domingo, 20 de abril de 2014


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Na metade de um acordo nuclear de seis meses entre o Irã e grandes potências mundiais que tinha como objetivo dar tempo para atingir um acordo mais amplo, os iranianos viram pouca coisa no sentido do aumento que esperavam no alívio das sanções, dizem advogados de comércio e analistas diplomáticos.
Não está claro se a frustração dos iranianos significará que eles estarão mais ou menos motivados para negociar um acordo permanente quanto a seu controverso programa nuclear até o prazo final de 20 de julho.
"O Irã se tornou uma criptonita para os bancos, transportadoras e companhias de seguros", disse Farhad R. Alavi, especialista em leis de sanções na Akrivis, uma firma de advocacia internacional com sede em Washington que recebeu inúmeras consultas sobre fazer negócios com o Irã desde que o acordo temporário entrou em vigor. Embora o acordo possa ter servido como uma "amostra" para o Irã, o interesse das empresas estrangeiras continua extremamente limitado, disse ele numa entrevista por telefone.
"Será que um banco da Alemanha vai renovar suas políticas de concessão sendo que a lei pode ser mudada e revertida dentro de seis meses?", perguntou. "Acho que o que vimos é que não houve uma ruptura. Ninguém está dando aquele passo substancial para aumentar os laços econômicos entre o Irã e o resto do mundo."
Scott M. Flicker, sócio da Paul Hastings, uma firma de advocacia com sede em Washington que é especializada no litígio de sanções, disse que a natureza das sanções dos EUA em particular dissuadiram muitas empresas de pensar no Irã, ainda que temporariamente. Ele disse que elas temem se enredar nas dificuldades das complicadas regras estabelecidas pelo Escritório de Controle de Bens Estrangeiros do Departamento do Tesouro, o principal órgão do governo para fiscalizar sanções econômicas contra o Irã. Quem as infringe corre o risco de sofrer penalidades severas, incluindo a exclusão do mercado norte-americano.
O que os iranianos e outros estão aprendendo, disse Flicker, é que "no fim das contas, o verdadeiro martelo é o sistema financeiro dos EUA." "Ninguém quer tocar numa transação financeira iraniana a menos que tena uma autorização clara" do escritório de controle de bens.
O acordo temporário, que entrou em vigor em 20 de janeiro, congelou a maior parte das atividades de energia nuclear do Irã e obrigou o país a reduzir seu estoque de urânio enriquecido que, quando mais enriquecido, pode ser usado para fazer bombas atômicas, muito embora o Irã insista que seu trabalho nuclear é apenas para propósitos puramente civis.
Em troca, o Ocidente, que nunca confiou nas alegações do Irã sobre os propósitos nucleares pacíficos, atenuou algumas das onerosas sanções impostas nos últimos anos, incluindo a garantia de acesso, em quantias escalonadas, a US$ 4,2 bilhões dos cerca de US$ 100 bilhões de dinheiro iraniano sequestrado em bancos estrangeiros. O alívio das sanções também permitiu acordos em alguns setores, incluindo o de petroquímicos e fabricação de automóveis, que sofriam problemas econômicos causados em parte pelo isolamento do Irã.
Apesar das proclamações iniciais de autoridades iranianas de que o regime de sanções ocidentais havia se rompido e uma nova era estava a caminho, o país enfrentou dificuldades até mesmo em garantir seus fundos que estavam congelados por causa do estigma do Irã entre os bancos estrangeiros, dizem especialistas em sanções. E os únicos acordos de comércio anunciados nos Estados Unidos são alguns contratos de curto prazo para peças e manutenção de sua envelhecida frota de aeronaves Boeing.
Nos termos do acordo nuclear temporário, todo este trabalho, incluindo pagamentos, deve ser concluído até o prazo final de 20 de julho. O Irã parece estar vendendo mais petróleo, seu item de exportação mais importante, e a economia parece ter se estabilizado, de acordo com uma avaliação recente do Fundo Monetário Internacional.
Mas muitos especialistas em direito de sanções dizem que o país ainda está basicamente paralisado economicamente - excluído das redes financeiras globais que são um componente essencial das transações comerciais internacionais. "Muitas coisas não acontecem porque os bancos não se darão ao trabalho", disse Alavi.
Os defensores de fortes sanções contra o Irã argumentaram que mesmo o alívio modesto fornecido pelo acordo de seis meses foi contra-produtivo, sinalizando o que o Irã percebe como uma brecha na determinação ocidental. Alguns argumentam que o Irã está desafiando abertamente a declaração do governo Obama de que as exportações de petróleo iranianas, nos termos do acordo temporário, devem se limitar a cerca de 1 milhão de barris por dia.
Dados divulgados na sexta-feira (11) pela Agência Internacional de Energia, um grupo de países importadores de petróleo que inclui os Estados Unidos, mostrou que o Irã exportou 1,65 milhões de barris por dia em fevereiro, a quantidade mais alta em 20 meses, e que as exportações de março também excederão 1 milhão de barris por dia.
Mark D. Wallace, diretor-executivo do United Agains Nuclear Irn, um grupo de defesa em Nova York que argumentou por sanções ainda mais rígidas, disse que as garantias do governo foram "totalmente contrariadas pela realidade".
O governo sustentou que depois que a média dos seis meses for feita, as exportações de petróleo do Irã ficarão próximas de 1 milhão de barris por dia.
Mark Dubowitz, diretor-executivo da Fundação para a Defesa das Democracias, outro grupo pró-sanções que defende que o Irã está buscando a capacidade de produzir armas nucleares, disse que vê o aumento das exportações de petróleo como um sinal agourento para as negociações nucleares porque, a seu ver, os líderes iranianos estão sentindo menos sofrimento econômico.
"Isso aumenta a vantagem de negociação nuclear iraniana e torna mais difícil concluir um acordo diplomático que desmantele o programa nuclear do Irã e convença Teerã a confessar suas atividades nucleares militares do passado", disse ele.
Os negociadores que se encontraram em Viena na semana passada dizem que ainda têm questões cruciais pendentes, sugerindo que ainda não fecharam o esboço final de um acordo permanente. Eles concordaram em se encontrar novamente em 13 de maio.
Cliff Kupchan, especialista iraniano no Eurasia Group, uma firma de consultoria de risco político, que avaliou as perspectivas de sucesso da negociação em 60%, disse que os negociadores precisam ser capazes de dizer logo que fizeram progressos significativos. "Em outras palavras, há mais um encontro (maio) no qual tudo bem não haver nenhuma notícia concreta", disse ele numa análise por e-mail das negociações. "Depois disso, será preocupante não ter notícias."

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Como relançar o crescimento e, ao mesmo tempo, incluir mais indianos? É essa a principal pergunta feita aos dois grandes partidos que, desde o dia 7 de abril, disputam os votos de 814 milhões de eleitores: o Partido do Congresso de Rahul Gandhi, no poder desde 2004, e o Bharatiya Janata Party (BJP, nacionalista hindu) de Narendra Modi, candidato ao posto de primeiro-ministro da maior democracia do mundo.
