16/08, TEMPLO SHAOLIN DA FRADIQUE COUTINHO, 19:00
terça-feira, 30 de julho de 2013
Trinta e cinco anos depois de o livro pioneiro "Orientalismo", do
crítico cultural e literário Edward W. Said, ter redefinido o termo,
esse conceito ainda frequente em grandes exposições. É o caso, agora, da
mostra "1001 Faces do Orientalismo", no museu Sakip Sabanci.
Edward Said via o orientalismo como uma mentalidade perigosa que
abraçava pressupostos falsos e "preconceitos eurocêntricos" em relação
às culturas asiáticas e do Oriente Médio, sendo essa visão perpetuada em
parte por imagens romantizadas difundidas por exploradores, diplomatas e
escritores ocidentais. As traduções europeias dos contos folclóricos
"1001 Noites", por exemplo, contribuíram muito para difundir uma visão
do Oriente como um lugar de intrigas sexuais povoado por gênios e
ladrões.
A exposição no museu Sabanci desloca o foco da atenção para as
influências orientalistas sobre a arquitetura, o turismo e a moda,
influências essas que continuam fortes até hoje. Enquanto os europeus
veem banhos, tendas e mesquitas como sendo "turcos", a exposição explica
que alguma das estruturas neoislâmicas em Istambul foram inspiradas, na
realidade, por edificações europeias que tinham reciclado detalhes
complexos de um palácio mouro séculos mais velho -o Alhambra, na
Espanha- e de construções islâmicas indianas.
Para o orientalismo, a maior referência arquitetônica é "a mesquita
otomana genérica, com domos e minaretes finos e altos", disse Zeynep
Celik, professora de arquitetura no Instituto Nova Jersey de Tecnologia,
em Newark.
Um eco contemporâneo do orientalismo pode ser encontrado na planta do
controvertido plano de reconstruir um quartel militar ao estilo da era
otomana, com domos em formato de cebola, na praça Taksim, em Istambul.
"O quartel em questão talvez seja a versão mais 'Disney' do orientalismo
otomano", disse Celik.
Em escala mais ampla, disse ela, a arquitetura islâmica foi levada ao
mundo ocidental pela primeira vez na Feira Mundial de 1867 em Paris.
À medida que o orientalismo foi percorrendo o mundo, as pessoas passaram
a viajar em busca da "experiência oriental". O nome "Expresso do
Oriente" suscitava fantasias de aventuras emocionantes em um trem.
A exposição também trata da moda orientalista, cujas influências ainda
são visíveis hoje, segundo Celik, no trabalho de estilistas como Gonul
Paksoy e Karl Lagerfeld.
A distância existente entre a percepção ocidental e a realidade oriental
foi exemplificada pelas reações à pintura a óleo de 1860 "Visita,
Interior de Harém", de Henriette Browne. Diferentemente dos artistas
orientalistas homens, Browne conheceu um "haremlik" quando visitou Fatma
Sultan, filha do sultão Abdulmecid, num palácio no Bósforo. Sua tela
mostra um grupo de mulheres bem vestidas e cheias de dignidade. Não há
cenas de banhos ou concubinas nuas. De acordo com as notas da exposição,
quando o quadro foi exposto em Paris, em 1861, o público se
decepcionou.
A casa noturna mais animada desta cidade industrial é um bar coberto
de neon, localizado na mesma rua do parque industrial onde iPhones são
produzidos 24 horas por dia.
Nos fundos de um terreno em construção sem muros, a Trough the Summer,
como a casa noturna é conhecida, tinha de tudo numa recente noite de
sábado -apitos de plástico, falso sabres de luz e um comediante vulgar
que bebia cerveja pelo nariz.
Liang Yulong, 19, que testa placas-mães de iPhones no parque tecnológico
Foxconn Zhengzhou, chegou à discoteca com um só objetivo em mente:
tirar da cabeça, numa pista de dança dotada de molas, a sua lúgubre
realidade diurna. "Dançar permite extravasar a raiva e o estresse",
disse ele, com um cigarro na mão. "Quando estou aqui, esqueço todo o
resto."
Nos rudes subúrbios de Zhengzhou, capital da província de Henan, a fauna
noturna revela um aspecto pouco explorado da cadeia global de
suprimento: as escapadas das horas vagas, que dão motivação às massas de
operários para que eles voltem à linha de montagem.
As mãos que produzem os aparelhos eletrônicos do mundo pertencem quase
inteiramente a jovens com sonhos próprios, entre os quais não está o de
passar a vida se contentando com um penoso trabalho industrial. O
precioso tempo livre desses operários é uma rara chance de desfrutar do
presente. "Todos ficam malucos à espera do fim de semana", disse Bai
Sihai, 24. Seu plano? Jogar videogame feito louco numa lan house e
depois fazer uma ligação interurbana para a namorada.
Os donos das fábricas estão começando a ver os méritos do lazer nas horas vagas.
Nos últimos anos, uma onda de distúrbios e suicídios na província de
Henan chamou a atenção para as condições trabalhistas. Em abril e maio,
dois operários e um candidato a um emprego morreram ao se atirar dos
alojamentos que hospedam trabalhadores da fábrica de Zhengzhou,
propriedade da Foxconn, gigante industrial que produz aparelhos
eletrônicos para a Apple e a Microsoft.
A Foxconn diz que os suicídios não tiveram relação com o trabalho na
fábrica. Também em maio, um operário se suicidou numa fábrica da Samsung
na província de Guangdong, onde organizações de direitos trabalhistas
documentaram várias violações, como horas extras compulsórias e
trabalhadores com idade inferior à permitida.
Sob pressão, a Foxconn aumentou os salários e reduziu as horas extras.
Na fabrica da Quanta em Xangai, que produz componentes para empresas
como Apple, Toshiba e Asus, os funcionários podem pagar para ter aulas
de ioga e tae-kwon-do.
Após os novos suicídios no alojamento de Zhengzhou, a Foxconn instituiu
uma regra que proíbe todas as conversas sobre assuntos
extraprofissionais no chão de fábrica. Embora a empresa tenha
posteriormente anunciado que revogou a medida por causa da reação
popular, funcionários dizem que ela permanece em vigor.
Os empregados, que precisam usar uniformes, dizem que os supervisores
costumam gritar e xingar. Na área residencial, alojamentos abrigam até
oito operários cada um, em quartos preenchidos com beliches e uma
combinação de chuveiro/privada.
Talvez por isso, o mundo fora dos portões da fábrica pareça uma gigantesca feira de rua.
No mesmo quarteirão, um terreno em construção abriga diversas atrações,
como um estúdio de tatuagem montado na traseira de uma van, jogos
eletrônicos com garras metálicas e uma espécie de cervejaria ao ar
livre, onde hordas de jovens operários sorvem cerveja aguada e fumam sem
parar em cima de travessas com joelhos de porco fatiados.
O verão boreal é a baixa temporada nas cidades industriais chinesas,
então muitos trabalhadores tiram um dia de folga no fim de semana.
