segunda-feira, 28 de setembro de 2009

ENCONTROS DO CEO

QUINTA-FEIRA (01\10), 17:00, SALA 500C


TRIVANDRUM, Índia Antes de entrar no ringue, as mulheres curvaram as cabeças até o chão, como se estivessem entrando em um tempo. Então, a filha do dono de uma loja de doces soltou um gancho de direita. A garota baixinha de Calcutá saltou e se abaixou, como um gafanhoto movido a anfetaminas; ela deixara de ir ao casamento de sua irmã para poder lutar. O som de luva chocando-se com luva ecoou entre as paredes da academia.Num país onde as mulheres enfrentam muitos obstáculos, algumas jovens se preparam para dar socos num palco ilustre. O Comitê Olímpico Internacional acrescentou o boxe feminino aos Jogos de Londres de 2012, após intensa campanha da Índia."É meu sonho que está se realizando", disse Mangte Chungneijang Merykom, 27, mais conhecida como Mary Kom. Ela é a pugilista mais aclamada da Índia e a maior esperança indiana no esporte. Desde 2001, quando a Associação Internacional do Boxe lançou os campeonatos mundiais femininos, ela detém o recorde, com quatro medalhas de ouro.Contando com relativamente pouco apoio do governo, as indianas vêm apresentando desempenho surpreendente nos campeonatos mundiais. A maior concorrente da Índia é a China.Para as mulheres que treinam numa academia patrocinada pelo governo na extremidade sul da Índia, o boxe representa um novo tipo de liberdade.Hema Yogesh, 16, filha de um plantador de especiarias, fugiu de casa para participar de seu primeiro acampamento de boxe. Inicialmente, seu pai ficou furioso. Mas ela não demorou a levar para casa sua primeira medalha de ouro de uma competição estadual. Hema conta que seu pai chorou. Hoje, ele quer que ela compita internacionalmente. O boxe lhe ensinou a ter coragem e ambição, disse Hema. Como a maioria das garotas da academia, Hema vê o boxe como o bilhete de ingresso numa vida de classe média. O governo indiano recompensa atletas com cobiçados empregos no funcionalismo público, geralmente na polícia ou nas ferrovias.Perguntaram a Hema como seria sua vida sem o boxe. Fazendo careta, ela respondeu que teria sido obrigada a ficar em casa, cuidando das vacas de sua família.A ascensão do boxe feminino se dá em meio a grandes mudanças na vida das indianas comuns. Preeti Beniwal, 22, pugilista de Hisar, no norte do país, constatou as mudanças em sua própria família. No tempo de sua mãe, para que pudessem ter chances de um bom casamento, as mulheres precisavam saber tricotar e cozinhar. Hoje, disse ela, a mulher mais cobiçada é aquela que é capaz de ganhar a vida sozinha.Beniwal vê o boxe como o caminho para sua independência. Ela sabe o que a espera no caso de não fazer sucesso no esporte. "Se a gente fracassar neste campo, precisa saber fazer o trabalho primeiro da mulher", disse ela. Ou seja: ser esposa e mãe.Mary Kom está entre as atletas mais valorizadas da Índia atualmente. Ela tem um emprego vitalício na polícia e já recebeu uma série de troféus e honras lucrativos, incluindo o maior prêmio esportivo do país, o Rajiv Gandhi Khel Ratna, que veio acompanhado de quase US$ 15 mil.Para chegar a isso, ela teve que travar várias lutas pessoais. Kom saiu de casa aos 17 anos para frequentar um centro de treinamento esportivo do governo. Ela suplicou ao treinador de boxe que lhe deixasse entrar no ringue."Ela era tão pequena que eu disse 'não'", contou o treinador, L. Ibomcha Singh. Lágrimas rolaram pelo rosto de Mary Kom. O treinador cedeu.Kom manteve o boxe em segredo, sem deixar sua família saber -até ganhar um campeonato estadual, em 2000, e todo o mundo, incluindo seus pais, descobrir o que ela vinha fazendo. Seu pai lhe pediu que desistisse, dizendo a ela que o boxe era perigoso demais. Os membros de seu clã desaprovavam. Os rapazes de sua cidade zombavam dela. Mas Kom aguentou firme. Ela se recorda de ter pensado: "Um dia vou mostrar a vocês quem eu sou".Uma medalha se seguiu a outra. Depois veio o casamento e, então, mais pressões para desistir de lutar."Meu pai me falou: 'Ok, agora você deixa o boxe. Você já está casada'." Ela resistiu. Seu marido, K. Onkholer, ex-jogador de futebol, ficou do lado dela.Hoje, o casal administra uma academia esportiva improvisada em sua própria casa, em Manipur, em parte como meio de manter os adolescentes locais longe de problemas. Situada nas montanhas que fazem fronteira com Mianmar, Manipur é conhecida pelo tráfico de drogas e a insurgência armada; crianças e adolescentes são atraídos para as duas coisas.O próximo desafio de Mary Kom será chegar às Olimpíadas de 2012. Pesando no máximo 45 quilos, ela vem lutando na categoria mosca ligeiro. Para competir nas Olimpíadas pela precisa pesar no mínimo 48 quilos, a mais baixa das três categorias de peso fixadas para mulheres."Vou rezar a Deus para manter meu corpo em forma", disse ela. "Se meu corpo estiver em forma, poderei fazer qualquer coisa."




