quinta-feira, 30 de agosto de 2012
Uma bomba magnética é detonada num carro diplomático em Nova Déli. A polícia descobre explosivos na cidade queniana de Mombaça. Cinco turistas israelenses e um motorista de ônibus búlgaro são mortos num atentado na localidade litorânea de Burgas. Esses são alguns entre cerca de uma dúzia de complôs apontados por algumas autoridades de inteligência israelenses e americanas como parte de uma contínua ofensiva do Irã e do Hizbollah contra Israel e seus aliados.
Mas as ligações às vezes parecem tênues, as táticas parecem variáveis e os alvos parecem espalhados demais.
"Isso não é um 'thriller' de espionagem que o leitor pode acompanhar de página em página", disse Matthew Levitt, diretor do programa de contraterrorismo e inteligência do Instituto de Washington para a Política do Oriente Próximo.
"O Irã e o Hizbollah prosperam com base em uma razoável capacidade de negar."
Analistas dizem que a guerra às sombras tem mais em comum com as manobras da CIA e da KGB durante a Guerra Fria do que com o terrorismo da Al Qaeda.
"Eles querem uma ambiguidade suficiente para que você não possa cravar que foram eles, a semente da dúvida que dificulta que Israel ou os EUA reajam", disse Andrew Exum, pesquisador graduado do Centro para uma Nova Segurança Americana, em Washington.
Após a explosão na Bulgária, o Irã e o Hizbollah negaram seu envolvimento quase com a mesma rapidez com que Israel apontou o dedo para eles. Autoridades americanas e búlgaras concordam reservadamente com essa avaliação, mas não dizem isso abertamente.
A inteligência israelense tem indícios de muitos telefonemas entre o Líbano e Burgas nos dois meses que antecederam ao atentado, segundo um funcionário graduado do governo.
"Conhecemos as fontes no Líbano", mas não a identidade de quem estava do outro lado, na Bulgária, segundo o funcionário, que não deu mais detalhes. "Eles não deveriam saber que nós sabemos os números no Líbano."
As autoridades búlgaras ainda não informaram ter identificado o autor do atentado, que também morreu na explosão, nem seus supostos cúmplices.
Sófia hesita em declarar o Hizbollah como suspeito sem uma prova cabal, já que a União Europeia nunca qualificou o grupo como uma organização terrorista.
Aliados europeus mantêm "certo ceticismo de que tenha sido o Hizbollah como organização e não, por exemplo, o Irã usando indivíduos com alguma filiação ao Hizbollah", disse um alto funcionário alemão de segurança.
A investigação em Nova Déli parece mais avançada, mas, lá também, as relações diplomáticas e comerciais internacionais deixam a Índia num dilema.
O Irã é um importante fornecedor de petróleo para a Índia, que busca equilibrar as suas relações com o Irã, Israel e os EUA.
A polícia indiana expediu em março mandados de prisão contra três cidadãos iranianos por causa do atentado em Nova Déli. Mas autoridades negaram que agentes da Guarda Revolucionária do Irã tenham sido identificados como responsáveis, conforme noticiou recentemente o jornal "The Times of India".
Vários dos complôs são feitos com desleixo. Isso dá a alguns especialistas a impressão de que os atentados foram planejados às pressas, talvez como uma reação do Irã e do Hizbollah a uma série de ataques contra o programa nuclear iraniano.
A guerra civil na Síria, que ameaça um governo aliado-chave de Teerã, pode ser outra motivação.
"Havia uma espécie de desespero para realizar esses ataques", disse um alto funcionário israelense.
"Mesmo quando eles foram frustrados, havia uma sensação de que eles haviam feito alguma coisa. Eles precisam mostrar alguns resultados."
O Hizbollah já jurou vingança pelo assassinato, cometido em 2008 por Israel, de Imad Mughniyah, ex-chefe de segurança do grupo, que foi vítima de um carro-bomba na Síria. O Irã também responsabiliza Israel pela morte de pelo menos quatro cientistas nucleares iranianos.
Yoram Schweitzer, pesquisador-sênior do Instituto de Estudos da Segurança Nacional, disse que os responsáveis pelos recentes complôs querem envolver Israel em confrontos com seus vizinhos. "Por essa razão, o melhor para Israel é adotar uma política moderada e reagir em um momento de sua própria escolha", afirmou ele, "de forma focada e dissimulada".
O conflito, em outras palavras, pode continuar acontecendo sob as sombras.
Quando Sahar Gul se recusou a prostituir-se ou a fazer sexo com o homem com quem foi forçada a se casar aos 13 anos, os familiares de seu marido a torturaram e a deixaram meses jogada num porão sujo, sem janelas, até ela ser encontrada pela polícia, deitada sobre palha e estrume de animais.
Em julho, um tribunal de recursos confirmou as sentenças de prisão de dez anos cada para três dos familiares do marido de Sahar Gul, numa decisão saudada como triunfo legal que ressalta as conquistas dos últimos dez anos em matéria dos direitos das mulheres. Ela está se recuperando de suas feridas num abrigo para mulheres em Cabul.
Mas, para muitos defensores dos direitos humanos, o caso de Sahar Gul, que ganhou a atenção do presidente, Hamid Karzai, e da mídia internacional, é a exceção que comprova a regra, não passando de uma vitória pequena em meio aos inúmeros casos de abuso a mulheres que não vêm à tona.
Além disso, os grupos de defesa das mulheres temem que mesmo os avanços tênues conquistados na proteção de algumas mulheres possam ser desfeitos se a atenção do Ocidente se desviar do Afeganistão, na medida em que as tropas da Otan se retiram do país e que o dinheiro internacional injetado em sua economia diminui.
"Se você tirar esses recursos e essa pressão, os avanços não serão sustentáveis", disse Heather Barr, pesquisadora do grupo Human Rights Watch.
Sahar Gul, que hoje tem 14 anos, cresceu em Badakhshan, uma província montanhosa pobre no norte do país. Após a morte de seu pai quando ela ainda era pequena, foi viver com seu meio-irmão, Mohammad. Ela ajudava com o trabalho duro -cuidando de vacas, ovelhas e do pomar e moldando tijolos de estrume-, mas a esposa de seu meio-irmão a rejeitava. Quando Mohammad foi contatado por um homem de 30 anos, Ghulam Sakhi, sua esposa o pressionou a entregar Sahar Gul para se casar com ele, apesar de ela ainda não ter chegado à idade legal do casamento: 16 anos, com o consentimento do pai.
De acordo com promotores e autoridades do governo, Ghulam Sakhi pagou pelo menos US$5.000 pela menina, numa transação ilegal. Ele a levou para a casa de seus pais, em Baghlan, a centenas de quilômetros de distância.
De acordo com Rahima Zarifi, a presidente do departamento de assuntos de mulheres de Baghlan, a primeira esposa de Ghulam Sakhi tinha fugido porque Ghulam e sua mãe a espancavam, porque ela não gerava filhos. Ainda segundo Zarifi, é possível que ele tenha ido tão longe para procurar uma nova esposa porque sua família pretendia forçar a jovem a se prostituir.
Frustrada porque a menina não conseguia fazer todo o trabalho de casa pedido, a família a colocou no porão, onde ela dormia sobre o chão, sem colchão e com pés e mãos amarrados com uma corda. Recebia apenas pão e água e era espancada regularmente.
Segundo Sahar Gul e Mushtari Daqiq, advogado do grupo de ajuda Mulheres em Defesa de Mulheres Afegãs e também advogado de Sahar Gul, a maioria dos espancamentos era feita por Amanullah, o velho pai de Ghulam Sakhi.
Eles disseram que Amanullah bateu na menina com varas, mordeu seu peito, inseriu ferros quentes em suas orelhas e vagina e arrancou suas unhas.
