sexta-feira, 28 de setembro de 2012
Palestra
na Fnac Pinheiros:
Workshop no SENAC SANTO AMARO:
https://docs.google.com/spreadsheet/viewform?formkey=dEotQmY5MFZkeG9TalhweXc3dmJzVFE6MQ
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Numa das principais avenidas de Herat, cidade no extremo oeste do Afeganistão, há vários prédios com uma bandeirinha do Irã cravada na porta.
Um dos edifícios é uma clínica médica. Outro, na mesma calçada, abriga uma instituição de caridade. No lado oposto da rua, a bandeira iraniana indica uma escola islâmica xiita. Mais ao norte fica um centro de ensino técnico.
Financiadas pelo Irã, essas instituições são a face mais visível da tentacular presença iraniana na terceira maior aglomeração urbana afegã, situada a uma hora e meia de carro da fronteira entre os dois países.
Herat é cada vez mais vista como portão de acesso da influência de Teerã no Afeganistão, onde opera uma agenda política, econômica e religiosa contrária aos interesses americanos na região.
Nem sempre sinalizada com bandeira, a atuação do Irã dissemina-se também de forma mais discreta.
É preciso observar a embalagem dos produtos no comércio de Herat para notar que quase tudo leva a marca "Made in Iran", provocando uma grande irritação no empresariado local.
"Herat tem um polo industrial que produz de tudo, de refrigerante a remédios, mas o Irã nos inunda com itens fabricados a custo menor, destruindo a economia e o emprego", diz Hamidullah Khamem, diretor da Associação Industrial de Herat.
O número de operários nas fábricas locais caiu de um total de 45 mil em 2006 para atuais 15 mil devido ao suposto dumping iraniano, segundo relata Khamem.
Laços históricos e culturais favorecem Teerã. Parte do Império Persa até o século 19, Herat mantém forte presença da etnia hazara, que fala farsi e segue o islã xiita -ramo predominante no Irã mas que é minoritário na população afegã.
Boa parte dos clérigos de Herat, cidade mais pacífica do Afeganistão, são formados em Meshed, capital espiritual do Irã.
Herat pavimenta o caminho iraniano até a capital Cabul, onde a inserção toma outras formas.
O serviço secreto afegão sustenta que as emissoras de TV Tamadon e Noor, entre as maiores do país, são bancadas por Teerã. Um jornalista que se demitiu da Tamadon corroborou a acusação.
A inteligência também avalia que ao menos 40 dos 249 deputados recebem dinheiro para votar em favor da agenda iraniana.
Em 2010, o próprio presidente Hamid Karzai, um aliado dos EUA, admitiu publicamente receber malas de euros de Teerã em nome da governança nacional.
Mas autoridades afegãs também já fizeram duras críticas aos iranianos pelo suposto envio de armas ao Taleban, grupo insurgente que combate a presença dos norte-americanos e de seus aliados no Afeganistão.
Embora inimigos históricos com agendas opostas, inclusive no aspecto religioso, o Taleban e o Irã selaram um pacto antiamericano, segundo analistas e diplomatas que conhecem a região.
Teerã nega apoiar o Taleban e diz que a instabilidade afegã é causada pela ocupação militar estrangeira, não pelo investimento realizado por iniciativa dos iranianos no país.
O Irã afirma ter gasto ao menos US$ 500 milhões em favor do desenvolvimento do Afeganistão -como estradas e escolas, entre outras coisas- e cita como exemplo de boa vontade o abrigo dado a 800 mil refugiados afegãos, que foi elogiado por representantes da ONU.
Às vésperas da retirada americana do Afeganistão, em 2014, a deputada Arian Youn resume o sentimento de muitos afegãos: "Só caminharemos sobre nossos pés quando alcançarmos a reconciliação com rebeldes e explorarmos nossos recursos econômicos. Hoje até a eletricidade é importada do Irã".
O Irã apertou o cerco à internet ao
bloquear ontem o site de busca Google e seu serviço de e-mail gratuito Gmail
sob pretexto de retaliar a divulgação do trailer anti-islã filmado nos EUA que
gerou revoltas em países islâmicos.
O corte havia sido anunciado na véspera
pelo governo, que também confirma planos de criar uma internet nacional
possivelmente isolada da rede mundial.
"Atendendo a pedidos do povo,
Google e Gmail serão bloqueados em todo o país até nova ordem", disse à
mídia estatal no domingo Abdolsamad Khoramabadi, assessor do órgão que regula e
censura a internet.
Agências de notícias iranianas afirmaram
que a medida é uma represália pela recusa do Google em retirar do seu site de
vídeos, o YouTube, o filme "Inocência dos Muçulmanos", que satiriza o
profeta Maomé.
Apesar da alegação de que a censura
atende uma demanda popular, houve poucos protestos no país. Boa parte dos
iranianos não estava interessada na polêmica.
Não está claro por quanto tempo os sites
ficarão bloqueados, mas especula-se que a medida seja temporária.
Enquanto o bloqueio vigorar, internautas
iranianos continuarão navegando livremente graças a programas antifiltros que
permitem acessar todos os sites vetados. Em fevereiro, o governo conseguiu
anular os programas antifiltros. O bloqueio geral, que durou três dias, foi
amplamente visto como alerta de que os engenheiros do governo são mais
poderosos que os da sociedade.
Teerã alega que o Ocidente usa a
internet para fomentar a dissidência e minar as fundações da República
Islâmica, além de frear o programa nuclear com vírus informáticos devastadores.
Nesse contexto, o regime disse no
domingo ter implementado a primeira fase de uma internet nacional, segura e
moralmente lícita.
"Nos últimos dias, todas as
agências e escritórios governamentais foram conectados à rede nacional",
disse Ali Hakim-Javadi, vice-ministro das Comunicações.
A segunda fase, segundo ele, conectará
os cidadãos à rede, que deve operar plenamente em meados de 2013.
Alguns setores, inclusive dentro do
governo, pressionam para que a rede nacional seja complementar, mas não corte a
internet global.
Uma estátua
budista levada do Tibet para a Alemanha em 1938 por uma equipe enviada por
nazistas para buscar "as raízes da raça ariana" foi esculpida há mil
anos em um pedaço de meteorito, revelaram os cientistas encarregados de sua
análise.
A estátua
batizada de "O homem de ferro" pesa mais de 10 quilos e mede 24
centímetros de altura. Acredita-se que representa o deus Vaisravana, uma
importante figura do budismo.
Em 1938, uma
expedição de cientistas alemães enviadas pelo governo nazista para descobrir a
origem da chamada "raça ariana" descobriu esta estátua, que tem uma
cruz suástica no ventre, e a levou para a Alemanha.
Uma
equipe do Instituto de Estudos dos Planetas da Universidade de Stuttgart,
dirigida por Elmar Buchner, analisou a estátua e descobriu que foi esculpida em
um bloco proveniente de uma ataxita, um tipo pouco comum de meteorito ferroso,
segundo estudo publicado na revista Meteoritics and Planetary Science.
