sábado, 30 de maio de 2015


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Para muitos jovens sauditas, a vida é um ecossistema composto de aplicativos.
Sem acesso à liberdade de expressão, eles debatem no Twitter. Como não podem paquerar no shopping, eles o fazem pelo WhatsApp e o Snapchat. Mulheres jovens que não conseguem emprego vendem comida ou bijuterias por meio do Instagram. Como elas são proibidas de dirigir veículos, deslocam-se em carros de serviços como Uber e Careem.
Além disso, em um país onde as lojas fecham para as cinco orações diárias dos muçulmanos, há aplicativos que lançam o chamado à oração por meio do telefone e calculam se você terá tempo para chegar ao próximo Dunkin' Donuts, por exemplo, antes de ele fechar as portas.
Confrontados com uma versão austera do islã e com códigos sociais rígidos que impõem restrições severas à vida pública, os jovens sauditas vêm recorrendo cada vez mais às mídias sociais para se expressar, se divertir, ganhar dinheiro e encontrar amigos e potenciais parceiros.
Essa dependência da tecnologia, usada para passar ao largo da polícia religiosa e dos olhares inquiridores de familiares e vizinhos, vem se intensificando desde seu início, na década de 1990, com a expansão da televisão por satélite. Os sauditas na casa dos 30 anos ou mais velhos se recordam dos tempos em que se trocavam mensagens românticas não autorizadas com a ajuda do BlackBerry Messenger.
Mas a escala do boom atual das mídias sociais é estarrecedora.
Muitos dos 18 milhões de cidadãos sauditas possuem smartphone e passam horas on-line todos os dias. A comunicação digital não tomou o lugar das interações cara a cara, mas abriu a porta a comunicações muito mais diretas e sólidas, especialmente em uma sociedade que pratica a segregação aguda entre homens e mulheres que não sejam da mesma família.
A expansão da tecnologia móvel está gerando nada menos que uma revolução social na vida dos jovens sauditas. Em um país que não permite cinemas, os vídeos do YouTube proporcionam uma fuga dos censores e uma janela para o mundo externo. Um jovem juiz do direito sharia confidenciou que tinha assistido às cinco temporadas do seriado "Breaking Bad". "Fiquei viciado", explicou.
 O país possui condições perfeitas para um boom das mídias sociais: internet veloz, receita disponível e uma população jovem com poucas opções sociais. Diferentemente da China ou do Irã, a Arábia Saudita não bloqueou sites como Facebook e Twitter, embora ocasionalmente processe quem considera que tenha insultado figuras públicas ou o islã.
A monarquia saudita parece ter decidido que os benefícios das mídias sociais, como válvula de escape para os jovens, pesam mais que o risco de elas serem usadas para mobilizar oposição política.
Também existem benefícios econômicos. "Muitas pessoas vivem grudadas ao telefone -e entediadas", comentou Ali Kalthami, diretor de conteúdo da Telfaz11, que produz vídeos cômicos para o YouTube.
A empresa hoje emprega mais de 30 pessoas e diversificou suas atividades para incluir a produção de comerciais e games e o gerenciamento de seus atores, frequentemente cercados na rua por jovens sauditas querendo tirar selfies com eles.
O site ironiza a lei que proíbe mulheres de dirigir carros e a estereotipagem de sauditas no exterior, mas seus membros conhecem os limites que precisam respeitar. "Os tabus habituais: sexo, política e religião", enumerou Alaa Yoosef, diretor gerente da C3 Films, a empresa-mãe da Telfaz11.
Os conservadores religiosos são hábeis no uso das mídias sociais, e muitos jovens sentem orgulho de sua cultura. Mesmo os que querem mudá-la dizem que as transformações precisam ser graduais.
Muitos vêm usando as novas tecnologias de maneiras sauditas. Apresentando-se nas vestes tradicionais negras, com véu cobrindo o rosto inteiro, Amy Roko acumula quase meio milhão de seguidores no Instagram graças aos vídeos em que imita a diva colombiana Shakira, usando golpes de caratê contra um pretendente indesejado e andando de skateboard, já que não pode conduzir um carro.
A conservadora Raqad Alabdali, 22, que vive em um subúrbio de Riad, iniciou um romance com um homem que não conhecia após ele responder a seus posts melancólicos no Twitter com uma mensagem particular. Em pouco tempo, eles estavam trocando mensagens constantes. Eles trocaram seus números de telefone, e ela acabou mandando ao pretendente uma foto em que estava sem véu, de vestido branco com os ombros de fora e com os olhos maquiados.
"Não tenho a menor dúvida de que ele vai se casar comigo ou que tem intenções sérias comigo."
A que se deve essa certeza? Seu irmão mais velho e a mulher dele se conheceram no Facebook.

sexta-feira, 29 de maio de 2015

CIDA QUE MANDOU:


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Olá a todos,


Segue o link da EDX que promoveu os cursos Visualizing Japan e Visualizing Postwar Tokyo que a Michiko comentou hoje no nosso encontro. Os cursos foram ministrados pela Universidade de Tokyo em parceria com a EDX: https://www.edx.org

quinta-feira, 28 de maio de 2015

sábado, 16 de maio de 2015




http://noticias.uol.com.br/tabloide/ultimas-noticias/tabloideanas/2015/05/15/ricao-paga-r-23-mi-a-atriz-porno-por-exclusividade-por-15-anos.htm

http://oglobo.globo.com/economia/fotos-de-executivos-japoneses-pulando-nova-febre-na-internet-16166460

http://thediplomat.com/2015/05/how-japan-plans-to-conquer-the-global-arms-market/

Ásia tem 8.000 imigrantes à deriva no mar

 https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgeLpqp5Pglnf-VHQrtF0ZBbR5S7SzuCwNx9j74Av8BgIJoNdMciKPWf48TKnRDXLwEGqU5eSUExhbc4r2yakY-YgftD9xS5_TXpgNQvsnB8JpysrpbJB05lWekAlXj546Up9IoLemEt18/s320/deriva10.jpg

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http://www.archives.gov/publications/prologue/2004/winter/images/slave-back.jpg

Você é sunita ou xiita? Tem barba comprida ou curta? Solteiro, divorciado ou viúvo? O quanto você reza?
Perguntas como essas têm sido feitas de smartphone para smartphone no Líbano, em aplicativos especializados em relacionamentos.
São questões ausentes nas plataformas mais famosas do nicho, como Tinder e Grindr, utilizados no Brasil por quem busca companhia (ou sexo imediato, alguns dirão).
Mas, exatamente por fazer sentido entre setores específicos da sociedade libanesa, essas informações estão empurrando adiante os aplicativos Muzmatch e Matchmallows, em que usuários podem preencher campos sobre suas práticas religiosas.
Entre as funções específicas dessa plataforma estão, por exemplo, as opções de borrar seu rosto ou enviar semanalmente um resumo das conversas para seu guardião legal, no caso de mulheres.
Esse tipo de preocupação levou também, em abril, ao lançamento do aplicativo Matchmallows, que se promove a partir da ideia de que possibilita uma análise de personalidade mais específica para um público entre o qual, por exemplo, mulheres não se sentem tão confortáveis em disponibilizar suas fotografias em redes sociais.
Se bem-sucedidos, aplicativos como o Muzmatch e o Matchmallows farão parte de sociedades com suas especificidades quanto aos relacionamentos.
No caso de países como a Arábia Saudita, os shoppings são um dos poucos espaços públicos para a interação entre os sexos.
Ao se deixar em branco em branco o endereço de e-mail de seu guardião legal (no caso, inexistente). O aplicativo sugeriu, em seguida, candidatas ao redor, especificando a vestimenta de cada uma.
Apesar das particularidades, o aplicativo parece funcionar sob a mesma lógica de seus equivalentes, como o Tinder e o Grindr, a partir da localização e das possibilidades de relacionamento.
Ambos os aplicativos Muzmatch e Matchmallow são gratuitos, com opção de pagamento para utilizar versões mais completas (por exemplo, visualizar perfis de usuários fora de seu país).
O Muzmatch tem mais de 5.000 usuários, enquanto o Matchmallows foi baixado em torno de 10 mil vezes, a maior parte delas no Líbano.