Há numerosos personagens pitorescos à mão para mantê-los entretidos.
Numa noite, um grupo de artistas itinerantes vestidos como monges
budistas havia montado uma loja. Eles distraíam a multidão de entediados
transeuntes moldando bexigas e vendendo ornamentos abençoados para
espelhinhos retrovisores. "O circo que apareceu meses atrás era melhor",
disse Li Yu, 19. "Eles tinham leões e tigres de verdade."
O skate e a patinação têm seguidores fiéis. Meia dúzia de equipes com
nomes como Rainbow, F-2 e Shadow se reúne para sessões semanais de skate
em grupo por toda a cidade.
Às 23h, os motéis estavam ficando movimentados.
Após um longo dia fabricando iPhones, Wang Puyan, 20, e sua namorada se
encaminhavam para seu apartamento alugado fora do parque industrial, já
que os alojamentos da fábrica são separados por sexo.
Uma aventura romântica não estava programada, porém. "Nós nos vemos todo
dia no trabalho", disse ele. "Por que sairíamos para namorar?"
As companhias multinacionais de medicamentos hoje empregam mais agentes
de vendas na China do que nos Estados Unidos, seu maior mercado. Várias
delas, incluindo a Glaxo e a GlaxoSmithKline (GSK), estão fazendo
grandes investimentos no país, que incluem a construção de centros de
pesquisa e de desenvolvimento. Isso porque, em breve, a China deverá
superar o Japão como o segundo maior mercado farmacêutico do mundo.
Mas vender remédios e outros produtos na China é cada vez mais difícil,
como demonstram acusações feitas neste mês de que a GSK subornou -com a
ajuda de agências de viagens- médicos, hospitais e autoridades para
reforçar as vendas da marca no país.
As autoridades chinesas compararam as operações da companhia ao crime
organizado e detiveram quatro executivos chineses para interrogatório.
As autoridades chinesas disseram que estão investigando as políticas de preços de até 60 laboratórios estrangeiros e domésticos.
A série de investigações mostra como o mercado farmacêutico tornou-se
crítico para as companhias globais e para o governo chinês. Os chineses
não escondem seu objetivo de transformar a indústria de medicamentos do
país em uma concorrência mais direta aos principais fabricantes
mundiais.
Em consequência, as companhias globais podem esperar maior escrutínio,
disse Tarun Khanna, professor da Escola de Administração de Harvard.
"Práticas que talvez fossem aceitas algum tempo atrás passarão a ser
detidamente analisadas", disse ele, especialmente quando o governo
chinês pretende passar de uma economia baseada em exportações para uma
que também enfoque vendas a consumidores locais.
Vários fatores contribuem para o boom de consumo chinês. O crescimento
da economia deu origem a uma classe média que pode pagar por remédios
ocidentais caros e tratar de doenças que poderiam ter passado antes
despercebidas ou não ser medicadas.
A China também expandiu a cobertura do seguro-saúde a centenas de
milhões de novos pacientes -95% da população tinham seguro-saúde em
2011, comparados com 43% em 2006, segundo um relatório da empresa de
consultoria McKinsey. Até 2020, os gastos da China em tratamentos de
saúde deverão crescer para US$ 1 trilhão, contra US$ 357 bilhões em
2011, segundo a McKinsey. O setor médico do país investiu US$ 160
bilhões em pesquisa e desenvolvimento em 2012, quase superando o Japão,
segundo um relatório da Lux Research, de Boston.
A GlaxoSmithKline vem lutando para reformar sua imagem, depois de uma
multa de US$ 3 bilhões nos Estados Unidos no ano passado, em que a
companhia admitiu promover de maneira inadequada seus antidepressivos e
deixar de relatar dados de segurança sobre a droga contra diabetes
Avandia. O executivo-chefe da empresa, Andrew Witty, proclamou
repetidamente a companhia como líder global em práticas éticas e disse
que ela abandonou seus lapsos anteriores.
Investigadores chineses contaram uma história diferente no dia 15 de
julho. Em uma entrevista coletiva em Pequim, eles disseram que
representantes da GSK na China tinham organizado conferências
fraudulentas, cobrado excessivamente por sessões de treinamento e
simulado outros serviços para os quais agências de viagens emitiam
falsos recibos.
Com o dinheiro reembolsado pela GSK por esses "serviços", eles pagavam propinas para inserir a empresa no mercado chinês.
Como o negócio era lucrativo também para as agências de viagens, algumas
delas chegaram a contratar prostitutas para satisfazer os diretores da
GSK e tentar, assim, garantir o vínculo com a farmacêutica.
O governo chinês disse que deteve quatro executivos graduados -todos
chineses. Em 15 de julho, um dos executivos presos apareceu na televisão
chinesa e admitiu grande parte da atividade, segundo reportagens. Na
entrevista, Liang Hong, o vice-presidente de operações da Glaxo na
China, reconheceu ter organizado conferências falsas e outras atividades
e disse que os pagamentos feitos a médicos e autoridades contribuíram
para aumentar os preços dos remédios da empresa na China.
Em declaração, a Glaxo disse estar "profundamente preocupada" com as
acusações, acrescentando que havia interrompido suas relações com as
agências de viagens identificadas na investigação.
No entanto, vários analistas disseram que, em certo nível, essas
atividades são típicas de empresas estrangeiras que tentam fazer
negócios em mercados emergentes.
"A maior parte das investigações de corrupção em grande escala se
concentra no uso de intermediários", disse Richard L. Cassin, editor do
blog FCPA e advogado. Mas ele disse que a acusação de que a Glaxo
canalizou até US$ 489 milhões por meio de mais de 700 agências de
viagens torna esse caso excepcional.
"Setecentas agências de viagens é um número surpreendente", disse ele.
Depois de sair do trabalho, Abdul Wahid caminha 16 quilômetros por
trilhas nas montanhas do norte do Afeganistão para embarcar num ônibus
que o leva até um instituto de formação de professores em Salang. Ele
volta para casa muito após o anoitecer, subindo a montanha a pé
novamente, e descansa para encarar seu emprego no dia seguinte.
Em sua determinação de conseguir a formação de professor, Wahid, 33,
simboliza muitos dos avanços conquistados recentemente na educação no
Afeganistão. Mas sua situação também simboliza a distância que ainda
falta ser percorrida.
Wahid é o diretor da escola de ensino médio de seu povoado, Unamak.
Embora ele próprio só tenha o diploma do ensino médio, é o professor
mais instruído com que contam seus 800 alunos.
A demanda por melhor ensino para os afegãos -e da oportunidade de
frequentar a escola, especialmente no caso de meninas- chegou ao ponto
mais alto em décadas. Mas há receios de que muitas das promessas de
melhora não estejam sendo cumpridas e de que problemas importantes
estejam ficando sem solução.
Muitas das escolas estão operando três turnos diários, o que significa
que os alunos só têm três horas de aula por dia. De acordo com
estatísticas da Unicef, a maioria dos professores do Afeganistão não é
qualificada pelas leis do país. Em muitas áreas rurais, se veem
professores que estudaram apenas até a nona série.