O meio-irmão de Sahar Gul e seu tio Khwaja tentaram visitá-la algumas vezes, mas a família dizia que ela não estava em casa. Em dezembro passado, seis meses após o casamento, eles voltaram para a casa com dois policiais e ouviram a voz dela no porão. A polícia prendeu a sogra, Siyamoi, sua filha, Mahkurd, e Amanullah.
A família disse à polícia que Ghulam Sakhi fazia parte do Exército afegão e estava em serviço em Helmand. De acordo com moradores e autoridades locais, foi descoberto mais tarde que a informação era falsa, mas a mentira deu tempo a ele de fugir, juntamente com seu irmão. Os dois continuam foragidos. Siyamoi e Mahkurd estão numa prisão feminina em Cabul.
Em um abrigo em Cabul, Sahar Gul declarou: "Quero me tornar política e impedir que outras mulheres sofram o que eu sofri".
O receio é que seu resgate possa ser uma exceção, e não uma nova regra. "Temos muitos casos mais graves que este, em que mulheres são trucidadas", disse Zarifi. "Ninguém fica sabendo sobre elas."
Aamir Khan passou mais de duas décadas como um dos mais admirados astros do cinema indiano. Agora ele está ficando ainda mais famoso como apresentador de um programa semanal de TV que chama a atenção para alguns dos tradicionais problemas sociais do país.
Misturando entrevistas e reportagens curtas, o "Satyamev Jayate" ("A Verdade Prevalece") aborda questões degradantes, como os dotes, a violência doméstica e o sistema de casta.
Em apenas três meses, o programa matinal dos domingos se tornou um fenômeno nacional, atraindo quase meio bilhão de espectadores, segundo a rede Star India, a principal do país.
Numa das primeiras edições, Khan, 47, destacou uma reportagem investigativa feita ao longo de sete anos por dois jornalistas que haviam denunciado mais de cem médicos que se ofereciam para abortar ilegalmente fetos do sexo feminino.
Os processos judiciais contra os médicos se arrastavam nos tribunais notoriamente lentos do país.
Mas, dias depois do programa, o ocupante do principal cargo eletivo no Estado do Rajastão, onde a investigação jornalística foi feita, reuniu-se com Khan e prometeu transferir os processos para tribunais especiais que acelerariam a tramitação.
Esse tipo de resposta imediata faz com que Khan seja cada vez mais procurado por formuladores de políticas, ativistas sociais e outros que o veem como um paladino das suas causas.
Depois de fazer um programa sobre erros médicos, ele depôs numa CPI sobre o sistema nacional de saúde. E, no mês passado, se reuniu com o primeiro-ministro Manmohan Singh para defender a proibição da prática pela qual urinas e fezes são limpos por pessoas nascidas nas castas mais desprivilegiadas.
"O sr. Khan está prestando um serviço à nação ao abordar questões importantes que precisam de um maior debate público", disse K. Srinath Reddy, presidente da Fundação de Saúde Pública da Índia.
O ex-parlamentar Shyam Benegal, um respeitado diretor de cinema e TV, disse que Khan faz o que muitos outros não conseguiram -alcançar o grande público indiano, ao colocar a linguagem de Bollywood a serviço de causas maiores.
"Isso é eficaz porque Aamir Khan é um astro do cinema", disse Benegal.
Khan comparou seu trabalho no programa ao seu filme "Taare Zameen Par" ("Como Estrelas sobre a Terra", de 2007), que mostrava as dificuldades de uma família e de uma escola para lidar com uma criança disléxica.
"Se eu lhe disser que estou fazendo um filme sobre dislexia, quanta gente vai entrar no cinema?", perguntou ele.
"Ninguém", prosseguiu, "então preciso dizer que é um filme sobre a infância e as crianças". Da mesma forma, afirmou, o "Satyamev Jayate" não anuncia seus temas de antemão.
Khan largou a faculdade para fazer carreira no cinema e seu primeiro sucesso, em 1988, foi num musical de Bollywood. Depois, em "Lagaan - A Coragem de Um Povo" (2001), filme indicado ao Oscar, ele interpretou um aldeão da Índia colonial que desafia um regimento britânico para uma partida de críquete, na qual seria decidido se a aldeia dele precisaria pagar um extorsivo imposto fundiário chamado "lagaan".
Em seguida, ele estrelou ou produziu filmes que tratam de questões como a corrupção, o endividamento dos camponeses e o rigoroso ensino superior indiano.
Seu programa é criticado pela abordagem às vezes simplista de temas complexos. A Associação Médica Indiana disse que seus filiados são retratados como pessoas gananciosas e antiprofissionais.
Outros afirmam que a atração é dócil demais na hora de apontar culpados.
Khan disse que nunca pretendeu fazer um programa investigativo e argumentou que está obtendo um impacto muito maior ao colocar questões perturbadoras diante de grandes audiências, de uma forma que busca constrangê-las a abandonar sua apatia.
"Nossa atitude não é a de culpar esta ou aquela pessoa. A culpa é de todos nós."
O presidente do Paquistão,
Asif Ali Zardari, pediu um relatório sobre a prisão, na última
semana, de uma menina de 11 anos que teria problemas mentais e foi
acusada de queimar páginas do Corão, livro sagrado dos muçulmanos.
Segundo a polícia, a
garota foi detida no bairro cristão de Umara Jaffar, em Islamabad,
depois que uma "multidão furiosa" ordenou que ela fosse
punida por "blasfêmia".
Autoridades, no entanto,
disseram que a menina não conseguiu nem responder de forma
apropriada às perguntas do interrogatório. Segundo líderes
cristãos, a garota teria síndrome de Down.
A menina é acusada de
queimar dez páginas do Corão e depois jogar o livro sagrado no
lixo.
Mas há divergências entre
os relatos das testemunhas, e a polícia não encontrou provas contra
a garota. Também há informações de que a jovem teria 16 e não 11
anos.
De acordo com a imprensa
estatal, Zardari pediu ao Ministério do Interior um relatório sobre
o caso.
Seus pais estão sob
proteção do Estado após terem recebido ameaças e de a casa ter
sido cercada por vizinhos.
Após a prisão, outras
famílias cristãs deixaram o bairro da capital com medo de
retaliações.
O incidente ocorre em um
momento em que a aplicação da lei da blasfêmia tem sido
questionada por grupos de defesa dos direitos humanos, que denunciam
abusos contra os grupos minoritários.
Segundo a lei, aprovada
durante o mandato do ditador militar islâmico Mohammed Zia-ul-Haq
(1977-88), pessoas acusadas de blasfêmia contra o islã podem
receber a pena de morte.
Cerca de 97% da população
do Paquistão é muçulmana, segundo o último censo.
No ano passado, o ministro
para as minorias Shahbaz Bhatti foi morto depois de pedir o fim da
lei.
Como muitas crianças de seis anos, Pankaj Disht fica tímido ao falar com um estranho. Mas desde que mudou para uma escola privada, ele se tornou mais extrovertido e diz que gosta da escola e tem muitos amigos.
Em circunstâncias normais, o pai de Pankaj, Madan Singh Disht, cozinheiro doméstico, só poderia ter enviado seu filho para uma escola pública onde, como no resto da Índia, sofreria com as ausências dos professores, com a falta de infraestrutura e de recursos.
Entretanto, por causa de uma lei aprovada pela Suprema Corte nesta última primavera e da tenacidade da patroa de Disht, Seema Talreja, que organizou a inscrição do menino, Pankaj está frequentando uma escola privada, a Mother`s International School, onde recebe atenção individual de professores motivados.