Esse meteorito teria caído na fronteira entre Mongólia e a Sibéria há cerca de
15.000 anos.
Não
se pôde datar com exatidão a escultura, mas seu estilo leva a pensar que teria
vínculos com a cultura Bon, anterior ao budismo, no século XI.
Um dos mais
conhecidos bilionários de Hong Kong está oferecendo um prêmio equivalente a R$
132 milhões para qualquer homem que consiga seduzir sua filha lésbica e
convencê-la a se casar.
O magnata Cecil
Chao, de 76 anos, que fez sua fortuna no setor imobiliário e em transportes de
carga, prometeu publicamente a recompensa após relatos de que a filha, Gigi
Chao, teria formalizado uma união na França com a namorada de longa data.
O bilionário,
que nunca foi casado, afirmou à BBC que a filha ainda é solteira e precisa de
"um bom marido".
A
homossexualidade foi descriminalizada em Hong Kong somente em 1991, e as uniões
de parceiros do mesmo sexo não são reconhecidas.
Gigi, uma
empresária formada pela Universidade de Manchester, na Grã-Bretanha, teria
formalizado uma parceria civil na França com sua namorada, Sean Eav, com quem
se relaciona há sete anos, segundo relatos publicados na mídia de Hong Kong.
Mas seu pai
insiste que a informação é falsa e afirma que sua oferta generosa já gerou
várias respostas de possíveis candidatos.
"É um
incentivo para atrair alguém que tenha talento, mas não o capital para iniciar
seu próprio negócio", afirmou Chao.
"Não me
importa que ele seja rico ou pobre. O importante é que ele seja generoso e de
bom coração", explicou.
"Gigi é uma
mulher boa, com talento e beleza. Ela é dedicada aos pais, é generosa e faz
trabalho voluntário", disse.
Apesar da busca
pública por um marido para a filha, Chao diz que não tentará forçará Gigi a se
casar contra sua vontade.
Gigi Chao disse
ter achado a polêmica campanha feita pelo pai "divertida" e afirmou
que não pensará mais no assunto até um candidato apto se apresentar.
Cecil Chao é
conhecido em Hong Kong por sua vida social agitada e comumente aparece nas
colunas sociais ao lado de belas mulheres jovens.
Segundo o diário
South China Morning Post, ele já se vangloriou uma vez de ter se
relacionado com mais de 10 mil mulheres.
Em meio à crise com o Japão, a China colocou seu primeiro porta-aviões em atividade ontem. A cerimônia realizada no porto de Dalian contou com a participação da cúpula do governo, incluindo seu líder máximo.
A embarcação, de fabricação russa, foi comprada em 1998 e totalmente reformada na China. Ainda sem capacidade bélica, será usada inicialmente apenas para treinamento.
O Ministério da Defesa afirmou que o porta-aviões "aumentará a força operacional da Marinha".
Analistas militares vêm minimizando a importância do porta-aviões em comparação ao poderio naval americano na Ásia.
"Para o futuro previsível, as capacidades do porta-aviões serão simplesmente modestas demais para desafiar a projeção do poder americano no Leste da Ásia", escreveram, em artigo recente, os analistas Andrew Erickson e Gabe Collins, na publicação "The Diplomat".
"Mas a embarcação pode lançar uma sombra imediata no mar do Sul da China, onde rivais com menos capacidade militar já se sentem ameaçados pelas crescentes capacidades do seu vizinho gigante."
Além do Japão, a China entrou em confronto diplomático com Filipinas e Vietnã por causa de territórios marítimos em disputa.
A Guarda Costeira japonesa usou jatos d'água para repelir cerca de 50 barcos de Taiwan que entraram por algumas horas em área em disputa do Pacífico, controlada por Tóquio.
O incidente abre mais um flanco na crise entre Japão, China e Taiwan em torno da soberania de um arquipélago na região.
A maioria das embarcações taiwanesas eram pesqueiras, resguardadas por ao menos oito barcos de patrulha. Um deles revidou a ação japonesa também com jatos d'água.
A Guarda Costeira japonesa afirmou que só disparou água porque eram embarcações pesqueiras. "Atirar com um canhão de água contra um barco oficial é como declarar guerra contra o país de origem", afirmou Hideaki Takase, porta-voz da vigilância japonesa.
Nos últimos dias, barcos de patrulha chineses entraram brevemente pelo menos três vezes nas áreas disputadas, recebendo advertências por alto-falante dos japoneses.
Tóquio, que mantém melhores relações com Taiwan do que com a China, enviou reclamação aos taiwaneses por causa do incidente.
Taiwan é considerada uma província rebelde por Pequim e não é reconhecida formalmente pela grande maioria dos países, mas funciona como Estado independente.
No mesmo dia, o vice-ministro japonês Chikao Kawai se reuniu por quatro horas em Pequim com o colega chinês, Zhang Zhijun, mas sem avanços. A Chancelaria chinesa disse que a conversa foi "franca e profunda" e que "a China jamais tolerará violações à sua soberania".
A região do arquipélago desabitado, chamado de Senkaku pelos japoneses, Diaoyu pelos chineses e Tiaoyutai pelos taiwaneses, é rica em pesca e tem grande potencial para gás.
A atual crise começou há duas semanas, quando o governo japonês anunciou a compra do arquipélago de um grupo privado. A intenção declarada era evitar que o prefeito ultranacionalista de Tóquio, Shintaro Ishihara, cumprisse a promessa de adquirir as ilhas.
A compra foi duramente rechaçada por Pequim, que viu na nacionalização uma mudança no status das ilhas em disputa. Nas ruas, milhares protestaram diante da embaixada e atacaram símbolos do país vizinho, inclusive carros de marcas japonesas, mas de donos chineses.
Enquanto os ânimos não se acalmam, a disputa dá prejuízo a empresas que atuam nos dois países. A companhia aérea japonesa JAL informou que 15,5 mil reservas já foram canceladas e vai suspender seis voos diários.
A Toyota, que chegou a paralisar temporariamente a produção na China, anunciou corte da produção para o mercado chinês, prevendo queda nas vendas. A expectativa inicial era vender 1 milhão de unidades neste ano.
Saindo da nuvem de gás lacrimogêneo em frente à embaixada dos EUA no Cairo, Khaled Ali repetiu a questão premente que, segundo ele, justificava os violentos protestos deste mês junto a missões diplomáticas dos EUA no mundo islâmico.
"Nunca insultamos nenhum profeta -nem Moisés, nem Jesus-, então por que não podemos exigir que Maomé seja respeitado?", disse o operário têxtil Ali, 39, segurando um cartaz que dizia: "Cale a boca, América". "Obama é o presidente, então ele deveria ter de se desculpar!"
Desde então, dezenas de países já tiveram protestos contra um vídeo feito nos EUA e divulgado pela internet que zomba de Maomé.