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O governo de Mianmar indicou nesta sexta-feira (15) que não acolherá de volta os milhares de membros da minoria rohingya que fugiram do país em embarcações clandestinas e que, rejeitados por países vizinhos, foram abandonados em alto-mar por contrabandistas.
O Sudeste Asiático enfrenta uma crise de migração que foi intensificada pela repressão regional ao contrabando ilegal. A OIM (Organização Internacional para as Migrações) estima que até 8.000 imigrantes de Mianmar e de Bangladesh estejam à deriva.
"A maioria das vítimas de tráfico humano alega ser de Mianmar. Isso é muito fácil e conveniente para eles", disse o porta-voz do governo birmanês, Ye Htut. "Não se pode dizer que os imigrantes vieram de Mianmar sem que possamos identificá-los."
Mianmar também ameaçou não ir a uma cúpula sobre o tema na Tailândia no dia 29 caso seja citada a questão dos rohingyas.
Os muçulmanos rohingya são uma minoria étnica em Mianmar, que os considera imigrantes bengaleses clandestinos e impede que tenham direitos como casamento civil, liberdade de locomoção e posse de terra.
A ONU (Organização das Nações Unidas) os considera uma das minorias mais perseguidas do planeta. Nos últimos três anos, 120 mil rohingyas fugiram de Mianmar em busca de asilo em países da região --a Malásia, principal destino dos imigrantes, recebeu mais de 45 mil pessoas e diz não poder abrigar outras.
A Malásia, assim como a Indonésia e a Tailândia, vem recebendo pressão internacional para acolher os imigrantes e resolver a crise.
Com a ajuda de pescadores, 790 imigrantes que estavam naufragando em um barco conseguiram chegar nesta sexta à costa da Indonésia.
Segundo a OIM, o governo indonésio pediu ajuda do órgão para receber os imigrantes, cuja embarcação havia sido abandonada e rebocada pela Tailândia até as águas do país. No grupo, havia cerca de 370 rohingyas.
Outros barcos foram rejeitados por Malásia e Tailândia, apesar de as Nações Unidas terem pedido aos países do Sudeste Asiático que resgatassem os refugiados.
O abandono por parte das autoridades dos países da região e dos capitães das embarcações agrava a situação humanitária desses migrantes em alto-mar.
Manu Abudul Salam, 19, uma das rohingyas resgatados pelos pescadores, relatou situações que vivenciou em sua embarcação. A falta de comida e de água provocou brigas entre os imigrantes. Em uma delas, o seu irmão mais velho foi morto.
"Se eu soubesse que a viagem de barco seria tão horrorosa, eu teria preferido simplesmente morrer em Mianmar", disse ela.

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Todos os dias infalivelmente, antes das 8h, jovens asiáticas e latino-americanas se aglomeram em quase todas as esquinas do bairro de Flushing, no distrito nova-iorquino do Queens.
Como que orquestradas, surradas vans Ford Econoline aparecem numa procissão ruidosa e encostam junto para o embarque das mulheres.
É o começo de mais um dia para legiões de manicures que serão distribuídas por salões de três Estados. Eles só voltarão para cá à noite, após cumprirem jornadas de 10 a 12 horas.
Numa manhã de maio de 2014, Ren Jing, 20, chinesa recém-chegada aos EUA, estreava nessa massa de manicures, agarrada a sua marmita e a uma bolsa com instrumentos, que elas carregam de emprego em emprego.
Levava US$ 100 enfiados no bolso, para outro gasto: a taxa que a dona do salão cobra de cada nova funcionária. Em troca, Ren poderia ficar trabalhando no salão sem receber salário, subsistindo à custa de magras gorjetas, até que sua patroa a considerasse suficientemente apta para merecer um salário.
A dona do salão levaria quase três meses para começar a pagá-la. Trinta dólares por dia. Fazer as unhas no salão se tornou nos últimos anos um hábito de beleza básico para mulheres de todas as classes sociais. Há atualmente mais de 17 mil salões de manicure nos EUA. Mas a exploração da mão de obra desse setor é praticamente ignorada.
O "New York Times", após entrevistar 150 funcionárias e proprietários de salões de beleza, concluiu que a maior parte dessa mão de obra ganha menos que o salário mínimo, ou não ganha nada. Jornais em línguas asiáticas anunciam vagas que pagam US$ 10 por dia.
As manicures têm as gorjetas retidas por pequenas faltas, são monitoradas por vídeo e agredidas. Os produtos com que trabalham as expõem a problemas de saúde como abortos e câncer.
Os empregadores são raramente punidos por violações de leis trabalhistas ou de outros tipos. Abusos citados em ações judiciais incluíam cobrar das manicures pela água que elas bebiam e chutá-las e xingá-las quando estavam sentadas no banquinho de pedicure.
Entre mais de cem trabalhadoras ouvidas pelo "Times", apenas cerca de um quarto disse receber o salário mínimo por hora de trabalho em vigor no Estado de Nova York. Todas, exceto três, sofreram retenções salariais que poderiam ser consideradas ilegais, como ao não receberem horas extras.
Em resposta à investigação do "Times", o governador Andrew Cuomo criou uma força-tarefa composta por vários órgãos públicos para examinar esse setor, instituir novas regras para proteger as manicures contra os efeitos dos produtos químicos perigosos e iniciar uma campanha em seis línguas para conscientizá-las dos seus direitos.
Muitas delas passam os dias de mãos dadas com mulheres ricas em Manhattan e Greenwich (Connecticut). Longe das suas bancadas de trabalho, se recompõem em pensões lotadas de beliches ou em fétidos apartamentos partilhados por até uma dúzia de estranhas.
Ren trabalhou na Bee Nails, em Hicksville (Nova York), onde as poltronas de couro para fazer o pé são equipadas com iPads instalados em braços articulados, de modo que as clientes possam virar a tela sem borrar as unhas.
Elas raramente falavam mais que algumas palavras com Ren, que, como a maioria das manicures, usava nome falso no broche no peito, escolhido por uma supervisora. Ela era "Sherry".
À noite, voltava para dormir no abarrotado apartamento de um dormitório em Flushing, com uma prima, o pai dela e três estranhos. Assim como Ren, quase todas as manicures entrevistadas pelo "Times" tinham inglês limitado; muitas estavam ilegalmente no país. Essa combinação as deixa vulneráveis.
Os salões de manicures são regidos por um sistema de castas étnico-racial. Os proprietários coreanos dominam o setor, e as trabalhadoras coreanas ganham o dobro das outras. As chinesas ocupam o escalão seguinte; as latino-americanas ficam na parte inferior.
A equatoriana Ana Luisa Camas, 32, disse que, num salão de Connecticut pertencente a um coreano, ela e outras manicures latino-americanas precisavam passar seus turnos de 12 horas sentadas em silêncio, enquanto as coreanas eram livres para conversar.
A tibetana Lhamo Dolma, 39, recordou um emprego no qual tinha de comer em pé na cozinha, enquanto suas colegas coreanas comiam nas suas bancadas.
Há geralmente três degraus hierárquicos. As manicures do "Big Job" ("emprego grande") são veteranas, especializadas em esculpir unhas de acrílico. É o trabalho mais rentável, mas muitas o evitam devido ao risco de aborto, câncer e outras doenças.
Diversas pesquisas corroboram esses temores, mostrando uma associação entre os produtos químicos usados em cosméticos e problemas de saúde graves.
Estudos apontaram que esteticistas são mais propensos a morrerem por doença de Hodgkin, a parirem bebês com baixo peso e a desenvolverem mieloma múltiplo, uma forma de câncer.
Casos de abortos e de crianças que nasceram "especiais" são tão comuns que as manicures mais velhas alertam mulheres em idade fértil a não entrarem no ramo.
Um degrau abaixo das manicures do "Big Job" estão as "Medium Job" ("empregos médios"), que fazem o trabalho comum de manicures. "Little Job" ("emprego pequeno") é a categoria das iniciantes, que lavam as toalhas usadas e varrem pedaços de unha. Fazem o trabalho que as outras não querem, como o de pedicure.
As manicures mais experientes ganham US$ 50 a US$ 70 por dia, podendo chegar a US$ 80, mas, por conta das jornadas longas, a remuneração ainda fica abaixo do salário mínimo por hora.
A cultura de subserviência dos salões de beleza vai muito além de paparicar as clientes. As gorjetas e os salários são parcialmente confiscados ou nem chegam a ser pagos, ou ainda sofrem deduções a título de punição por faltas como derramar tubos de esmalte.
Qing Lin, 47, manicure há dez anos, conta que uma vez um pingo de removedor de esmalte manchou a sandália Prada da cliente.
A mulher exigiu que o salão pagasse pelo estrago, e os US$ 270 foram descontados de seu salário. Ela perdeu o emprego. "Eu valho menos que um sapato", disse ela.
Os donos tendem a justificar suas práticas trabalhistas argumentando que a concorrência derrubou o preço: fazer a unha custa US$ 10,50 em Nova York.
Em um salão, uma placa às clientes diz: "Se há menos gorjetas fica difícil contratarmos boas funcionárias, ou precisamos pagar salários maiores para contratá-las, o que pode também provocar um aumento no preço".
Ren, que já deixou seus dois primeiros empregos, hoje ganha US$ 65 por dia em um terceiro salão e mora num apartamento com seus pais, que vieram da China para ficar com ela. Seu pai é cozinheiro em um restaurante, e a mãe virou manicure e ganha US$ 30 por dia.
Alguns proprietários admitiram que os salários são baixos, mas alegam que ajudam as imigrantes ao lhes dar trabalho.
Lian Sheng-sun, primeira empregadora de Ren, disse: "Os salões têm maneiras diferentes de conduzir seus negócios. Nós conduzimos o nosso à nossa maneira, de modo a permitir que nosso negócio continue sobrevivendo".
Mas o contraste entre a vida dos proprietários e das trabalhadoras é notável. Sophia Hong, que foi dona do salão Madison Nails em Scarsdale (Nova York), tem uma coleção de arte que inclui uma obra de Park Soo-keun, artista coreano que teve uma tela vendida por quase US$ 2 milhões em 2012.
A obra está exposta na sua casa em Bayside, no Queens, um dos vários imóveis que ela possui. Em 2010, ela foi processada por uma funcionária que a acusou de não pagar horas extras. O processo foi encerrado com um acordo.
Quando os proprietários são condenados por apropriação dos salários, os salões são rapidamente vendidos, às vezes para parentes. Os proprietários somem com seus ativos, segundo promotores.
A equatoriana Lili se lembra da vez em que inspetores estaduais visitaram o salão onde ela trabalhava. Sua chefe gritou para que todas as funcionárias em situação ilegal saíssem correndo por trás.
"Aí saímos, entramos no carro e demos uma volta pelo bairro. Depois de 20 ou 30 minutos voltamos. Colocamos nossos uniformes de novo e voltamos ao trabalho."