Quase metade das escolas do país funciona em barracas de lona ou à
sombra de uma árvore. Em um país marcado por extremos climáticos no
inverno e no verão, isso quer dizer que muitos dias letivos são
perdidos.
O sistema escolar público afegão cresceu tremendamente nos últimos anos,
reforçado por assistência internacional. A Agência dos EUA para o
Desenvolvimento Internacional (Usaid) teria doado US$ 934 milhões nos
últimos 12 anos para programas educacionais no Afeganistão.
O ministro da Educação, Farouk Wardak, insiste que há 10,5 milhões de
alunos matriculados neste ano, 40% dos quais meninas. Em 2001, sob o
governo do Taleban, havia apenas estimados 900 mil, entre os quais quase
não havia meninas. Muitos consideram essas cifras sem fundamento.
Documentos do Ministério da Educação listam 252 mil estudantes
matriculados na província de Khost no ano passado. Mas Kamar Khan
Kamran, do departamento de Educação da província, disse que os números
são radicalmente inflados: "Acho que mal vamos conseguir matricular 20
mil a 25 mil alunos neste ano".
Mesmo assim, a situação do ensino melhorou de modo marcante na última década.
Um exemplo de sucesso é o da escola feminina de ensino médio Sardar Kabuli, na capital.
No ano passado, mais de 290 meninas se formaram na escola, mais de um
terço do número das alunas matriculadas neste ano para o primeiro ano.
Mais de metade das que se formaram foram aprovadas nos exames de
admissão de universidades.
Dois anos atrás, a escola consistia em 38 tendas e havia três turnos
escolares. Hoje suas 6.600 alunas estudam em dois turnos (todas têm suas
próprias carteiras) e cada livro didático é dividido por não mais que
duas alunas.
O ministro da Educação tem orgulho do que já foi conquistado, mas se
mostra defensivo ao falar da qualidade do ensino. "Tenho US$ 70 para
gastar por ano com cada aluno", explicou. "Nos EUA se gastam US$ 20 mil,
no Paquistão, US$ 130.."
Na escola Sayid Ismail Balkh, na capital, 8.000 alunos estudam em turnos
de três horas diárias, em construções inacabadas. Em um dia dado, os
5.400 alunos estavam apertados: três diante de cada carteira, 40 em cada
sala de aula, com dez livros didáticos por classe. Lonas formavam um
teto improvisado. "Quando chove, não há aula", disse o diretor, Barat
Ali Sadaqi.
Os banheiros e as instalações de água ainda não estão prontos, e o odor
de esgoto permeia a escola. O fornecimento de eletricidade é
intermitente. Há apenas seis computadores para todos os alunos da
escola. "Isso é o desenvolvimento após dez anos em Cabul", disse Sadaqi.
Usman, que manca sobre uma perna curvada pela pólio que contraiu na
infância, fez questão de proteger seus três primeiros filhos contra a
doença, mas repeliu os vacinadores quando seu caçula nasceu.
Ele estava furioso com o fato de a Agência Central de Inteligência dos
EUA ter encenado uma falsa campanha de vacinação durante a caçada a
Osama bin Laden. Usman tinha passado a ver a guerra contra a
poliomielite, ou paralisia infantil, como um complô ocidental.
Em janeiro, seu filho Muszharaf, 2, tornou-se a primeira criança a ficar
atrofiada pela pólio neste ano no mundo. "Agora sei que cometi um
erro", disse Usman, 32, que usa só um nome, como muitos da tribo
pashtun.
"Mas vocês, americanos, causaram dor na minha comunidade. Os americanos
pagam a campanha da pólio, e isso é bom. Mas vocês abusaram de uma
missão humanitária para um propósito militar."
A indignação com a política externa americana levou a um revés no
esforço global contra a pólio. Em dezembro, nove imunizadores foram
mortos a tiros em Karachi, e dois comandantes do Taleban proibiram as
vacinações em suas áreas, dizendo que elas só poderiam ser retomadas se
os ataques com "drones" parassem. Em janeiro, dez vacinadores foram
mortos no norte da Nigéria, dominado por muçulmanos.
Desde então, houve homicídios isolados -de um ativista, de um policial e
de vacinadores-, sempre levando a uma suspensão temporária da campanha.
A guerra contra a pólio, que custa US$ 1 bilhão por ano e ainda deve
durar pelo menos cinco anos, está em jogo. Quando ela começou, há 25
anos, 350 mil pessoas ficavam paralisadas por ano, a maioria crianças.
No ano passado, menos de 250 ficaram, e apenas três países -Afeganistão,
Nigéria e Paquistão- nunca chegaram a conter sua difusão em nenhum
momento.
O Paquistão elevou o pagamento dos vacinadores a US$ 5 por dia nas áreas
mais perigosas, aumentou as escoltas policiais e militares e criou
salas de controle para acelerar respostas a crises.
Foi providencial que, há dois anos, a Índia, rival do Paquistão em tudo,
do críquete ao arsenal nuclear, tenha eliminado a pólio. "Nada feriu
tanto o nosso orgulho quanto isso", disse o médico Zulfiqar A. Bhutta,
especialista em vacinas da faculdade de medicina da Universidade Aga
Khan.
O Paquistão está mais perto do que nunca da erradicação. Houve, desde o
começo do ano, apenas 21 casos de pólio. Há poucos anos, circulavam 39
subcepas do vírus da pólio. Atualmente, são apenas duas. Cerca de 300
mil crianças vivem em áreas perigosas demais para os imunizadores, mas
quase todas as amostras de esgoto dessas áreas estão livres do vírus.
No fim das contas, porém, o sucesso dependerá acima de tudo de atos
individuais de coragem, como o de importantes imãs que posam para fotos
vacinando crianças. Ou o de Usman, que apareceu com Musharaf, seu filho
afetado pela pólio, em um vídeo no qual pede a países ricos do golfo
Pérsico que comprem vacinas para muçulmanos pobres de outros lugares.
Ou o de voluntários, como as mulheres da família Bibi, em Karachi, que
formaram uma equipe de vacinação. Duas delas, Madiha, 18, e Fahmida, 46,
foram mortas a tiros em dezembro. O noticiário de TV mostrou mulheres
da família ajoelhadas junto aos corpos. Essas mulheres não só continuam
vacinando como também uma irmã de Madiha, de 15 anos, se voluntariou
para assumir o lugar dela.
"Todos os filhos do Paquistão são nossos filhos", disse Gulnaz Shirazee,
31, que comanda o grupo. "Cabe a nós erradicar a pólio. Não podemos
parar."
Em Peshawar, celeiro da militância antiocidental, todas as vítimas da
pólio são da tribo pashtun, cuja resistência à vacinação é maior. Ações
do Exército paquistanês e ataques com "drones" americanos levaram muitos
pashtuns a trocarem seus vales montanhosos por cidades.