As eleições legislativas indianas, que são realizadas até o dia 12 de maio, têm se desenrolado em um clima muito diferente das eleições de 2009. Em cinco anos, o crescimento foi reduzido pela metade, caindo para 4,4% em 2013. Essa desaceleração, somada a uma inflação elevada e aos escândalos de corrupção, contribuiu para desacreditar o Partido do Congresso e o primeiro-ministro Manmohan Singh, desgastado por esses cinco últimos anos no poder.
O subcontinente não foi poupado pelas turbulências que atingiram outros países emergentes: fuga de capitais com o anúncio da normalização progressiva da política monetária americana, queda das divisas, déficit elevado da balança de pagamentos. Mas a situação vem melhorando, sobretudo graças à política do novo diretor do Banco Central, o economista Raghuram Rajan. "A rúpia se desvalorizou 10% em relação ao dólar entre maio e setembro de 2013. Ela recuperou 4% entre janeiro e março", observa Ludovic Subran, da Euler Hermes.
Otimista, o FMI (Fundo Monetário Internacional) prevê um crescimento de 5,4% em 2014 e de 6,4% em 2015. De fato, o potencial da Índia é impressionante, mas ela precisa superar obstáculos de todo tipo que restringem seu dinamismo.
Talvez por todos os governos desde 1989 terem sido de coalizão, existem poucas diferenças entre os programas econômicos do Partido do Congresso e do BJP. No entanto, historicamente o partido de Jawaharlal Nehru foi marcado pelo socialismo redistributivo. O BJP pende mais para o liberalismo, contanto que controlado: assim, ele é contra a abertura do grande varejo a capitais estrangeiros, instaurada pelo governo Singh.
Tanto o Partido do Congresso quanto o partido de Modi anunciaram que os grandes programas sociais seriam reforçados. A Índia dedica 4,6% de seu PIB aos gastos sociais, ou seja, uma proporção 15 vezes maior que nos Estados Unidos em 1880, quando o PIB americano per capita era igual ao da Índia de hoje.
Os candidatos também prometeram uma melhor infraestrutura urbana, sendo que o BJP prometeu a construção de 100 novas cidades. Essas promessas devem ser relativizadas, por serem eleitorais e porque o partido que vencer a eleição deverá levar em conta as demandas de seus aliados. Portanto, as reformas poderão facilmente ser entravadas. Foi o que aconteceu na ocasião da assinatura do acordo nuclear entre a Índia e os Estados Unidos em 2008, quando o Partido Comunista colocou em risco a existência do governo ao deixar a coalizão.
Isso porque a Índia é uma federação que precisa transigir com cada um de seus 28 Estados. Para entrar em vigor, certas reformas precisam ter sido previamente aprovadas por todos os Parlamentos regionais. É por isso que o imposto sobre consumo indiano está sempre no limbo. As margens de manobra dos Estados são grandes, e suas competências só se ampliaram. Portanto, se muitos projetos de infraestrutura estão em ponto morto, não é unicamente por causa do governo central. Segundo o banco JPMorgan, este teria responsabilidade em somente 8% dos 50 projetos atualmente em suspenso.
A economia indiana continua bastante fechada, mais de 20 anos depois da abertura da economia, iniciada em 1991 e simbolizada pelo fim progressivo da "licença raj". Esse sistema de autorizações administrativas obrigava todos os empresários que quisessem importar a abrir uma linha de produção ou converter divisas. A burocracia cresceu. O país é o 134º, dentre 189, no ranking do Banco Mundial de "facilidade em fazer negócios" ("Ease of Doing Business 2014"). Ele consta entre os últimos em matéria de aplicação de contratos e concessão de licenças de construção.
O número crescente de regras, que complica a vida dos empresários, se deve à vontade dos dirigentes políticos indianos de controlarem a abertura da economia. Nos anos 1950, Nehru já havia imaginado um modelo de desenvolvimento protegido da concorrência internacional e, em parte, do capitalismo.
A corrupção, cujo combate o mais novo dos partidos políticos indianos, o Aam Aadmi Party (AAP, Partido do Homem Comum) de Arvind Kejriwal, assumiu como especialidade, é endêmica. Existe corrupção nas altas esferas --a fortuna média de um parlamentar reeleito triplica durante a legislatura, segundo a Associação para as Reformas Democráticas (ADR)-- e nas baixas, ou seja, para obter uma carta de motorista ou um título de propriedade. Uma pesquisa realizada pela Transparência Internacional revela que 54% dos indianos entrevistados declararam ter pago propina em 2013, contra 44% dos nigerianos.
Assim como em outras economias antigas planificadas, as empresas públicas ainda geram entre 20% e 25% do PIB. Algumas delas são estratégicas para garantir a segurança energética ou para oferecer serviços financeiros às populações isoladas. Outras acumulam prejuízos em setores concorrenciais. No Ministério da Economia e das Finanças, um departamento inteiro se dedica desde 1991 aos "desinvestimentos". E qual seria sua missão? Identificar as empresas públicas cujo capital deve ser cedido, parcial ou integralmente. O governo esperava tirar dessas cessões 4,8 bilhões de euros em 2014, mas obteve menos da metade.
A falta de infraestrutura é gritante. Com seus 3,2 milhões de quilômetros quadrados e seu 1,2 bilhão de habitantes, o país produz menos eletricidade do que a França. Há muitos episódios de falta de luz. A demanda de energia elétrica continua sendo 4,2% maior que a oferta disponível nos horários de pico. Isso freia o desenvolvimento da indústria e estimula a inflação, devido à capacidade de produção subdimensionada.
A rede de transportes está em mau estado. Se a Índia quiser voltar a ter um crescimento de 7% a 8% ao longo dos próximos 20 anos, sua demanda de energia quadruplicará e seu volume de passageiros aumentará de 15 a 16 vezes, segundo o FMI. Hoje, três quintos do frete de mercadorias é realizado por uma malha rodoviária em mau estado, uma vez que não há uma infraestrutura ferroviária digna desse nome.
O subcontinente decidiu investir US$ 1 trilhão (R$2,24 trilhão) na infraestrutura entre 2012 e 2017. Mas a realidade não ajudou. Muitos habitantes se recusam a ceder suas terras, as autorizações demoram para ser obtidas e às vezes a regulamentação é vaga. O governo anunciou diversas medidas em 2013, entre elas a criação de um guichê administrativo único, para acelerar os processos.
Outra dificuldade é o fato de o financiamento da economia ser um quebra-cabeça, especialmente devido à degradação das finanças públicas. O déficit orçamentário é superior a 7%. A dívida pública representa quase dois terços do PIB. "Ela capta uma parte dos passivos dos bancos. Obrigados a comprar obrigações do Estado, eles participam pouco do financiamento da economia, apesar de ser o trabalho deles", observa Julien Marcilly, da Coface. Então a Índia possui um enorme problema de investimentos, tanto públicos como privados.
A agricultura também sofre com a falta de infraestrutura: somente metade das terras recebe irrigação de superfície. O setor vem passando por uma crise ao mesmo tempo ambiental e econômica, com muitos sintomas: a cada ano, entre 15 mil e 20 mil camponeses, a maioria deles muito endividados, cometem suicídio; o nível dos lençóis freáticos vem caindo perigosamente por causa do excesso de consumo de água para irrigar plantações inadaptadas ao clima local; e o crescimento está estagnado em torno de 3% há anos. Nas zonas rurais, a agricultura só emprega um terço dos habitantes em tempo integral. Mas a persistência de um grande índice de analfabetismo --um terço da população-- não permite que os camponeses encontrem emprego na indústria.