Seus rostinhos solitários aparecem nos anúncios, envergonhados e procurando por um amor.
"Oi, meu nome é Musti", diz um cartaz. "Sou um educado, bonito e respeitoso. Preocupo-me com a saúde e adoro cenouras. Sou um homem de uma só mulher e prometo cuidar bem de você."
E lá está Foster, com sua papada e olhos cobertos por pálpebras espessas. "Foster se recusa a comer até que encontremos uma namorada para ele!", diz o cartaz
Na Índia obcecada por matrimônios, onde o casamento é um evento central da vida de uma pessoa, esses cartazes poderiam ser facilmente de solteirões de pequenas cidades em busca de amor, pressionados pelos pais ansiosos por uma noiva.
Porém, a moça adequada que esses solteiros procuram é peluda e quadrúpede. Encontrá-la, no entanto, não é fácil.
"Tenho procurado por meses, mas sem sorte", disse Kunal Shingla, que busca uma parceira para Foster, seu basset hound de dois anos.
A elite de Nova Déli há muito tempo aprecia cães de raça pura. Com mais indianos se tornando parte da classe média, ter um cão pomerânio, shih tzu ou mastim napolitano preso à coleira virou um símbolo de nova riqueza e status.
Diferente dos vira-latas de quintal do passado, esses cães, como os mimados bichos de estimação de ocidentais abastados, são parte da família. Com indianos jovens de classe média esperando mais tempo para se casar e ter filhos, e com os pais impacientes para terem netos, cães de pedigree preenchem um vazio criado pela realidade da vida urbana moderna.
"Hoje as famílias são menores, apenas marido e mulher, que não têm ninguém com quem conversar", disse Partha Chatterjee, um conhecido jurado de exposições de cães na Índia. "Eles têm acesso a todos esses programas de televisão em que podem ver como os cães são tratados no exterior. E também desejam esse tipo de símbolo de riqueza."
Porém, os cães da emergente classe média indiana têm um problema. Todos, ao que parece, desejam um cão macho. E por se tratar da Índia, todos também querem que seu cão tenha uma companheira. A esterilização simplesmente está fora de questão.
"Ele é um bom cachorro", disse Shingla, um próspero executivo de marketing que trabalha na fábrica da família, referindo-se a Foster. "Quero que ele tenha toda a felicidade em sua vida."
Há três meses, ele colocou anúncios com a foto de Foster de língua para fora em pet shops de toda Nova Déli, e em fóruns populares de bichos de estimação, buscando por um basset hound fêmea. Mas não teve nenhum retorno.
A preferência dos indianos por cães machos é em parte o resultado de uma preferência social ao sexo masculino, dizem criadores. Em algumas regiões da Índia, os filhos são muito mais valorizados do que as filhas. Tal fato é refletido na razão desequilibrada de meninos e meninas em alguns estados, evidência de aborto ilegal de bebês do sexo feminino, uma prática ainda disseminada.
Também existe a percepção, falsa em grande parte, de que fêmeas dão mais trabalho do que machos por causa de seus ciclos menstruais. Além disso, no passado, quando a maioria das pessoas tinha cães para tomarem conta da casa, a percepção de que os machos eram mais agressivos dava a eles uma vantagem.
Sandeep Chopra, cuja empresa, Classic Kennels, fornece cães para pet shops do país inteiro, disse que pessoalmente preferia fêmeas por seu temperamento dócil. Já seus clientes são outra história.
"Quando um cliente compra um cão, 99% adquirem um macho e, posteriormente, quando precisam de uma companheira, eles encontram problemas", Chopra disse.
Ele tentou montar uma agência de encontros canina, relacionando machos e fêmeas da mesma raça, mas era simplesmente impossível encontrar combinações. Segundo ele, a maioria das fêmeas permanece com criadores profissionais, que preferem cães procriadores. Isso também mantém a oferta de raças populares limitada -- se as pessoas não conseguirem gerar filhotes em seus quintais, elas não cortarão os lucros dos criadores.
Raças específicas entram e saem de moda. O buldogue pug é a sensação do momento. A Vodafone, uma empresa de celular, colocou um dos cães de rostinho enrugado em uma popular campanha publicitária. O envergonhado bichinho do anúncio, com suas orelhas pontudas, papo enrugado e cabeça alegremente inclinada, fez com que o preço de um filhote de buldogue pug subisse para mais de US$ 400.
Vidushi Sinha, atriz de 23 anos, amava sua cadela, Betsy, o filhote de uma vira-lata da vizinhança. Mas há alguns anos, sua mãe viu um filhote de buldogue pug em um pet shop que fez seu coração derreter. "Ele era tão fofo", Sinha disse.
Eles chamaram o filhote de Julian. Ele ainda é adorável, Sinha disse, mas a família rapidamente descobriu as desvantagens de ensinar um macho a fazer xixi no lugar adequado.
"Machos levantam a pata em qualquer lugar", ela disse. E agora há outro problema: Julian gosta de ser amoroso com móveis e pessoas -- de modo mais íntimo do que muitos gostariam.
Por isso, há um ano, ela colocou um cartaz em um mercado de luxo em Nova Déli. Houve algumas ligações de retorno, mas até agora nenhuma parceira deu certo.
"Já arrumei duas ou três namoradas e ele não se interessou", ela disse. "Acho que ele já está comprometido. Não há motivo para procurar por uma namorada porque ele já tem um namorado. Ouvi dizer que muitos desses cães pequenos são gays."
Julian se apegou muito a outro buldogue da rua chamado Chotabhai, que significa irmão caçula em hindi. "Eu não me incomodo", Sinha disse, com um tom de resignação indiferente em sua voz. "Contanto que ele esteja feliz."