Mas os manifestantes daqui e seus apoiadores dizem que a raiva é motivada não só por sensibilidades religiosas, por demagogia política ou por ressentimentos contra Washington.
Muitos citam a palavra "liberdade", mas num contexto muito diferente do usado no Ocidente individualista: o direito de uma comunidade, seja ela muçulmana, cristã ou judaica, de estar livre de graves insultos à sua identidade e aos seus valores.
Essa exigência, por sua vez, foi incorporada a correntes contrárias da política regional. De um lado está a tempestade de ira contra a "guerra ao terrorismo" movida pelos EUA há mais de uma década e vista por muitos muçulmanos como uma guerra contra eles próprios.
E, de outro, sopram novos ventos na região em decorrência da Primavera Árabe, a qual para muitos aqui significa acima de tudo o direito a exigir respeito pela vontade popular.
"Queremos que esses países entendam que eles precisam levar em conta as pessoas, não só os governos", disse Ismail Mohamed, 42, acadêmico religioso que já foi imã na Alemanha.
"Não achamos que as representações dos profetas sejam liberdade de expressão. Achamos que são uma ofensa aos nossos direitos", disse ele, acrescentando que "o Ocidente precisa entender a ideologia das pessoas".
Alguns manifestantes que atiravam pedras fizeram questão de frisar que o confronto não era entre muçulmanos e cristãos, e sim do tradicionalismo de pessoas de ambos os credos contra o individualismo e o secularismo do Ocidente.
Youssef Sidhom, editor do jornal cristão copta "Watani", disse se opor apenas à violência dos protestos. Ele lembrou de forma elogiosa a reação dos cristãos egípcios contra o filme "O Código Da Vinci" (2006), que foi visto como uma afronta a aspectos tradicionais do cristianismo e à pessoa de Jesus. Egito, Jordânia, Líbano e outros países árabes proibiram o filme e o romance que o inspirou.
"Essa reação é esperada", disse Sidhom sobre os novos protestos, "e, se ela tivesse permanecido pacífica, eu diria que a apoiaria e a compreenderia".
Num contexto em que insultar religiões é crime e o Estado controla rigidamente quase todos os meios de comunicação, muitos no Egito, como em outros países árabes, às vezes acham difícil entender as regras de liberdade de expressão que impedem o governo americano de silenciar até o mais nocivo intolerante religioso.
Em declaração depois que manifestantes escalaram o muro da Embaixada dos EUA, no último 11 de setembro, o líder espiritual do principal grupo islâmico egípcio, a Irmandade Muçulmana, observou que "o Ocidente" impôs leis contra "aqueles que negam ou expressam opiniões discordantes a respeito do Holocausto, ou questionam o número de judeus mortos por Hitler, um tópico que é puramente histórico, não uma doutrina sagrada".
Na verdade, a negação do Holocausto também está protegida pela liberdade de expressão nos EUA, embora seja proibida na Alemanha e em alguns outros países europeus.
Mas a crença de que isso é ilegal nos EUA está disseminada no Egito, e o líder espiritual da Irmandade, Mohamed Badie, defendeu a "criminalização dos ataques contra santidades de todas as religiões celestiais".
"Caso contrário, tais atos continuarão levando muçulmanos devotos no mundo todo a verem com suspeitas e até mesmo a odiarem o Ocidente, especialmente os Estados Unidos, por permitir que seus cidadãos violem a santidade do que eles prezam e consideram sagrado", disse.
Após os tumultos no Cairo, muitos egípcios disseram que insultos contra sua fé são mais graves do que qualquer ataque dirigido a uma pessoa viva.
"Quando você machuca alguém, está machucando só uma pessoa", disse o joalheiro Ahmed Shobaky, 42. "Mas, quando você insulta uma fé desse jeito, está insultando toda uma nação que se ressente."
"Prezamos mais nosso profeta do que nossa família e nossa nação", resumiu o religioso Mohamed.
Outros disseram que a explosão de raiva contra o vídeo foi se acumulando durante um longo período de incidentes ofensivos aos muçulmanos e à sua fé, envolvendo os EUA e seus militares.
Embora tenha salientado que nada justifica a violência contra diplomatas e embaixadas, o cientista político Emad Shahin, da Universidade Americana do Cairo, disse ser fácil entender por que os postos diplomáticos dos EUA foram alvo dos manifestantes.
"Há uma guerra em curso aqui", disse ele. "A mensagem [atribuída aos americanos] é que não ligamos para as crenças de vocês -que, por causa da nossa liberdade de expressão, podemos menosprezá-las e degradá-las a qualquer momento, e não ligamos para os sentimentos de vocês."
Farhad Abdul tenta dormir com a luz do quarto acesa e os olhos arregalados, porque assim que os fecha se vê de volta à sua loja no centro de Cabul, e são 11h30 do dia 8 de setembro.
Ele está sentado atrás da sua mesa, no escritório, uma salinha com uma parede de vidro e uma visão que ele diz que nunca mais esquecerá.
As habituais crianças que brincam na rua estão em frente à sua locadora de veículos, no coração do bairro militar e diplomático da capital. Khorshid, 15, é uma sensação do skate, e sonha em ser campeã mundial feminina.
Sua irmã Parwana, 11, tem sonhos ainda maiores: quer ser médica.
Perto dali está a irmãzinha delas, Mursal, 7, que tem olhos grandes e fala inglês suficientemente bem para amaciar os corações dos soldados americanos que passam, cedendo ao pedido de "just one dollar, mister" ("só um dólar, senhor").
Com elas estão seus amigos Nawab, 17, Mohammad Eesa, 16, Elyas, 15, e Nawal, 17 -todos eles colegas de skate e de mendicância nas ruas.
É o território dessa garotada que aparece diariamente depois da escola e em feriados, como o de 8 de setembro, que marca o assassinato de um líder anti-Taleban. Eles vendem lenços e chiclete velho, mas acima de tudo pedem esmolas.
Farhad observa a cena, distraído, quando um estranho entra em cena com uma mochila nas costas. Farhad acha que ele tem 15 ou 16 anos.
As crianças cercam o estranho, temendo que ele seja um concorrente na disputa pelo espaço e querendo ver o que ele carrega. A mochila explode.
Farhad se vê caído no chão, atrás da mesa, com um zumbido nos ouvidos. Ele sangra em vários lugares, mas percebe que não está muito ferido.
Faz uma oração agradecendo ao vendedor que o convenceu a revestir o interior da vitrine com uma película que evita estilhaços. "Se não", disse ele, "eu seria um homem morto, com certeza".
As crianças não tiveram a mesma sorte. O atentado suicida -o 55° neste ano no Afeganistão, e já houve outros depois disso- matou quatro delas e também três adultos.
Elyas, que havia se afastado um pouco, ficou caído na rua, ferido. Olhando ao redor, em meio à paisagem de sangue e cadáveres, ele chegou a uma repentina e terrível conclusão:
"Nenhum dos meus amigos da minha idade está vivo", disse o menino. "Estou completamente sozinho."