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"Terremotos não matam as pessoas", dizem os sismólogos. "Os prédios é que matam."
Um forte terremoto atingiu o Nepal nesta terça, 17 dias após o abalo de magnitude 7,8 que derrubou imóveis. Os dois voltaram a demonstrar essa obviedade.
Mas para Brian Tucker, fundador de uma ONG chamada GeoHazards International, dois terremotos no final da década de 1980 foram inspiradores.
Em 1988, um sismo de magnitude 6,8 devastou a Armênia, então parte da União Soviética.
O número oficial de mortos foi de 25 mil, mas estimativas extraoficiais apontam para 40 mil.
Dez meses depois, um tremor de magnitude 6,9 ocorreu ao sul de San Francisco, afetando mais ou menos o mesmo número de pessoas que no terremoto armênio. Apenas 63 morreram.
"Fiquei chocado com isso", disse Tucker. "Meio que confirmou a minha intuição da enorme disparidade na letalidade dos abalos."
Em lugares como a Califórnia e o Japão, é padrão que as construções sejam resistentes a terremotos. Em outros, as leis de construção civil são negligentes, e os construtores fazem gambiarras.
"Achei que deveríamos descobrir uma forma de exportar essas práticas -adaptando-as, é claro- a países em desenvolvimento que estivessem realmente sob risco", disse Tucker, cuja ONG atualmente ajuda países em desenvolvimento a se prepararem melhor para terremotos.
Em Aizawl, no nordeste da Índia -uma região propensa a terremotos-, a GeoHazards convenceu a prefeitura a proibir a construção de casas em morros suscetíveis a deslizamentos.
Katmandu, a capital do Nepal, estava no topo da lista de prioridades da GeoHazards.
A cidade fica em cima da faixa onde o subcontinente indiano está sendo empurrado para baixo da placa tectônica eurasiana.
A GeoHazards ajudou a criar uma ONG local, chamada Sociedade Nacional para a Tecnologia de Terremotos -Nepal, que agiu para adequar escolas e hospitais, treinar socorristas e conscientizar a população sobre os cuidados necessários. "Acho que eles salvaram vidas", disse Tucker.
As mais de 8.000 mortes registradas no tremor de 25 de abril no Nepal foram menos que muitos temiam para um forte terremoto.
"Eles fizeram um trabalho fabuloso durante décadas, projetos que fazem a diferença, como a adaptação de escolas e o treinamento a construtores de vários países", disse a sismóloga Susan Hough, do Departamento de Pesquisas Geológicas dos EUA, referindo-se à GeoHazards.
Durante terremotos, os alunos em áreas vulneráveis são instruídos a se abrigarem sob suas carteiras, mas isso de pouco adianta se o móvel não resistir à queda de destroços do teto.
O terremoto do mês passado no Nepal ocorreu num sábado, quando as escolas estavam vazias. Mas, em Sichuan (China), em 2008, milhares de crianças e professores morreram esmagados em escolas que desabaram en um abalo de magnitude 8,0.
Cerca de um mês atrás, Tucker orientou Arthur Brutter, aluno da Academia Bezalel de Artes e Design, em Jerusalém, na criação de uma carteira à prova de terremotos, com tampo capaz de resistir a uma tonelada de peso, mas custando apenas US$ 70.
Na cidade indonésia de Padang, a GeoHazards coordena um projeto para criar um platô de terra, com 7 metros de altura, onde até 20 mil pessoas poderiam se refugiar em caso de tsunami.
"O progresso é lento", disse Tucker. "Sinto como se estivesse escrevendo a eles por causa desse terremoto no Nepal e lhes dizendo: 'Gente, isso vai acontecer na sua cidade'."