Talreja, que é patroa de Disht há cinco anos, queria ajudar na educação da família. Ela aproveitou a legislação recente, que exige que as escolas privadas da Índia admitam 25% de seus alunos das idades de 6 a 14 de famílias que ganham menos de $ 100.000 rúpias por ano, ou seja, em torno de R$ 3.600.
Desde que Pankaj começou a frequentar a nova escola, “houve uma mudança completa na autoconfiança e na autoestima dele”, disse Talreja por telefone.
Os pais de Pankaj, que deixaram a escola aos 10 anos, concordaram. Disht disse que queria que o filho fosse médico. “Nessa escola, ele vai estudar e receber bons valores”, disse ele.
A lei que abre a educação privada para alunos de famílias de baixa renda faz parte do Direito das Crianças à Educação Gratuita Obrigatória, da Lei do Direito à Educação, que foi aprovada pelo governo indiano em 2009.
A lei assegura o acesso à escola para crianças entre seis e 14 anos e estabelece várias regras para educação pública e privada, inclusive a razão entre alunos e professores, horas de trabalho dos professores, necessidades de educação especial e registros.
O item que exige que as escolas privadas admitam crianças de baixa renda atingiu um nervo sensível entre os pais mais ricos, e as escolas pouco se mexeram para cumprir a lei.
No ano passado, uma associação de escolas privadas questionou a lei formalmente na justiça.
Em abril, a Suprema Corte manteve a constitucionalidade da lei, pavimentando o caminho para o cumprimento das quotas de 25%.
Há ainda um longo caminho a ser trilhado, e o número de crianças que se beneficiam do novo acesso às escolas privadas será relativamente pequeno. É proibida a discriminação no processo de admissão, mas isso não abre as inscrições a todos: os pretendentes têm que ter um pai ou responsável com muita tenacidade para fazer a inscrição.
Os críticos da lei acusaram o governo de se esquivar da responsabilidade das 80% das escolas que são financiadas pelo governo. Das 188 milhões de crianças admitidas no ensino fundamental na Índia, 70% estudam em escolas públicas. Nas aldeias, 84% das crianças frequentam escolas do governo, de acordo com o Sistema de Informação Distrital da Educação, um banco de dados do governo.
Os problemas nas escolas públicas, além das faltas dos professores e da fraca infraestrutura, incluem a discriminação por sexo, e muitas escolas não têm banheiro para meninas. Um artigo publicado em junho pela revista “The Economic and Political Weekly”, apontou uma série de estudos que concluíram que, mesmo depois de cinco anos de escolaridade, alguns alunos não sabem ler, escrever ou a matemática básica.
“A educação pública vem descendo a ladeira nas últimas décadas”, disse Kiran Bhatty, ex-coordenador nacional de monitoramento da Lei do Direito à Educação. “Há uma divisão entre as escolas públicas e privadas por causa da falta de qualidade nas escolas do governo. A lei está tentando abordar essas questões. É uma mudança de paradigma que não é fácil”.
Enquanto as escolas privadas do país parecem estar gradualmente aceitando a lei, há preocupação sobre como ela será aplicada.
“Queremos participar”, disse Benaifer P. Kutar, da J.B. Petit High School, uma escola de 150 anos para meninas em Mumbai. “A lei vai transformar a sala de aula na Índia. Vamos adotá-la no melhor espírito. Mas espero que tenhamos alguma autonomia em como vamos implementá-la”.
Uma questão que ainda está ambígua é o custo. Tipicamente, as escolas privadas que seguem o currículo do conselho escolar indiano cobram de $ 60.000 a $ 100.000 rúpias por ano. As escolas que seguem o programa de Baccalaureate Internacional cobram até cinco vezes mais.
O governo estipulou que cobriria os custos das escolas privadas para as crianças pobres até a quantia que custaria se estivessem cursando uma escola pública, que varia por Estado. (Em Déli, por exemplo, o governo contribui com cerca de $ 1.200 rúpias por criança por mês). A lei não está clara sobre quem vai arcar com o restante, e muitos pais temem que as escolas vão elevar a mensalidade para os pais mais abastados pagarem a diferença.
“As implicações financeiras são gigantescas”, disse Avnita Bir, diretora da Escola R.N. Podar, no subúrbio de Mumbai. “As escolas terão necessidade de fundos e os pais vão dizer ‘por que somos obrigados a subsidiar as outras crianças?’”
Kutar, da J.B. Petit, disse que não tinha sido informada sobre quem pagaria pelos livros, uniformes, excursões e horas de instrução extracurriculares para crianças que ingressarem pela quota.
As ramificações sociais em uma sociedade tão estratificada quanto a Índia também estão causando debate.
“As pessoas dizem que estão preocupadas com o impacto social e psicológico sobre as crianças”, disse Bir da escola R. N. Podar. “Pessoalmente, não estou preocupada com isso. Se a filosofia da escola for inclusiva, funcionará”.
Também houve resistência por parte dos pais de alunos de escolas privadas. Funcionários de escolas em Nova Déli que pediram para não ser identificados disseram que os pais estão exigindo que seus filhos não se sentem ao lado de colegas mais pobres ou estão dizendo aos filhos para não fazerem amizade com os alunos mais pobres.
Sunil e Elizabeth Mehta, que dirigem um grupo sem fins lucrativos Muktangan, que oferece aulas de inglês para 1.800 crianças pobres de escolas públicas em Mumbai, disseram que, se os pais tivessem consciência da importância de expandir o acesso à educação de qualidade, os preconceitos eventualmente se dissipariam.
“As pessoas são socialmente sensíveis quando a situação é explicada”, disse Mehta. “Mas você não pode esperar que mudem de uma hora para outra”.
Zena Hao, uma publicitária de 24 anos e dona de quatro bolsas Prada, tem uma nova paixão: revistas de moda. Ela leva para casa pesados exemplares da "Vogue" e da "Harper's Bazaar".
Seu entusiasmo por revistas cheias de anúncios de bolsas Louis Vuitton e batons Chanel é uma apreciada fonte de renda para os editores de revistas baseados em Nova York.
As grifes de moda estão despejando dinheiro nessas publicações em toda a China.
No fim do ano passado, os editores da Cosmopolitan na China começaram a dividir sua edição mensal em duas, porque era grossa demais para imprimir.
Hoje, a "Elle" publica quinzenalmente, porque as edições cresceram para 700 páginas. A Vogue edita quatro números a mais por ano para acompanhar a demanda de publicidade.
"Nós nunca consideramos nada garantido. Mas até agora neste ano parece que estamos tendo um crescimento muito bom", disse Duncan Edwards, presidente da Hearst Magazines International, que tem acordos para publicar 22 revistas na China, incluindo a "Elle" e a "Harper's Bazaar". "Existe uma grande fome por informação sobre luxo."
Muitas chinesas gastam muito mais de sua renda que as ocidentais nessas revistas e nos produtos que elas anunciam.
Segundo um estudo de 2011 realizado pela Bain & Company, a China continental ficou em sexto lugar mundial em gastos em produtos de luxo. Louis Vuitton, Chanel e Gucci continuam sendo as marcas mais desejadas.
Por exemplo, tanto a "Vogue" como a "Cosmopolitan" custam cerca de US$ 3,15, o que é significativo quando a renda mensal individual em Pequim é de cerca de US$ 733. Edwards acrescentou que é bastante comum encontrar chinesas que ganham US$ 15 mil por ano e gastam US$ 2 mil em um artigo de luxo.
"Estamos passando por esse período maravilhoso em que grande número de mulheres está saindo da pobreza para a classe média e para além dela", disse Edwards.
Lena Yang, gerente-geral da Hearst Magazines China, diz que a leitora típica de suas revistas é uma mulher de 29 anos, com maior probabilidade de ser solteira.
Ela tem uma renda média de cerca de US$ 1.431 por mês e gasta US$ 938 por temporada em relógios de luxo, US$ 982 em bolsas e sapatos e US$ 1.066 em roupas.