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

NATIONALO KIDO

Seu pai vai ficar feliz com essa notícia. É que a Focus Filmes vai lançar em dezembro uma caixa de DVDs de National Kid, um dos mais famosos super-heróis japoneses de todos os tempos. Fez muito sucesso no Brasil nos anos 70.Segundo o site Jbox, os vinte primeiros episódios seráo lançados com a dublagem feita na década de 90 e não com a original. É que o personagem voltou ao ar nos anos 90 na TV Manchete.O National Kid foi um dos primeiros seriados japoneses a chegar por aqui. Ele enfrentava os vilões Incas Venusianos. É clássico total.







quinta-feira, 17 de setembro de 2009

CPCJ no Twitter




Prezados pesquisadores,

Nós, do Centro de Pesquisas em Cultura Japonesa de Goiás CPCJ, inauguramos nossa página na rede social Twitter. Nesse espaço, atualizaremos com notícias sobre Estudos Japoneses e Orientais, além de divulgar as atividades e novidades do site do CPCJ.

O link para a página é: http://twitter.com/cpcjgo

Todos os pesquisadores do CEO e do CPCJ serão muito bem-vindos a contribuírem com informações em nossa página!

Cordialmente,
Eduardo Ávila (secretário do CPCJ-GO)

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

ENCONTROS DO CEO

QUINTA-FEIRA (17\09), 17:00, SALA 500C

EUROTAOÍSMO





Eurotaoísmo (1989) es una obra intermedia entre Crítica de la razón cínica (1983) y Extrañamiento del mundo (1993), mas no por ello menos provocativa y sugestiva. La reflexión que comenzó con un brillante examen de la razón cínica se prologa ahora con una crítica de la razón cinética. De tono algo más grave, tal vez con menos desparpajo y originalidad que en otras ocasiones, el autor nos ofrece un esbozo de teoría crítica de la modernidad que ya contiene en forma embrionaria el programa de antropología filosófica desarrollado en su trilogía sobre las esferas, aún por traducir. Precisamente, la necesidad de establecer un criterio para discernir entre movilidad y movilización, entre movimiento de la vida que viene al mundo y movimiento de la técnica que moviliza el cosmos, conducirá a la transformación perinatal y ginecológica de la ontología existencial heideggeriana y a la definición del Dasein como nomadismo cósmico, como permanente cambio de morada, como la aventura de venir y entrar al mundo. En este ensayo de 1989, Sloterdijk reivindica, como ilustrado no eurocentrista, el sosiego de la sabiduría taoísta frente al imperativo cinético de la modernidad, es decir, frente al proyecto de movilización militar, política y tecnológica que, como diría Severino, es la locura de Occidente. Tras el lenguaje del filósofo como médico de la cultura con sus propuestas de diagnóstico, pronóstico y terapia, tras su crítica al culto a la velocidad encarnado en el vehículo, falso símbolo de la libertad, se nos propone una meditación de más hondo calado sobre los presupuestos ontológicos de la utopía técnica de la modernidad. El sujeto moderno forjado en la tradición filosófica occidental reduce la realidad a reserva de fuerzas dinámicas, según una concepción del ser como pura hiperactividad que genera un