domingo, 24 de junho de 2012










Um campo de treinamento de tiro ao alvo localizado em um assentamento israelense tem provocado polêmica ao oferecer aos visitantes um pacote de "turismo radical" que inclui treinamento para "matar terroristas". O campo Caliber 3, no assentamento de Gush Etzion, no território palestino da Cisjordânia, usa como alvo de tiros figuras em tamanho real portando tradicionais turbantes árabes. O local, com mais de 10 mil metros quadrados, é usado em treinamentos do Exército e da polícia de Israel. O proprietário, o empresário Sharon Gat, contou à BBC Brasil que resolveu aproveitar as instalações já existentes para dar início ao "projeto turístico". "Queremos que os judeus do mundo inteiro possam ver com seus próprios olhos que no Estado de Israel há organizações e pessoas que sabem ensinar auto-defesa no mais alto nível", disse o empresário. "Também queremos que os judeus do mundo vejam que aqui existe orgulho judaico, pois os judeus, que foram massacrados há 70 anos (em referência ao Holocausto), hoje têm um Estado, um Exército e as melhores instalações de treinamento", acrescentou. De acordo com Gat, cerca de 5 mil turistas já passaram pelo curso, entre eles centenas de crianças, que são admitidas nos treinamentos após cinco anos de idade. Os adultos atiram com armas e munição de verdade, em alvos de papelão ilustrados com o esteriótipo do "terrorista". As crianças utilizam armas de paintball. O preço do curso, de duração de duas horas, é 440 shekels (cerca de R$ 220) para adultos e 200 shekels (R$ 100) para crianças. Sharon Gat, de 40 anos, um oficial da reserva do Exército israelense, disse que o projeto Caliber 3 foi criado em memória de seu cunhado, Hagai Haim Lev, que morreu em combate na Faixa de Gaza. "É um projeto sionista, positivo e importante, que proporciona muito emoção para muita gente", disse. "O curso serve para turistas de todas as idades, que tenham interesse em aprender táticas antiterroristas", afirmou o empresário. O projeto também inclui programas especiais para aniversários, encontros de amigos e luta de paintball e oferece aos turistas "experiências emocionantes que não poderão ter em lugar algum, exceto no campo de batalha". O prefeito do assentamento de Gush Etzion, David Perl, afirmou que o novo projeto turístico proporciona "um incentivo a mais" para o turismo na região. O assentamento, que fica ao sul de Jerusalém e foi construído em terras do distrito palestino de Belém, "recebe cerca de 400 mil turistas por ano", de acordo com Perl. O prefeito também disse à BBC Brasil que, além do Caliber 3, o Gush Etzion oferece como atividades turísticas visitas a um museu local e a ruínas antigas.

A Arábia Saudita, país em que as competições esportivas são proibidas para as mulheres, deixará, pela primeira vez, que elas participem dos Jogos Olímpicos, anunciou neste domingo sua embaixada na Inglaterra. Segundo o comunicado, citado pela rádio e TV pública britânica BBC, o Comitê Olímpico Saudita "irá supervisionar a participação das atletas que conseguirem se classificar". A amazona Dalma Malhas, 18, deverá ser a única saudita a competir nos Jogos de Londres. Em abril, o presidente do COI, Jacques Rogge, indicou que o Comitê Olímpico discutia o assunto com a Arábia Saudita, depois que o reino anunciou que não enviaria atletas mulheres para a competição. Arábia Saudita, Qatar e Brunei são os únicos países que nunca enviaram mulheres para os Jogos. O Qatar, no entanto, selecionou três para participarem das competições em Londres.


