7%, está próximo do número dado pela Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento aos EUA (17,1%), cujas desigualdades sociais há muito são vistas com desprezo e pena pelos japoneses.
Mas talvez igualmente surpreendente tenha sido a admissão do governo de que manteve em segredo as estatísticas de pobreza desde 1998, enquanto negava o problema. Isso terminou em agosto, quando um governo de viés esquerdista liderado pelo premiê Yukio Hatoyama substituiu o Partido Liberal Democrata, há muito tempo no governo, com a promessa de forçar os legendários burocratas sigilosos do Japão a ser mais abertos, especialmente sobre problemas sociais, disseram autoridades do governo e especialistas.
"O governo sabia do problema da pobreza, mas o escondia", disse Makoto Yuasa, chefe da Rede Antipobreza, um grupo sem fins lucrativos. "Tinha medo de enfrentar a realidade."
Seguindo uma fórmula reconhecida internacionalmente, o ministério definiu a linha de pobreza em cerca de US$ 22 mil anuais para uma família de quatro pessoas, a metade da renda familiar média do Japão.
Pesquisadores estimam que o índice de pobreza no Japão tenha duplicado desde o colapso dos mercados imobiliário e financeiro do país no início dos anos 90, que provocou duas décadas de estagnação e declínio da renda.
O anúncio do ministério expõe um problema que, segundo os trabalhadores sociais, é facilmente desprezado na relativa homogeneidade do Japão, que não tem altos índices de criminalidade, decadência urbana ou divisões raciais acentuadas como os EUA. Especialistas e assistentes sociais dizem que os pobres do Japão são difíceis de identificar, porque eles se esforçam para manter as aparências de conforto da classe média.
Poucos japoneses pobres se dispõem a admitir suas dificuldades, por medo de estigmatização. Enquanto pouco mais da metade das mães solteiras do Japão, como Sato, são pobres -aproximadamente o mesmo índice dos EUA-, ela e sua filha, Mayu, 17, se esforçam para ocultar suas privações.
Por fora sorriem, ela disse, mas "por dentro choram" quando amigas ou parentes falam sobre férias, um luxo que não podem pagar. "Dizer que somos pobres chamaria a atenção, por isso prefiro esconder", disse Sato, que mora em um projeto habitacional do governo em Memuro (norte).
Ela disse que tinha pouco dinheiro mesmo antes de seu marido, um operador de máquinas de construção, morrer de câncer no pulmão três anos atrás. Segundo Sato, as dificuldades de sua família começaram no final dos anos 1990, quando o declínio econômico se acentuou.
Mesmo com dois empregos, Sato diz que não consegue pagar uma consulta médica ou comprar remédios para tratar dores nas articulações e tonturas. Quando sua filha precisou de US$ 700 para comprar uniformes escolares, no ano passado, ela economizou reduzindo suas refeições para apenas duas por dia.
Para especialistas, o caso de Sato é típico. Eles dizem que mais de 80% dos que vivem na pobreza no Japão fazem parte dos chamados trabalhadores pobres, de salários baixos, empregos temporários sem garantias e poucos benefícios. Geralmente eles ganham o suficiente para comer, mas não para ir a restaurantes com amigos ou ao cinema.
"A pobreza em uma sociedade próspera geralmente não significa viver esfarrapado", disse Masami Iwata, professor de assistência social na Universidade Feminina do Japão, em Tóquio. "São pessoas que têm telefones celulares e carros, mas estão isoladas do resto da sociedade."
"Não quero usar a palavra 'pobreza', mas realmente estou pobre", disse Sato, que trabalha de manhã fazendo refeições embaladas e à tarde entregando jornais. "'Pobreza' ainda é uma palavra muito estranha no Japão."
Após anos de estagnação econômica e crescentes disparidades de renda, o Japão, que já foi orgulhosamente igualitário, está acordando atrasado para o fato de que tem um grande e crescente número de pobres.
A revelação pelo Ministério do Trabalho de que quase 1 em cada 6 japoneses (ou 20 milhões de pessoas) vivia na pobreza em 2007 surpreendeu o país e provocou um debate sobre possíveis soluções.