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O Oriente Médio, como o conhecemos há mais de um século, está prestes a desaparecer e um novo modelo está sendo criado. As características de sua nova face não estão sendo desenhadas por colonialistas e potências árabes tradicionais, mas pelo caos gerado pelo vácuo de poder atual.
Os governos centrais de pelo menos cinco países árabes -Síria, Iraque, Líbia, Sudão e Iêmen- perderam o controle de grande parte de seus territórios para grupos armados de oposição.
Uma mistura de guerras civis, sectárias ou raciais está infestando esses países, e há poucos sinais de que os conflitos irão diminuir. A guerra global ao terror de 15 anos falhou de modo geral, e os grupos terroristas e milícias radicais recuperaram a iniciativa.
A Al Qaeda tem um enclave no Iêmen, enquanto o Estado Islâmico (EI) estabeleceu seu domínio em partes da Síria, do Iraque e um "Estado do Sinai" no Egito.
A milícia também controla a cidade de Derna, na Líbia, estabeleceu uma aliança transcontinental com o Boko Haram na Nigéria e está executando seu plano de ampliar os ataques a cidades europeias e americanas, onde dois militantes foram mortos recentemente após uma tentativa de ataque terrorista no Texas.
Em consequência da violência e do desespero em toda a região, o mar Mediterrâneo tornou-se o maior cemitério do mundo. Em menos de quatro meses, 1.700 solicitantes de asilo que fugiam de guerras civis, das terríveis condições econômicas e da repressão sistemática morreram no mar.
Esse número é 30 vezes maior que o do mesmo período do ano passado. Quase 4 milhões de pessoas fugiram da guerra civil na Síria, segundo o Alto Comissariado da ONU para Refugiados.
Um sofrimento tão terrível é o resultado de décadas de graves injustiças sociais, extremismo islâmico, amplas violações aos direitos humanos e falta de boa governança.
Os países que mais sofreram com décadas de repressão política, sectária e racial sistemática e homicídios em massa -Iraque e Síria- tornaram possível a fundação do Estado Islâmico.
Nesse contexto, as populações da região árabe têm dificuldade para responder à pergunta: o que representa o "verdadeiro islã"? É o EI, que publica vídeos de suas decapitações no YouTube, ou a Arábia Saudita, que decapita pessoas em público?
É o EI, que usa a "lei islâmica" para justificar o estupro em massa de mulheres não muçulmanas no Iraque, ou é o governo sunita do Sudão, que usa o estupro em massa de mulheres não árabes como tática de guerra?
É o EI, que defende a chacina de minorias não muçulmanas; o governo alauíta de Bashar al-Assad, que lançou bombas de gás contra cidades sunitas na Síria; ou o governo de Abdel-Fattah al-Sisi, que executa chacinas nas ruas do Egito e permite sentenças de morte em massa por meio de seus tribunais politizados?
O rei Abdullah 2° da Jordânia disse recentemente à rede de televisão CNN que seus serviços de inteligência viram a milícia radical se formando quase dois anos atrás na cidade de Raqqa, no norte do país, mas "o regime sírio estava atacando todos os outros, menos o EI. Eles precisavam pegar alguém que era pior".
Em outras palavras, com a facção radical cometendo atrocidades, o uso de bombas de fragmentos e de gás pela Síria contra civis não parecia tão ruim.
O rei jordaniano deixou de dizer que isso imita a estratégia de alguns governos árabes, que atacam adversários políticos, seculares e islâmicos, que poderiam conquistar apoio.
Os ataques terroristas são vistos por alguns governos árabes não como ameaças, mas como oportunidades de comprar a aquiescência de seus cidadãos e o silêncio da comunidade internacional sobre seus crimes contra os direitos humanos.
Esses governos aplicam leis de terrorismo draconianas, que são usadas para atingir liberais pacíficos, dissidentes islâmicos e defensores dos direitos humanos. O Egito é o exemplo mais notável dessa abordagem.
Está na hora de os líderes árabes escutarem as vozes morais e racionais de seus cidadãos. Na véspera da cúpula da Liga Árabe, dois meses atrás, 26 organizações árabes de direitos humanos entregaram uma carta aos reis e presidentes do grupo político.
Nela, pediram-lhes para "reconsiderar as políticas que levaram a região árabe a essa conjuntura catastrófica, sem precedentes na era moderna", e "criar uma estratégia eficaz com base nas lições aprendidas com o enfoque unilateral em soluções de segurança e militares".
O que torna a situação da região mais terrível é o fracasso do mundo em condenar essa opressão, voltando um olhar cego para as raízes da radicalização.
Não se trata mais de uma opção entre combater o terrorismo e respeitar os direitos humanos. É impossível ganhar a luta contra o terror nesta região sem abordar a opressão e a falta de oportunidades que o produzem.
Defender os direitos humanos e confrontar o extremismo religioso, trabalhar para pôr fim à discriminação contra as populações sunitas da Síria e do Iraque, assim como contra os beduínos do península do Sinai, são os primeiros passos em uma jornada de milhares de quilômetros.

domingo, 10 de maio de 2015


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ENCONTROS DO CEO

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22/05, SALA 4A-07, 13:00

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http://www.theguardian.com/society/2015/may/10/kidneys-for-sale-organ-donation-iran
http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2015/05/1627108-empresa-importa-babas-e-domesticas-das-filipinas-para-o-brasil.shtml
http://www.theguardian.com/commentisfree/2015/may/10/surrogate-mothers-rich-westerners-poverty-dehumanising


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No Japão, os atores pornôs são como os pandas: uma espécie em extinção. Quem diz isso é Shimiken, uma estrela da profissão preocupada com o futuro dos homens nos filmes eróticos.
Aos 35 anos, Shimiken, cujo nome verdadeiro é Ken Shimizu, teve relações sexuais com 8 mil mulheres em 7,5 mil "vídeos adultos". Mas, apesar de suas qualidades hercúleas, já não aguenta mais o tranco do trabalho pornográfico.
Seu ultimo comentário no Twitter, em que lamentava que os atores eróticos nipônicos hoje são menos numerosos que os tigres-de-bengala na selva, foi retuitado por milhares de seguidores. Eles estão preocupados com o futuro da indústria pornográfica no Japão, que representa cerca de 20 milhões de dólares.
"Somos uma espécie em perigo. Só há 70 atores pornô para 10 mil atrizes", diz Shimiken.
Esse Don Juan adepto do fisiculturismo, cujos cabelos laranjas em estilo punk se parecem um pouco com uma versão japonesa do vocalista dos Sex Pistols Johnny Rotten, trabalha sem parar, ao ritmo de dois ou três vídeos por dia.
"Em geral, transo com duas ou três mulheres diariamente, ou seja, faço amor umas duas horas por dia", calculou.
"É um trabalho duro, mas alguém tem que fazer", declara o atleta, distribuindo "meishis" —cartões de negócio, em japonês— em formato de falos.
Shimiken, que veste uma camiseta com os dizeres "Sex Instructor" (instrutor de sexo), gosta de mostrar os bíceps.
O ator segue uma dieta estrita, como revela sua bolsa de academia, cheia de barrinhas de chocolate, filés de frango e ovos cozidos. A dieta se completa com chifre de veado e uma bebida a base de extratos de serpente, com supostas virtudes afrodisíacas, para manter sua virilidade.
"Não tomo Viagra. Não preciso. Ainda não", assegura o proletário do sexo, que protege seus órgãos genitais com um hidratante facial de luxo.
O único acidente de trabalho que teve foi quando uma companheira o acertou com um salto agulha. "Esse trabalho é melhor que trabalhar em oficina. Faço isso desde os 17 anos e não me canso. Continuaria sem problemas até os 100", assegura (situação que, aliás, não seria de todo absurda no Japão.
A atriz Anri Okita, estrela do pornô, não poupa elogios a Shimiken. "Garanhões como ele, maravilhas da natureza como ele, são uma espécie em extinção. É uma questão de psicologia. Só o super-homem pode fazer o que eles fazem, com essa técnica e essa resistência. O Japão pode ter orgulho deles".
Os especialistas da indústria atribuem a falta de pênis às tendências sociais e à aparição, nos meados dos anos 2000 no Japão, dos "homens herbívoros" ("soshoku danshi"), que teriam rejeitado as virtudes masculinas tradicionais.
O conceito de "homem herbívoro" foi cunhado em 2006 por uma jornalista especializada em cultura popular, Maki Fukasawa, para definir os jovens que estão pouco ou nada interessados pelo sexo, são contrários aos valores machistas e indiferentes ao êxito profissional, ao contrário de seus pais.
"Mentalmente, os homens estão mais mansos, são menos machos, gostam menos de sexo", confirma Yuko Shiraki, uma ex-caminhoneira de 39 anos, dedicada agora a "vídeos para adultos".
"Muitos perderam a confiança e não sabem como expressar sua libido. Por isso faltam homens na profissão", assegura. "Isso faz com que o trabalho de nossos pobres protagonistas masculinos seja esgotante".
Tohjiro, um dos grandes mestres do cinema erótico, está de acordo. "Faz 27 anos que trabalho nesse ramo e vi o surgimento dos 'herbívoros'. Esses homens já não têm fome. Já não têm desejo", lamenta o diretor de 58 anos.
Shimiken, no entanto, não perde a esperança. "Faço musculação para ser como o Homem de Ferro e o Batman. Mas sou o Homem do Sexo", brinca, fazendo pose de super herói.
Para o diretor Tohjiro, "tudo está na mente". "Os atores devem atuar sob grande pressão. Mas se começamos a pensar na pressão, estamos fudidos", assegura.
E termina homenageando os atletas do sexo. "Sexo é difícil. Como o futebol. Nem sempre vemos um Messi ou um Ronaldo. É a mesma coisa".