Mais uma vez, crianças inocentes foram vítimas da mais indiscriminada das armas.
Como os alvos policiais e militares tiveram sua defesa reforçada desde que os insurgentes passaram a intensificar o uso de homens-bombas, em 2006, cada vez mais as vítimas são transeuntes civis, quase sempre incluindo crianças.
O Afeganistão tem uma das maiores taxas mundiais de crescimento populacional e as crianças estão presentes em qualquer espaço público.
Investigadores de direitos humanos estimam que 865 civis tenham sido mortos ou feridos em atentados, suicidas ou não, nos primeiros oito meses deste ano; 38% eram crianças.
Farhad, 24, não se lembra do momento exato da explosão. No piso do estabelecimento dele, na rua Ariana, ele se surpreendeu por não estar morto.
O atentado havia sido a apenas nove metros. "Por todo o chão daqui havia mãos, pés e pedaços de carne", contou ele dias depois.
Ao sair, ele viu tantos pedaços de corpos, numa tamanha carnificina, que era impossível dizer quem era quem.
A maioria das vítimas não tinha mais como ser ajudada. Policiais limparam o local e mandaram os restos humanos para dois hospitais.
O Taleban divulgou nota dizendo que seu alvo era uma casa protegida da CI e negando que o homem-bomba fosse um adolescente.
Só dias depois foi possível esclarecer quem havia morrido e quem sobrevivera.
O saldo final ficou em sete mortos e quatro feridos, sendo um em estado grave, internado num hospital.
À margem da cena da explosão, Mursal gritava e chorava, mas estava ilesa. Ela quis procurar suas irmãs, mas a polícia não deixou.
Um pouco depois, outro skatista achou o corpo de Khorshid num necrotério e ligou para a mãe dela, Bibi Hawa.
"Achamos que Parwana estivesse assustada e escondida em algum lugar, mas aí, à noite, recebemos uma ligação", disse Hawa. O corpo da menina havia sido achado no necrotério de outro hospital, junto com o genro de Hawa, Assad, 22.
Mohammad Eesa e Nawab, amigos das irmãs skatistas, também morreram.
"Minhas filhas eram atletas e estudantes", disse o pai delas, Mohammad Zaman.
"Eu disse à minha mulher: vou armar uma barraca perto dos túmulos das minhas filhas e vou morar lá de agora em diante", acrescentou entre lágrimas.
Qualquer que
possa ter sido o pretexto, e existem várias hipóteses sobre isso, os homens que
assassinaram o embaixador dos Estados Unidos na Líbia deram um golpe no
islamismo e em seu país. Coveiros de sua fé e de seu próprio futuro.
Na primeira
versão dos acontecimentos do dia, o ataque ao consulado americano em Benghazi,
no leste do país, faria parte de um movimento de protesto contra um filme
americano que insulta o islamismo. Destacando-se dos manifestantes, um comando
armado de fuzis de assalto e de lança-foguetes entrou no consulado e abriu
fogo. O embaixador Christopher Stevens foi morto, assim como três outros
americanos.
Os manifestantes
condenavam os trechos de um filme – "A Inocência dos Muçulmanos" -
divulgado na internet no aniversário dos atentados do 11 de Setembro. Produzido
na Califórnia por um incorporador imobiliário israelense-americano, o filme
chama o islamismo de "câncer". Ele retrata o profeta Maomé com traços
de especial vulgaridade.
A divulgação
desses trechos no YouTube foi feita intencionalmente por seu autor-diretor, que
atende pelo pseudônimo de Sam Bacile. Ela foi seguida de uma violenta
manifestação contra a embaixada dos Estados Unidos no Cairo, além de passeatas
de protesto no Marrocos, na Tunísia, no Sudão e no Iêmen.
Se ele pertence
a esse conjunto de reações, a chacina de Benghazi faz parte de uma longa série
criminosa que contribuiu muito para dar ao islamismo a imagem de uma religião
de violência sectária e de intolerância. Isso vai desde o apelo lançado pelo
Irã nos anos 1980 para matar o escritor Salman Rushdie até as ameaças
proferidas contra um ou outro caricaturista do profeta Maomé.
Hillary Clinton,
a secretária de Estado, disse muito bem: "Os Estados Unidos lamentam
qualquer ataque à religião dos outros, mas que fique bem claro que nada,
nenhuma justificativa, pode desculpar atos de violência desse gênero".
O debate que
pode haver sobre o impacto na internet ou na questão dos limites a ser dado à
liberdade de expressão vem depois - só depois. E, caso ocorra, ele não poderia
atenuar em nada a condenação a esse tipo de violência.
As autoridades
americanas seguiram outra pista. O ataque ao consulado teria sido planejado há
muito tempo. O comando teria aproveitado a manifestação para agir, e
pertenceria ao movimento islamita mais radical, identificado como uma
"franquia" da Al-Qaeda.
O resultado é o
mesmo. Levados por uma ortodoxia delirante de uma guerra a ser conduzida
"contra os judeus e os cruzados", os jihadistas matam em nome de uma
religião cuja imagem eles mancham continuamente. No Estado desordenado da Líbia
pós-Gaddafi, é possível imaginá-los aliados com alguns partidários do antigo
regime para semear a morte e o caos.
É próprio das
ditaduras mais cruéis deixar como legado sociedades exauridas, uma vez
abatidas. E que levam tempo para se recompor.
Autoridades do Iraque têm feito uma "caça às bruxas" contra os homossexuais, com perseguição sistemática e mortal a homens e mulheres, revela uma reportagem investigativa da BBC.
Ativistas dizem que centenas de homossexuais foram mortos nos últimos anos, enquanto o governo, que conta com apoio ocidental, tem ignorado o assunto. Para as Nações Unidas, a negligência quanto à violência torna o Estado iraquiano um dos responsáveis pelos crimes.
A investigação da BBC mostra que no Iraque pós-Saddam Hussein ser homossexual - ou mesmo parecer homossexual - pode significar uma sentença de morte no país.
Em alguns casos, homossexuais foram mortos pelos próprios familiares, nas chamadas "mortes pela honra", ou pela ação de milícias. Mas a perseguição também parece ocorrer sob os mandos de forças de segurança oficiais - ainda que o governo se recuse a admiti-lo.
Dezessete homossexuais entrevistados pela reportagem se disseram perseguidos individualmente, e todos dizem ter amigos ou parceiros mortos.
Ainda que o governo diga que desarticulou milícias que fazem esse tipo de perseguição, um ex-policial, que conversou com a BBC em condição de anonimato, disse ter abandonado a corporação depois de ter recebido ordens diretas para prender dois homossexuais. Um deles foi morto na cidade onde era "procurado".
"Durante a ocupação americana, estávamos muito ocupados. Agora, com tempo livre, a polícia passou a perseguir gays", disse o ex-policial.