A indústria vem atravessando um período difícil, apesar da existência de grandes grupos (no setor farmacêutico, químico, siderúrgico, informático etc). "A indústria não consegue mais contratar devido à falta de mão de obra. A produção é fraca há três anos. Os gargalos interromperam o crescimento", observa Patrick Artus, da Natixis.
É um problema crucial, pois a cada ano surgem de 12 a 15 milhões de pessoas a mais no mercado de trabalho. "A chave de um crescimento inclusivo", analisa o economista Jean-Joseph Boillot, "reside na capacidade da Índia de gerar empregos produtivos em grande escala". Isso é impossível sem uma retomada industrial --e sem uma grande mudança dos comportamentos políticos que nem o BJP, nem o Partido do Congresso adotaram por enquanto.

terça-feira, 15 de abril de 2014


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O fato de o Japão ter suspendido a caça de baleias na Antártida teve mais repercussão na mídia internacional do que uma decisão igualmente significativa tomada por Tóquio, não para a vida dos cetáceos, mas para o equilíbrio regional: voltar para o mercado mundial de armas, que o país havia abandonado durante quase meio século. Essa decisão certamente despertou preocupações e críticas na China, mas também na Coreia do Sul, que assim como o Japão é aliada dos Estados Unidos.
Como a tensão por diferenças históricas e territoriais com esses dois países não enfraquece, Pequim e Seul veem nessa volta do Japão ao mercado de armas um novo avanço do primeiro-ministro, Shinzo Abe, no caminho para a revisão da Constituição Pacifista de 1947 – que lhe proíbe de entrar em guerra – para que o país possa participar de um sistema de defesa coletiva e socorrer aliados ameaçados, algo que as disposições constitucionais atuais não lhe permitem. Assim, o Japão estaria em condições de exercer um papel maior na ordem regional para, entre outras coisas, contrapor o poderio militar chinês.
Em 1967, em plena Guerra Fria, o Japão estava proibido de exportar armas para os países comunistas e aqueles colocados sob o embargo das Nações Unidas ou envolvidos em conflitos internacionais. Essas restrições foram reforçadas em 1976 e resultaram em uma proibição total de vendas de armas para outros países. Depois de ter sido indiretamente envolvido no esforço de guerra dos Estados Unidos no Vietnã – tendo de certa forma servido como porta-aviões com bases militares americanas em seu território - , o Japão reafirmou seu pacifismo. Embora Tóquio tenha flexibilizado essas disposições a partir de 2004, autorizando as empresas japonesas a participarem da produção de armamentos junto com os Estados Unidos, a proibição das exportações de material militar continuou. O fim dessa proibição faz parte daquilo que Tóquio chama de "pacifismo proativo".
A partir de agora, o Japão pode vender material militar – que é designado por um outro eufemismo nos documentos oficiais, "material de defesa" – para os países que ele bem entender, contanto que eles não representem uma ameaça à paz e à segurança mundiais e que ele se certifique de que essas armas não serão reexportadas para um terceiro país. O Japão, que produz munições, fuzis de assalto, tanques, navios e o hidroavião US-2, pretende vender material militar às Filipinas ou ao Vietnã, que também têm diferenças territoriais com Pequim, reforçando assim os laços com esses países.
Paralelamente, ele pretende desenvolver a produção de material militar em parceria com os Estados Unidos (caça F-35) e países europeus. O governo Abe também pretende revisar o estatuto de sua ajuda ao desenvolvimento para poder fornecer uma assistência militar – que atualmente é unicamente civil – e para "promover os valores universais de liberdade, de democracia e de direitos humanos", declarou o vice-ministro das Relações Exteriores Seiji Kihara.
A volta do Japão ao mercado de armas não tem uma dimensão somente estratégica. Há anos que o patronato reivindica o fim da proibição da exportação de material militar para estimular a produção de armamentos, até hoje fortemente integrada à indústria civil, e para favorecer o desenvolvimento de um verdadeiro complexo militar-industrial. O mercado de armas japonesas é pequeno – US$ 16 bilhões em 2010, ou seja, 0,6% do PIB – e os equipamentos produzidos são pouco competitivos em matéria de preço.
Para além do debate da legitimidade do pacifismo constitucional japonês dentro do atual clima mundial e dos temores, provavelmente excessivos, suscitados por uma "remilitarização" do país, cujas capacidades ofensivas ainda são distantes, surge a questão do contexto no qual vem se operando essa mudança na política de defesa do Japão. Tóquio está tentando reagir a um relativo recuo da presença americana na região e à vontade hegemônica da China reforçando seus laços com a Austrália, a Índia e os países do Sudeste Asiático. Mas esse reposicionamento do Japão, desejado por Washington, acontece tendo como pano de fundo o grande plano de Shinzo Abe de virar a página da guerra.
Sua vontade de afirmar a volta do Japão ao cenário internacional, que é legítima em si, se conjuga com um negacionismo que provoca protestos na China e também na Coreia do Sul, o que para Washington é ainda mais grave. A tensão diz respeito à História – sobre as coreanas obrigadas a se prostituírem para o exército imperial – e ao santuário Yasukuni, onde são homenageados criminosos de guerra entre os mortos pela pátria, o que prejudica a solidez da aliança tripartite entre Coreia do Sul, Estados Unidos e Japão.
Esse negacionismo suscita entre os aliados americanos e europeus de Tóquio um mal-estar mais profundo do que o governo parece imaginar. A dignidade do Japão no cenário mundial não passa pela negação do mau comportamento – inclusive contra sua própria população – de parte de seu Exército. Abe está demorando para perceber isso.

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Quando chegou ao colégio católico DePaul para se integrar à turma dos formandos de 2014, Di Wang olhou para uma figura de Jesus extenuado pregado a um crucifixo de madeira no saguão. Ficou tão espantada que exclamou: "Meus Deus, este colégio é católico!"
A estudante chinesa não chega a ser uma anomalia. Em toda parte nos Estados Unidos, escolas católicas e de outras denominações cristãs estão atraindo filhos de magnatas imobiliários, executivos de empresas energéticas e funcionários governamentais chineses. As escolas fazem esforços ativos para atrair esses alunos, mandando funcionários de admissão para a China, contratando agências para produzir folhetos de divulgação em chinês e criando páginas na internet com fotos de alunos loiros praticando esportes e se divertindo com seus sorridentes colegas chineses.
Os estudantes, alguns dos quais pagam cinco vezes mais que os alunos locais, estão conferindo a essas escolas uma sensibilidade internacional e as ajudando com suas finanças, muitas vezes em mau estado.
No colégio DePaul, 39 dos 625 alunos vêm da China. Além de fazer cursos como química, história europeia, arte de estúdio e coro, eles podem estudar teologia, presidir as reuniões dos clubes de serviço cristãos e assistir à missa mensal, onde podem ir até o altar para receber uma bênção durante a comunhão, mas não podem receber a hóstia, pois não são batizados.
No colégio católico Marquette, em Michigan City, Indiana, 20 estudantes chineses vivem numa casa vitoriana de tijolinhos e outra casa próxima que foi reformada recentemente para acomodar o crescente programa internacional da escola. Há 60 estudantes internacionais no colégio católico Melbourne Central, em Cabo Canaveral, Flórida -quase 10% dos alunos da escola. A maioria dos alunos estrangeiros é chinesa.