Durante os 18 anos que viveu diante de campos de arroz, Malinee Khammon nunca plantou uma única muda. A filha de agricultores está no último ano do colégio e se tornou hábil em recusar os pedidos cada vez mais desesperados de seus pais para que ela ajude na fazenda. "É quente e exaustivo ", diz Malinee. "Prefiro ficar em casa." Cansativo e enlameado, o cultivo de arroz precisa de pessoas, como os jovens, com força para se curvar durante horas sob o sol escaldante, transplantando fileiras de mudas, uma de cada vez. Mas a rizicultura na Tailândia virou uma ocupação de velhos, já que os jovens ficam mais tempo na escola, e a metrópole de Bancoc os atrai para carreiras em locais de trabalho com ar-condicionado. "Tudo o que eles sabem fazer com as mãos é usar o celular", disse Sudarat Khammon, que aos 33 anos é o mais jovem agricultor em Baan Khlong Khoo, aldeia de casas sobre palafitas perto de Phitsanulok, no centro da Tailândia. Malinee diz que seu sonho é ser professora. Suas amigas da escola querem ser médicas, farmacêuticas e engenheiras. Somente 12% dos agricultores tailandeses hoje têm menos de 25 anos, contra 35% em 1985, segundo as estatísticas oficiais. Sua idade média saltou de 31 anos, em 1985, para 42 em 2010. O abandono das plantações de arroz não é algo surpreendente: a Tailândia e outros países que cultivam arroz na Ásia estão seguindo padrões de industrialização vistos em outros lugares. Mas a transição é especialmente pesada para a Tailândia, onde o cultivo do arroz -da variedade jasmine, a mais valorizada- está ligado à identidade do país e sua sobrevivência. Desde 1983, a Tailândia é o principal exportador de arroz do mundo, segundo o Departamento da Agricultura dos EUA. Em 2011, suas exportações passaram de US$ 6 bilhões. Com a morte da geração mais velha de rizicultores, especialistas temem que a Tailândia possa ter dificuldades para encontrar pessoas dispostas a trabalhar em seus 13 milhões de hectares de campos de arroz. O motivo pelo qual os jovens recusam a agricultura é a crença de que a vida nas cidades é mais fácil ou mais excitante. O agricultor tailandês também é visto como "pobre, idiota e doentio", disse Iam Thongdee, especializado no estudo da rizicultura. "Os agricultores dizem: se eu reencarnar dez vezes, não quero mais uma vida como agricultor."
Os programas de televisão habitualmente mostram agricultores como pessoas rudes e incultas. E sua pele, escurecida pelo sol, tornou-se uma marca de posição social inferior. Mas também há motivos econômicos. Como grupo, os agricultores estão cada vez mais endividados. O declínio do número de rizicultores é "um fenômeno generalizado em toda a Ásia", disse Robert Zeigler, diretor-geral do Instituto Internacional de Pesquisa do Arroz, nas Filipinas. Binh Nguyen Ngoc, professor de culturas e linguística asiáticas da Universidade Nacional de Hanói, diz que os jovens no Vietnã, também um dos maiores exportadores de arroz, estão fugindo do campo. Zeigler acredita que o declínio do número de rizicultores causará problemas a curto prazo, mas a falta de mão-de-obra também é geralmente um catalisador do maior uso de máquinas eficientes, como as plantadeiras de arroz. "Estamos vendo o início da mecanização na agricultura asiática", disse. "No ano passado, fiquei surpreso ao ver máquinas sendo usadas na Índia e em lugares onde você pensaria que há abundância de mão-de-obra." A transição da Tailândia de uma sociedade rural e feudal para um dos principais produtores de tecnologia, como discos rígidos para computadores, e um polo para empresas de carros japonesas e americanas foi abrupta. Isso causa uma forte divisão de gerações entre pais que não tinham opção além da agricultura e seus filhos, que são expostos a uma série de possibilidades no colégio e na universidade. Boonmee Khammon, 41, pai de Malinee, fala amargamente sobre a recusa de suas duas filhas em ajudá-lo nos campos de arroz. "Elas têm um mundo próprio."

A relação eternamente tensa entre o Azerbaijão e o Irã se deteriorou nas últimas semanas em meio à profunda inquietação de Teerã com a crescente cooperação militar entre o Azerbaijão e Israel. A fronteira de Bilasuvar entre os dois países foi fechada durante dias, causando longas filas de caminhões. Não muito longe, navios de guerra iranianos manobravam no mar Cáspio. Um importante assessor do líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, teve sua entrada recusada recentemente no aeroporto de Baku, capital do Azerbaijão, e embaixadores dos dois lados voltaram para casa. As autoridades trocaram comentários desagradáveis na internet e na mídia impressa -incluindo um diálogo em que os dois países muçulmanos se acusaram mutuamente de ser amistosos demais com os gays. Em março, as autoridades do Azerbaijão prenderam 22 pessoas que, segundo disseram, faziam parte de um complô apoiado pelo Irã para matar diplomatas americanos e israelenses. "As relações entre o Azerbaijão e o Irã estão muito tensas", disse Elhan Shahinoglu, diretor da Atlas, uma organização de pesquisa de política externa em Baku. Oficialmente, o Azerbaijão diz que quer permanecer neutro na discussão sobre o programa nuclear iraniano. Mas o governo do presidente Ilham Aliyev defendeu seu direito de reforçar os laços militares com Israel. É o que indica a compra pelo Azerbaijão de armas fabricadas em Israel no valor de US$ 1,6 bilhão. Os dois países negaram relatos de que o Azerbaijão cedeu a Israel acesso às suas bases militares para manter vigilância sobre o Irã. A Otan está contando com campos de pouso no Azerbaijão para mover suprimentos no Afeganistão. Mas as ligações com o Ocidente são apenas um fator de tensão com o Irã. O Azerbaijão há muito tempo se irrita com o apoio dado pelo Irã à Armênia na longa guerra sobre o território disputado de Nagorno-Karabakh.