Com isso, a comunidade gay do Iraque fica cada vez mais escondida e assustada. Uma vez que um homossexual entra na "lista de procurados", ele ou ela não tem para onde escapar.
Muitos relatam buscas oficiais em suas casas, além de casos de estupro. Outros temem ser identificados nas dezenas de postos de checagem que têm como objetivo garantir a segurança de Bagdá. "Não tenho liberdade. Não posso viver a minha vida", disse um deles à BBC.
Há apenas um abrigo para homossexuais em Bagdá, com capacidade para três pessoas. Outros abrigos foram alvos de ofensivas e fechados pelo governo.
Segundo um relatório de 2009 da ONG Human Rights Watch, é possível que centenas de homossexuais homens tenham sido mortos desde a invasão americana, em 2003.
Mas o Ministério de Direitos Humanos do Iraque afirma não poder ajudar os homossexuais, porque o grupo não é considerado uma minoria sob os olhos do governo. Alega, porém, que denúncias de morte foram encaminhadas ao Ministério do Interior.
O premiê iraquiano, Nuri al-Maliki, que tem comando direto sobre o Ministério do Interior, não respondeu aos pedidos de entrevista. Seu porta-voz, no entanto, disse à BBC que não existe nenhuma perseguição sistemática a homossexuais e que estes devem "viver suas vidas normalmente".
Ao mesmo tempo, no distrito de Cidade Sadr, em Bagdá, um clérigo islâmico disse à BBC que o "terceiro sexo" - como a homossexualidade é chamada - é "totalmente rejeitado pelo islã".
Ainda assim, a cultura religiosa e conservadora do Iraque não explica por si só a perseguição aos gays, dizem analistas.
No Líbano, por exemplo, o grupo radical Hezbollah é razoavelmente tolerante à homossexualidade. No Irã, onde a prática homossexual é ilegal e comumente punida, a cena "underground" gay também é tolerada. Até na ultraconservadora Arábia Saudita a perseguição não parece chegar nos níveis do Iraque.
Durante o governo de Saddam (1979-2003), homossexuais desfrutaram de algum grau de liberdade e segurança e, após a invasão americana, grupos liberais esperavam que essa liberdade aumentasse.
Mas forças conservadoras islâmicas que ganharam o poder se mostraram resistentes a aceitar valores supostamente ocidentais, incluindo a homossexualidade.
A Prefeitura de
Xinjian (leste da China) está sob intensa crítica da opinião pública após
enjaular dezenas de mendigos no mesmo lugar durante um festival religioso.
As fotos,
tiradas no último dia 15, mostram mendigos atrás das grades e sentados lado a
lado. As imagens foram feitas por visitantes e postadas em microblogs, atraindo
uma enxurrada de comentários negativos.
"É como um
zoológico", comparou um blogueiro. "Isso é intolerável. Mendigos são
seres humanos também", escreveu outro.
"Tivemos de
considerar ambos os lados: o dos peregrinos e o dos mendigos", disse o
chefe do escritório de assuntos civis da Prefeitura de Xinjian à rede americana
NBC, identificado apenas como Wan.
"Há alguns
mendigos falsos que apenas querem arrancar dinheiro dos peregrinos. Vimos que
os peregrinos eram assediados por esses mendigos no passado", afirmou o
funcionário.
Ele disse ainda
que, "por outro lado, a feira do templo [de Wanshou] é tão lotada que os
mendigos poderiam ser atingidos por carros ou pisoteados pela multidão".
As autoridades
afirmaram ainda que os mendigos entraram nas jaulas voluntariamente e que
receberam água, comida e proteção do sol.
Mas as
explicações não aplacaram as críticas nos microblogs: "O governo sempre
apregoa que a China tem a melhor marca em direitos humanos. Antes, eu não
acreditava nisso, mas hoje estou convencido", ironizou um blogueiro, em
comentário reproduzido pela NBC.
O templo Xanshou
fica na montanha Xishan e foi construído há cerca de 1.700 anos. Realizado
anualmente, o festival atraiu cerca de 200 mil pessoas, de acordo com números
oficiais.
As mobilizações
na internet têm se provado uma dor de cabeça para autoridades locais. O weibo,
sistema de microblogs chinês, é uma forma de expressão razoavelmente livre em
um país que controla a comunicação com mão de ferro.
Em outro
episódio que ilustra a força desse meio, o agente de segurança Yang Dacai foi
demitido ontem, depois que fotos suas sorrindo no local de um grave acidente
provocaram ira dos internautas.
O choque entre
um ônibus e um caminhão-tanque ocorreu no dia 26 de agosto, na Província de
Shaanxi (centro) e matou 36 pessoas.
"Meu
coração estava pesado quando cheguei ao local. Funcionários mais novos pareciam
nervosos quando estavam me informando sobre a situação", disse Yang.
Depois de
afirmar que estava "tentando fazê-los relaxar um pouco", ele disse:
"Talvez, num momento de distração, eu tenha relaxado demais".
O governo japonês divulgou nesta quinta-feira (20) em sua página oficial no Facebook documentos históricos que provariam a posse das ilhas Senkaku (ou Diaoyu, como são conhecidas na China).
A briga pelo pequeno arquipélago localizado ao extremo sul do Japão já dura mais de duas décadas, mas a tensão entre os dois países aumentou depois que o governo japonês anunciou a compra de três das ilhas, na semana passada.
Milhares de manifestantes protestaram nas ruas de cidades chinesas contra a compra das ilhas pelo Japão. Prédios de fábricas e escritórios de empresas japonesas foram atingidos pelos manifestantes, que também atacaram consulados japoneses na China.
Entre as provas divulgadas pelo Japão estão uma carta, de 1920, que teria sido assinada pelo cônsul chinês em Nagasaki, na qual ele agradece o resgate de pescadores chineses que naufragaram perto das ilhas Senkaku.
"(No total) 31 pescadores de Hui'an, província de Fujian, se perderam durante uma tempestade de vento e foram empurrados para a ilha Wayo, uma das ilhas Senkaku, distrito de Yaeyama, província de Okinawa, império do Japão", diz o trecho. Para o governo japonês, é uma prova de que a China já reconhecia o arquipélago como parte de Okinawa.
Outro documento é um artigo publicado pelo People's Daily, a imprensa oficial da China, em 8 de janeiro de 1953, que fala sobre a luta da população local contra a ocupação americana.
No texto é citado o nome Senkaku e não Diaoyu - como os chineses chamam o arquipélago hoje.
Uma terceira prova seria um mapa geográfico publicado pela China em 1933, no qual as ilhas Senkaku são indicadas como pertencentes ao Japão.
Já a China diz que as ilhas Diaoyu são parte de seu território desde tempos antigos, servindo como área de pesca e administrada pela província de Taiwan. O Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês diz que isso é "totalmente comprovado pela história e está legalmente fundamentado". Mas até agora não apresentou provas concretas e se recusa a ir à corte internacional para resolver a questão.