movimiento potencialmente catastrófico. Bajo esta voluntad de poder no hay átomo que permanezca ocioso, todo trabaja, circula y se mueve sin reposo por las autopistas de la modernidad: automóviles, información, capital humano y financiero.Sin embargo, a juicio de Sloterdijk, es preciso superar las insuficiencias de los dos grandes modelos críticos de Occidente, la crítica ideológica de Marx y la crítica de la Escuela de Frankfurt, puesto que o bien su filosofía de la historia revolucionaria no conserva la necesaria distancia crítica ante la empresa de movilización de la realidad o bien se muestra incapaz de comprender su propio objeto, es decir, la esencia cinética de la modernidad. Pero esto no supone ceder a las reacciones fundamentalistas y conservadoras que oponen al ímpetu del progreso la inercia de las tradiciones y el seguro anclaje de los primeros principios. Frente al panteísmo cinético Sloterdijk no predica quietismo absoluto o inmovilismo eleático. El carácter total de la movilización moderna consiste en que también el motor inmóvil de la ontoteología se moviliza, en que cesa la distinción entre contemplación sosegada y actividad dinámica y, por tanto, el sujeto contemplativo comienza a inquietarse y a perder la certeza metafísica con que antaño demostraba la existencia del “indolente perfectísimo”. La nueva crítica esbozada debe pues corroborar la insoslayable dimensión móvil de la existencia humana para no extrañarse totalmente de la realidad al par que ha de aspirar a la desmovilización siempre que el dinamismo se nos imponga como imperativo de forja histórica, leva de masa o desertización de la naturaleza. Tal vez uno de los objetivos más sugerentes de esta contribución crítica sea la reivindicación de una “segunda pasividad” frente a la metafísica activista del sujeto moderno. No se mienta con ello la sumisión a la fatalidad del destino contra la que (como “primera pasividad” teológico-política) se rebeló justamente el filósofo ilustrado sino la disposición a reconocer tras las ufanas apologías del progreso la insuperable fragilidad de la condición humana. Se trata de una sensibilidad ontológica con implicaciones éticas: la invitación a incorporar en el concepto de ser no sólo actos y acuerdos, sino también sufrimientos y procesos. Sloterdijk reprocha a la filosofía moderna su obsesión por elaborar teorías de la acción en detrimento de las teorías del padecimiento. El autor que tanto debe en esta obra a las descripciones del nihilismo tecnológico y de la poshistoria gnóstica ofrecidas por Jönger en La movilización total, Sobre el dolor o Junto al muro del tiempo, prefiere, sin embargo, guardar las distancias respecto a la épica neopagana del trabajador, incluso respecto al quietismo del emboscado o a la serenidad del pastor del ser, para desposar su eurotaoísmo con la tradición judeoalemana. La dedicatoria a Jacob Taubes, fallecido dos años antes de la publicación de este libro, contiene, según el autor, un reconocimiento a la memoria de lo apocalíptico como alternativa judía al optimismo de los modernos y al sentido trágico de los “neoheroicos”.