sábado, 9 de maio de 2015


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http://globalvoicesonline.org/2015/05/03/spotlight-on-yazan-halwani-beiruts-street-artist/
http://globalvoicesonline.org/2015/05/04/irans-leading-womens-magazine-suspended-after-covering-cohabitation-outside-of-marriage/
http://globalvoicesonline.org/2015/05/06/chinese-people-seem-to-love-uber-chinese-authorities-not-so-much/
http://globalvoicesonline.org/2015/05/08/new-research-iran-is-using-intelligent-censorship-on-instagram/
http://globalvoicesonline.org/2015/05/08/what-happens-when-japan-goes-on-a-week-long-vacation/

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http://oglobo.globo.com/mundo/hotel-califado-estado-islamico-inaugura-hospedagem-de-luxo-no-iraque-16070492

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http://thediplomat.com/2015/05/road-rage-in-china-a-cautionary-tale/

http://globalvoicesonline.org/2015/05/08/more-and-more-lgbt-japanese-are-coming-out-of-the-closet/

http://thediplomat.com/2015/05/shinzo-abes-glass-jaw-and-media-muzzling-in-japan/

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Os dois meninos eritreus, ambos de oito anos, haviam passado dias atravessando os desertos da Etiópia, do Sudão e da Líbia na boleia de um caminhão, na companhia de outras duas crianças e uma dezena de adultos.
Em seguida, passaram um mês numa lotada casa usada por traficantes como curral para guardar sua carga humana.
Finalmente, um bote de borracha transportou os dois meninos, Hermon Angosom e Efrem Fitwi, até um barco pesqueiro abarrotado com mais de 200 pessoas, incluindo 39 crianças -a mais nova delas com dois anos de idade, nos braços da mãe. Os dois choravam. "Estávamos com medo do barco", disse Hermon.
Os meninos eram parte do incessante fluxo de imigrantes árabes e africanos que são sacudidos pela ilegalidade da Líbia pós-Gaddafi e atirados no Mediterrâneo -foram mais de 170 mil em 2014, e o número deve se manter ou crescer.
A viagem atravessa um Estado falido onde a segurança nas fronteiras é inexistente, a corrupção é desenfreada, a Guarda Costeira raramente sai do porto e as operações de tráfico humano, cada vez mais insensíveis e ousadas, se proliferam.
O tráfico de pessoas que sai da Líbia e cruza o Mediterrâneo movimentou US$ 170 milhões (R$ 510 milhões) no ano passado, segundo relatório da ONU.
Desde a derrubada de Muammar Gaddafi, em 2011, milícias antagônicas se transformaram na única lei no país.
Os traficantes de seres humanos não têm "nada a temer", como disse um deles, porque a segurança ao longo da costa desapareceu. E as mortes no mar não reduziram a procura pela travessia.
Imigrantes africanos que vieram para cá fazer trabalhos braçais agora estão desesperados para saírem da Líbia, por causa dos combates letais entre as milícias, do quase colapso econômico e dos rotineiros roubos e abusos cometidos pelos milicianos contra africanos de pele escura.
Outros imigrantes, vindos de toda a África, pagam a traficantes no deserto para levá-los até a costa da Líbia, à espera de uma chance de chegar à Europa e à vida melhor que imaginam existir por lá.
A maioria é transportada através da Líbia por bandos armados, sob a proteção de milícias. Alguns não conseguem ir além do mar territorial líbio e terminam enredados em um limbo infernal, incapazes de voltar para casa e retidos no caos do país. Muitos não têm nem essa sorte.
Cerca de 1.750 dos aproximadamente 25 mil migrantes que tentam chegar à Itália vindos da Líbia nas primeiras semanas deste inverno no hemisfério Norte se afogaram, segundo a Organização Internacional para as Migrações.
A cifra inclui as mais de 700 vítimas de um naufrágio em abril. A taxa de mortalidade chega a mais do que o triplo do ano passado. Mas muitos ainda pagam por essa oportunidade, segundo dois traficantes ouvidos para esta reportagem.
"Os africanos estão vendo a morte diante dos seus olhos" por causa dos abusos e da violência por parte das milícias líbias, disse um traficante. "Mesmo se houver uma chance de 99% de eles morrerem no mar, ainda assim eles vão, porque estão simplesmente cansados."
Os traficantes estão se tornando cada vez mais cínicos com relação à sua carga humana. "A maioria dos traficantes não liga para Deus", disse o traficante, "então eles simplesmente atiram um monte de imigrantes dentro do barco -quanto mais, melhor para eles".
Traficantes e imigrantes disseram que o objetivo da viagem era serem resgatados por um navio europeu em águas internacionais -e não atingir a costa italiana.
Eles opinaram que o aumento do número de patrulhas, conforme a União Europeia prometeu, dificilmente bastará para conter o fluxo. "Uma força no mar só irá salvar os imigrantes", disse um traficante. "O problema está nos portos da Líbia."
Mas a Guarda Costeira líbia é praticamente inútil. Seus funcionários dizem que defeitos nos equipamentos os impediram de realizar operações durante mais de três meses, e pelo menos um capitão afirmou temer represálias dos traficantes.
Alguns partem da orla de Trípoli, não muito longe da base da Guarda Costeira, usando botes para transportar os imigrantes até navios que os esperam.
O motor do barco que transportava os meninos eritreus Hermon e Efrem rateou quase imediatamente, segundo adultos que estavam a bordo. Os imigrantes flutuaram no mar durante sete horas, até que um barco pesqueiro líbio os localizou.
Desde então, os meninos vivem entre três dezenas de crianças eritreias sem família, com idades entre 8 e 16 anos, num centro de detenção instalado em uma antiga escola.
Todos dormem em colchonetes finos sobre o chão de concreto, em uma sala vazia e mal iluminada, e usam uma privada primitiva.
Funcionários da prisão dizem que eles podem sair durante duas horas por dia, após cada uma das três refeições básicas -arroz ou macarrão, eventualmente com um pedaço de batata ou carne, mas nunca frutas ou hortaliças.
No ponto mais próximo, o extremo oeste da costa líbia fica a cerca de 460 quilômetros da ilha de Lampedusa. Há anos muitos sonham em fazer essa travessia, mas sob o regime de Gaddafi, contam os traficantes, o preço da viagem chegava a US$ 5.000 por pessoa, por causa do custo de burlar -ou, mais provavelmente, de subornar- as forças de segurança.
Recentemente, o preço caiu para em torno de US$ 1.600. Amontoar 200 imigrantes ou mais num barco significa faturar pelo menos US$ 320 mil, mas os traficantes insistem que há um custo elevado. "Tudo é caro", justificou um deles.
O transporte terrestre de imigrantes exige um suborno superior a US$ 100 por posto de controle das milícias. Um traficante pode gastar até US$ 5.000 por mês para alugar uma casa onde os imigrantes são alojados enquanto esperam para partir.
E um chefe de milícia cobra cerca de US$ 20 mil por mês para permitir o uso de um local seguro de onde os barcos possam zarpar.
Um egípcio ou tunisiano que pilote o barco pode ganhar de US$ 5.000 a US$ 7.000 por mês. Cerca de US$ 800 compram um telefone via satélite que o capitão usa para chamar a Cruz Vermelha quando o barco chega a águas internacionais, para acelerar o resgate pela Guarda Costeira italiana.
Os dois traficantes riram da ideia de que alguma autoridade líbia possa detê-los. "Tudo é aberto - os desertos e os mares", disse outro traficante, que atua em Trípoli.
Imigrantes apanhados em águas líbias são enviados a uma rede de prisões improvisadas, oficialmente para aguardar o repatriamento aos países de origem. O Senegal já levou 400 de volta.
Mas as autoridades encarregadas desses centros dizem que muitos países fecharam suas embaixadas na Líbia ou simplesmente negligenciam seus imigrantes. A Eritreia os considera criminosos.
No centro de detenção de Zawiyah, Hermon e Efrem relataram que fugiram de casa sem avisar os pais. Irmãos deles que já haviam feito a viagem para a Itália pagaram para trazer as crianças.
Perguntados sobre se tinham intenção de voltarem para a casa dos pais, a resposta dos dois foi unânime. "Queremos ir para a Itália", disseram.