Para o especialista em estudos asiáticos Jeff Kingston, da Universidade de Temple, em Tóquio, agora não é hora de discutir quem está certo. "A briga atual piorou além das expectativas porque os dois lados não têm tratado o assunto adequadamente", afirmou.
O pesquisador disse à BBC Brasil que há um risco enorme de que se crie um mártir na disputa - caso em que, para ele, ficará muito difícil de se restaurar a confiança bilateral. "Os líderes de ambos os países precisam se concentrar no fato de que as ilhas não compensam os danos que serão causados em ambas as nações."
Os japoneses reclamam que somente a partir da década de 1970, quando foi divulgada a existência de potenciais reservas de petróleo e gás na região, que as autoridades chinesas e de Taiwan passaram a reivindicar a posse das ilhas.
Segundo uma fonte japonesa do alto escalão, o país não tem pretensão de explorar as ilhas e quer manter as relações estáveis na região. As ilhas nacionalizadas pelo Japão pertenciam a investidores privados japoneses, e a compra foi feita para evitar que o governador nacionalista de Tóquio, Shintaro Ishihara, comprasse o arquipélago e construísse instalações no local, o que irritaria ainda mais o governo chinês.
Mas a fonte japonesa disse que o governo ficou muito preocupado com a reação extrema dos chineses.
Na quarta-feira, o vice-presidente da China, Xi Jinping - apontado como provável sucessor de Hu Jintao na Presidência do país - disse que o governo japonês precisa "pôr limites ao seu comportamento" e parar de minar a soberania chinesa.
Desde que o Japão anunciou a nacionalização das ilhas, na semana passada, começou na China uma onda de protestos antinipônicos.
Prédios de embaixadas e consulados japoneses e também empresas viraram alvo de milhares de manifestantes enfurecidos. Várias lojas de departamentos, restaurantes e supermercados japoneses foram alvo de vandalismo no começo desta semana. Algumas fábricas também tiveram de suspender a produção por alguns dias.
O governo do Japão disse nesta quinta-feira que vai pedir uma compensação financeira à China pelos estragos causados aos prédios do governo.
O gabinete do primeiro-ministro Yoshihiko Noda disse também que considera mandar à China um enviado especial "na tentativa de resolver o problema por meio de vias diplomáticas".
Sobre os danos causados às propriedades de empresas japonesas na China, o gabinete disse que a questão deve ser tratada localmente, de acordo com as leis do país.
O pico das manifestações foi na última terça-feira, quando os chineses lembraram também o aniversário da ocupação japonesa no nordeste do país em 1931.
Centenas de navios pesqueiros chineses cercaram as ilhas durante o começo da semana. Nesta quinta, segundo a guarda costeira japonesa, dez barcos chineses estavam sendo monitorados - quatro da marinha e seis pesqueiros.
Com o agravamento da crise entre as duas maiores potências asiáticas, o secretário de Defesa dos EUA, Leon Panetta, fez uma visita aos dois países e pediu pelo estreitamento dos laços bilaterais.
"Nosso objetivo é ter certeza de que a disputa não evolua para uma tensão indesejada ou um conflito", disse o americano.
As ilhas também são disputadas por Taiwan.
Enquanto as integrantes da banda Pussy Riot eram condenadas à prisão na Rússia, em agosto, por protestos contra o governo, seus vizinhos chineses se mostravam bem mais comportados no 9º Festival Punk de Pequim.
O evento reuniu 20 bandas durante dois dias na tradicional casa de espetáculos Mao Live House, que, sinal dos tempos, brinca com o nome do Grande Timoneiro. Reduto do circuito alternativo, o lugar abriga com conforto centenas de fãs numa fábrica desativada.
Apesar de a China viver um regime autoritário, o movimento punk local, surgido nos anos 1990, não protagonizou nenhum maior enfrentamento com o Estado -algo bem diferente do que se vê entre escritores, artistas e outros com potencial dissidente.
No palco, bandas mais políticas, como Trash Cat, professam uma raiva difusa, no estilo "tô nem aí", evidente em canções como "Fuck V.I.P." e "Shit Country". "Não temos liberdade de expressão", disse o vocalista da Anarchy Jerks, Shen Yue, numa entrevista. "Nossa forma de contestar é não ligar e fazer só o que gostamos de fazer."
Pouco combativo na política, o punk local parece também imune à xenofobia, comum em alguns subgêneros e tristemente em voga na China. Um dos destaques do festival foi a japonesa The Erections, que se apresentou tranquilamente no mesmo final de semana em que milhares de chineses protestavam contra o Japão devido a uma disputa por ilhas no Pacífico.
Dotado de aguçado senso histórico, Li Zhensheng, 72, arriscou a vida escondendo sob o assoalho de sua casa negativos de fotos que tirou durante a ultraviolenta Revolução Cultural (1966-76) para o jornal local de Harbin, cidade gelada próxima da fronteira com a Rússia.
"Nós, fotojornalistas, tínhamos um ditado na época: há dois tipos de fotos, as 'úteis' e as 'inúteis', contou Li ao "New York Times". As úteis, publicáveis, mostravam principalmente multidões "com os punhos para o ar e bocas abertas". As inúteis, com execuções e castigos físicos contra o povo, foram salvas da destruição por Li.
Ele começou a exibir suas fotos em 1988, mas a coleção continua proibida na China. No exterior, tem aparecido em livro ("Red-Color News Soldier"), exposições (há uma na galeria londrina Barbican) e na internet (nyti.ms/SCoIzr).
A censura chinesa tem sido intransigente com a realidade retratada por Li, mas tolera a ficção.
Há bons filmes sobre aqueles anos, do épico "Adeus, Minha Concubina" a produções mais recentes, como "11 Flores". Até na estatal CCTV há telenovelas ambientadas no período.
O escritor Yu Hua talvez seja quem melhor resume essa ambivalência. Seu romance histórico "Irmãos", publicado no Brasil pela Companhia das Letras, foi um best-seller na China. Já o recente livro de memórias "China in Ten Words" (China em dez palavras) foi censurado no país. Ambos retratam a Revolução Cultural criticamente -o que muda é o gênero.
Para explicar as duas medidas, Yu lembra a criação do 35 de Maio na internet chinesa como referência oblíqua ao 4 de junho de 1989, data em que soldados massacraram estudantes na praça da Paz Celestial. "'Irmãos' é o 35 de Maio, diz. "E 'China in Ten Words' é mais como o 4 de Junho."
"O Filho Eterno" (Record), de Cristovão Tezza, já publicado em seis países, terá edição em mandarim. A tradução fica pronta em 2013. Sai pela importante editora estatal Literatura Popular.
Antes, em novembro, Tezza visita Pequim a convite do Itamaraty, para participar de atividades com estudantes chineses de português. De lá, segue para Tóquio.