Yang diz que essas mulheres muitas vezes moram com os pais e recorrem a eles e aos avós para que paguem suas contas. O estudo também mostrou que muitas leitoras economizam pouco.
"A maioria delas é filha única", disse Yang. "Isso significa que não precisam pagar aluguel. Então todo o dinheiro vai para as despesas."
A empresa de pesquisa de mídia IDG, que trabalha com mais de 40 revistas na China, disse que os gastos em publicidade nas revistas femininas de consumo saltou 16,9% até 1° de junho.
É claro que para as editoras os acordos na China têm um preço. Edwards disse que como todas as revistas são propriedade do governo chinês a Hearst tem relações com duas empresas locais que licenciam os nomes das revistas para editoras locais.
Publicar na China também incorre em conviver com a corrupção. Os editores de revistas entrevistados para esta reportagem ofereceram dados de circulação muito variáveis.
Não há relatórios auditados independentes e amplamente reconhecidos.
Além disso, Angelica Cheung, editora-chefe da "Vogue", disse que é esperado, e até exigido, que os anunciantes paguem por conteúdo nesse setor. Ela diz que a revista salienta que se recusa a fazer esses acordos.
Os editores reconhecem que o mercado poderá evaporar se a desaceleração da economia chinesa se mantiver.
Mas até agora, desde que suas matérias fiquem livres de censura, a indústria de revistas está florescente.
"Somos de baixo risco", disse Edwards. "'Cosmo', 'Elle' e revistas como essas não têm grande probabilidade de ofender os órgãos importantes do governo."
Quando Wang Shu -o primeiro arquiteto chinês a ter recebido o prêmio Pritzker- chega a seu estúdio aqui em Hangzhou, ele geralmente lê poesia do século 7 e, então, começa a escrever caligrafia. O ritual, diz ele, infunde calma no dia que ele terá pela frente.
A arte antiga não é a única coisa que diferencia Wang e seu trabalho da arquitetura comercial chamativa, de mármore e vidro, que domina o boom urbano chinês. Suas construções ousadas, mas refinadas, que frequentemente recordam a natureza, fundem o chinês antigo e linguagens modernas, fazendo uso de materiais pouco caros como tijolos e telhas reciclados. Não há um Macintosh em seu estúdio, o Estúdio de Arquitetura Amadora. Alguns terminais empoeirados dos anos 1990 se espalham por mesas recobertas de jornais.
Em fevereiro deste ano, quando concedeu o Prêmio Pritzker de Arquitetura a Wang, 48, o júri do prêmio chamou a atenção para um arquiteto que discorda profundamente da corrida da China para a urbanização e que encontrou uma maneira de criticá-la através de seu próprio trabalho. Wang, que cresceu na província de Xinjiang, no extremo oeste da China, é um outsider em Hangzhou, onde até agora projetou apenas um edifício residencial. Seus museus, academias, residências e um jardim de telhas antigas são todos inspirados na velha China. Mas o vice-primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, mestre da economia que produziu as cidades que Wang rejeita, abraçou o arquiteto na cerimônia de premiação do Pritzker, em Pequim, em maio.
O que desagrada a Wang é a corrida para emular o Ocidente e a insistência em rejeitar tudo que torna a China tão singular.
Queremos copiar Manhattan", disse ele durante um almoço. "Eu adoro Manhattan. É um lugar muito interessante. Mas, se você quer copiar algo que foi realizado em 200 anos, é muito difícil. Nova York não foi desenhada por arquitetos, foi desenhada pelo tempo."
Parte da crítica que ele faz é movida pelo reconhecimento de que um núcleo de funcionários governamentais e investidores ganharam quantias enormes de dinheiro demolindo moradias antigas e estradas dilapidadas para erguer em seu lugar rodovias, aeroportos, estações ferroviárias e conjuntos habitacionais. "Sessenta por cento da receita governamental vem não de impostos normais, mas da venda de terrenos", disse. Para alguns, a receita obtida com a venda de terrenos seria ainda maior.
Um dos projetos mais recentes de Wang envolve persuadir um secretário do Partido Comunista em um vilarejo perto de Hangzhou a não demolir casas, mas renová-las, usando as telhas e os tijolos originais. "As pessoas enxergam escolhas em preto e branco", disse. "Na realidade, porém, temos um potencial grande; podemos fazer coisas muito simples e ter uma vida moderna e confortável."
Para Mohsen Mostafavi, diretor da Escola de Graduação em Design de Harvard, "podemos encarar o trabalho de Wang Shu como o novo vernáculo. Na realidade, ele está profundamente enraizado no modernismo. Seu trabalho não é uma simples réplica da arquitetura chinesa ou da arquitetura ocidental. É uma fusão de sensibilidades distintas."
As obras de Wang abrangem um misto eclético de museus, universidades e espaços residenciais. O júri do Pritzker mencionou o Museu de História de Ningbo por "sua força, seu pragmatismo e suas emoções, tudo em um". Visto de longe, o museu parece uma massa grande; visto de perto, as telhas recicladas de cerâmica e os tijolos antigos em tons de cinza, laranja e azul lhe conferem um ar terroso.
Wang não faz parte da nova vertente nacionalista. Ele e sua mulher, a também arquiteta Lu Wenyu, gostam de levar seu filho de 11 anos para o exterior. Os dois lecionam na Escola de Graduação em Design de Harvard.
O júri do Pritzker chegou a cogitar lhes dar o prêmio conjuntamente. "Lu Wenyu é mais responsável pela implementação", disse Wang. Ele é a personalidade séria, ela é mais extrovertida.
Uma das obras que mais impressionaram os jurados do Pritzker foi o novo campus da Academia Chinesa de Arte, em Xiangshan. Seus seis prédios são dominados por paredes brancas que lembram as casas chinesas tradicionais retratadas em aquarelas antigas.
Wang reconheceu que os acabamentos não são perfeitos. As grades de bambu terão que ser trocadas dentro de cinco a sete anos. "É sustentável", disse. "É tudo muito fácil de repor."
Em seu discurso quando recebeu o prêmio, Wang enfrentou o establishment fazendo perguntas -um ato raro e ousado. Seria possível garantir que, ao lado "do sistema profissional, da arquitetura moderna, também fosse protegido o direito das pessoas comuns de iniciar suas próprias atividades de construção"? Existem "maneiras mais inteligentes de fazer frente aos desafios ambientais e ecológicos"?
ON-LINE: WANG SHU
Mais fotos do arquiteto e sua obra: nytimes.com/design. Busque por "Pritzker" e "China"
Estes birmaneses deixaram Mianmar, a antiga Birmânia, há quase um quarto de século. Eles tinham vinte anos, às vezes mais, quando conseguiram fugir de Yangun depois de escapar de balas ou das prisões de um regime militar que havia dado a ordem de metralhar e encarcerar os manifestantes durante a sangrenta eliminação do movimento democrático de 1988. A repressão resultou em mais de 3 mil mortos, no mínimo.
Hoje, esses ex-estudantes da Universidade de Yangun, próximos desde o começo de Aung San Suu Kyi, que acabava de voltar ao seu país para cuidar de sua mãe à beira da morte, se tornaram jornalistas, diretores de ONGs ou futuros políticos. Às vezes, um pouco de tudo isso.
A partir de Chiang Mai, cidade do norte da Tailândia, onde a maior parte se instalou após o “movimento de 1988”, eles observam com olhar crítico o atual processo de “democratização” da União de Mianmar. Uma mudança que eles descrevem com precaução: todos ouvem as promessas do governo com desconfiança. Suas impressões e análises, sendo que muitos deles passaram algumas temporadas em Mianmar este ano após 24 anos de ausência, diferem – ou confirmam, dependendo do caso – das de seus colegas que permaneceram no país.