O caso de Peshawar preocupa até mesmo Elias Durry, especialista em pólio
da Organização Mundial da Saúde, geralmente otimista. "Você pode
conseguir uma cobertura de 90% da vacina e voltar em alguns meses e
estar com 50%", disse ele. "As pessoas se mudam rápido demais."
O isolamento e a pobreza da tribo pashtun estão associados à sua
resistência. Muitos bairros pashtuns recebem poucos serviços, como
postos de saúde e pavimentação de ruas, mas têm outdoors alardeando a
luta contra a pólio, bancada por doadores ocidentais.
Em meados do ano passado, soube-se que, em 2011, a CIA pagou um médico
local para tentar recolher amostras de DNA de crianças dentro de um
imóvel de Abbottabad, para provar que elas eram parentes de Bin Laden.
O médico Shakil Afridi, que hoje cumpre pena de 33 anos de prisão por
traição, oferecia vacina contra hepatite, mas, apesar disso, a ira
popular se voltou contra as gotinhas antipólio.
Os líderes do esforço de erradicação da pólio -que já enfrentavam
rumores de que os vacinadores estariam ajudando a definir o alvo dos
"drones"- não poderiam ficar mais frustrados.
Eles, desde então, adotaram novas táticas. O médico Qazi Jan Muhammad,
ex-subcomissário de Karachi Leste, descobriu que prédios de apartamentos
inteiros haviam sido ignorados porque vigilantes pashtuns estavam
afastando os vacinadores a tiros. "Eu precisei que a polícia dissesse a
eles: 'Ou vocês os deixam entrar ou vocês vão para atrás das grades'."
Rotatórias de trânsito foram fechadas a pedido dele para que as equipes
abordassem cada carro. Ele próprio comandou algumas equipes que atraiam
pessoas segurando punhados de dinheiro. "Vi uma menina de uns 11 anos
trazendo sua irmã de 2 anos", disse ele. "Eu dei uma nota de dez rupias a
ela e disse: 'Deixa eu dar as gotas à sua irmã? Você pode comprar doces
para você'."
"Ela disse a todas as crianças: 'Um homem está distribuindo dez rupias', e todas elas vieram correndo. Vacinei 400 crianças."
Os esgotos do distrito dele, que tem milhões de habitantes, estão atualmente livres do vírus.
A nova determinação do país também atraiu o Rotary International de
volta para a linha de frente. O líder do clube, Aziz Menon, 70, e outros
executivos rotarianos usam seu dinheiro e suas conexões políticas para
manter a pressão. Eles indenizaram os parentes de vacinadores mortos.
Em um bairro industrial de Karachi, onde após o anoitecer predominam as
gangues e o Taleban, Abdul Waheed Khan supervisionava uma clínica de
combate à pólio do Rotary na sua escola, a Academia Naunehal. Sua única
segurança eram adolescentes locais que acompanhavam seu carro de moto.
"Diziam que eu era judeu", disse Khan, em abril. "Precisei que um amigo
emitisse uma 'contra-fatwa' dizendo que eu sou um bom muçulmano."
Em 13 de maio, Khan foi morto por pistoleiros, que também feriram sua filha, de um ano.
A clínica dele não fechará, segundo Menon. "Ninguém pode substituir Waheed, mas a vida precisa continuar."
Os preços vêm quebrando recordes e provocando espanto no mercado da arte.
Mais de US$ 70 milhões (cerca de R$ 155 milhões) em 2007 por "White
Center", de Rothko, um dos preços mais altos já pagos por uma obra desse
artista. No mesmo ano, mais de US$ 20 milhões (R$ 44 milhões) por um
armário de remédios de Damien Hirst, na época um recorde em valores
pagos por um trabalho de um artista vivo.
Em 2011, US$ 250 milhões (R$ 550 milhões) por "Jogadores de Baralho", de
Cézanne, o mais alto valor conhecido já pago por um quadro.
Graças ao sigilo no mercado da arte, poucos na época sabiam quem tinha desembolsado esses valores.
Mas vem ficando cada vez mais claro que essas e muitas outras obras
foram adquiridas pelo Qatar, pequeno país do Golfo Pérsico que, além de
usar recursos do petróleo para reforçar sua influência no Oriente Médio,
com iniciativas como armar os rebeldes sírios, também investe para se
tornar potência cultural.
"Os qatarianos são os compradores mais importantes do mercado de arte,
hoje", diz Patricia G. Hambrecht, da casa de leilões Phillips.
As aquisições são realizadas por intermediários como a xeique Al Mayassa
bint Hamad bin Khalifa Al Thani, presidente da Autoridade dos Museus do
Qatar e irmã do novo emir do Qatar. Aos 30 anos, ela se tornou uma das
figuras mais influentes no mundo das artes.
Especialistas estimam que Al Mayassa controle um orçamento de aquisições
que chega a US$ 1 bilhão (R$ 2,2 bilhões) por ano. O Museu de Arte
Moderna de Nova York, por exemplo, gastou US$ 32 milhões (R$ 70 milhões)
com a aquisição de obras de arte no ano fiscal 2011-2012.
Segundo eles, os qatarianos vêm usando esses recursos para obter grande
número de obras-primas modernas e contemporâneas de Francis Bacon, Roy
Lichtenstein, Andy Warhol e Jeff Koons.
Boa parte do acervo ocidental que está sendo formado deve fazer parte de
uma nova instituição de arte contemporânea no país, apesar de as
autoridades ainda não a terem anunciado.
Quanto aos princípios que norteiam as aquisições, especialistas dizem
que a xeique está simplesmente interessada em obter o melhor do melhor,
não importa o custo.
"A xeique tem uma visão muito grandiosa", disse Leila Heller, marchand
nova-iorquina que trabalha com artistas do Oriente Médio. "Ela quer
converter Doha em centro artístico da região, para que as pessoas não
precisem viajar até Nova York para ver grandes exposições."
Especialistas dizem que esse esforço para criar um acervo de arte
contemporânea de primeira grandeza, partindo do nada, fortalece o
mercado de arte e contribui em parte para a escalada dos preços.
Por exemplo, os US$ 250 milhões pagos por "Jogadores de Baralho" foi
quatro vezes mais alto que o maior preço público pago por uma obra de
Cézanne.
"Quando concluírem seu programa de aquisições e se retirarem do mercado,
deixarão um buraco enorme", diz David Nash, que por 35 anos foi
executivo-chefe da Sotheby's. "E não vejo ninguém preparado para ocupar
esse lugar."
segunda-feira, 29 de julho de 2013
Os partidários do presidente egípcio deposto Mohamed Mursi se mostraram
neste domingo (28) decididos a prosseguir com sua mobilização, apesar
das ameaças do poder de dispersar pela força suas concentrações no
Cairo, um dia após a morte de 72 pessoas em confrontos com a polícia.
Por sua vez, as forças de segurança egípcias mataram dez pessoas nas
últimas 48 horas na península do Sinai, segundo a agência de notícias
oficial Mena.