Nas prateleiras chinesas, Tezza terá a companhia de uma lista eclética de brasileiros disponíveis em mandarim, segundo levantamento do jornalista Jayme Martins, que viveu na China entre as décadas de 1960 e 1980.
Com cerca de 30 títulos, a biblioteca vai de Euclides da Cunha a Paulo Coelho, sendo o comunista Jorge Amado o mais traduzido. O livro de maior sucesso foi "Escrava Isaura", de Bernardo Guimarães, na esteira da novela com Lucélia Santos. Só uma edição do romance, publicado no Brasil em 1875, vendeu cerca de 300 mil cópias.
Quando o Museu Nacional da China e o Museu Britânico decidiram colaborar numa exposição em Pequim para celebrar dois eventos importantes de 2012 -as Olimpíadas de Londres e o centenário do museu chinês-, optaram por focar algo que exerceu papel crucial na sorte dos dois países: a porcelana.
"A China se orgulha muito de ter inventado a tecnologia da fabricação de porcelana", disse Jan Stuart, diretora do departamento da Ásia no Museu Britânico. "Ela quis destacar esse fato para o público internacional e chinês."
Foram ceramistas da dinastia Song (960-1279) em Jingdezhen que descobriram o segredo da produção da porcelana, quando acrescentaram caulim à pedra chinesa usada para produzir outras cerâmicas e aqueceram os fornos a temperaturas superiores a 1.300°C. O material resultante era branco, forte, translúcido e brilhante, permitindo a produção de vasilhames cheios de detalhes que possuíam potencial ímpar para decoração e que deram lugar a uma demanda sem precedentes.
"A porcelana foi a primeira mercadoria realmente global", disse Stuart. "Ela passou a ser transportada para todo lado, como parte da economia moderna e do comércio de prata."
A porcelana exerceu um impacto espetacular em quase todo lugar para onde foi. Sua beleza etérea e resistência surpreendente levaram alguns a lhe atribuir poderes mágicos. Em uma cultura do sudeste asiático, acreditava-se que ela fosse "filha" de estrelas cadentes, em outra, dizia-se que ela curava os doentes e convocava os espíritos.
O Oriente Médio, que tinha sua tradição própria de cerâmicas sofisticadas, foi durante anos o maior mercado externo da cerâmica Song. A região aderiu rapidamente à porcelana e aos mercadores muçulmanos chineses que administravam a chamada "rota da cerâmica", que passava pelo mar, introduziram o cobalto do Oriente Médio que possibilitou a criação da porcelana azul e branca, marca registrada da dinastia Ming.
À medida que a demanda aumentava, as oficinas de Jingdezhen foram ficando mais e mais especializadas: cada objeto de porcelana passava pelas mãos de cerca de 70 artesãos. Alguns deles se limitavam a pintar as beiradas azuis nos vasos.
Pelo menos uma peça de porcelana tinha chegado à Europa até o ano de 1300, mas as maiores exportações só começaram no século 16, quando mercadores primeiro portugueses, depois holandeses e ingleses começaram a realizar o transporte dela -muitas vezes como lastro em embarcações carregadas de chá e seda-, desencadeando a "paixão pela porcelana" que deu nome à mostra atual.
A exposição, que ficará até 6 de janeiro, também tem a curadoria do Museu Victoria & Albert -é a primeira vez que essas instituições exibem suas coleções de porcelana chinesa em conjunto. A primeira parte da exposição é dedicada às cerâmicas Ming e Qing para exportação. Embora a maioria fosse azul e branca, algumas foram feitas por encomenda de europeus ricos.
Uma seção da exposição é dedicada a porcelanas chinesas antigas colecionadas por europeus. Alguns colecionadores compravam ao atacado e usavam porcelana para decorar virtualmente tudo, chegando a erguer "palácios de porcelana", mas outros adotavam uma abordagem mais estudada, formando coleções de valor inestimável.
Mas os colecionadores chineses nunca demonstraram o mesmo interesse pela porcelana britânica ou a de outros fabricantes europeus. Em vez de porcelana, era prata que deixava os cofres britânicos para comprar o chá e a porcelana cobiçados por cada vez mais cidadãos britânicos -até que comerciantes britânicos estancaram a sangria de prata, enviando ópio à China, uma ofensiva comercial que acabou levando à guerra.
A mostra "Paixão pela Porcelana" exibe o lado positivo desses intercâmbios culturais.
"Quero que as pessoas entendam quão importante a China tem sido na imaginação dos ocidentais, mas que também vejam alguns dos estilos particulares do Ocidente", disse Stuart.
"Esta é uma oportunidade para pessoas na China verem como algo que os chineses iniciaram acabou por ganhar vida própria."
segunda-feira, 24 de setembro de 2012
quinta-feira, 20 de setembro de 2012
Palestra na Fnac Pinheiros:
https://docs.google.com/spreadsheet/viewform?formkey=dE1sc0tiTVUwRWJPWENWNXlJOW44N2c6MQ
Workshop no SENAC SANTO AMARO:
https://docs.google.com/spreadsheet/viewform?formkey=dEotQmY5MFZkeG9TalhweXc3dmJzVFE6MQ
https://docs.google.com/spreadsheet/viewform?formkey=dE1sc0tiTVUwRWJPWENWNXlJOW44N2c6MQ
Workshop no SENAC SANTO AMARO:
https://docs.google.com/spreadsheet/viewform?formkey=dEotQmY5MFZkeG9TalhweXc3dmJzVFE6MQ
O Sesc Vila Mariana está sediando a exposição “Pulso Iraniano”,
que reúne fotografias e vídeos inéditos de importantes artistas
contemporâneos do Irã. A mostra que já passou pelo Oi Futuro, no Rio de
Janeiro, e em Belo Horizonte, tem chamado atenção por trazer parte
significativa dos contextos político e cultural vividos hoje pelo país. A
entrada é Catraca Livre. O curador e diretor artístico do projeto, Marc Pottier, levou dois
anos para escolher os trabalhos que serão apresentados. Para a seleção,
Marc viajou ao Irã onde realizou encontros com os artistas, além de ir
também à Londres e Nova Iorque, locais com uma comunidade iraniana
representativa, e contou com o apoio de curadores e artistas regionais
convidados. O objetivo foi reunir obras que mostrem a perpetuação de uma
tradição milenar de criação artística. “A exposição está abrindo portas novas para o público mostrando o
coração da cultura mundial, já que estamos falando de milhões de anos de
arte. Para os brasileiros tem sido um contato realmente importante.