Toe Zaw Latt, de quarenta e poucos anos, é o diretor da sucursal para Chiang Mai da Democratic Voice of Burma (DVB), uma rádio-televisão com sede em Oslo, na Noruega. Uma cadeia que teve um importante papel de “mídia militante” durante os “anos de chumbo” da Birmânia. Zaw Latt, com quem falamos pouco antes que o governo decretasse o fim da censura da mídia na última segunda-feira (20), aponta para os paradoxos da situação em seu país: “Nós abrimos em Yangun um escritório com 36 repórteres que trabalham em uma situação de ‘semilegalidade’”, ironiza o jornalista, “estamos em vias de ser totalmente legalizados, mas a verdadeira abolição da censura está demorando para chegar. As autoridades procrastinam, suas promessas continuam vagas...”
Para Toe Zaw Latt, ainda é cedo para pensar em transferir a sede da rádio-televisão para Yangun. A DVB deixará Oslo em breve, mas prefere manter seu escritório de Chiang Mai como cabeça de ponte da rede. Portanto, Chiang Mai, antiga capital do reino de Lanna, fundado no século 18 pelo rei Menrai, mas que caiu sob o jugo birmanês por várias décadas no meio do século 16, parece ainda ter muito tempo pela frente como capital informal da diáspora dos exilados da elite birmanesa.
A proximidade do país natal foi uma das razões pelas quais a diáspora a escolheu. Tanto que, e isso é considerável, a modernização e a expansão urbana dessa cidade de 250 mil habitantes não impede a “Rosa do Norte”, como é chamada em tailandês, de continuar sendo um local com certo charme.
Aung Zaw, 44, provavelmente o mais conhecido dos jornalistas birmaneses no exílio, também demonstra um ceticismo certeiro em relação à “abertura” política e econômica em Mianmar que, desde a primavera de 2011, assumiu a forma de múltiplas promessas, algumas cumpridas e outras não: a libertação de grande parte dos prisioneiros políticos, certa forma de liberdade de imprensa, garantias teóricas do direito de manifestação, a criação de sindicatos livres, uma política de cooperação amigável com grupos armados de etnias minoritárias, o esboço de uma liberalização da economia, as privatizações de certos grupos do Estado etc.
Aung Zaw lançou a revista bimestral “Irrawady” em 1993, hoje substituída por um website de mesmo nome. “Pretendemos abrir um pequeno escritório em Yangun, mas precisamos admitir que a transição para a democracia está somente em seu primeiro estágio”, acredita o jornalista, que sofreu tortura na tristemente célebre prisão de Insein.
“Não faremos concessões ao governo, nos recusaremos a obedecer a qualquer censura”, garante Aung Zaw, que encontrou diversos dignitários birmaneses durante suas viagens recentes ao país natal após uma ausência de 24 anos. “Não acredito que o povo birmanês esteja em condições de participar plenamente dessas mudanças”.
Ele reconhece que o presidente birmanês, Thein Sein, provavelmente é “sincero” e que ele é um “verdadeiro reformista”. Mas Aung Zaw, assim como muitos opositores ao regime de longa data, tem muitas dúvidas quanto às perspectivas de uma saída permanente do exército do campo político. “Thein Sien assumiu grandes riscos [em relação aos “linhas-duras” presentes dentro do governo], está na corda bamba. O processo que ele inaugurou, primeiramente para se distanciar da China, depois para melhorar a relação de MIanmar com o exterior, permanece frágil.”
Os representantes das etnias minoritárias, sendo alguns deles também residentes em Chiang Mai – alguns se tornaram jornalistas desde então – também têm dificuldades em acreditar na “paz dos bravos” proposta por um governo amplamente composto por ex-generais.
Khuensai Jaiyen é um membro da importante minoria shan, hoje “redator-chefe” da Shan Herald Agency for News, depois de ter sido um dos porta-vozes do famoso Khun Sa, ex-líder de guerrilha e senhor do ópio: “Os acordos de suspensão das hostilidades que foram assinados no início do ano entre as autoridades birmanesas e as duas grandes organizações armadas shan [a Shan State Army-South (SSA-S) e sua concorrente, a Shan State Army-North (SSA-N)] foram violados mais de cinquenta vezes no total. “É de se perguntar se ainda podemos falar em ‘cessar-fogo’”, ironiza esse senhor de idade em um inglês impecável. “Mas devo dizer que não sou um pessimista, sou mais um realista no que diz respeito às perspectivas de paz”.
Uma opinião ainda mais incisiva é defendida por outro “ativista jornalista”, Lahpai Nawdin, da etnia kachin, e redator-chefe do site do Kachin News. Para esse ex-professor primário que ressalta que nenhuma negociação ou acordo está sendo considerado entre o governo e a guerrilha dessa etnia do Norte, a Kachin Independance Organisation (KIO), “os americanos e europeus demonstraram ingenuidade ao retirar a maior parte das sanções econômicas que afetavam Mianmar. Eles acreditam que Mianmar está a caminho da democracia. Estão enganados. Até Aung San Suu Kyi fracassou, sua luta não mudou nada em Mianmar. E os países ocidentais só contam com ela, o que é outro erro”.
A Dama de Yangun desperta uma desconfiança certa em parte dos grupos étnicos que encontram a maior dificuldade para confiar em um membro da etnia bamar, a população majoritária que deu origem ao nome Birmânia.
Mais de seis décadas de combates entre o exército e os grupos étnicos, uns cinquenta anos de desconfiança arraigada por parte dos dissidentes em relação a um novo governo originado da junta dissolvida: a reconciliação nacional tem todas as razões para se revelar longa e tortuosa. E estão bem cientes disso todos os “exilados” de Chiang Mai.
Uma flotilha japonesa com cerca de 20 barcos atracou neste domingo a um grupo de ilhas disputadas pela China, no mais recente episódio de um impasse crescente entre os dois países sobre o tema. As ilhas, chamadas de Senkaku pelos japoneses e de Diaoyu pelos chineses, estão localizadas no Mar da China Oriental e não são habitadas. Elas são controladas pelo Japão, mas disputadas pela China e também por Taiwan.
A flotilha levou nacionalistas e legisladores japoneses, que pretendem realizar uma cerimônia em homenagem aos japoneses mortos no local durante a Segunda Guerra Mundial. A China, por sua vez, afirma que o episódio é um golpe contra sua soberania territorial.
Em resposta, mais de cem pessoas protestaram neste domingo diante de um consulado japonês no sul da China, pedindo que os japoneses deixem as ilhas. A Chancelaria chinesa, por sua vez, disse que "qualquer ação unilateral tomada pelo Japão nas ilhas é ilegal e inválida".
Entenda o que está por trás da disputa:Por que elas são disputadas?
As oito ilhas ocupam um total de 7km² ao noroeste de Taiwan, a leste da China continental e ao sudoeste de Okinawa, no Japão. Sua importância é estratégica: elas ficam próximas a importantes rotas de navios, são abundantes em áreas pesqueiras e possivelmente contêm reservas de petróleo.O Japão, que controla as ilhas, disse que, ao identificar que elas não eram habitadas, clamou soberania sobre elas em 1895. Após a Segunda Guerra Mundial, o Japão abdicou de seu pedido por diversos territórios e ilhas, inclusive Taiwan. Mas, de acordo com um tratado de 1951, as ilhas Senkaku ficaram sob o controle japonês. Tóquio alega que só nos anos 1970, quando começou-se a debater a existência de reservas de petróleo nas ilhas, as autoridades chinesas e japonesas começaram a reclamar soberania sobre o local.