segunda-feira, 7 de setembro de 2009

AVISO DO METRÔ DE TÓQUIO



Pavilhão de Xangai feito de caixas de CDs que não foram vendidos
Há uns tempos atrás, Guy Hands, o director executivo da empresa de fundos de investimento Terra Firma e patrão da EMI, confidenciou que mais de um milhão de cópias do álbum Rudebox de Robbie Williams que nunca chegaram a ser vendidas seriam enviadas para a China para serem destruídas e usadas para pavimentação das estradas e iluminação das ruas.
Pois bem, parece mesmo que a China é o armazém de CDs descartados do mundo. Os arquitectos do Atelier Feichang Jianzhu tiveram a ideia de usar tubos de plástico feitos de caixas de CDs usadas na construção do Pavilhão Empresarial de Xangai, um dos ex-libris da Exposição Mundial de Xangai de 2010.
A estrutura exterior do Pavilhão é composta de tubos de plástico reciclados feitos de policarbonato transparente. No final da exposição, estes tubos poderão ser novamente reciclados. Acopladas à estrutura exterior do edifício estarão também luzes LED multicoloridas que serão controladas por computador para alterar a aparência em poucos segundos apenas através da manipulação de um software.
Não se esclareceu qual a proveniência destas caixas de CDs, mas é provável que tenham mesmo origem em Xangai. Isto porque a cidade produz por ano cerca de 30 milhões de CDs que acabam por não serem vendidos, sendo que apenas 25% destes são reclamados pelos fabricantes de forma a serem reciclados. Aqui está uma forma interessante de reutilizar aquilo que é puro desperdício (suporte físico para música que ninguém quer ouvir) e transformá-lo num verdadeiro objeto artístico capaz de encantar multidões.




domingo, 6 de setembro de 2009

SHANZAI





A cultura do shanzhai
Mais do que um negócio obscuro com nebulosas relações trabalhistas e a “importação criativa” de produtos, o shanzhai é uma tradição chinesa. Os primeiros eletrônicos alternativos foram criados nos anos 80, quando telejogos japoneses pareciam ser a solução para educar e divertir as crianças. Como essas máquinas eram caras demais, as empresas locais começaram a fabricar versões com acabamento simples e preços mais baixos.
Nascia assim um modelo de negócio que levava a tecnologia para a população, ignorava royalties e viraria um símbolo cultural. “O governo tomou medidas para conter a produção desses produtos, mas existe uma enorme demanda por celulares baratos no mercado interno e nos países pobres”, afirma Oliver Xu, analista-chefe do Gartner.
“Erradicar o mercado cinza acabaria com muitos empregos”, diz. Além de gerar empregos, a indústria de produtos alternativos é usada como portal de entrada para uma nova classe social, que surgiu na esteira do crescimento econômico acelerado do país. Está aí o mais genuíno DNA do shanzhai.