Os colégios não exigem que os alunos se convertam ao catolicismo. Mas, disseram vários funcionários das escolas, eles precisam demonstrar respeito durante as orações, matricular-se nos cursos obrigatórios de teologia e cumprir as horas obrigatórias de serviço cristão. Isso pode significar, por exemplo, ajudar a ensinar estudantes de baixa renda num salão de igreja ou servir refeições aos pobres em refeitórios sociais.
No colégio católico John F. Kennedy, em Somers, Nova York, onde 9% dos alunos vêm da China, o padre Mark Vaillancourt, diretor da escola, disse que as mensalidades pagas pelos alunos estrangeiros lhe permitiram modernizar os laboratórios de informática, concluir uma reforma do ginásio de esportes, instalar iluminação com lâmpadas LED, reformar o teto e incluir mais estudantes locais na lista dos bolsistas.
Vaillancourt disse que a mensalidade mais alta paga pelos alunos vindos do exterior se justifica porque seus pais não participam de eventos de levantamento de fundos nem contribuem para a escola de outras maneiras. Também porque ele não crê que esses estudantes irão tornar-se alumni ativos. Além de ajudar suas próprias escolas, disse o diretor, ele e outros diretores de colégios católicos estão fomentando relações positivas entre a igreja e os jovens chineses que terão participação ativa no futuro.
Os pais chineses ricos não procuram tanto uma educação católica quanto uma educação americana, para ajudar a preparar seus filhos para a universidade nos EUA e para escapar do sistema educacional chinês, descrito por muitos como redutivo e enviesado para os exames. Escolas particulares não religiosas americanas também vêm buscando muitos alunos na China nos últimos anos.
Jiacheng Wang, aluno do ensino médio na escola John F. Kennedy e natural de Ningbo, disse que deixou a China para obter uma formação completa em artes e ciências. Disse que a filiação religiosa da escola não foi levada em conta em sua decisão de se matricular, mas que hoje ele sente que as orações diárias feitas no colégio o acalmam. Hoje ele às vezes ora sozinho. "Acredito na ciência", disse Wang. "Mas hoje já sou mais ou menos 50% cristão. Comecei a acreditar nesta história de Deus."
Di Wang, que pretende fazer faculdade também nos EUA, diz que gostou de aprender sobre a doutrina da igreja, que ela resume com as palavras: "Faça o bem, evite o mal". Mas ela pretende continuar ateia. Mesmo assim, hoje em dia ela reza de vez em quando. "Obrigado, Deus, por este dia lindo", murmura.

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Numa área rochosa nesta extensa cidade de barracas e trailers pré-fabricados, o rei, trajando jeans sujo e capa improvisada, ergueu seu cetro de madeira e anunciou sua intenção de dividir seu reino. Suas filhas mais velhas, usando coroas de papel e joias de plástico, o cobriram de elogios falsos. A filha mais nova falou a verdade e perdeu sua herança.
Assim começou uma montagem recente de "Rei Lear" no campo de refugiados de Zaatari, na Jordânia. Foi o primeiro contato que as cem crianças do elenco tiveram com Shakespeare, apesar de elas já terem conhecimentos profundos sobre tragédias.
Todas são refugiadas vindas da Síria. Algumas viram suas casas ser destruídas. Outras perderam familiares na violência. Muitas ainda têm dificuldade em dormir ou ficam sobressaltadas quando ouvem um ruído alto. E agora sua casa é este lugar, um campo isolado, sem árvores, um lugar de pobreza, incerteza e tédio.
Refletindo a composição demográfica da população de refugiados sírios, mais de metade dos 587 mil refugiados cadastrados na Jordânia tem menos de 18 anos, segundo as Nações Unidas. Mais ou menos 60 mil dessas crianças e jovens vivem no campo de Zaatari, onde menos de um quarto delas frequenta a escola regularmente.
Pais e funcionários de organismos humanitários temem que a guerra síria crie uma geração marcada pela violência e sem anos cruciais de educação. O receio é que essas experiências e desvantagens os acompanhem na idade adulta.
A apresentação de "Rei Lear", conclusão de um projeto que foi preparado durante meses, foi uma tentativa de combater esse risco.
"O objetivo de encenar a peça é trazer de volta a alegria, o riso e a humanidade", explicou o diretor da peça, Nawar Bulbul, ator sírio de 40 anos que vive na Jordânia.
No ano passado, Bulbul e sua mulher, que é francesa, mudaram-se para a Jordânia, onde amigos convidaram o ator a ajudar a distribuir ajuda em Zaatari. Crianças que ele conheceu no campo o fizeram prometer que voltaria, e ele o fez, com um plano para mostrar ao mundo que os refugiados sírios menos afortunados do mundo seriam capazes de produzir o melhor teatro.
O sol brilhou forte no dia da apresentação. A peça foi encenada num triângulo rochoso de terra cercado por uma cerca metálica coroada por arame farpado. Os 12 atores principais ficaram no meio, e o resto do elenco se posicionou atrás deles, num coro que contribuía com comentários e efeitos sonoros dramáticos. A plateia ficou sentada no chão.
A mãe de Bushra al-Homeyid, 13, que representou uma das filhas de Lear, contou que sua família fugiu da Síria quando bombas do governo mataram seu sobrinho e sua sobrinha.
"O campo é uma vida incompleta, uma vida temporária", falou. "Esperamos que nosso tempo aqui seja curto."
Mas, depois de um ano no campo, ela teme que sua filha mais velha, que estava no ensino médio, não esteja preparada para ingressar na faculdade.
Sorrindo e ainda usando sua coroa de papel amarelo, Bushra disse que nunca tinha feito teatro antes, mas queria continuar.
"Gosto de poder mudar minha personalidade e ser outra pessoa", explicou.

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Profundo é o ar, dizia Jorge Guillén. É livre, pertence a todo mundo, ninguém pode roubá-lo nem vendê-lo. É imaterial, mas também é a própria matéria da arte, da poesia e da vida. É um tesouro. Há outros elementos imateriais, que não podem ser transferidos nem comprados ou vendidos. A palavra, a conversa, o que se diz para entreter ou entreter-se com outros. Em uma praça, por exemplo. Isso é imaterial, e é um tesouro. E ninguém pode roubá-lo. No passado, entretanto, muitos tesouros materiais foram espoliados e hoje vivem no exílio. Devem voltar a seus lugares de origem?
Comecemos pelo que não pesa e é belo. Um dia o escritor Juan Goytisolo foi com um desses tesouros imateriais ao então diretor-geral da Unesco, Federico Mayor Zaragoza (que ocupou o cargo entre 1987 e 1999). Goytisolo vive em Marrakech, no Marrocos, e nessa arejada cidade era testemunha diária de um milagre, a praça Jemaa el Fna. A Unesco concedia então declarações de patrimônio mundial a lugares belíssimos ou singulares. Materiais. O romancista ia com uma proposta exótica: queria chamar a atenção da Unesco para a conveniência de se declarar essa praça, onde fazia séculos as pessoas praticavam a arte de falar, patrimônio imaterial da humanidade.