O que diz a China? Pequim alega que as ilhas Diaoyu são parte de seu território muito antes de pertencer ao Japão, servindo como um importante posto pesqueiro administrado pela província de Taiwan. Taiwan foi cedida ao Japão pelo Tratado de Shimonoseki, em 1895, após a Guerra Sino-Japonesa. Quando Taiwan foi devolvida à China, no tratado de 1951, a China diz que as ilhas também deveriam ter sido devolvidas. O impasse sobre as ilhas complica a disputa entre Japão e China sobre o compartilhamento dos recursos energéticos disponíveis no Mar da China Oriental. Também exemplifica a atitude mais proativa que vem sendo adotada pela China quanto à reivindicação de territórios ultramarinos.
Já houve incidentes prévios no local?Em 1996, um grupo japonês construiu um farol em uma das ilhas. Depois disso, diversos ativistas chineses viajaram ao local em protesto. Em 2004, o Japão prendeu sete desses ativistas assim que eles atracaram.
Também já houve desavenças entre barcos pesqueiros e de patrulha envolvendo japoneses, chineses e taiwaneses. Em 2005, 50 barcos taiwaneses protestaram na região das ilhas, alegando receber tratamento injusto por parte de fiscais japoneses.
Em 2010, o Japão deteve um barco pesqueiro chinês que se chocou com dois barcos de patrulha japoneses nos arredores das ilhas, criando uma séria crise diplomática. Protestos anti-Japão foram realizados em diversas cidades chinesas. O Japão acabou libertando os tripulantes do barco pesqueiro.
O governo do Afeganistão está reescrevendo a história, literalmente.
O Ministério de Educação do país aprovou um novo currículo de História para as escolas que apaga quase quatro décadas do passado do país, devastado pela guerra.
O governo diz que livros escolares baseados no novo currículo vão ajudar a unificar um país tradicionalmente polarizado, com divisões étnicas e políticas.
Mas críticos acusam os ministros de tentar apaziguar o Talebã e outros grupos poderosos ao apagar a história que os retrata de maneira não elogiosa.
Esses críticos dizem que o governo está tentando conquistar o Talebã antes que as forças dos EUA e da Otan deixem o país.
O Afeganistão está entrando em um altamente incerto período pós-Otan, durante o qual são esperados acordos complicados com o Talebã e outros grupos.
Os últimos 40 anos no Afeganistão foram alguns dos mais turbulentos do mundo.
Mas os golpes sangrentos dos anos 1970, a invasão soviética em 1979, os regimes comunistas em Cabul apoiados por Moscou e os incontáveis abusos de direitos humanos cometidos pela polícia secreta foram todos apagados do currículo de História, dizem os críticos.
Tampouco há muita menção à sangrenta guerra civil entre facções mujahedin que arrasaram Cabul nos anos 1990, deixando cerca de 70 mil mortos.
Aquele conflito deu origem ao Talebã --do qual não há muita menção, como ocorreu com às forças lideradas pelos EUA que os tiraram do poder e permanecem no país por mais de uma década.
Um jornalista afegão, que não quis ser identificado por razões de segurança, disse à BBC que o surpreendeu o fato de a guerra civil e o regime do Talebã terem sido resumidos em apenas algumas poucas linhas.
"Não há menção à miséria (que a guerra) trouxe. Não há menção ao fato de Cabul ser a zona da morte. Os livros dizem que o Mulá Omar foi removido do poder em 2001, sem explicar quem era o Mulá Omar", afirma.
"Não há menção à presença dos EUA e da Otan. É como se alguém estivesse tentando esconder o sol com dois dedos."
O Ministério da Educação nega sugestões de que estrangeiros tiveram algum papel na definição do novo currículo, e oficiais militares americanos afirmam que não discutiram o conteúdo dos livros, alguns pagos com dinheiro dos EUA.
No entanto, um porta-voz do Exército americano em Cabul, David Lakin, disse que conselheiros culturais americanos "revisaram os livros de estudos sociais para ver se não havia material inapropriado, como incitação à violência ou discriminação religiosa".
A BBC visitou duas escolas nos arredores de Cabul onde os novos livros já foram introduzidos.
Em um delas --em Sarubi, a 75km de Cabul-- a reportagem sentou em uma sala de aula e ouviu o professor pedir a um de seus alunos que lesse um trecho de seu novo livro de História.
O capítulo era sobre Sardar Mohammad Daud Khan, primeiro-ministro de 1953 a 1963 e presidente do país 10 anos depois. Falava sobre a ascensão de Daud Khan, mas silenciou sobre os detalhes de como ele derrubou a monarquia de seu primo, Mohammed Zahir Shah.
Os capítulos seguintes também não fazem menção aos numerosos golpes sangrentos que agitaram o cenário político do país, aos regimes apoiados por Moscou, incluindo o do presidente Najibullah, à guerra civil que começou após sua renúncia ou à ascensão em 1996 do Talebã e sua subsequente queda.
"O que aconteceu em Sarubi durante a invasão soviética?", a reportagem perguntou a um aluno de 11 anos que ouvia atentamente à aula.
"Os russos queriam remover o Islã do Afeganistão. Muitas pessoas foram mortas, aldeias foram bombardeadas. Milhões foram forçados a se refugiar no Paquistão", disse o garoto.
"Como você sabia? Essa informação não está em seu livro de História."
"Meus pais e professores me contaram", disse o menino, inocentemente.
O professor, que também pediu para não ter seu nome revelado, diz que os novos livros vão privar uma geração inteira de conhecimento do passado.
"Como a penetração da internet é limitada, assim como o contato com o mundo exterior, as crianças são mais dependentes de livros escolares no Afeganistão do que em qualquer outro lugar do mundo", disse o professor.
"Mas agora que o governo decidiu apagar os últimos 40 anos turbulentos dos nossos livros de História, milhões de crianças nunca vão saber por que e como o Afeganistão se transformou no país em que hoje vivemos."
Assim como em Sarubi, as planícies de Shomali, ao norte de Cabul, também sofreram com os excessos do Exército Vermelho soviético e, depois, do Talebã.
A agitada cidade de Charikar era, até 12 anos atrás, o retrato da devastação. Acusada de apoiar a Aliança do Norte, a cidade sofreu a violência do Talebã.
"Milhares de árvores foram derrubadas, campos e vinhedos queimados, casas destruídas e pessoas mortas", diz Abdul Qodoas, professor de História na escola Mirwais.
Mas a política de terra arrasada do Talebã também não é mencionada nos novos livros de História.
"Para os alunos, é importante estudar todos os regimes políticos, quer seu governo tenha sido bom ou ruim", diz Qodoas.
"Um dos principais objetivos de estudar História é não repetir os erros do passado. Se os alunos não aprenderem sobre a violência do passado, como vão evitá-la no futuro?"
O ministro de Educação, Farooq Wardak, diz que a decisão de apagar parte da história dos livros é baseada no interesse maior do país.
"Há centenas e milhares de questões sobre as quais há desacordo na nação", ele disse.
"Minha responsabilidade é trazer união, e não desunião, ao país. Eu não vou apoiar uma agenda divisiva na Educação."
"Agora, se eu estiver escrevendo algo sobre o que não há consenso nacional, eu estarei levando a discórdia, até mesmo a guerra, à aula e à escola do Afeganistão. Eu jamais farei isso."
Mas para muitos outros, o que foi feito ao currículo é simplesmente decepcionante. Como você pode avançar se, em vez de confrontar o passado, você o varre para baixo do tapete?, questionam os críticos.
"Cabul foi destruída durante a guerra civil, milhares de pessoas foram mortas", disse uma integrante do Parlamento, também em condição de anonimato.
"Durante o regime do Talebã foram cometidas atrocidades contra as mulheres. Eles foram proibidas de trabalhar e ir à escola. Centenas de mulheres foram apedrejadas até a morte por acusações de adultério. Não há nada sobre isso nos livros escolares. Não estamos escondendo a verdade das crianças do país?"