Localmente, o que se sabe do Irã é o que é lido nos jornais em termos de
política, mas a arte dos seus artistas tem uma pulsação e uma energia
que vão além da crítica política”, explica o curador. Para apresentar a diversidade dos temas, a exposição está dividida
em: “A Guerra”, “As Tradições”, “A Mulher”, “A Poesia” e “O Espírito de
Celebração”. A exposição apresenta trabalhos dos artistas Morteza Ahmadvand,
Shirin Aliabadi, Gohar Dashti, Arash Hanaei, Siamak Filizadeh, Shadi
Ghadirian, Amirali Ghasemi, Ghazel, Peyman Hooshmandzadeh, Bahman
Jalali, Rana Javadi, Abbas Kiarostami e de seu filho Bahman Kiarostami,
Nava Zadoc, Shirin Neshat, Jalal Sepehr, Mitra Tabrizian, Jinoos
Taghizadeh, NewshaTavakolian e Sadegh Tirafkan. Na mostra há, ainda,
obras de artistas emergentes, sendo 28 videoartistas e 30 fotógrafos.
quarta-feira, 19 de setembro de 2012
Encontro Kuniichi no Cafe Raiz.mpg Parte 4 ( Final ) .
Encontro com Kuniichi Uno no Café Raiz. PARTE 4 ( Final ) .
Com a Participação da Professora Christine Greiner,
e dos alunos e pesquisadores do CEO ( Centro de Estudos Orientais ) .
data: 17/08/2012
Encontro Kuniichi no Cafe Raiz.mpg PARTE 3
Encontro com Kuniichi Uno no Café Raiz. PARTE 3
Com a Participação da Professora Christine Greiner,
e dos alunos e pesquisadores do CEO ( Centro de Estudos Orientais ) .
data: 17/08/2012
Encontro Kuniichi no Cafe Raiz.mpg PARTE 2
Encontro com Kuniichi Uno no Café Raiz. PARTE 2
Com a Participação da Professora Christine Greiner,
e dos alunos e pesquisadores do CEO ( Centro de Estudos Orientais ) .
data: 17/08/2012
terça-feira, 18 de setembro de 2012
Encontro Kuniichi no Cafe Raiz.mpg PARTE 1
Encontro com Kuniichi Uno no Café Raiz. PARTE 1
Com a Participação da Professora Christine Greiner,
e dos alunos e pesquisadores do CEO ( Centro de Estudos Orientais ) .
data: 17/08/2012
segunda-feira, 17 de setembro de 2012
Parte 4 Palestra Kuniichi
Encontro e Conversa Aberta com Kuniichi Uno. PARTE 4
Pré Lançamento de seu Livro " A gênese de um corpo desconhecido "
Participação da Professora Christine Greiner e do Professor Peter Pál.
Data: 15/08/12 .
Local: Colégio São Domingos
Parte 3 Palestra Kuniichi
Encontro e Conversa Aberta com Kuniichi Uno. PARTE 3
Pré Lançamento de seu Livro " A gênese de um corpo desconhecido "
Participação da Professora Christine Greiner e do Professor Peter Pál.
Data: 15/08/12 .
Local: Colégio São Domingos.
Pré Lançamento de seu Livro " A gênese de um corpo desconhecido "
Participação da Professora Christine Greiner e do Professor Peter Pál.
Data: 15/08/12 .
Local: Colégio São Domingos.
sábado, 15 de setembro de 2012
Parte 2 Palestra Kuniichi
Encontro e Conversa Aberta com Kuniichi Uno. PARTE 2
Pré Lançamento de seu Livro " A gênese de um corpo desconhecido "
Participação da Prof. Christine Greiner e do Prof. Peter Pál.
Data: 15/08/12 .
Local: Colégio São Domingos.
Parte 1 Palestra Kuniichi
Encontro e Conversa aberta com Kuniichi Uno.
Pré Lançamento de seu Livro " A gênese de um corpo desconhecido "
Participação da Professora Christine Greiner e do Professor Peter Pál.
data: 15/08/2012.
Local: Colégio São Domingos.
sexta-feira, 14 de setembro de 2012
Cerca de 400 pessoas protestaram nesta sexta-feira ante a embaixada americana de Jacarta, em mais um episódio desencadeado pelo vídeo feito nos EUA sobre a religião islâmica e que foi considerado blasfemo por muitos muçulmanos. Além da Indonésia, novas manifestações também foram registradas no Iêmen e no Egito.
A produção amadora, que retrata o profeta Maomé de forma controversa, também foi repudiada por várias lideranças ocidentais por "denegrir" essa religião, embora com a ressalva de que não serviria de "justificativa" para a onda de violência registrada em vários países.
A divulgação desse vídeo pela internet serviu supostamente de estopim para várias manifestações em países de maioria muçulmana nesta semana, e que culminaram com a morte do embaixador americano da Líbia e mais três cidadãos americanos na terça-feira à noite num atentado ainda sob investigação das autoridades locais.
As manifestações ganharam contornos violentos e se espalharam pelo Egito, Iêmen, Marrocos, Irã e Bangladesh, alcançando hoje a Indonésia.
A manifestação na capital Jacarta, que reuniu mulheres e crianças, foi convocada pelo grupo fundamentalista Hizb ut Tahir, com escassa influência no país.
Alguns manifestantes portavam placas com os dizeres "Não mexam com o profeta Maomé" e "Condenamos os insultos contra o mensageiro de Alá", conforme imagens transmitidas pela TV estatal.
Pelo menos 250 policiais foram mobilizados para fazer a segurança nas proximidades da embaixada americana.
No Iêmen, forças de segurança bloquearam as ruas nas cercanias da embaixada dos EUA na capital Sanaa nesta sexta-feira, em mais um dia de violentos protestos neste país.
Centenas se reuniram numa mesquita próxima da embaixada, portanto placas e gritando slogans contra o filme.
"Expulsem o embaixador dos EUA! Morte à América, morte à Israel", era a mensagem escrita numa faixa portada por um manifestante.
Um soldado que fazia a segurança da embaixada contou à agência Reuters que eram esperados mais manifestantes nas próximas horas, logo após o término das orações matinais.
A imprensa local reportou nesta sexta que um grupo de marines (fuzileiros) americanos havia desembarcado no aeroporto internacional de Sanaa para reforçar a segurança da embaixada, uma informação não confirmada pelas autoridades dos EUA.
Ontem, pelo menos uma pessoa morreu e 15 ficaram feridas durante vários distúrbios, que ocorreram quando uma manifestação pacífica derivou para a violência e manifestantes jogaram pedras contra as forças de segurança em torno da embaixada americana.
A Líbia informou ontem que quatro pessoas foram presas no âmbito da investigação sobre os ataques ao consulado dos EUA em Benghazi, em que morreram o embaixador Chris Stevens.
No Egito, o presidente Mohammad Morsi apelou para os muçulmanos que para que protejam os embaixadores e representantes diplomáticos, que são hóspedes no país.
Mursi fez o apelo em uma transmissão da TV estatal desta sexta-feira, enquanto os protestos contra os EUA continuavam na capital.
Policiais dispararam bombas de gás lacrimogêneo e entraram em confronto com pelo menos 100 manifestantes, que protestavam a poucas quadras do posto diplomático dos EUA no Cairo.
Ontem, uma multidão enfurecida escalou os muros da embaixada americana e vandalizou uma bandeira dos EUA.
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