Goytisolo, amante apaixonado desse lugar, escreveu sobre as características da arte imaterial que se pratica na praça: "A obrigação de levantar a voz, argumentar, encontrar o tom justo, aperfeiçoar a expressão e forçar a mímica que captarão a atenção do passante ou provocarão os risos de um modo irresistível: piruetas de palhaços, ágeis saltimbancos, tambores e danças 'gnaoua', macacos brincalhões, anúncios dos médicos e herboristas, brusca irrupção das flautas e dos tamborins no momento de passar o prato; imobilizar, distrair, seduzir uma massa eternamente disponível, atraí-la pouco a pouco para um território preciso, distraí-la do canto das sereias rivais e arrancar-lhe, por fim, o dirham resplandecente que recompensa o virtuosismo, o vigor, a obstinação e o talento".
Essa bela descrição é o espelho dessa beleza complexa que Goytisolo explicou a Mayor Zaragoza. E este iniciou um processo que transformou o desejo e a paixão de um dos mais ilustres visitantes da Jemaa el Fna em Patrimônio Imaterial da Humanidade. A praça alcançou esse grau em 2001. Esse patrimônio, naturalmente, não está em perigo e supostamente nunca o estará. Mas outras belezas materiais do mundo foram preservadas graças a sucessivas declarações de Patrimônio da Humanidade ditadas pela Unesco ao longo dos anos.
Em séculos passados, os espólios privaram grandes países (como Grécia ou Egito, mas também Espanha e Portugal) de alguns tesouros "que fazem parte de sua alma", como diz Milagros del Corral, que também foi funcionária da Unesco e diretora da Biblioteca Nacional da Espanha. Agora a Unesco e a história das convenções (como as que a Unesco conseguiu) tornam virtualmente impossíveis esses saques, mas há países (como Reino Unido ou França) que têm em suas ruas ou em seus museus o resultado de incursões que buscaram dominação e rapina. Por exemplo, Napoleão levou do Egito o famoso Obelisco que hoje é um emblema de Paris, e hoje em dia se discute na França se é lá que deve ficar ou se deve regressar ao lugar em que foi construído até que a milícia francesa o levou.
Mayor Zaragoza, Del Corral e outros especialistas aos quais perguntamos sobre esse exílio forçado do monumento egípcio e de outros elementos faustosos da história, como o Partenon, abrigado no Museu Britânico, estimam em geral que agora seria mais tempo de intercâmbio que de devoluções. "Hoje eu estaria mais preocupado", diz o ex-diretor geral da Unesco, "em salvaguardar os grandes parques nacionais que estão em perigo em muitos casos porque o neoliberalismo se esquece do meio ambiente." Nelson Mandela dizia", lembra Mayor Zaragoza, "que se governa para a geração seguinte, e esse espólio dos parques é uma agressão aos que virão". Nesse índice de preocupações, também cita a tentativa de desvalorizar a mesquita de Córdoba, "que representa o esplendor do islã e o esplendor do árabe e é, junto com a igreja com a qual convive, um símbolo extraordinário da história".
No pós-guerra europeu, a Unesco conseguiu um acordo internacional para que fossem devolvidos os butins tomados pelos exércitos na contenda, após investigação sobre as circunstâncias do espólio. Devolver à Grécia o que foi espoliado muito tempo atrás, ou ao Egito o que também lhe foi saqueado? Melina Mercouri, a atriz que foi ministra da Cultura grega, tentou fazer com que o Museu Britânico devolvesse o patrimônio pertencente a seu país, "e conseguiu alguma coisa", disse Mayor Zaragoza, "mas a Grécia tem tanto que, ao lado de sua riqueza inigualável, significa pouco o que poderia obter". E o Obelisco ou as colunas de Luxor? Devem voltar ao Egito? "Dizem isso muitas vezes, e dizem também: que embaixada mais poderosa pode ter o Egito no mundo do que essas peças?", acrescenta.
O pensador e cientista Jorge Wagensberg, ex-diretor da Cosmocaixa e diretor da coleção Metatemas de Tusquets, fala da "tradição" de muitos museus que se declararam "mais seguros" para manter patrimônio alheio que os lugares de onde vieram as obras de arte. Na Grécia, o Partenon estava ameaçado por um arsenal, por exemplo, e o Museu Britânico parecia um lugar mais seguro. "Mas o mundo mudou, e a tendência agora é que os objetos, se forem artísticos, permaneçam no lugar de onde são originários... Mas se conhecem casos de roubos flagrantes, cujos objetos não foram devolvidos. Por exemplo, Napoleão roubou em Portugal um grande patrimônio de espécies provenientes do Amazonas, que deveria estar no Museu de História Natural de Coimbra e persiste em Paris, para onde o transportaram os soldados de Napoleão... Houve saques incríveis. Estive no Saara e pude ver gravações neolíticas de que tirei cópias em silicone... Os traficantes já saquearam esse patrimônio e o que resta são as cópias que fizemos."
Wagensberg destaca a Dama de Elche, "que foi encontrada em um campo de amendoeiras e hoje está no Museu Arqueológico de Madri. Mas as pessoas perdem o contexto". "Se forem garantidos o estudo e a proteção de todos os elementos dos monumentos, estes devem voltar a seu lugar de origem", diz o cientista. "Por exemplo, a Grécia pode garantir muitos monumentos que foram saqueados, espoliados ou roubados."
O caso da Dama de Elche ou da Dama de Baza (entre outros) traz o debate para a Espanha. Devem voltar aos lugares de onde vieram? O diretor do Museu Arqueológico Nacional, Andrés Carretero, que custodia ambas as peças, faz uma analogia: "Por essa regra de três, os Velásquez do Prado devem ficar em Sevilha? Por outro lado, queremos um Museu Nacional de Arqueologia, ou este deve ser dividido em função das procedências? Tudo depende nesses casos de decisões políticas ou administrativas, que podem ser modificadas, mas essa é a pergunta: não devemos ter um Museu Nacional? A Dama de Elche foi vendida na época, e por caprichos de ordem comercial terminou neste museu". Nem esse assunto nem outros causam dor de cabeça no diretor do Museu Arqueológico, que hoje comemora os dados extraordinários de visitantes depois de sua restauração. Ele está consciente dos debates internacionais sobre as devoluções de obras de arte e sabe que "são complexas as legislações e as reclamações". E acrescenta: "É preciso perguntar-se se é necessário reescrever a história. Devolver tudo a esses países que reclamam o que esteve em seu solo gera uma enorme complexidade".
Vicente Todolí, que foi diretor da Tate Modern e hoje promove museus na Europa, chama a atenção para os monumentos que foram retirados de seu contexto. "Ao ser instalados em outro lugar, desgastados ou incompletos, perdem sua razão de ser. No caso da Dama de Elche, não há contexto; se fosse possível fazer escavações no lugar onde foi encontrada, se fosse possível lhe fazer uma espécie de geografia própria, então teria sentido devolvê-la... O que se pode fazer, neste e em outros casos, é emprestar as obras ou os monumentos, devolvê-los ocasionalmente, fazê-los viver no lugar de onde vieram." É preciso ir caso a caso, diz Todolí. "Neste momento no mundo não se pode generalizar, nem é bom nem é justo, como ocorre com todas as generalizações. Por exemplo, os obeliscos egípcios, o que fazem devolvendo um, se há mais lá de onde procedem?"