Um pouco depois das 7h, chova ou faça sol, Grace Chan, 65, sobe e desce por uma das muitas trilhas de montanha nesta metrópole subtropical que é Hong Kong.
À mesma hora todos os dias, Tang Shuet Pik, 75, pratica a arte marcial chinesa tai chi em Victoria Park, um santuário em um dos distritos comerciais mais movimentados de Hong Kong. Já Tang Yuet Lin, de 80 anos, é vista fazendo alongamentos antes de mergulhar nas águas da praia de Silverstrand, para sua sessão diária de natação.
Apesar da poluição e da cozinha cantonesa que muitas vezes é oleosa, as mulheres em Hong Kong são as que mais vivem entre as populações do mundo, e isso se devem em parte a uma tradição de exercícios ao nascer do sol que deixa muitos filhos, filhas e os outros de nós envergonhados.
A expectativa de vida média das mulheres aqui é de 86,7 anos, de acordo com as estatísticas do governo publicadas no mês passado. Para os homens é de 80,5 anos. Isso já representa um aumento dos 78,5 anos para mulheres e 72,3 anos para homens de 30 anos atrás. O estudo atribuiu o aumento na longevidade à melhoria do atendimento médico e à maior consciência em relação à saúde.
Lugares como Mônaco, Andorra e Japão também estão consistentemente entre os mais altos em expectativa de vida (enquanto Suazilândia e Zâmbia estão entre os piores). O “South China Morning Post”, jornal na língua inglesa daqui, publicou no mês passado que as mulheres em Hong Kong hoje têm a maior expectativa de vida no mundo, superando o Japão pela primeira vez.
Isso, é claro, depende de como você aborda os números, mas uma coisa é certa: as mulheres mais velhas de Hong Kong estão em plena atividade nos recantos mais sossegados da cidade toda manhã e o exercício está contribuindo para a qualidade e duração de suas vidas.
Chan aposentou-se quando tinha 50 anos, após trabalhar em escritórios e criar um filho nada atlético, segundo ela. A caminhada é atualmente sua principal ocupação.
Às 6h se levanta e, depois de uma tigela de mingau de aveia, começa sua subida de três quilômetros pela rua Monte Parker. Com calça cinza e camiseta verde e uma sacola preta com água e um guarda-chuva, Chan marcha a uma velocidade que deixaria muitas pessoas sem ar. Mas ela fala fluidamente como se estivesse sentada com uma xícara de chá.
Ela aponta para o local onde há pouco tempo um gato encontrou-se com uma cobra venenosa verde bambu, de 30 cm. A escaramuça terminou em empate, porque um observador próximo espantou as duas criaturas, que se afastaram uma da outra. Mas ela estava apostando no gato.
As árvores em toda volta têm cipós grossos chamados Birdwood`s Mucuna. Ela explica que, em abril, as flores dão feijões que podem ser usados para sopa. E ali, naquele mesmo lugar onde hoje tem uma placa, havia uma árvore grande que foi arrancada por um tufão.
Chan está em boa companhia. Naquela manhã, como em todas as manhãs, o caminho está cheio de indivíduos que pensam como ela. “Ela tem 80 anos; ele tem 88”, diz ela apontando para os outros.
Ela conhece todos. Uma mulher perto dos 70 anos passa sua frente na subida, correndo para encher de água uma garrafa grande vazia que carrega nas costas. Chan explica que a montanhista prefere a água do alto do morro do que a da torneira lá em baixo.
Um homem sorridente e sem camisa, com bíceps definidos, subitamente surge descendo a ladeira. Chan o cumprimenta e coloca um doce na mão dele. Ele tem 92 anos.
Chan joga água no rosto, em uma pequena fonte ao longo da estrada. Logo acima, em meio aos arbustos crescidos, há um cemitério pequeno e esquecido por todos, menos por sua geração.
Ela atribui a longevidade das mulheres de Hong Kong em parte à boa nutrição. Depois das caminhadas matinais, ela vai ao mercado comprar peixe para fazer no vapor e legumes para ferver ou refogar.
Outra coisa que afeta positivamente sua saúde, segundo ela, é o prazer que tem de se socializar com outros na trilha. Acima de tudo, o exercício é o maior fator. Ela jura que se recupera mais rápido de gripes e resfriados do que quando era mais jovem e sedentária.
Poucos quilômetros a oeste e ao nível do mar, fica Victoria Park, o maior no antigo território britânico, construído em terras devolutas nos anos 50.
Nenhuma parte do parque fica vazia pela manhã. Grupos de dançarinos, corredores e praticantes de tai chi lutam por espaço. Tang Shuet Pik vem ao mesmo lugar há 10 anos para fazer seu tai chi.
Em certa manhã, ela lentamente transfere o equilíbrio de um pé ao outro, com sapatos cor de rosa, e os braços se movendo em sincronia com outros no grupo. Em uma pequena caixa de som, ouve-se música tradicional.
Em uma pausa, Tang diz que foi dona de casa quando era jovem, mas costurava para fora para ajudar a criar os cinco filhos. Quando eles e os seis netos cresceram, ela procurou no parque uma fonte de exercícios e companhia.
Ela diz que o tai chi a ajuda a andar com mais firmeza. “Algumas vezes, eu tropeço, mas consigo recuperar o equilíbrio rapidamente”, diz ela. Outro benefício: a camaradaria no parque e o café da manhã em grupo depois da sessão. “E estar fora de casa. Naturalmente deixa você mais feliz”.
No porto de Hong Kong, no continente, Tang Yuet Lin, doméstica e caixa aposentada, nada na mesma praia há 40 anos. Mas para chegar até a água todos os dias, ela anda 20 minutos de casa e desce 180 degraus até a praia. E se alonga por 20 minutos.
Tang atribui a longevidade de seus pares primariamente ao exercício e também à dieta. Ela evita comer mangas e lichias demais, alimentos que muitos aqui acreditam tirar o corpo de equilíbrio. E quando suas pernas ficam doídas, ela bebe um chá de ervas de um médico chinês. “Ajuda o corpo a se realinhar”, diz ela.
Só mais uma pergunta, já que Tang parece estar ansiosa para continuar sua rotina de exercícios: qual estilo de nado ela prefere? Ela ri. O filho dela chama de “nado da cobra”, diz ela. Ela puxa um visor sobre o rosto para evitar que a pele se queime com o sol e entra na agua.
Zheng Huan e Tang Xiaomei, que raramente vão ao cinema na área rural de Jiangxi, sudeste da China, viram seu primeiro filme em 3D este mês, quando visitaram a capital. Não foi "Titanic 3D", de James Cameron, o filme de maior faturamento neste ano e o terceiro de todos os tempos, com US$ 153 milhões em ingressos vendidos. Foi na verdade uma fantasia de artes marciais, "Pele Pintada II", que incomodou os olhos de Zheng, mas para Tang foi cativante.
Os dois são um pouco mais velhos que o grupo de 18 anos a 34 anos que fez do sucesso anterior de Cameron em 3D, "Avatar", o filme de maior faturamento na China, com US$ 208 milhões em venda de ingressos. Hollywood está mirando agressivamente essa faixa etária, agora que a China é o principal mercado de exportação para seus filmes em termos de receitas de bilheteria.
Neste mês, a empresa de tecnologia 3D de Cameron, o Cameron Pace Group, anunciou que vai abrir filial em Tianjin, uma cidade portuária no nordeste, como parte de uma joint-venture apoiada pelo governo. No ano passado, a Imax disse que queria instalar 229 telas gigantes na China.