Durante a noite, foram registrados episódios violentos no país,
principalmente em Port Said (nordeste), onde várias pessoas ficaram
feridas.
"Há sentimentos de tristeza e de raiva, mas também uma grande
determinação" no grupo dos partidários de Mursi, afirmou à AFP um
porta-voz da Irmandade Muçulmana, Gehad el Hadad.
Hadad rejeitou qualquer compromisso que signifique confirmar a
deposição de Mursi, primeiro presidente eleito democraticamente no país,
em junho de 2012.
A Irmandade Muçulmana, de onde Mursi surgiu, exige sua reincorporação como condição prévia a qualquer discussão.
"Aceitamos qualquer iniciativa desde que se baseie na restauração da
legitimidade e anule o golpe de Estado. Não negociaremos com o
exército", disse.
Nos arredores da mesquita Rabaa al-Adawiya, no nordeste do Cairo, os
vários milhares de pró-Mursi que estão acampados há quase um mês
passaram uma nova noite em meio a barracas, rodeados de cartazes com a
imagem do presidente islamita deposto.
Ignorando a ameaça das autoridades de desmantelar o acampamento pela
força "muito em breve", alguns gritavam "Sissi, deixe o poder!", contra o
chefe do exército e novo homem forte do país, o general Abdel Fatah
al-Sissi.
O ministro do Interior, Mohamed Ibrahim, prometeu uma intervenção "no
âmbito da lei" com "o menor número de perdas possível" e pediu que os
manifestantes abandonem o local "para evitar um derramamento de sangue".
Os 72 mortos registrados nos confrontos da manhã de sábado no Cairo constituem o balanço mais elevado de falecidos desde a deposição de
Mursi pelo exército, no dia 3 de julho.
Os confrontos, pelos quais os dois grupos se acusam mutuamente,
explodiram horas após a realização na sexta-feira de grandes
manifestações dos simpatizantes do exército e da Irmandade Muçulmana.
O secretário de Estado americano, John Kerry, disse que seu país está
profundamente preocupado pelo "derramamento de sangue e pela violência"
das últimas horas, que elevaram a 300 o número de mortos em um mês de
distúrbios políticos.
A organização Human Rights Watch denunciou um "desprezo criminoso" das autoridades pela vida humana.
Estes mortos demonstram "uma vontade chocante por parte da polícia e de
certos (responsáveis) políticos de aumentar a violência contra os
manifestantes pró-Mursi", estimou Nadim Houry, diretor da HRW para o
Oriente Médio e o Norte da África.
Por outro lado, diversos confrontos explodiram na noite de sábado em
vários locais do país, especialmente em Port Said, na entrada norte do
canal de Suez, onde 15 pessoas ficaram feridas em confrontos entre os
partidários e opositores de Mursi, segundo a Mena.
Uma fonte médica do hospital Al-Amiri confirmou à AFP ter visto "cinco
feridos, dois deles em estado crítico, com ferimentos de bala no pescoço
e no tórax".
Na península do Sinai, as forças de segurança egípcias mataram 10
"terroristas" armados e capturaram outros 20 nas últimas 48 horas,
informou a Mena.
"Operações de segurança levadas adiante pelas forças armadas e pela
polícia no norte do Sinai para prender terroristas armados terminaram
com a morte de 10 destes elementos terroristas armados", disse a agência
citando fontes de segurança.
A sede local da Irmandade Muçulmana em Menufeya, no delta do Nilo, foi
incendiada durante a noite depois de terem sido registrados incidentes
entre os dois grupos, informou a imprensa.
Para o ministério do Interior, a forte resposta ao chamado do general
Sissi a protestar na sexta-feira para conceder a ele um mandato para
"acabar com o terrorismo" demonstra que o povo "deseja a estabilização
do país sob a proteção do exército".
Neste mesmo dia os islamitas também se mobilizaram nas ruas para apoiar
Mursi, detido em um local secreto pelo exército desde sua queda e alvo,
desde sexta-feira, de uma ordem de prisão preventiva por parte de um
tribunal egípcio.
Uma corte da Tunísia rejeitou uma das acusações contra a ativista do
Femen Amina Sboui, presa desde maio no país. Ela ainda tem outros
processos a responder, que podem mantê-la atrás das grades por até cinco
anos.
"O Judiciário começou a entender que ela foi acusada injustamente. É
uma vitória", afirma o advogado de Amina, Ghazi Mrabet. "Esta decisão
reassegura minha fé no Judiciário", diz a mãe da ativista à agência
"AFP".
A ativista está livre das acusações de difamação e desobediência, após
dizer que presos em sua cela eram torturadas. Ela ainda pode ser
condenada por usar spray de pimenta para pichar o nome do grupo ativista
da Ucrânia em um cemitério tunisiano. A pena vai de seis meses a cinco
anos de prisão
Amina continua presa, em um momento delicado para a Tunísia. Berço da
Primavera Árabe, em 2011, o país vive
uma onda de manifestações pela renúncia do governo atual, após o
assassinato de dois políticos da oposição.
Amina causou controvérsia em seu país no início do ano, após postar
fotos suas com os seios de fora, em um protesto contra a linha-dura do
islã no país.
No fim de maio deste ano, três ativistas do Femen - duas francesas e
uma alemã - foram detidas após protestarem de topless diante do prédio
da corte em Túnis, em apoio a Amina. O trio foi detido e liberado após a
repercussão negativa das detenções na comunidade internacional.
O primeiro-ministro tunisiano, Ali Larayedh, excluiu hoje, dia 29, a
possibilidade que de renunciar ao seu cargo, mas pela primeira vez
propôs que as eleições políticas ocorram no dia 17 de dezembro, para
tentar superar a crise política provocada pelo homicídio do membro da
oposição laica, Mohamed Brahmi. "Esse governo continuará garantindo
suas funções. Não vamos ficar grudados ao poder, mas temos deveres e a
responsabilidades que cumpriremos até o fundo", afirmou Larayedh, cujo
Executivo é apoiado pelo partido islâmico Ennahda. A
polícia e o Exército tunisianos intervieram hoje na praça do Bardo, no
centro da capital, Túnis, por desocupá-la de deputados que se
auto-suspenderam e de outros manifestantes. Segundo alguns deputados, a
ação das forças de segurança foi "duríssima" e dezenas de opositores
ficaram feridos. Entre eles, o deputado Noomane Fehri, que, segundo
quanto relatado pelos seus colegas, sofreu graves danos na coluna
vertebral. Testemunhas informaram que a polícia usou contra os
manifestantes os tasers, as pistolas elétricas paralisantes. Muitos feridos foram transferidos nos hospitais.
O Ministério do Interior do Egito informou que
foram encontrados 11 corpos com sinais de torturas nos últimos dias na
zona de Rabea al Adauiyar e na praça de Al-Nahda, no Cairo, onde os
islamistas realizam seus protestos.
Em comunicado, este departamento explicou que seis corpos foram encontrados em Rabea al Adauiyar, enquanto outros cinco apareceram em Al-Nahda.