Muitos japoneses que se atêm ao mito popular de que seu país é uniformemente de classe média ficaram ainda mais chocados ao ver que o índice de pobreza do país, de 15,7%, está próximo do número dado pela Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento aos EUA (17,1%), cujas desigualdades sociais há muito são vistas com desprezo e pena pelos japoneses.
Mas talvez igualmente surpreendente tenha sido a admissão do governo de que manteve em segredo as estatísticas de pobreza desde 1998, enquanto negava o problema. Isso terminou em agosto, quando um governo de viés esquerdista liderado pelo premiê Yukio Hatoyama substituiu o Partido Liberal Democrata, há muito tempo no governo, com a promessa de forçar os legendários burocratas sigilosos do Japão a ser mais abertos, especialmente sobre problemas sociais, disseram autoridades do governo e especialistas.
"O governo sabia do problema da pobreza, mas o escondia", disse Makoto Yuasa, chefe da Rede Antipobreza, um grupo sem fins lucrativos. "Tinha medo de enfrentar a realidade."
Seguindo uma fórmula reconhecida internacionalmente, o ministério definiu a linha de pobreza em cerca de US$ 22 mil anuais para uma família de quatro pessoas, a metade da renda familiar média do Japão.
Pesquisadores estimam que o índice de pobreza no Japão tenha duplicado desde o colapso dos mercados imobiliário e financeiro do país no início dos anos 90, que provocou duas décadas de estagnação e declínio da renda.
O anúncio do ministério expõe um problema que, segundo os trabalhadores sociais, é facilmente desprezado na relativa homogeneidade do Japão, que não tem altos índices de criminalidade, decadência urbana ou divisões raciais acentuadas como os EUA. Especialistas e assistentes sociais dizem que os pobres do Japão são difíceis de identificar, porque eles se esforçam para manter as aparências de conforto da classe média.
Poucos japoneses pobres se dispõem a admitir suas dificuldades, por medo de estigmatização. Enquanto pouco mais da metade das mães solteiras do Japão, como Sato, são pobres -aproximadamente o mesmo índice dos EUA-, ela e sua filha, Mayu, 17, se esforçam para ocultar suas privações.
Por fora sorriem, ela disse, mas "por dentro choram" quando amigas ou parentes falam sobre férias, um luxo que não podem pagar. "Dizer que somos pobres chamaria a atenção, por isso prefiro esconder", disse Sato, que mora em um projeto habitacional do governo em Memuro (norte).
Ela disse que tinha pouco dinheiro mesmo antes de seu marido, um operador de máquinas de construção, morrer de câncer no pulmão três anos atrás. Segundo Sato, as dificuldades de sua família começaram no final dos anos 1990, quando o declínio econômico se acentuou.
Mesmo com dois empregos, Sato diz que não consegue pagar uma consulta médica ou comprar remédios para tratar dores nas articulações e tonturas. Quando sua filha precisou de US$ 700 para comprar uniformes escolares, no ano passado, ela economizou reduzindo suas refeições para apenas duas por dia.
Para especialistas, o caso de Sato é típico. Eles dizem que mais de 80% dos que vivem na pobreza no Japão fazem parte dos chamados trabalhadores pobres, de salários baixos, empregos temporários sem garantias e poucos benefícios. Geralmente eles ganham o suficiente para comer, mas não para ir a restaurantes com amigos ou ao cinema.
"A pobreza em uma sociedade próspera geralmente não significa viver esfarrapado", disse Masami Iwata, professor de assistência social na Universidade Feminina do Japão, em Tóquio. "São pessoas que têm telefones celulares e carros, mas estão isoladas do resto da sociedade."
Há seis anos, após renunciar como líder de seu partido político após um escândalo de pensão, Naoto Kan salvou sua carreira política ao fazer uma demonstração incomum de expiação, ao raspar sua cabeça e vestir a vestimenta branca de peregrino budista para passar 11 dias caminhando por um famoso circuito de templos.
Agora, como novo primeiro-ministro do Japão, o quinto líder do país em apenas quatro anos, Kan precisará do mesmo talento para sobrevivência política para evitar o destino de seus antecessores de passagem breve e, particularmente, do homem que está substituindo, o impopular Yukio Hatoyama.