As autoridades americanas veem o Azerbaijão como uma situação insolúvel, em que qualquer sinal de amizade atrairá críticas de américo-armênios ou de grupos de observadores locais e internacionais, que documentaram vários casos de abusos de direitos humanos pelo governo Aliyev. A Rússia também teme a relação do Azerbaijão com o Ocidente. Moscou agora tenta renegociar o aluguel de uma grande instalação de radar em Gabala, no Azerbaijão, que é usada para rastrear mísseis. Baku pede US$ 300 milhões por um novo contrato de cinco anos, um salto do atual aluguel de US$ 7 milhões. A Rússia acusou os EUA de pressionarem o Azerbaijão para aumentar o aluguel e recentemente ameaçou abandonar a estação de radar no país. A tensão entre o Azerbaijão e o Irã também aumenta a perspectiva de inquietação entre as mais de 20 milhões de pessoas de etnia azerbaijana que vivem no Irã, na maioria em sua fronteira norte. Nas áreas de fronteira, as tensões ficam mais palpáveis. Emiro Rovshan, motorista de caminhão, disse que nos últimos três ou quatro meses os bloqueios na fronteira, aparentemente coordenados pelo Irã, tornaram-se mais comuns, às vezes deixando os motoristas parados durante dias. Leyla Yunus, diretora do Instituto Paz e Democracia, que monitora violações aos direitos humanos no Azerbaijão, disse que a repressão política pelo governo Aliyev beneficia o Irã. Para ela, a falta de oportunidades econômicas, especialmente para os jovens das áreas rurais, poderia levá-los a adotar o fervor religioso das autoridades teocráticas de Teerã. "O que as pessoas veem nas áreas rurais?", perguntou Yunus. "A TV iraniana." Ela disse que os EUA silenciaram suas críticas às violações aos direitos humanos no Azerbaijão para proteger seus interesses. Para Israel, o país surgiu como um aliado extraordinário -uma nação muçulmana amiga, disposta a cooperar em questões militares e estratégicas. Do ponto de vista do Azerbaijão, Israel tem sido mais compreensivo do que os países europeus, que não reconhecem os desafios nas fronteiras do país e a dificuldade para construir uma cultura secular em um país predominantemente muçulmano. Os europeus também dizem que em Baku há violações aos direitos humanos. Em uma clara crítica à teocracia iraniana, a cidade enfatizou seu desejo de ser uma sociedade secular, evidenciado por seu papel como anfitriã do festival de música Eurovision este ano. Foi em reação ao Eurovision, que atrai muitos fãs gays, que os sites da web do Irã disseram que Baku planejava realizar uma enorme parada gay. Ali M. Hasanov, assessor político do presidente Aliyev, disse acreditar que o Azerbaijão e o Irã afinal chegarão a um acordo. "Vamos encontrar uma fórmula em que o Estado secular viva em paz com o Estado religioso", disse. "Temos orgulho de sermos muçulmanos e temos orgulho de sermos um país secular."

Nessa aldeia do norte da Índia, trabalhadores desmancham pilhas de arroz queimado e mofado, enquanto moscas rondam o trigo estragado perto dali. Moradores disseram que uma safra de arroz passou anos à beira de uma estrada e agora seria enviada a uma destilaria para virar bebida. Apenas 290 km ao sul, numa favela da periferia de Nova Déli, Leela Devi sofre para alimentar sua família de quatro pessoas com magras porções de pão chapati e batatas, que ela disse ser tudo o que conseguiu comprar com sua pensão por invalidez e com o rendimento do marido, trabalhador braçal diarista. A família dela está entre os estimados 250 milhões de indianos com alimentação insuficiente. Tal é o paradoxo do sistema alimentar indiano. Graças a inovações agrícolas e generosos subsídios, a Índia tem hoje o segundo maior estoque de grãos do mundo, atrás apenas da China, e exporta parte da sua produção. Mas um quinto dos seus habitantes está desnutrido -o dobro do índice de outros países em desenvolvimento, como Vietnã e China-, por causa da corrupção, da má gestão e do desperdício em programas que deveriam distribuir alimentos aos pobres. "A razão para enfrentarmos esse problema é a nossa recusa em distribuir os grãos que compramos dos agricultores às pessoas que precisam", disse Biraj Patnaik, assessor da Suprema Corte indiana para questões alimentares. "O único lugar onde esses grãos merecem estar é na barriga das pessoas que passam fome." Após anos negligenciando o problema, o populista governo nacional cogita fazer uma lei para despejar bilhões de dólares adicionais a um sistema de distribuição de comida que já existe no país, duplicando o número de pessoas atendidas. Ela também permitiria que os pobres comprem mais arroz e trigo a preços reduzidos. Os autores do projeto dizem que, se ele for bem redigido e executado, ninguém mais passará fome no país. Mas críticos afirmam que, sem amplas reformas na estrutura governamental, o dinheiro adicional só irá engordar o deficit público e os bolsos de funcionários que desviam alimentos de vários níveis da cadeia de distribuição. A política alimentar indiana tem duas metas centrais: oferecer aos produtores preços maiores e mais consistentes do que os do mercado, e vender grãos aos pobres a preços inferiores aos do varejo privado. O governo federal adquire grãos e os armazena. Cada Estado se serve desses estoques com base na quantidade de pobres na sua população. Os Estados entregam os grãos a lojas subsidiadas e decidem quais famílias recebem os cartões de racionamento que permitem a compra de trigo e arroz a preços mais baixos.