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Saheb tinha um problema: sua perna esquerda foi destruída por uma bomba atirada pelo Taleban e não podia comprar uma prótese.
E também tinha uma solução: sua filha de 11 anos, Noor Bibi, que ele vendeu em 2014 por US$ 3.000 para comprar uma nova perna.
Saheb é um das dezenas de milhares de soldados e policiais que foram feridos em combate na prolongada guerra civil do país asiático. Diante da ajuda oficial inadequada ou nula, muitos estão recorrendo a medidas desesperadas para sobreviver.
Outros, que recebem apoio, se veem marginalizados por uma sociedade que trata as pessoas com deficiência como párias.
O número dos que ficaram permanentemente incapacitados está crescendo e supera os recursos disponíveis do governo afegão e das organizações beneficentes.
Mesmo pela estimativa mais conservadora, o Afeganistão tem 130 mil pessoas com deficiência que serviram nas forças de segurança, dos quais 40 mil sofreram amputação de algum membro, segundo números do governo referentes aos que recebem pensões.
O total é quase certamente muito maior, porque o governo não divulga números sobre ex-membros das Forças Armadas que se feriram gravemente.
Muitos, como Fardeen, 24, um ex-sargento de polícia que perdeu a perna direita abaixo do joelho na explosão de uma bomba atirada pelo Taleban em 2013, que também destruiu seu tornozelo e pé esquerdos, não recebem nem as magras pensões a que têm direito.
Fardeen espera até escurecer e então roda sua cadeira entre o tráfego noturno de Macrorayan, em Cabul, para pedir esmolas.
O âmbito do problema é assustador. Na província de Helmand, no sul do país, o 2° Batalhão de Polícia de Sangin tinha no ano passado 154 homens incapacitados por ferimentos, de um total de 344, segundo Abdul Hamidi, diretor da Clínica da Polícia de Helmand.
A maioria dos feridos graves vai para o Hospital de Emergências. Muitos manifestam revolta pelo que consideram falta de assistência das autoridades centrais.
"O governo só é governo no nome -ele não me dá nada", disse Mohammad Qassim, 28, que perdeu a perna direita em um bombardeio em Marja, onde era oficial da polícia local.
"No Taleban, quando um [combatente] morre, eles dão à família 15 mil afghanis (R$ 825) por mês durante dois anos. Nosso governo é mais fraco que o Taleban."
Membros da Polícia Nacional afegã ou do Exército que ficaram deficientes deveriam receber uma pensão igual a seu último salário, por toda a vida. Mas uma combinação de corrupção, má administração e burocracia impede que muitos se beneficiem.
Oficiais da polícia local afegã, que são pagos pelo governo para combater, não recebem nada quando são feridos. É por isso que Saheb estava tão desesperado.
Um comandante da polícia local na província de Paktika, Saheb foi ferido quando seu veículo atingiu uma mina terrestre. Meses depois, ele parou de receber o salário e não tinha direito a pensão.
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha tem vários centros de reabilitação que fazem próteses de graça, ensinam os pacientes a caminhar de novo e oferecem treinamento profissional.
Mas Saheb não podia pagar pelo transporte até o centro mais próximo, em Cabul, e pela estadia durante os meses de terapia.
"Foi um momento muito triste para mim", disse ele. "E foi muito triste para ela também", completou, referindo-se a sua filha. "Vendê-la foi pior do que perder a minha perna."
Alberto Cairo, que dirige o programa de reabilitação ortopédica da Cruz Vermelha, disse que é mais difícil ajudar as pessoas a sobreviver em comunidades onde não existem rampas para cadeiras de rodas e outras facilidades, e onde muitas vezes as pessoas com deficiência são rejeitadas.
Fardeen, o ex-oficial de polícia, diz que foi isso o que lhe aconteceu. Sua mulher foi embora levando os dois filhos e seu pai o expulsou de casa. Ele chora ao contar sua história. "Vivo em um inferno de dificuldades", disse.
Os soldados do Exército têm melhor sorte que a polícia, e a falta de pensões não é um problema comum para eles.
O tratamento que recebem no principal hospital militar do país em Cabul é muito melhor que o dos policiais nos hospitais comuns.
Os soldados elogiaram o tratamento médico, mas muitos disseram que se sentem abandonados pela sociedade.
"Não há um sentido de apreço no Afeganistão pelo que fizemos e os sacrifícios que enfrentamos", disse o sargento Hashmatullah Barakzai, 26, que perdeu a perna direita em combate.
Ele estava noivo quando isso aconteceu. Após o atentado, o noivado foi desfeito por insistência da família da noiva, disse o jovem sargento.

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 Às 5h de uma manhã recente, um automóvel Porsche amarelo-canário corria em alta velocidade pela avenida Shariati, em Teerã. Como viria à tona mais tarde, a jovem ao volante vinha da zona sul da cidade, mais pobre.
O rapaz sentado ao lado dela, neto novo-rico de um aiatolá, tinha comprado o carro dois dias antes. O Boxter GTS acelerou para 190 km/h em menos de dez segundos, e o rugido de seus seis cilindros reverberou nas ruas vazias.
A cena poderia ser vista como normal na zona norte de Teerã, onde cada vez mais filhos de pais com bons contatos vivem sus vidas como se as leis islâmicas não tivessem sido escritas para eles.
Seus carros de luxo tornaram-se símbolos da desigualdade no Irã, onde os novos-ricos estocam dinheiro, lucrando com as sanções e suas relações influentes.
Era a primeira vez que Parivash Akbarzadeh, 20, dirigia um Porsche. Ela perdeu controle do carro, chocou-se com o meio-fio e bateu o carro contra uma árvore.
Morreu instantaneamente, e o dono do veículo, Mohammad Hossein Rabbani-Shirazi, 21, morreu horas depois em decorrência de seus ferimentos, divulgou o "Afkarnews" em 23 de abril.
Pouco depois, fotos dos destroços do carro esporte apareceram nas mídias sociais. Quase ao mesmo tempo veio à tona a identidade das duas vítimas: uma beldade jovem, de olhos grandes, e o neto de um clérigo destacado. O rapaz era noivo, mas não de Akbarzadeh.
No Irã, onde a mídia estatal se apressa a divulgar a desigualdade crescente de renda -mas sempre omite informações pessoais sobre os ricos-, o acidente desencadeou uma tempestade de comentários nas mídias sociais, em sua maioria altamente negativos.
"Bem feito", alguém escreveu na página de Instagram de Akbarzadeh, debaixo de uma imagem da moça com um anel de diamantes no formato de um cifrão.
O que deixou muitas pessoas indignadas não foi o fato de Akbarzadeh ter estado em um carro com um homem prestes a se casar, embora isso seja ilegal pelas leis islâmicas vigentes no Irã, que preveem a segregação de homens e mulheres não casados, mas são aplicadas de modo seletivo.
O que mais irritou as pessoas foram os dois pesos e duas medidas exemplificados pela tragédia, especialmente as questões interligadas da corrupção e desigualdade crescentes.
Durante o governo do presidente de Mahmoud Ahmadinejad, algumas pessoas enriqueceram muitíssimo depois de ser autorizadas a vender petróleo e dinheiro.
Os filhos desses chamados "intermediários", que hoje se lançaram em outros negócios, fazem compras em Dubai e dirigem carros de luxo em um país onde os preços ao consumidor triplicaram ou mais e muitas pessoas não têm mais condições de adquirir um carro novo, mesmo nacional.
Quase 100 mil carros de luxo teriam sido importados desde 2009, apesar do imposto de 140% sobre esses veículos. Assim, um Porsche como o Boxster GTS ano 2015, destruído na colisão, custaria pelo menos US$178 mil no Irã.
Segundo o jornal "Shahrvand", muitos dos donos desses carros andam pela cidade em seus automóveis, paquerando mulheres.
"Os novos-ricos se vestem, falam e agem de modo diferente, desprezando normas urbanas e sociais", comentou o jornalista Nader Karimi Joni. "Eles exibem sua situação privilegiada e têm prazer em humilhar os outros."
Até o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, comentou o caso. "Alguns jovens, orgulhosos de sua riqueza, tomam conta das ruas com seus carros caros", ele disse. Isso "cria insegurança psicológica na sociedade." Khamenei pediu ação por parte da polícia.
Vários empresários foram presos nos últimos dois dias, e o bilionário Mahafarid Amir Khosravi foi executado por apropriação indevida de fundos.
Entre os milhares de comentários deixados sob uma das fotos de Akbarzadeh no Instagram, as pessoas a criticaram por ser "arrivista" e "oportunista", destacando sua origem em um bairro de classe média baixa.
Outros a defenderam, dizendo que, "infelizmente", andar na companhia de jovens de família rica é a única maneira de uma moça atraente se casar, já que os casamentos custam muito no Irã.
A família de Rabbani-Shirazi negou que o veículo acidentado fosse dele, dizendo que ele não tinha "nem sequer uma bicicleta".
Mas o veredicto do público é inequívoco. "Agradeço a Deus porque, mesmo quando não há justiça na distribuição de dinheiro e riqueza neste mundo, há justiça na morte", escreveu no Instagram uma usuária, Lili.asayesh22.
"Gosto da justiça de Deus, em que pessoas jovens e ricas também morrem como os pobres miseráveis que não têm mais esperanças na vida."