Kan, que foi eleito primeiro-ministro na sexta-feira por uma votação no Parlamento, herda os mesmos problemas que levaram Hatoyama a renunciar na quarta-feira, após apenas oito meses no cargo, começando por uma série de escândalos financeiros políticos e o futuro ainda incerto de uma base aérea americana em Okinawa. Ele também precisa restaurar a fé pública em seu Partido Democrático de governo, que pareceu ter perdido o rumo desde que assumiu o poder após a eleição em meados do ano passado.
E essas são as coisas fáceis. Ele também precisa lidar com os enormes problemas deste gigante asiático enfermo que seus antecessores não conseguiram resolver: um sistema político impassível, uma dívida pública inchada e quase duas décadas de desaceleração econômica que mostra poucos sinais de ceder.
Apesar de permanecer longe de claro se ele estará a altura dessas tarefas, uma coisa é certa: ao recorrerem a Kan, os democratas escolheram um veterano político experiente que provavelmente será um tipo de líder muito diferente do ineficaz Hatoyama.
De fato, Kan, 63 anos, tem uma origem muito diferente da maioria dos líderes políticos japoneses. Enquanto os políticos daqui costumam ser ex-membros da elite burocrática ou herdeiros de famílias políticas, Kan é um ex-ativista cívico que ascendeu na oposição progressista do país até se tornar um dos fundadores do Partido Democrático.
Como ministro da Saúde em 1996, ele ganhou reputação nacional ao combater a poderosa burocracia do Japão, quando forçou os funcionários do ministério a divulgarem documentos mostrando que permitiram conscientemente o uso público de produtos de sangue apesar do risco de estarem contaminados pelo vírus HIV.
Ele também teve sua cota de tropeços. Além da renúncia como presidente do Partido Democrático, em 2004, após deixar de fazer os pagamentos obrigatórios ao sistema nacional de pensão, ele também reconheceu em 1998 ter tido um caso extraconjugal com uma apresentadora de noticiário de TV.
Analistas políticos descreveram Kan como uma pessoa que fala sem rodeios e que será muito mais pragmático do que Hatoyama, que vacilou por meses sobre se cumpriria a promessa de campanha de retirar uma base aérea militar americana de Okinawa. Kan também deverá dar ao seu governo uma direção mais claramente definida do que Hatoyama, cuja incapacidade de impedir seus ministros de expressarem opiniões divergentes fez com que seu governo fosse apelidado de “jardim de infância Hatoyama”.
“Ele não manterá você em suspense, como fazia Hatoyama”, disse Takeshi Sasaki, um analista político e ex-presidente da Universidade de Tóquio.
Durante a breve campanha para se tornar primeiro-ministro, Kan enfatizou sua formação diferente, caracterizando-se como um homem que venceu por esforço próprio, diferente de Hatoyama, um parlamentar de quarta geração que veio de uma das famílias políticas mais poderosas do Japão.
"Eu venho de um lar de colarinho branco comum”, disse Kan, cujo pai foi um executivo de uma empresa fabricante de vidros. “Se um político nascido na base popular política pode ascender a um cargo tão elevado, eu acho que isso será algo novo para o Japão.”
Antes mesmo de vencer a eleição de sexta-feira, Kan buscava se distanciar de Hatoyama. Ele prometeu focar os democratas em questões mais próximas dos corações e bolsos dos eleitores, dizendo que sua maior prioridade é reduzir os déficits orçamentários e aumentar o crescimento econômico, criando empregos e revertendo a deflação punidora do Japão.
“Eu quero criar um governo que possa implantar políticas para romper os 20 anos de estagnação do Japão”, ele disse.
Ele também deverá levar adiante a principal promessa de campanha dos democratas, de transferir o poder da elite burocrática de Tóquio, os líderes de fato do país desde a Segunda Guerra Mundial, para políticos eleitos.
No governo Hatoyama, Kan serviu como batedor na reforma administrativa, que foi um motivo para ter sido colocado no comando do Ministério das Finanças, o mais poderoso dos ministérios centrais de Tóquio.