As damas do shanzai
Grande parte das fábricas de Shenzhen é movida pela força feminina. São jovens que migram de cidades rurais do interior da China em busca de trabalho. Outra prática comum no país é montar alojamentos precários nas próprias fábricas para que os funcionários economizem com gastos como aluguel e alimentação.
O domínio da China na fabricação de eletrônicos, fake ou não, tem entre uma das suas origens os próprios investimentos públicos. O governo injeta mais de um trilhão de dólares por ano em pesquisa e desenvolvimento nas áreas de telecomunicações, computação e eletrônicos, de acordo com relatório da Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômicos (OCDE).
Não é por acaso que as maiores marcas do mundo tenham concentrado suas fábricas na Ásia. E menos ainda que os produtos mais brilhantes dessas multinacionais tenham ganhado versões clonadas lá mesmo. Segundo o Gartner, modelos de marcas como HiPhone, Sumsung e Nckia respondem por quase 40% do mercado chinês.
O país consome 183 milhões de aparelhos por ano e fabrica três quartos da produção mundial de celulares. Andam especulando que a Apple vai anunciar uma versão míni do iPhone? Pois a indústria do shanzhai já começa a produzir milhões de unidades de um aparelho com metade do tamanho (e o dobro de funções) do smartphone original.
Em poucas semanas, ele é vendido em Manila, nas Filipinas; em Ciudad del Este, no Paraguai; e em Feira de Santana, na Bahia. Aqui ou na China, é grande a tentação de comprar um smartphone por menos de 300 reais, mesmo sabendo que ele pode parar de funcionar poucos dias depois. O mesmo raciocínio vale para navegadores GPS, MP3 players (ou 4, ou 5 ou... 10) e outros aparelhos que no quesito preço dificilmente encontram rivais à altura nos catálogos dos grandes fabricantes.
Um dos exemplos mais gritantes são os MP10 xing ling que tomaram conta do comércio popular brasileiro. Até na Americanas.com, o maior nome do e-commerce brasileiro, os players de marcas desconhecidas ocupam cativamente as posições dos produtos mais vendidos em categorias como MP4 e MP5.