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Wang Junping já trabalhou como agricultor em Hebei, a sua província natal, e como mineiro na Mongólia Interior.
Mas, numa tarde recente, Wang, 49, aguardava numa agência de empregos para ter uma aula sobre como usar corretamente a vassoura e esfregão na limpeza da vasta rede do metrô de Pequim.
Wang, que só terminou o ensino médio, deixou no ano passado o seu emprego na mina porque o salário foi cortado pela metade.
Mesmo assim, ele decidiu não pegar o trabalho porque achou a remuneração baixa demais, cerca de US$ 320 (R$ 960) por mês. "Eu achava que seria fácil encontrar emprego", disse ele. "Mas na verdade não é tão fácil assim."
A China tem um desajuste no seu mercado de trabalho. Os empregos agrícolas há anos estão em declínio, por causa da urbanização do país e da sua contínua transformação econômica.
E o setor industrial chinês dá sinais de sobrecarga, pois algumas empresas se endividaram e estão com capacidade ociosa.
Já o setor de serviços prospera, liderando a geração de empregos. Cerca de 300 milhões de pessoas trabalham no setor terciário chinês, o que representa 40% da maior força de trabalho do mundo.
Mas os trabalhadores não podem fazer essa mudança tão facilmente. A mão de obra desqualificada ou pouco qualificada, como é o caso de Wang, pode se dar ao luxo de escolher um pouco, agora que a oferta de trabalhadoras migrantes começou a diminuir.
Mas a forte expansão do ensino superior faz com que os recém-formados geralmente enfrentem dificuldades na hora de conseguir os empregos qualificados e bem pagos que eles esperavam ter.
O mercado de trabalho -com seus bolsões desequilibrados de oferta e demanda- constitui um teste crucial para as autoridades.
Durante mais de dez anos, a força de trabalho urbana da China inchou, enquanto sua renda se expandia mais de 10%, igualando ou superando o cresimento anual.
Agora, a perspectiva é de uma desaceleração econômica. O produto interno bruto (PIB) cresceu 7% no primeiro trimestre em relação ao mesmo período de 2014.
Apesar de o governo se mobilizar para amparar a economia, reduzindo juros duas vezes e liberando os bancos para emprestarem mais, analistas consideram que o fato de o mercado de trabalho ainda estar saudável desestimulou medidas mais ousadas.
A oferta de mão de obra migrante está diminuindo à medida que os resultados da urbanização se mostram menos positivos, ao passo que a escassez de empregos para os recém-graduados indica um descompasso na qualificação.
"É difícil contratar funcionários, apesar de a economia não estar indo bem", disse Juble Lu, gerente da Zhihua, uma fábrica de acessórios para gabinetes de cozinha na cidade de Cantão (sul).
Indústrias como a de Lu dependem em grande parte da força de trabalho de 175 milhões de migrantes internos. Mas essa mão de obra hoje cresce cerca de 1% ao ano, bem aquém do crescimento econômico como um todo.
Um mercado mais comprimido tende a dar poder de barganha aos trabalhadores, elevando os salários. Para operários qualificados, segundo Lu, os salários podem subir até 20% ao ano.
Nos últimos anos, o rendimento rural cresce mais do que nas cidades. "O que você precisa pagar para que eles deixem suas terras está aumentando.", disse Andrew Batson, diretor de pesquisas da consultoria GaveKal Dragonomics, em Pequim.
Compare-se isso com a situação no outro extremo do mercado de trabalho. Os recém-formados têm grandes expectativas ao procurarem seu primeiro emprego.
Atualmente, 7 milhões de chineses terminam a faculdade por ano, o dobro de dez anos atrás. Dados oficiais mostram que há apenas 88 vagas com qualificação universitária para cada 100 interessados.
"A realidade é que um motorista de táxi em Pequim pode ganhar mais dinheiro do que um recém-formado em faculdade", disse Jurgen Conrad, chefe da unidade de economia da China no Banco de Desenvolvimento da Ásia, em Pequim. "Isso naturalmente é chocante para esses jovens."
Os recém-formados tradicionalmente evitam trabalhar em fábricas, mas há sinais de que isso está mudando. Dai Chaoyang, gerente-geral da Shanghai Kadun Power Tools, diz que sua empresa começou a contratar recém-formados como trainees de gestão.
"Eles não se importam de trabalhar no ambiente da fábrica, desde que não estejam trabalhando na linha de montagem".