O que está menos claro é como ele lidará com as relações exteriores do Japão e particularmente sua aliança militar do pós-guerra com os Estados Unidos, após ter passado grande parte de sua carreira concentrado em questões domésticas como saúde e bem-estar social.
Pelo menos inicialmente, ele aparentemente seguirá as políticas de Hatoyama. Ele repetiu seu antecessor ao falar em uma melhoria dos laços com a China e na criação de uma Comunidade do Leste Asiático. Ele também chamou a aliança entre Estados Unidos e Japão de pedra angular da política externa japonesa, e disse que cumpriria o acordo de Hatoyama com o governo Obama para transferência da base em Okinawa.
Ainda assim, restam dúvidas sobre se Kan poderá cumprir o acordo do mês passado, quando qualquer tentativa para construção de uma nova base certamente enfrentará resistência feroz dos moradores de Okinawa. Nem está claro como Kan, que dizem ser pavio curto, reagiria caso o governo Obama tentasse pressioná-lo como fez com Hatoyama.
“Ele deseja um bom relacionamento com os Estados Unidos, mas também reage de forma mais dura do que Hatoyama”, disse Gerald Curtis, um professor de política japonesa na Universidade de Colúmbia.
Os analistas descrevem Kan não apenas como um melhor orador público, mas também como tendo um gosto por demonstrações políticas que também pode ajudá-lo. A peregrinação budista lhe rendeu vários dias de cobertura positiva pela televisão. Durante um caso de contaminação alimentar em meados dos anos 90, ele foi a TV e comeu os rabanetes para provar que eram seguros.
“Mais do que qualquer outra coisa, o que o Japão quer agora é alguém que assuma o comando e transmita a sensação de confiança”, disse Daniel C. Sneider, um pesquisador sobre o Leste Asiático da Universidade de Stanford. “Kan tem uma reputação e retrospecto de líder decidido. Hatoyama provou ser tudo menos isso.”
Agora, como novo primeiro-ministro do Japão, o quinto líder do país em apenas quatro anos, Kan precisará do mesmo talento para sobrevivência política para evitar o destino de seus antecessores de passagem breve e, particularmente, do homem que está substituindo, o impopular Yukio Hatoyama.
Kan, que foi eleito primeiro-ministro na sexta-feira por uma votação no Parlamento, herda os mesmos problemas que levaram Hatoyama a renunciar na quarta-feira, após apenas oito meses no cargo, começando por uma série de escândalos financeiros políticos e o futuro ainda incerto de uma base aérea americana em Okinawa. Ele também precisa restaurar a fé pública em seu Partido Democrático de governo, que pareceu ter perdido o rumo desde que assumiu o poder após a eleição em meados do ano passado.
E essas são as coisas fáceis. Ele também precisa lidar com os enormes problemas deste gigante asiático enfermo que seus antecessores não conseguiram resolver: um sistema político impassível, uma dívida pública inchada e quase duas décadas de desaceleração econômica que mostra poucos sinais de ceder.
Apesar de permanecer longe de claro se ele estará a altura dessas tarefas, uma coisa é certa: ao recorrerem a Kan, os democratas escolheram um veterano político experiente que provavelmente será um tipo de líder muito diferente do ineficaz Hatoyama.
De fato, Kan, 63 anos, tem uma origem muito diferente da maioria dos líderes políticos japoneses. Enquanto os políticos daqui costumam ser ex-membros da elite burocrática ou herdeiros de famílias políticas, Kan é um ex-ativista cívico que ascendeu na oposição progressista do país até se tornar um dos fundadores do Partido Democrático.
Como ministro da Saúde em 1996, ele ganhou reputação nacional ao combater a poderosa burocracia do Japão, quando forçou os funcionários do ministério a divulgarem documentos mostrando que permitiram conscientemente o uso público de produtos de sangue apesar do risco de estarem contaminados pelo vírus HIV.
Ele também teve sua cota de tropeços. Além da renúncia como presidente do Partido Democrático, em 2004, após deixar de fazer os pagamentos obrigatórios ao sistema nacional de pensão, ele também reconheceu em 1998 ter tido um caso extraconjugal com uma apresentadora de noticiário de TV.