É preciso levar em conta também como essas obras de arte chegaram a outros países. Foram consequência de uma guerra, de um roubo, de um saque militar, de um espólio de qualquer tipo? E depois aplicar as legislações vigentes. E certamente o senso comum. "A arte e a cultura devem ser promovidas por acordos e consensos, senão se perderia criatividade e os países seriam tão planos quantos sua cultura."
Mayor Zaragoza diz algo parecido. Quando ele chegou à Unesco, estudou esse fenômeno dos espólios. "A primeira coisa que observei é que a humanidade deve viver em harmonia e concórdia, e deve preservar aquilo que torna a vida mais bela. A Unesco havia promovido em 1972 a declaração de lugares Patrimônio da Humanidade. Depois Melina Mercouri, uma grande mulher, promoveu no México que além desses patrimônios materiais da humanidade houvesse declarações de patrimônio cultural. Depois veio a declaração da paisagem como Patrimônio da Humanidade, e finalmente surgiu a ideia dos patrimônios imateriais, entre os quais foi providencial a intuição do romancista Goytisolo."
Essa espécie de cordão cultural e paisagístico transformou a Unesco, a partir de várias decisões ou convênios, no vigilante universal dessa harmonia a que aspira. "E o mais importante que se conseguiu nesse trajeto é a realização de um patrimônio misto, uma mescla de cultural e natural; por exemplo, agora deveria estar nesse capítulo a paisagem extraordinária de Las Alpujarras, em Granada, um conjunto de povoados fantásticos pendurados na Sierra Nevada."
A Espanha também colonizou. "E, apesar da lenda negra, construiu nos países em que seus descobridores se estabeleceram. Não ocorreu o mesmo com Napoleão e outros colonizadores, como se sabe. Napoleão levou coisas do Egito, de Portugal, da Espanha e não deixou nada por onde passou... É verdade que os espanhóis saquearam o ouro, as minas, mas deixaram conjuntos urbanos, edifícios que são maravilhas em Quito, em partes do México, em Cartagena de Índias, em tantos países e lugares..."
Pensemos no Obelisco, como símbolo dos espólios. Deve ser devolvido? Milagros Del Corral afirma que "o caso do Obelisco não é novo. O Egito e Roma têm tanto que reclamar, por exemplo... Mas passaram tantos anos que agora seria melhor chegar a acordos de intercâmbios de peças, do que devolver a seus locais originais monumentos que já parecem das ruas ou dos lugares em que estão implantados... Como se, no caso do Obelisco, fosse patrimônio da França".
E, falando em Napoleão, lembra a ex-diretora da Biblioteca Nacional, "ele foi o perito número 1 em bens culturais, porque onde pôs o olho levou o melhor. Veja o que sucedeu em sua invasão espanhola. Um de seus militares de grau médio levou, no meio do incêndio da biblioteca, um códice do Monastério de Alcântara. O manuscrito chamou sua atenção e ele o levou a Paris. E esse códice continha um tesouro: as receitas que os monges haviam elaborado com aquilo que mais gostavam de tudo o que haviam provado em suas pesquisas culinárias, a que se dedicavam com tanto interesse. O salgado e o doce, tudo pesquisavam. Foi isso que o militar napoleônico levou."
E o que havia nesse receituário? "Verdadeiras delícias que hoje fazem parte do receituário francês. Ali estava, por exemplo, o modo como se devia preparar o fígado das aves. Vá dizer agora aos franceses que foram os monges de Alcântara que inventaram o 'foie gras'. Muito do que hoje faz parte do patrimônio culinário francês procede desse livrinho."
A história do espólio internacional é tão grande quanto a própria história, e conta com esses elementos, entre os quais estão o Obelisco ou o códice do qual nasce a cozinha francesa, segundo a curiosa história contada por Milagros Del Corral. Certamente foi ela quem, em função de seu cargo, foi recolher na Austrália um mapa valiosíssimo que um falso pesquisador arrancou da Biblioteca Nacional... tão fácil de transportar quanto aquele códice que hoje parece tão imaterial quanto o ar, mas que simbolizou em sua época a avidez dos que acreditavam que tudo o que pudessem levar no bolso era tão livre quanto o ar de Jemaa el Fna.

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Cada vez que Muean Chimoon sai de sua casa de madeira no norte da Tailândia, presta homenagem a um retrato do rei Bhumibol, uma figura patriarcal e antigo símbolo da união nacional.
"Temos um rei que ama todo mundo", disse Muean, motorista de ônibus aposentado que exala a famosa alegria despreocupada do interior da Tailândia.
Mas quando a conversa gira para a política o sorriso de Muean desaparece. Ele critica a "arrogância" dos manifestantes em Bangcoc que querem derrubar o governo, que tem apoio avassalador no norte e no nordeste do país.
"Bangcoc sempre quis escolher seu próprio primeiro-ministro", disse Muean. "Eles não se importam com o que as pessoas do norte pensam - só se importam com eles mesmos."
A Tailândia é a terra dos tais, é claro - mas também dos lanna, lao, mon, malay, khmer e chineses, entre outros grupos étnicos que formaram o país ao longo de séculos. Com oito anos de crise política sobre a influência da família da primeira-ministra, algumas dessas identidades étnicas estão voltando à superfície. As divisões políticas da Tailândia seguem aproximadamente os contornos de antigos reinos e principados, reacendendo antigos impulsos de maior autonomia de Bangcoc.
"Nunca vi este país tão dividido", disse Ponganand Srisai, membro do conselho local de Baan Nong Tun, uma aldeia de cultivo de arroz no nordeste.
Faixas penduradas sobre as estradas no norte pedindo a secessão foram das expressões mais radicais da amargura do norte em relação a Bangcoc. O reino de Lanna, no norte, que inclui Lamphun, foi anexado por Bangcoc em 1899, e durante décadas sua população falou um dialeto diferente do tailandês oficial, promovido pelo governo central. Na época da anexação, a região tinha sua própria língua escrita, que usava um alfabeto diferente do tailandês.
Houve propostas menos radicais de devolução dos poderes centralizados pelo governo.
Um grupo de estudiosos e associações do governo local, a Rede do Povo para uma Administração Autogovernante, apresentou um projeto ao Parlamento no ano passado pedindo a administração mais autônoma das províncias.
"Propomos que o poder seja reestruturado", disse o grupo em um comunicado no mês passado. Entre as propostas, que ainda não foram analisadas pelo Parlamento, os governadores de províncias seriam eleitos diretamente e mais impostos seriam coletados e gastos localmente. O grupo diz que Bangcoc "não tem conhecimento ou despreza as diferenças das identidades locais".
Tanet Charoenmuang, um proeminente comentarista e defensor da maior autonomia do norte da Tailândia, diz que os setentrionais percebem as instituições do governo como favoráveis à capital, às custas das províncias.
"A injustiça ajudou a fertilizar a localização", disse Tanet. "A Tailândia tem sido um Estado supercentralizado, e uma sensação de localismo está ressurgindo silenciosamente."
Grande parte da atração da primeira-ministra Yingluck Shinawatra e sua família no norte é que eles vêm tentando reenfocar os recursos e a atenção do governo para as áreas rurais nos últimos anos, cimentando a lealdade dos aldeões. Esse impulso começou sob a liderança de seu irmão, Thaksin Shinawatra, primeiro-ministro que foi deposto em um golpe apoiado pelas elites de Bangcoc, o antecedente para o atual impasse.