Com os ingressos de cinema custando até 120 renminbi (US$ 19) para filmes 3D e 180 renminbi (US$ 28) para Imax, essas tecnologias americanas estão levando conteúdo aos consumidores chineses cada vez mais interessados por uma experiência de autenticidade e alta qualidade que não pode ser pirateada.
Atualmente, 7 mil das 11 mil telas da China são aptas ao 3D. A RealD, uma empresa de tecnologia 3D na Califórnia, disse que tem quase 750 telas em toda a China e pretende instalar 1.250 nos próximos anos.
Em 2008, dois filmes 3D foram exibidos na China e aproximadamente 30 vão estrear no país até o fim deste ano. De janeiro a junho, 21 filmes 3D -13% de todos os lançamentos- representaram 46% do faturamento nas bilheterias, segundo dados da Artisan Gateway, uma consultoria de cinema baseada em Xangai.
"O bonito disso é que na China rural há cinemas que talvez sejam o primeiro em que as pessoas foram na vida e é um cinema 3D digital", disse Cameron recentemente. "Elas estão saltando o século 20 e indo direto para o 21. Colocar os óculos não parecerá estranho para elas, porque é assim que se assiste a filmes. Nos mercados urbanos, elas associam os óculos com uma experiência visual mais requintada."
Ele aposta que a China se concentrará em coisas que são novas e tecnologicamente sofisticadas, diferentemente da América do Norte, onde os cinéfilos receberam o 3D com hesitação. A receita de bilheterias de filmes 3D na América do Norte caiu 18% de 2010 para 2011, embora os números de 2010 incluam "Avatar", o primeiro filme em 3D que atingiu US$ 1 bilhão em todo o mundo.
O governo chinês está encorajando o entretenimento mais caro enquanto passa sua economia da manufatura para o consumo. Em fevereiro, a China abriu ainda mais seu mercado aos filmes estrangeiros, permitindo que os estúdios lancem mais 14 filmes (34 ao todo) se forem em 3D ou em formato como Imax.
"Pele Pintada II", que a Soul Power 3D, sediada em Pequim, converteu para 3D, é o filme em língua chinesa de maior faturamento de todos os tempos, com vendas de ingressos superiores a US$ 114 milhões até 5 de agosto.
Com 170 engenheiros de software chineses divididos entre Pequim e Wuxi, perto de Xangai, a Soul Power faz sucesso convertendo filmes americanos.
"Trabalhando com companhias de Hollywood, descobrimos que há necessidades diferentes", disse Shen Hongxiang, diretor operacional da empresa. "Hollywood quer que o público veja o que os olhos veem, mas o público chinês ainda quer que as coisas saiam voando da tela. Os diretores chineses precisam estudar as diferenças entre 2D e 3D e aprender a falar a língua."
O Cameron Pace Group diz que o mundo do cinema na China é apenas o início de seu novo empreendimento em Tianjin. Cameron e seu sócio, Vincent Pace, estão de olho nos 500 milhões de televisores da China e nas previsões de que os chineses comprarão 20 milhões de TVs 3D até o fim deste ano. O grupo está em negociações com a Televisão Central da China e outras emissoras estatais para ajudar em suas iniciativas 3D.
"Não estamos concentrados em eventos únicos, nem em filmes individuais", disse Pace. "É sobre uma mudança no mercado na direção de produtos cada vez mais rentáveis. Nossa filosofia é que tudo é potencializado quando feito corretamente em 3D."
A força dos investimentos e empreiteiras da China é bem visível nesta congestionada capital africana.
Um anel viário de US$ 200 milhões está sendo construído e financiado por Pequim.
O aeroporto internacional passa por uma ampliação de US$ 208 milhões, patrocinada pelos chineses, que também emprestaram dinheiro para a construção de um conjunto habitacional apelidado por seus moradores de Grande Muralha.
Mas os esforços da China para conquistar o afeto queniano envolvem muito mais do que tijolos e concreto. Os mais populares jornais em inglês do país estão salpicados de artigos oriundos da Xinhua, agência estatal chinesa de notícias.
Os telespectadores podem acompanhar o noticiário internacional pela CCTV, a maior emissora estatal chinesa de TV, ou pela CNC Word, a recém-lançada empreitada da agência de notícias Xinhua em inglês.
Pelo rádio, ao lado da Voz da América e da BBC, a Rádio China Internacional oferece aulas de mandarim, além de relatos otimistas sobre a cooperação sino-africana e sobre as perambulações globais de líderes chineses.
"Seria preciso ser cego para não notar a chegada da mídia chinesa ao Quênia", disse Eric Shimoli, um dos editores do "The Daily Nation", jornal mais lido do país, que iniciou no ano passado uma parceria com a Xinhua.
Num momento de retração para a maioria das emissoras e jornais ocidentais, os gigantes estatais chineses das comunicações estão se espalhando rapidamente pela África e por outras regiões em desenvolvimento.
Essa campanha de US$ 7 bilhões, parte de uma iniciativa do Partido Comunista Chinês para ampliar seu "soft power", se baseia em parte na ideia de que os meios de comunicação ocidentais passam uma visão distorcida da China.
"Potências internacionais hostis estão intensificando seus esforços para nos ocidentalizar e dividir", escreveu neste ano o presidente chinês, Hu Jintao. "Devemos estar cientes da gravidade e complexidade das lutas e tomar medidas poderosas para preveni-las e enfrentá-las."
Pequim está causando alarme entre ativistas da liberdade de expressão e autoridades dos EUA, que citam um histórico de censura que rendeu à China a reputação de ser um dos mais restritivos países do mundo para o jornalismo.
Muitos temem que o poderio midiático chinês se torne especialmente forte em países onde as liberdades já são frágeis. Na Venezuela, a China está produzindo e financiando satélites de comunicações para um governo que exerce crescente controle sobre a imprensa. Da mesma forma, o governo etíope recebeu US$ 1,5 bilhão em empréstimos chineses para treinamento e tecnologia com vistas a bloquear sites e transmissões de rádio e TV indesejáveis, segundo grupos no exílio.
"Os chineses não estão interessados em trazer liberdade de informação e expressão para a África", disse Abebe Gellaw, produtor da Ethiopia Satellite Television, cujas transmissões costumam ser embaralhadas por equipamentos chineses. "Se eles não oferecem essas liberdades aos seus próprios cidadãos, porque haveriam de se comportar de forma diferente em outros lugares?"
Dirigentes da imprensa chinesa dizem que esses temores são exagerados. "A Xinhua está publicando centenas de textos por dia para o nosso serviço em inglês e essas reportagens não são propaganda", disse Zhou Xisheng, vice-presidente da agência.
A CCTV News, que diz ter 200 milhões de espectadores fora da China, está disponível em seis línguas. Para aumentar seu alcance e concorrer com os veículos ocidentais, a Xinhua costuma enviar despachos gratuitamente para meios de comunicação em dificuldades financeiras na África, América Latina e Sudeste Asiático.
A China vê em Nairóbi um polo noticioso para os países anglófonos da África Oriental. Até agora, os chineses fazem apenas avanços limitados contra os meios de comunicação quenianos.
Vivien Marles, diretora-gerente da empresa local de pesquisas InterMedia Africa, disse que os quenianos continuam preferindo um cardápio noticioso à base de política local, escândalos e cultura pop.
Os interessados em assuntos internacionais, segundo ela, geralmente sintonizam na CNN, BBC ou Al Jazeera. Mas a Rádio China Internacional está "ganhando algum impulso", afirmou.
No outro lado da cidade, no Standard Group, empresa dona de dois jornais, uma TV e uma rádio, o editor Woka Nyagwoka disse que muitos editores relutam em depender do noticiário internacional chinês.
"Os quenianos são céticos quanto a um almoço grátis", disse ele. "Especialmente quando é feito na China."
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