Analistas políticos descreveram Kan como uma pessoa que fala sem rodeios e que será muito mais pragmático do que Hatoyama, que vacilou por meses sobre se cumpriria a promessa de campanha de retirar uma base aérea militar americana de Okinawa. Kan também deverá dar ao seu governo uma direção mais claramente definida do que Hatoyama, cuja incapacidade de impedir seus ministros de expressarem opiniões divergentes fez com que seu governo fosse apelidado de “jardim de infância Hatoyama”.
“Ele não manterá você em suspense, como fazia Hatoyama”, disse Takeshi Sasaki, um analista político e ex-presidente da Universidade de Tóquio.
Durante a breve campanha para se tornar primeiro-ministro, Kan enfatizou sua formação diferente, caracterizando-se como um homem que venceu por esforço próprio, diferente de Hatoyama, um parlamentar de quarta geração que veio de uma das famílias políticas mais poderosas do Japão.
"Eu venho de um lar de colarinho branco comum”, disse Kan, cujo pai foi um executivo de uma empresa fabricante de vidros. “Se um político nascido na base popular política pode ascender a um cargo tão elevado, eu acho que isso será algo novo para o Japão.”
Antes mesmo de vencer a eleição de sexta-feira, Kan buscava se distanciar de Hatoyama. Ele prometeu focar os democratas em questões mais próximas dos corações e bolsos dos eleitores, dizendo que sua maior prioridade é reduzir os déficits orçamentários e aumentar o crescimento econômico, criando empregos e revertendo a deflação punidora do Japão.
“Eu quero criar um governo que possa implantar políticas para romper os 20 anos de estagnação do Japão”, ele disse.
Ele também deverá levar adiante a principal promessa de campanha dos democratas, de transferir o poder da elite burocrática de Tóquio, os líderes de fato do país desde a Segunda Guerra Mundial, para políticos eleitos.
No governo Hatoyama, Kan serviu como batedor na reforma administrativa, que foi um motivo para ter sido colocado no comando do Ministério das Finanças, o mais poderoso dos ministérios centrais de Tóquio.
O que está menos claro é como ele lidará com as relações exteriores do Japão e particularmente sua aliança militar do pós-guerra com os Estados Unidos, após ter passado grande parte de sua carreira concentrado em questões domésticas como saúde e bem-estar social.
Pelo menos inicialmente, ele aparentemente seguirá as políticas de Hatoyama. Ele repetiu seu antecessor ao falar em uma melhoria dos laços com a China e na criação de uma Comunidade do Leste Asiático. Ele também chamou a aliança entre Estados Unidos e Japão de pedra angular da política externa japonesa, e disse que cumpriria o acordo de Hatoyama com o governo Obama para transferência da base em Okinawa.
Ainda assim, restam dúvidas sobre se Kan poderá cumprir o acordo do mês passado, quando qualquer tentativa para construção de uma nova base certamente enfrentará resistência feroz dos moradores de Okinawa. Nem está claro como Kan, que dizem ser pavio curto, reagiria caso o governo Obama tentasse pressioná-lo como fez com Hatoyama.
“Ele deseja um bom relacionamento com os Estados Unidos, mas também reage de forma mais dura do que Hatoyama”, disse Gerald Curtis, um professor de política japonesa na Universidade de Colúmbia.
Os analistas descrevem Kan não apenas como um melhor orador público, mas também como tendo um gosto por demonstrações políticas que também pode ajudá-lo. A peregrinação budista lhe rendeu vários dias de cobertura positiva pela televisão. Durante um caso de contaminação alimentar em meados dos anos 90, ele foi a TV e comeu os rabanetes para provar que eram seguros.
“Mais do que qualquer outra coisa, o que o Japão quer agora é alguém que assuma o comando e transmita a sensação de confiança”, disse Daniel C. Sneider, um pesquisador sobre o Leste Asiático da Universidade de Stanford. “Kan tem uma reputação e retrospecto de líder decidido. Hatoyama provou ser tudo menos isso.”
sexta-feira, 4 de junho de 2010
Assinar:
Postagens (Atom)