Os defensores do governo dizem que o discurso secessionista é uma medida de seus sentimentos de frustração, mas muito poucos o estão levando a sério nesta altura. Mas a ideia de separação parece ter sido levada muito a sério pelo exército, que prometeu investigar e processar qualquer pessoa que defenda a divisão da Tailândia.
A construção da Tailândia moderna foi um processo doloroso e às vezes sangrento, que levou séculos, mas se acelerou no último século.
As línguas e os dialetos locais foram proibidos nas escolas. Líderes autoritários mudaram o nome do país de Sião para Tailândia e criaram o que hoje são ícones como uma espécie de cola nacionalista para o país. O macarrão frito "pad thai", tão comum nos restaurantes tailandeses, foi introduzido pelas autoridades como prato nacional. O governo também promoveu o uso de uma saudação, "sawasdee", que é usada em todo o país. Decisões sobre tudo, desde a nomeação do clero budista até a arquitetura dos tempos tailandeses, foram transferidas das províncias para Bangcoc.
Mas talvez o mais importante para a formação de uma identidade tailandesa tenha sido o longo reinado de Bhumibol, que foi coroado em 1950. O rei hoje está idoso e sua ausência da vida cívica - ele não comenta publicamente as tensões políticas há vários anos - aumenta a sensação de que o país perdeu o leme.
Três governos apoiados por eleitores do norte e do nordeste foram destituídos desde 2006, um deles - o de Thaksin - por um golpe militar e dois em julgamentos em tribunais altamente politizados. Nos últimos cinco meses, manifestantes em Bangcoc exigiram a derrubada do governo e uma redução da influência do clã Shinawatra, que é da cidade de Chiang Mai, no norte.
A perspectiva de que um quarto governo eleito democraticamente possa ser removido pelos tribunais nas próximas semanas foi vista com uma ira fervilhante em aldeias em todo o norte e nordeste. Líderes de protestos chamam os apoiadores do governo de "búfalos", insulto que conota a ignorância do interior.
Ponganand, membro do conselho local do nordeste, descreve os sulinos, que em certos dias constituem o grosso dos manifestantes em Bangcoc, de "extremistas".
Boontham Kaewkard, um entalhador de madeira, disse que está pronto para enfrentar as forças antigoverno se removerem a primeira-ministra. Mas riu ao falar em secessão. "É uma ideia maluca", disse. "A Tailândia deve continuar sendo a Tailândia."
Mas de um ponto de vista político o mapa eleitoral tailandês já mostra duas Tailândias: o norte votou constantemente no partido do governo nas últimas eleições, enquanto o sul votou contra o partido ou obstruiu as eleições, como fizeram manifestantes em fevereiro. Os dois lados advertem sobre a guerra civil se as tensões aumentarem.
Seguidores do governo dizem que uma sensação de solidariedade surgiu entre o norte da Tailândia e o vasto planalto de Isaan, no nordeste, onde a língua materna, uma forma de lao, é semelhante à língua lanna do norte.
Chalida Chusirithanakit, uma farmacêutica do nordeste, diz que a atual rodada de protestos instigou "um verdadeiro sentido de orgulho de pertencer ao povo isaan", especialmente entre os defensores do governo, chamados de camisas-vermelhas.
"Eles sentem que lutaram e foram oprimidos por muito tempo", disse Chalida, que se mudou do norte da Tailândia para Isaan há quase 40 anos.
O apoio a Yingluck e seu partido é tão forte na província de Maha Sarakham que "até um cachorro de camisa vermelha poderia disputar uma eleição e ganhar", disse ela.
 Os camisas-vermelhas realizaram diversas manifestações nas últimas semanas, no que consideram uma mensagem para o "establishment" de Bangcoc, mostrando a força de seus números - e sua disposição a lutar se o governo for derrubado.
Em uma reunião em Chiang Mai no mês passado, um líder dos camisas-vermelhas, Nisit Sinthupai, falou sobre um monge budista que é considerado o santo patrono do norte da Tailândia, Kru Ba Srivichai. O monge, que morreu há 80 anos, é venerado por sua piedade e devoção a seus seguidores.
Mas Nisit enfatizou um lado da vida do monge que não é citado nos livros escolares tailandeses: sua longa e desafiadora luta para usar a língua lanna do norte e sua recusa a ceder às autoridades de Bangcoc, que desejavam restringir sua autonomia - e o prenderam quatro vezes.
Esse desafio era seu "poder", disse Nisit, acrescentando que o norte e o nordeste juntos têm força renovada. "As duas regiões são as principais bases de poder da democracia", disse ele. "Somos a maioria."

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Os diplomatas estão comemorando nos corredores do ministério egípcio das Relações Exteriores. Depois de Londres ter anunciado, no dia 1 de abril, uma investigação sobre as atividades da Irmandade Muçulmana em seu território, Washington decidiu, na quarta-feira (9), inscrever o grupo Ansar Beit al-Makdis no registro das organizações terroristas estrangeiras. A célula, que está ativa desde a destituição do presidente Mohamed Mursi pelo exército em julho de 2013 e estaria baseada no norte do Sinai, reivindicou os principais atentados que abalaram o Egito nos últimos meses.
"É um passo à frente na condenação do terrorismo. Em breve teremos condições de provar as relações existentes entre esse grupo e a Irmandade Muçulmana", afirmou um porta-voz da diplomacia egípcia no jornal do governo "Al-Ahram".
Em dezembro de 2013, a confraria foi classificada como "organização terrorista" pelo governo egípcio. "No entanto, por ora nada prova que a Irmandade Muçulmana tenha optado pela violência armada", relativiza Adel Souleimane, general aposentado, hoje à frente de um think tank especializado em estratégia militar.
No entanto, o Cairo não poupa esforços para ter a adesão dos países árabes e da comunidade internacional à sua luta contra o terrorismo. As embaixadas ocidentais mencionam que está sendo feito um trabalho em todas as direções, ainda que o pedido não tenha sido formulado explicitamente pelas autoridades egípcias. O Ministério das Relações Exteriores afirma estar cooperando e trocando informações com vários países. "Nós forneceremos todos os documentos necessários para que esses países nos ajudem contra o terrorismo", declarou um de seus porta-vozes.
Adly Mansour, o presidente interino, viajou para a cúpula anual da Liga Árabe, no final de março, no Kuait, para levar a mensagem do Egito. Mansour pleiteou reativação da convenção antiterrorista, texto não restritivo e jamais aplicado, ratificado em 1998 por 18 Estados dentre os 22 membros da organização pan-arábica. "Essa iniciativa diplomática não é nova," observa Hicham Mourad, professor de relações internacionais na Universidade do Cairo. "Nos anos 1990, o Egito de Mubarak, que na época era atingido por uma onda de terrorismo, esteve na iniciativa dessa convenção."
A Arábia Saudita foi a primeira a classificar a Irmandade Muçulmana como "organização terrorista" em seu território, no início de março. "Para a família real, a Irmandade Muçulmana representa uma ameaça real, pois ela constitui uma alternativa política séria à monarquia", explica Mourad.