De Shenzhen à Feiraguai
Os clones de iPhone e de MP3 players percorrem um longo caminho antes de chegar às barraquinhas de camelô brasileiras. Geralmente, a jornada começa nos corredores da Feira de Cantão, realizada na cidade de Guangzhou, no sul da China. O megaevento ocupa uma área de 1 milhão de metros quadrados, com 55 mil estandes de fabricantes que oferecem desde máquinas agrícolas até peças de vestuário e, claro, eletrônicos.
“Pequenos fabricantes vendem kits personalizáveis de placas e carcaças plásticas para replicar qualquer aparelho. Eles dizem: ‘é só trazer o celular que nós copiamos’”, afirma Rafael Hu, sócio-diretor da Akasa, que fornece hardware para fabricantes como Positivo, Semp Toshiba e Itautec. Depois de receber a encomenda de um lote de réplicas do HiPhone, por exemplo, os negociantes de Cantão correm para Shenzhen, a verdadeira meca da fabricação de eletrônicos.
Espécie de Zona Franca de Manaus, a cidade tem a fama de abrigar as melhores e as piores fábricas de eletrônicos do mundo. A vocação surgiu ainda nos anos 80, quando o governo de Deng Xiaoping transformou a região na primeira Zona Econômica Especial do país.
A fascinação pelas cópias é tanta que Shenzhen tem até um parque temático com reproduções toscas de 130 pontos turísticos internacionais — com direito a um Cristo Redentor em cima de um Corcovado xing ling. É desse pitoresco cenário que saem todos os produtos de grandes marcas que levam o selo made in China, dos mais bizarros aos que têm componentes de qualidade, como o iPhone original ou o Xbox 360, da Microsoft.
Durante a abertura capitalista, nos anos 80, o governo chinês forçou as cidades a se especializar em setores produtivos específicos por meio de incentivos fiscais. Shenzhen, pela excelente estrutura portuária, logo ficou com a área dos eletrônicos, cujo foco na exportação é prioritário. Virou uma cidade onde é possível fabricar gadgets em qualquer prazo e com qualquer qualidade e quantidade.
“Na China, tudo se resolve respondendo quanto você quer pagar na fabricação do produto. Quanto maior o investimento, mais as réplicas serão parecidas com a peça original”, afirma Jean-Pierre Cecillon, diretor de vendas da Kingston no Brasil e no Cone Sul. A empresa, que é referência em pen drives e memória RAM, tem 97% da sua produção concentrada na Ásia.
O apelo da China não está apenas no baixo custo dos profissionais. “Nosso processo de fabricação é quase todo automatizado. Por isso, a mão-de-obra barata não foi o fator decisivo para escolher a China. O país nos atraiu por ter um mercado consumidor gigantesco e uma infraestrutura que se expande com velocidade”, diz Cecillon. Além disso, os produtos já saem de Shenzhen prontos para ser vendidos em qualquer lugar do mundo.
Todos os clones de iPhone testados pela INFO vieram com menus em português, embora com sotaque lusitano. As facilidades não param por aí. As etapas de testes, controle de qualidade e análise de materiais são feitas na China, antes de os produtos embarcarem nos contêineres. O problema é que, em nome da diminuição de custos e da velocidade na adoção de novidades, raramente esse processo é respeitado nos aparelhos shanzhai.
“No Brasil, só para mudar a cor de um celular temos que fazer concorrência com diversos fornecedores, pesquisar a durabilidade do material e atender a uma série de exigências da Anatel”, afirma Gilson Raeder, diretor de desenvolvimento de produto da Motorola Brasil.
“No caso, a aprovação da Anatel não depende apenas do telefone, órgãos como o CPqD e o Inpi analisam a bateria, o carregador, o manual, a embalagem, o sistema operacional, tudo”, diz. Esse processo, que pode levar até três meses, é solenemente ignorado pelos aparelhos shanzhai.
Do dual-SIM ao pero no mucho
Há todas as opções de cores, tamanhos e formatos nos smartphones shanzhai que chegam ao Brasil, mas duas características estão quase sempre presentes: a possibilidade de usar dois chips e a sintonia de TV. A função de dual-SIM, que permite usar dois números de celular ao mesmo tempo, ainda é rara nos aparelhos originais vendidos aqui. Nos clones, pode ser usada sem dificuldade, conforme mostraram os testes do INFOLAB. Após discar um número, é só escolher entre os dois botões que representam a primeira e a segunda conta de telefone. Tudo ocorre de forma transparente, independentemente da diferença de operadora entre os chips. A opção da TV é bem mais tosca. Usando sempre uma antena no estilo radinho de pilha, o sinal capturado é analógico e dificilmente mostra imagens sem chiados e chuviscos.
Além do iPhone, todos os aparelhos mais populares da Nokia, Motorola e Sony Ericsson têm suas versões cover. No caso da fabricante finlandesa, o hit são as cópias do N95, que trazem funções como tela sensível e caneta stylus, que não existem nem mesmo no modelo original. Outra característica cada vez mais presente é o uso do acelerômetro.
Os clones de iPhone trocam de música com uma chacoalhada para a frente e retrocedem com um movimento para trás. O problema é que esse remelexo não dura muito. Com acabamento frágil, os gadgets têm data de validade curta e funções que só aparecem escritas na embalagem. O visual dos aparelhos engana bem, mas é comum esbarrar com exemplos como o da câmerafone Vaic, que teria resolução de 8 MP, mas, no máximo, captura imagens com 640 por 480 pixels, como uma webcam fuleira.

Nos HiPhones, a tampa indica capacidade para guardar 16 GB, quando na verdade o aparelho traz só um cartão microSD de 1 GB. Não são raros os carregadores, baterias e fones de ouvido que apresentam falhas logo na primeira semana de uso.