Esse sistema custa cerca de 750 bilhões de rupias (US$ 13,6 bilhões) por ano ao governo, ou quase 1% do PIB. Mas 21% dos 1,2 bilhão de habitantes do país permanecem desnutridos, proporção que se manteve quase inalterada nas últimas duas décadas, apesar do aumento de quase 50% da produção de alimentos, segundo o Instituto Internacional de Pesquisas para Políticas Alimentares, com sede em Washington. A nova lei de segurança alimentar poderia mais do que duplicar o dispêndio governamental, que chegaria a 2 trilhões de rupias por ano, segundo estimativas. No entanto, apenas 41,4% dos grãos recolhidos pelos Estados nos armazéns federais chegam aos lares indianos, segundo um recente estudo do Banco Mundial. Críticos dizem que funcionários ao longo de toda a cadeia, dos gerentes dos armazéns aos varejistas, desviam alimentos e os vendem a atravessadores, embolsando lucros ilícitos. Os indianos pobres que possuem cartões de racionamento costumam se queixar da qualidade e da quantidade dos grãos disponíveis nas lojas governamentais, chamadas de "lojas de preço justo". Outras famílias nem dispõem dos cartões, por causa dos procedimentos -e, muitas vezes, dos subornos- exigidos. A falta de um comprovante de renda ou residência é razão para não obter o cartão. Críticos dizem que mais pessoas teriam direito à ajuda se o limite de renda fosse elevado. Em Nova Déli, ele é de 2.000 rupias (US$ 36) por mês, independentemente do número de dependentes, quantia que muitas famílias pobres gastam só em aluguel. Devi, que vive na favela Jagdamba Camp, na zona sul de Déli, disse que teve um cartão de racionamento negado há quatro anos. Ela contou que a renda mais constante da sua família é uma pensão por invalidez de mil rupias por mês, que ela recebe por causa de queimaduras sofridas num acidente anos atrás. Contando a renda irregular do seu marido, a família geralmente precisa se virar com até 2.000 rupias mensais. "Às vezes, temos de sentar e esperar", disse ela. "Minha sogra recebe alimentos subsidiados e me dá uma parte quando pode." Alguns Estados, como Tâmil Nadu e Chhattisgarh, têm feito grandes melhorias usando a tecnologia para rastrear os alimentos e facilitaram a obtenção dos cartões de racionamento por praticamente todas as famílias. Outros Estados, como Bihar, testam cupons de alimentação. Reformistas argumentam que a Índia deveria passar a distribuir dinheiro ou cupons alimentares aos pobres, como fazem os EUA, o México e outros países. Isso reduziria a corrupção e a má gestão, porque o governo iria comprar e armazenar apenas os grãos suficientes para fazer frente a safras ruins. E os pobres teriam mais alternativas, disse Ashok Gulati, presidente da Comissão de Custos e Preços Agrícolas do governo. "Por que apenas trigo e arroz? Se ele quiser ovos, ou frutas, ou alguns legumes, deveria ter essa opção", disse Gulati. "É preciso aumentar a renda da pessoa. Aí a distribuição ficaria com o setor privado." Mas a maioria dos funcionários teme que, se a Índia adotar os cupons, os homens irão trocá-los por bebida ou tabaco, privando suas famílias de alimentação suficiente. Autoridades dizem que o Parlamento deve votar a nova política alimentar até o final do ano. Enquanto isso, o arroz deve continuar largado à beira da estrada aqui no Punjab. "É doloroso de assistir", disse Gurdeep Singh, um agricultor próximo a Ranwan. "O governo é grande e poderoso. Ele deveria ser capaz de montar um galpão para guardar essa safra.

sábado, 16 de junho de 2012