Além disso, dez feridos denunciaram perante as forças de segurança terem sido torturados por manifestantes nestes dois lugares e acusaram membros da Irmandade Muçulmana de ter-lhes agredido.
Por outro lado, a polícia encontrou três corpos com sinais de tortura na zona de Al Omraniya, na província de Guiza, próxima ao Cairo, e deteve um dos acusados de ter efetuado o crime.
O detido reconheceu nos interrogatórios que ele e outros manifestantes da praça de Al-Nahda torturaram as vítimas em uma das tendas de campanha montadas no local.
O Ministério do Interior afirmou em comunicado que investiga cada fato para identificar os agressores e pediu aos cidadãos que comuniquem qualquer incidente deste tipo.
Ontem à noite, o Conselho de Defesa Nacional solicitou aos manifestantes islamitas de Rabea al Adauiya e de Al-Nahda que anunciem "imediatamente" sua renúncia a todo tipo de violência e de terrorismo.
Além disso, advertiu que vigiará os protestos e tomará medidas estritas contra qualquer violação da lei.
Estes manifestantes são seguidores do deposto presidente Mohammed Mursi que rejeitam o golpe militar do dia 3 e organizam protestos contínuos para pedir seu retorno ao poder.
Os islamitas convocaram novas manifestações para hoje e amanhã, coincidindo com a visita da chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Catherine Ashton, que se reuniu no Cairo com as novas autoridades egípcias.
Ashton pediu às partes no Egito que mantenham o autocontrole e se afastem da violência.
O Cairo foi palco de sangrentos distúrbios que deixaram 72 seguidores de Mursi mortos e cerca de 300 feridos.
Em comunicado, este departamento explicou que seis corpos foram encontrados em Rabea al Adauiyar, enquanto outros cinco apareceram em Al-Nahda.
Além disso, dez feridos denunciaram perante as forças de segurança terem sido torturados por manifestantes nestes dois lugares e acusaram membros da Irmandade Muçulmana de ter-lhes agredido.
Por outro lado, a polícia encontrou três corpos com sinais de tortura na zona de Al Omraniya, na província de Guiza, próxima ao Cairo, e deteve um dos acusados de ter efetuado o crime.
O detido reconheceu nos interrogatórios que ele e outros manifestantes da praça de Al-Nahda torturaram as vítimas em uma das tendas de campanha montadas no local.
O Ministério do Interior afirmou em comunicado que investiga cada fato para identificar os agressores e pediu aos cidadãos que comuniquem qualquer incidente deste tipo.
Ontem à noite, o Conselho de Defesa Nacional solicitou aos manifestantes islamitas de Rabea al Adauiya e de Al-Nahda que anunciem "imediatamente" sua renúncia a todo tipo de violência e de terrorismo.
Além disso, advertiu que vigiará os protestos e tomará medidas estritas contra qualquer violação da lei.
Estes manifestantes são seguidores do deposto presidente Mohammed Mursi que rejeitam o golpe militar do dia 3 e organizam protestos contínuos para pedir seu retorno ao poder.
Os islamitas convocaram novas manifestações para hoje e amanhã, coincidindo com a visita da chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Catherine Ashton, que se reuniu no Cairo com as novas autoridades egípcias.
Ashton pediu às partes no Egito que mantenham o autocontrole e se afastem da violência.
O Cairo foi palco de sangrentos distúrbios que deixaram 72 seguidores de Mursi mortos e cerca de 300 feridos.
Há 15 anos, uma sensação de isolamento cada vez maior causada pelo
envelhecimento levou Kayoko Okawa, então com 66 anos, a procurar um
centro local de voluntários e perguntar timidamente se alguém da idade
dela poderia criar uma comunidade online para idosos.
A enérgica Okawa, agora com 81, hoje é presidente do “Grupo das Avós
do Computador”, e diz que usar a internet pode aliviar a solidão do
crescente número de idosos que vivem sozinhos no Japão e, mais
importante, evitar uma morte solitária – o que muitas vezes passa
despercebido por longos dias.
“Gosto de lembrar da época em que escrevia cartas e enviava desenhos e fotos”, diz Okawa. “Era o toque pessoal que importava.”
Rejeitada 15 anos atrás por muitos grupos, com comentários do tipo
“não há como uma vovó como você fazer uma coisa assim”, as perguntas
hesitantes de Okawa terminaram por ser respondidas com entusiasmo
amistoso e conselhos por dois jovens, que imediatamente se ofereceram
para ajudar a montar a rede e imprimir cartões de visita para a
fundadora.
Defendendo um maior uso da tecnologia da informação pelos idosos, as
“Vovós da Computação”, grupo que hoje congrega mais de 250 mulheres e –
homens – de todo o Japão, promovem duas aulas mensais para ensinar os
idosos a usar a internet. Também operam uma lista de discussões que se
tornou uma movimentada comunidade online.
“Suponho que a expansão aconteceu porque todo mundo se sentia
solitário. É um momento da vida em que todos, homens e mulheres, se
sentem um pouco sozinhos”, disse Okawa. “Falamos sobre a ‘sociedade em
envelhecimento’ e sobre a ‘necessidade de apoio psicológico’ e coisas
assim… mas a verdade é que todo mundo se sente um pouco sozinho”,
acrescenta.
Quando Okawa começou sua jornada, os computadores pessoais ainda eram
bem caros, com preços de mais de 600 mil ienes (US$ 7,8 mil em dinheiro
atual), bem além do alcance dos aposentados.
Ela e um grupo de voluntários solicitaram doações de computadores
usados a empresas, e conseguiram o que precisavam em uma visita à
subsidiária japonesa da Microsoft. “Entrar no depósito deles foi como
entrar em uma caverna do tesouro”, disse Okawa.
sábado, 27 de julho de 2013
quinta-feira, 25 de julho de 2013
sexta-feira, 19 de julho de 2013
segunda-feira, 15 de julho de 2013
Atingida por uma bala na cabeça, Malala sobreviveu milagrosamente,
antes de ser transferida para um hospital no Reino Unido, onde vive
desde então. Sua história comoveu o Paquistão e o resto do mundo.
Em dezembro, estudantes protestaram quando as autoridades decidiram renomear a escola local de "Malala", por medo de serem alvo dos insurgentes islamitas. Elas chegaram a rasgar fotografias da adolescente, que é cotada para receber o prêmio Nobel da Paz e que está entre as personalidades mais influentes do mundo, segundo a revista americana Time.
E ainda assim, o número de meninas matriculadas na escola no Vale do Swat, controlado pelo Talibã de 2007 até a intervenção do Exército em 2009, aumentou 6% desde o ano passado (102.374 contra 96.540), segundo as autoridades.
Em dezembro, estudantes protestaram quando as autoridades decidiram renomear a escola local de "Malala", por medo de serem alvo dos insurgentes islamitas. Elas chegaram a rasgar fotografias da adolescente, que é cotada para receber o prêmio Nobel da Paz e que está entre as personalidades mais influentes do mundo, segundo a revista americana Time.