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Poucos lugares parecem fora de alcance para o chefe do governo chinês, Xi Jinping, que já viajou às capitais europeias e a pequenas ilhas no Pacífico e no Caribe em busca dos interesses estratégicos de seu país.
Por isso, talvez não tenha causado surpresa quando ele apareceu no fim de 2014 nesta cidade à beira do oceano Antártico (ou Meridional) para colocar um marco de longa distância em outra região longínqua, a Antártida, a mais de 3.000 quilômetros ao sul deste porto na Austrália.
De pé no convés de um quebra-gelo que transporta cientistas chineses desta última escala antes do continente gelado, Xi prometeu que a China continuará se expandindo em um dos poucos lugares da Terra que continua inexplorado.
Ele assinou um acordo de cinco anos com o governo australiano que permite que navios chineses e, futuramente, aeronaves sejam reabastecidos antes de rumar para o sul.
Isto facilitará o acesso a uma região que se acredita ter vastos recursos de petróleo e minérios; enormes quantidades de vida marinha com alto teor de proteína; e, para tempos de possível necessidade no futuro, água doce contida nos icebergs.
Foi somente em 1985, cerca de 70 anos depois que Robert Scott e Roald Amundsen apostaram corrida até o Polo Sul, que uma equipe representando Pequim hasteou a bandeira na primeira base de pesquisas antárticas do país, a Estação Grande Muralha, na ilha King George, ao lado da América do Sul.
Hoje a China parece decidida a se recuperar, mas crescem as preocupações sobre suas intenções. O país abriu sua quarta estação de pesquisa no ano passado, escolheu um local para a quinta e investe em um segundo navio quebra-gelo e novos aviões e helicópteros adaptados.
Suas operações já são as de maior crescimento dentre os 52 signatários do Tratado Antártico de 1959, que proíbe a atividade militar na região e visa preservá-la como uma das últimas regiões selvagens; um pacto relacionado proíbe a mineração.
Mas a visita de Xi foi mais um sinal de que a China está se posicionando para aproveitar o potencial de recursos do continente quando o tratado expirar em 2048, ou caso seja rasgado antes.
"Até agora, nossa pesquisa se baseia na ciência natural, mas sabemos que há cada vez mais preocupação sobre a segurança dos recursos", disse Yang Huigen, diretor-geral do Instituto de Pesquisa Polar da China.
A Austrália observa a escalada chinesa na Antártida com uma mistura de gratidão -a presença da China oferece apoio ao programa de ciência antártica da Austrália, que tem pouco dinheiro- e preocupação.
"Não devemos ter ilusões sobre a agenda mais profunda -que ainda não foi acordada pelos cientistas chineses, mas é conduzida por Xi, e provavelmente seus sucessores", disse Peter Jennings, diretor-executivo do Instituto Australiano de Políticas Estratégicas.
"Isto faz parte de um padrão maior de abordagem mercantilista em todo o mundo. Um grande motor da política chinesa é garantir o fornecimento de energia e alimentos em longo prazo."
No mês passado, uma grande empresa agrícola chinesa anunciou a expansão de suas operações de pesca na Antártida para apanhar mais krill -pequenos crustáceos ricos em proteínas.
Como a soberania da Antártida não é clara, os países tentam reforçar suas reivindicações sobre o continente construindo bases de pesquisa e dando nomes a acidentes geográficos.
Os cartógrafos chineses deram nomes chineses a mais de 300 lugares, em comparação com os milhares de locais no continente com nomes ingleses.
Cientistas chineses se esforçam para serem os primeiros a perfurar e recuperar um núcleo de gelo contendo pequenas bolhas de ar que ofereçam um registro da mudança climática de até 1,5 milhão de anos. É um esforço caro e delicado em que outros, incluindo a União Europeia e a Austrália, falharam.
A China aposta em que encontrou o melhor local para perfurar, uma área chamada Dome A, ou Dome Argus, o ponto mais alto na camada de gelo da Antártida Oriental e considerado um dos lugares mais frios no planeta, com temperaturas de -90°C.
"A comunidade internacional perfurou em muitos lugares, mas sem sorte até agora", disse Xiao Cunde, membro do primeiro grupo a alcançar o local. "Pensamos que no Dome A teremos uma visão direta do núcleo de gelo de um milhão de anos."
Anne-Marie Brady, autora do livro "China as a Polar Great Power" [China como grande potência polar], disse que o interesse do país por encontrar minérios foi apresentado "claramente para o público doméstico" como o principal motivo para investir na Antártida.

terça-feira, 5 de maio de 2015


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Novos casos de trabalho ilegal em pastelarias chinesas preocupam o MTE-RJ (Ministério do Trabalho e Emprego do Rio de Janeiro). O MTE aguardava receber, na última semana, os documentos que comprovassem vínculo legal de pasteleiros flagrados na Operação Yulin, realizada em conjunto com o Procon-RJ no dia 17 de abril. Apenas uma carteira de trabalho foi apresentada –mas pelo menos outras sete eram esperadas. 
A ausência dos documentos pode ser apenas mais uma ponta visível de uma complexa rede de tráfico de chineses para o Rio. Os trabalhos do MTE apontam que os estrangeiros vêm de uma mesma região da China, Guangdong, muito próxima a Hong Kong.
Relatos de chineses apontam para a existência de anúncios espalhados na cidade convocando trabalhadores para serviço no Brasil. Para custear a viagem, essas pessoas estariam contraindo dívidas com agências ainda na Ásia.
Para quitá-las, entram no Brasil com visto de turista, mas trabalham em condições degradantes em pastelarias do Estado do Rio. Em vez de pagamento em dinheiro, em alguns casos, esses trabalhadores recebem apenas comida e alojamento.
"É muito grave o problema. Não se trata nem só de um crime de escravidão, é um crime de tráfico de pessoas. São agentes que estão operando lá na China em conluio com pessoas aqui no Brasil, traficando essas pessoas que ficam triplamente vulneráveis, pelos fatores econômico, geográfico e do idioma", disse a auditora do MTE Márcia Albernaz. 
Já são três casos flagrados de escravidão em pastelarias. O primeiro foi descoberto em 2013, em Parada de Lucas, na zona norte da capital fluminense. Yan Queng Quan trabalhava 17 horas por dia e era agredido pelo seu primo e patrão, Yan Ruilong, que foi condenado a dois anos e meio de prisão.  
O segundo caso ocorreu em Muriqui, distrito de Mangaratiba. Um jovem de 15 anos, cujo nome ainda está sob proteção, chegou à pastelaria em 2012 e, até 2014, trabalhou 14 horas por dia, sem descanso, sem receber salário.
Após fugir a pé por mais de 20 km e chegar à cidade de Itaguaí, encontrou ajuda e se comunicou usando o tradutor do Google. O patrão do jovem possui pelo menos mais dez outros estabelecimentos como esse e, obrigado pelas autoridades brasileiras, pagou um valor equivalente a todo o período. A Secretaria de Direitos Humanos do Estado do Rio, a Polícia Federal e a Interpol trabalham para saber se o jovem, agora com 18 anos, tem segurança para voltar a seu país. 
Neste ano, mais um caso grave foi descoberto em Copacabana, na zona sul do Rio. Três jovens chineses revelaram que o patrão, entre outras irregularidades, retinha o salário combinado e só repassava parte da quantia, sem periodicidade, o que é ilegal no Brasil.
O MTE enquadrou a relação como análoga à escravidão e, por isso, os jovens ganharam um visto de trabalho especial. Após receberem do empregador mais de R$ 30 mil cada um, decidiram seguir trabalhando no mesmo local.
Algo que também tem chamado atenção na investigação é que, em muitos casos, os donos formais dessas pastelarias --na maioria, chineses-- também sofrem com as baixas condições de trabalho, ao dormir em alojamentos e ter pouco dinheiro para si. Parte deles não consegue nem mesmo se comunicar em português.  
O dono de uma pastelaria em Vila Isabel revelou que não consegue ficar com dinheiro algum após pagar R$ 5.000 para quem estaria arrendando o ponto. Assim, os auditores do MTE passaram a considerar o dono formal da pastelaria também como empregado.
Em um caso em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, chineses fugiram em uma camionete luxuosa após a chegada da fiscalização. A suspeita é que os donos dos estabelecimentos também possam estar sendo explorados. O MTE prossegue com as investigações e prevê novas operações.
Além da situação trabalhista, a higiene das pastelarias da cidade -- não só as chinesas– preocupa a Vigilância Sanitária. "É um segmento que não preza muito pela higiene. Das 29 pastelarias inspecionadas, 24 foram multadas. Dez foram interditadas totalmente, e outras três parcialmente", afirmou Luis Carlos Coutinho, superintendente de alimentos da Vigilância Sanitária da cidade do Rio. 
Não há dados oficiais que apontem quantas pastelarias chinesas existem na cidade do Rio, mas o número é estimado pela Vigilância Sanitária em 150. Recentemente, circulou a informação de que carne de cães era armazenada para consumo em uma pastelaria em Parada de Lucas, na zona norte. A informação, no entanto, não é confirmada oficialmente. Mesmo assim, a Vigilância colheu 30 amostras de carne na cidade.
Procurada, a Polícia Federal não revelou se investiga qualquer atividade criminosa envolvendo as pastelarias do Rio. Apenas informou que, em 2014, 72 mil chineses chegaram ao país, enquanto 71 mil saíram. O Consulado-Geral da China na cidade pediu para a reportagem procurar a Embaixada, que, por sua vez, pediu para entrar em contato com o Consulado. 
A gravidade do assunto e a limitação do idioma dificultaram a aproximação da reportagem com os chineses em pastelarias, que se recusaram a conceder entrevista. Bem perto do prédio do Ministério do Trabalho no Rio, num fim de tarde na última semana, uma roda de pagode acontecia em frente a uma pastelaria chinesa. Ao ser questionada sobre se música na rua também é comum na China, a jovem desamarrou um sorriso e balançou a cabeça em negativo. "Lá é só karaokê, né?"

ENCONTROS DO CEO

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08/05, SALA 4A-07, 13:00