E ainda assim, o número de meninas matriculadas na escola no Vale do Swat, controlado pelo Talibã de 2007 até a intervenção do Exército em 2009, aumentou 6% desde o ano passado (102.374 contra 96.540), segundo as autoridades.
Mas este aumento se explica menos pelos esforços de Malala do que pela melhora na segurança local.
Ao disparar contra a jovem em 12 de outubro de 2012, os rebeldes islamitas do Talibã paquistanês tinham a intenção de alertar os habitantes do Swat (noroeste): as meninas não são bem-vindas nas escolas, sobretudo nas não-islâmicas.
"Mas esse salto é principalmente devido ao retorno à normalidade na região", considera Anwar Sultana, diretora do colégio mais antigo para meninas em Mingora, a principal cidade do Vale do Swat.
"O Talibã impedia as meninas de estudar e as ameaçava caso fossem para a escola. Hoje em dia, mais e mais meninas vão para a escola, o que significa que o medo começou a desaparecer", explicou, sentada na varanda do colégio. "Quando você exclui alguma coisa, essa coisa renasce com ainda mais força", acrescenta.
Nesta escola modesta, as salas de aula coloridas não têm mesas nem cadeiras. Os estudantes se sentam no chão, o que torna possível maximizar o número de alunos e permite que meninas como Saeeda Rahim voltem para a escola. Saeeda havia abandonado os estudos por causa do Talibã, e chegou a deixar o Vale do Swat. Em seu retorno, sua família relutou em matriculá-la na escola, por medo de represálias do Talibã. Mas os temores diminuíram e ela voltou aos livros.
Se o exemplo de Malala não foi o responsável por sua volta, a menina, coberta com um véu branco, diz, no entanto, se inspirar no jovem milagre. "Eu realmente aprecio suas palavras, quero continuar o seu trabalho, aparecer na mídia e convencer os pais de que a educação é um direito para as meninas", sussurra.
Mas, de acordo com Erfaan Hussein Babak, diretor da escola Pak Shama, em Saidu Sharif, cidade vizinha de Mingora, "muitas meninas pensam que Malala não fez nada para o educação e não merecia toda essa atenção da mídia". "Muitas pessoas pensam que Malala não tem nada a ver com o aumento do número de alunas, que se deve, de fato, à tomada de consciência pelas classes populares do direito à educação das meninas", acredita.
Apesar deste aumento, ainda há um longo caminho a ser percorrido pelo Paquistão, onde mais de cinco milhões de crianças não frequentam a escola primária, incluindo cerca de três milhões de meninas.
Na província de Malala, Khyber Pakhtunkhwa, região conservadora na fronteira com o Afeganistão, a taxa de analfabetismo é superior a 60% entre as mulheres. O Talibã também destruiu 750 escolas em quase cinco anos, mas 611 delas foram reconstruídos, garantiu à AFP o ministro da Educação provincial, Muhammad Atif.
O novo governo provincial, liderado pelo partido do ex-jogador de críquete Imran Khan, que disse estar pronto para negociar a paz com o Talibã, aumentou recentemente em 27% o orçamento para a educação, atingindo US$ 660 milhões por ano, assegura Atif. "A educação é nossa prioridade", diz.
Ao disparar contra a jovem em 12 de outubro de 2012, os rebeldes islamitas do Talibã paquistanês tinham a intenção de alertar os habitantes do Swat (noroeste): as meninas não são bem-vindas nas escolas, sobretudo nas não-islâmicas.
"Mas esse salto é principalmente devido ao retorno à normalidade na região", considera Anwar Sultana, diretora do colégio mais antigo para meninas em Mingora, a principal cidade do Vale do Swat.
"O Talibã impedia as meninas de estudar e as ameaçava caso fossem para a escola. Hoje em dia, mais e mais meninas vão para a escola, o que significa que o medo começou a desaparecer", explicou, sentada na varanda do colégio. "Quando você exclui alguma coisa, essa coisa renasce com ainda mais força", acrescenta.
Nesta escola modesta, as salas de aula coloridas não têm mesas nem cadeiras. Os estudantes se sentam no chão, o que torna possível maximizar o número de alunos e permite que meninas como Saeeda Rahim voltem para a escola. Saeeda havia abandonado os estudos por causa do Talibã, e chegou a deixar o Vale do Swat. Em seu retorno, sua família relutou em matriculá-la na escola, por medo de represálias do Talibã. Mas os temores diminuíram e ela voltou aos livros.
Se o exemplo de Malala não foi o responsável por sua volta, a menina, coberta com um véu branco, diz, no entanto, se inspirar no jovem milagre. "Eu realmente aprecio suas palavras, quero continuar o seu trabalho, aparecer na mídia e convencer os pais de que a educação é um direito para as meninas", sussurra.
Mas, de acordo com Erfaan Hussein Babak, diretor da escola Pak Shama, em Saidu Sharif, cidade vizinha de Mingora, "muitas meninas pensam que Malala não fez nada para o educação e não merecia toda essa atenção da mídia". "Muitas pessoas pensam que Malala não tem nada a ver com o aumento do número de alunas, que se deve, de fato, à tomada de consciência pelas classes populares do direito à educação das meninas", acredita.
Apesar deste aumento, ainda há um longo caminho a ser percorrido pelo Paquistão, onde mais de cinco milhões de crianças não frequentam a escola primária, incluindo cerca de três milhões de meninas.
Na província de Malala, Khyber Pakhtunkhwa, região conservadora na fronteira com o Afeganistão, a taxa de analfabetismo é superior a 60% entre as mulheres. O Talibã também destruiu 750 escolas em quase cinco anos, mas 611 delas foram reconstruídos, garantiu à AFP o ministro da Educação provincial, Muhammad Atif.
O novo governo provincial, liderado pelo partido do ex-jogador de críquete Imran Khan, que disse estar pronto para negociar a paz com o Talibã, aumentou recentemente em 27% o orçamento para a educação, atingindo US$ 660 milhões por ano, assegura Atif. "A educação é nossa prioridade", diz.
A Coreia do Sul é o país com a maior concentração de smartphones do mundo. Cerca de 70% da população tem um aparelho do tipo.
Mas o excesso de tecnologia também tem provocado preocupações. As
autoridades calculam que um em cada cinco menores de idade sofre com
problemas como depressão e ansiedade quando fica sem mexer com celular.
O problema do vício tem sido atacado por programas dos ministérios da
Educação e da Saúde, que pedem que as escolas organizem acampamentos
destinados a livrar as crianças dos efeitos negativos do problema.
quinta-feira, 11 de julho de 2013
Nunca é tarde para apreciar as propriedades nutricionais do leite materno.
Com essa filosofia, uma empresa da metrópole de Shenzhen, sul da China, atraiu a atenção de marmanjos dispostos a pagar caro para ter uma ama de leite de plantão, que lhes forneça o alimento direto da fonte.
O polêmico serviço provocou uma avalanche de críticas de usuários das redes sociais chinesas, muitos enojados, outros sugerindo que trata-se de perversão sexual.
O que mais chocou os internautas foi a possibilidade de que o cliente seja literalmente amamentado.
"Eles podem escolher entre a amamentação direta ou por meio de um sugador", disse ao jornal "Southern Metropolis Daily" o porta-voz da empresa Xinxinyu, que oferece o serviço.
Segundo Lin Jun, o porta-voz citado, é crescente a procura do leite materno entre adultos com muito dinheiro e pouca saúde.
"Mas só alguns poucos mamam diretamente no peito das amas de leite", diz um dos entrevistados, que não é identificado. Ele conta que contratou a ama para morar em sua casa, a fim de garantir o fornecimento diário.
A reportagem estima que as fornecedoras cobrem em média 16 mil yuans (R$ 5.680) por mês, quatro vezes o salário médio mensal no país. O preço pode ser mais alto se a ama for atraente e comprovadamente saudável.
Mei Chunlai, um advogado consultado pelo jornal "China Daily", disse que, embora a lei do país proíba a venda de leite materno, a fiscalização é frouxa.
Devido aos períodos curtos de licença maternidade, o índice de aleitamento materno na China é baixo, de 28%, segundo relatório do Unicef publicado no ano passado.
Com essa filosofia, uma empresa da metrópole de Shenzhen, sul da China, atraiu a atenção de marmanjos dispostos a pagar caro para ter uma ama de leite de plantão, que lhes forneça o alimento direto da fonte.
O polêmico serviço provocou uma avalanche de críticas de usuários das redes sociais chinesas, muitos enojados, outros sugerindo que trata-se de perversão sexual.
O que mais chocou os internautas foi a possibilidade de que o cliente seja literalmente amamentado.
"Eles podem escolher entre a amamentação direta ou por meio de um sugador", disse ao jornal "Southern Metropolis Daily" o porta-voz da empresa Xinxinyu, que oferece o serviço.
Segundo Lin Jun, o porta-voz citado, é crescente a procura do leite materno entre adultos com muito dinheiro e pouca saúde.
"Mas só alguns poucos mamam diretamente no peito das amas de leite", diz um dos entrevistados, que não é identificado. Ele conta que contratou a ama para morar em sua casa, a fim de garantir o fornecimento diário.
A reportagem estima que as fornecedoras cobrem em média 16 mil yuans (R$ 5.680) por mês, quatro vezes o salário médio mensal no país. O preço pode ser mais alto se a ama for atraente e comprovadamente saudável.
Mei Chunlai, um advogado consultado pelo jornal "China Daily", disse que, embora a lei do país proíba a venda de leite materno, a fiscalização é frouxa.
Devido aos períodos curtos de licença maternidade, o índice de aleitamento materno na China é baixo, de 28%, segundo relatório do Unicef publicado no ano passado.
sexta-feira, 5 de julho de 2013
terça-feira, 2 de julho de 2013
´
Os passageiros que esperavam um trem em uma estação da província de
Jilin, na China, foram surpreendidos quando uma das telas gigantes das
instalações começou a projetar um filme pornográfico devido à distração
de um funcionário da manutenção.
O trabalhador, de sobrenome Iuane, não percebeu que seu próprio
computador, no qual acreditava ver sozinho o filme erótico enquanto
consertava a tela da estação, estava conectado à tela, publicou nesta
terça-feira o jornal oficial "Global Times".
A distração pegou desprevenidas centenas de passageiros, que assistiram a várias cenas do filme.
Dez minutos depois, a concessionária da tela chamou a atenção do
distraído para que desligasse o computador do aparelho, e o trabalhador,
assustado, reagiu jogando o DVD por uma janela.
Apesar do desespero de Iuane e de sua reação ao saber do erro, a
imprensa oficial informa que a polícia começou uma investigação sobre o
assunto, e o trabalhador pode ser condenado a até dois anos de prisão se
as autoridades considerarem que divulgou pornografia, segundo a lei
chinesa.
Além disso, o filme, baseado no clássico da literatura erótica chinesa
"A ameixa na jarra de ouro", está proibido na China continental.
Embora o romance tenha sido considerado pornográfico e tenha sido
proibido durante séculos, a obra anônima já é acessível na China e
chegou a ser traduzida para o inglês em 1939.
As autoridades mantêm a proibição sobre o filme, produzido em Hong
Kong, que consideram "muito mais explícito", o que pode representar um
problema ainda maior para o funcionário distraído
´
A Lei dos Direitos dos Idosos entrou em vigor esta segunda-feira na
China e obriga os filhos adultos, tenham que idade tiverem, a visitarem
os seus pais. Quem não cumprir é multado e pode ir para a prisão.
Na base desta lei está a
ideia de que os idosos não devem ser negligenciados e que os filhos
devem preocupar-se com as suas necessidades.
De acordo com as
estatísticas oficiais, em 2010 mais de 178 milhões de chineses tinham 60
ou mais anos. No final de 2030, de acordo com as previsões, esse número
terá duplicado. E à medida que a população envelhece as histórias de
negligência para com os mais velhos aumentam.
A BBC conta que
houve uma onda de indignação quando os media noticiaram que uma idosa de
91 anos foi espancada pela nora por pedir uma taça de arroz. Dois dias
depois, os internautas da rede social chinesa Weibo, relataram várias
histórias semelhantes, uma delas sobre uma mulher de cem anos que era
obrigada a dividir o quarto com o porco que a família estava a criar.
A
lei foi considerada por alguns sectores como uma forma de alertar a
população para o abandono dos idosos, um fenómeno que está a crescer na
China. Mas muitos consideram o seu carácter obrigatório é errado.
Primeiro, porque uma boa parte da população migrou para muito longe das
suas zonas de origem, não podendo viajar com frequência para visitar a
família que deixou para trás. Segundo, porque não há forma de averiguar
se a lei está a ser cumprida - não é estipulado um regulamento, por
exemplo quantas vezes por ano (ou de quanto em quanto tempo) os filhos
devem visitar os pais. O texto diz apenas que "os que vivem longe devem
ir a casa com frequência". Finalmente, há quem considere que as relações
familiares devem ser regidas por laços emocionais e não por leis.
Trata-se
de uma "mensagem educacional", explicou à BBC Zhang Yan Feng, advogado
de Pequim. "É difícil pôr esta lei em prática, mas não é impossível. E é
uma base para futuras acções judiciais. Mas se um caso for levado a
tribunal acredito que o resultado seja um acordo [sobre o número de
visitas]. Se não houver acordo, então o tribunal pode forçar um
indivíduo a ir a casa um determinado número de vezes por mês".
"Quem
não quer ir a casa com frequência? E o que é que quer dizer
'frequência'?", perguntava um chinês no Weibo. "Claro que gostamos dos
nossos idosos, mas andamos muito ocupados a ganhar a vida e a pressão é
muito grande", notava outro. Outro exemplo: "Aceito que não nos paguem
para irmos visitar os nossos familiares, mas alguém tem que nos dar
folgas para o fazermos".
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