No entanto, com exceção dos Emirados, do Kuait e da Arábia Saudita, que apoiaram abertamente o golpe de Estado militar contra a confraria, é pouco provável que outros países árabes respondam favoravelmente ao apelo egípcio. "Na Tunísia e no Marrocos, a Irmandade Muçulmana é protagonista na vida política", observa o acadêmico. "No início de março, a Jordânia se recusou publicamente a incluí-los em uma lista terrorista."
A questão toda é saber o que a designação "terrorista" inclui. Se do lado de fora o governo egípcio tem praticado um lobby mais ou menos insistente, do lado de dentro de suas fronteiras ele se acelerou, estendendo o campo de aplicação de sua legislação antiterrorista no início de abril. Agora, "atentar contra a unidade nacional", a "ordem pública" e os "sistemas de comunicação" será passível de pena de morte. Essas emendas ao código penal devem ser assinadas em breve pelo presidente interino.
Em um comunicado conjunto, 15 organizações de defesa dos direitos humanos egípcias denunciam a volta de um estado de emergência velado. "Enquanto o governo recorrer à tortura, ao assassinato de opositores e a penas de morte em massa, ele não conseguirá acabar com as ações terroristas", avisam os signatários.

domingo, 13 de abril de 2014


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http://atarde.uol.com.br/bahia/salvador/noticias/centro-de-salvador-e-o-novo-chinatown-1583791
http://vipado.com.br/wp-content/uploads/2014/03/china-oca2.jpg
A Oca traz a exposição “Chinartebrasil“, com 52 artistas chineses e mais de 100 obras expostas! A grande maioria dos trabalhos são inéditos e alguns deles, como é o caso da obra dos artistas Lu Song e Yuang Gong, serão produzidos aqui no Brasil. São pinturas, esculturas, instalações, fotografias, vídeos e performances feitas por nomes que estão no cenário da arte desde os anos 90 e também por artistas de novas gerações. A curadoria fica por conta das historiadoras de arte Ma Lin, de Xangai, e Tereza de Arruda, que é brasileira – a proposta justamente é de estabelecer uma relação cultural entre a China e o Brasil! Na galeria você confere um pouco do que a expô vai mostrar – clica na foto!
Chinartebrasil
11/04 a 18/05, de terça a domingo das 9h às 18h; quintas das 11h às 22h
Oca: Parque do Ibirapuera, portão 3, Vila Mariana, SP
(11) 3105-6118
Entrada: R$ 20 ou R$ 10 (meia)

terça-feira, 8 de abril de 2014


Sins of the Fallen - The Nightstalker #1-4 (2005-2006) Complete

Kaveh Golestan tinha 52 anos quando morreu em um campo minado no norte do Iraque em 2003, enquanto trabalhava como cinegrafista para a BBC.
Muitos jornalistas conheceram Golestan ao longo de sua longa carreira como fotógrafo e cinegrafista, cobrindo conflitos. Ele foi um dos maiores cronistas da revolução islâmica em 1979 que derrubou o xá da Irã, da guerra de quase oito ano entre Irã e Iraque e da matança por gás de 5.000 civis curdos empreendida por Saddam Hussein. Suas fotos da revolução lhe valeram a Medalha de Ouro Robert Capa.
O que poucos sabem é que nos anos anteriores à revolução, quando o Irã, seu país natal, ainda era uma monarquia ocidentalizada, Golestan registrou vividamente em preto e branco a vida cotidiana dos desvalidos do país.
Uma exposição de um de seus temas mais dramáticos -prostitutas confinadas no bairro de Teerã conhecido como Cidadela de Shahr-e No (ou Cidade Nova)- está em cartaz no Foam, o Museu de Fotografia de Amsterdã, até 4 de maio. A coleção completa de 61 imagens fará parte de uma grande exposição de fotos, pinturas e filmes do Irã, intitulada "História Não Editada: Irã 1960-2014", no Museu de Arte Moderna de Paris, de 16 de maio a 24 de agosto deste ano.
A Cidadela era um velho bairro de becos imundos criado nos anos 1920 para abrigar legiões de prostitutas. Nas décadas de 1930 e 1940, foi um antro florescente de sexo e elevada criminalidade. Prostitutas andavam seminuas pelas ruas.
Após o golpe arquitetado pela CIA em 1953 que reconduziu o xá ao poder, as autoridades isolaram a área com muros, transformando-a em um gueto cujos habitantes eram quase exclusivamente prostitutas e seus filhos. Para entrar lá, homens eram obrigados a passar por um portão de ferro.
Nos anos 1970, cerca de 1.500 prostitutas trabalhavam na Cidadela e, em sua maioria, moravam lá. Era comum suas filhas seguirem a mesma profissão e seus filhos se envolverem com drogas. Homens vinham eventualmente atrás de sexo ou para beber, consumir drogas, ver filmes ou apenas passear no local.
No gueto havia um posto de saúde e outro de assistência social, uma delegacia de polícia e uma escola tosca de alfabetização para mulheres e seus filhos. Mas as mulheres sofriam com a pobreza, a violência e a exclusão social.
O trabalho de Golestan, única documentação fotográfica existente da Cidadela, foi mostrado inicialmente no jornal diário "Ayandegan" em 1977. Algumas fotos foram incluídas em um livro com suas fotos do Irã, "Kaveh Golestan 1950-2003: Recording the Truth in Iran" [Kaveh Golestan 1950-2003: Registros da Verdade no Irã], publicado após sua morte.
Golestan tomava notas de tudo o que fotografava e, além das fotos, a exposição no FOAM incluirá excertos de seus diários, recortes de jornais e entrevistas em áudio que ele fez na área e a respeito dela. A Cidadela, segundo ele escreveu, "confina algumas das prostitutas de Teerã dentro de seus muros, como um centro de detenção com celas minúsculas que parecem uma colmeia". E acrescentou: "A vida dos moradores decaiu aos níveis mais baixos da existência humana".
Ele fez amizade com muitas daquelas mulheres, fotografando-as regularmente entre 1975 e 1977. Veem-se vazamentos no teto, colchões puídos, gesso e pintura descascando. O lugar parece exalar um odor de decomposição.
Durante a revolução, multidões incendiaram lugares que consideravam símbolos da decadência, incluindo a Cidadela.
Acredita-se que a maioria das mulheres escapou. Algumas foram presas e executadas por esquadrões de fuzilamento; outras foram detidas e "remoldadas" conforme os princípios revolucionários islâmicos. Toda a Cidadela foi destruída por máquinas de terraplenagem como medida de purificação cultural e, em seu lugar, foi construído um parque com um lago.
"Ao olhar essas fotos com as mulheres a encará-lo, você se sente íntimo delas", comentou Kim Knoppers, curadora da exposição no Foam. "Você perde a noção de tempo e lugar. As fotos tornam-se imagens universais, que repercutem muito em Amsterdã, onde há um famoso bairro de prostituição."
As tiragens originais de Golestan continuaram em seu arquivo no Irã até cerca de dois anos atrás. Vali Mahlouji, curador iraniano radicado em Londres e primo distante da viúva de Golestan, as reuniu para montar um acervo completo da obra de Golestan.
"A missão é resgatar e colocar em circulação trabalhos artísticos que ficaram clandestinos por causa da revolução e das políticas subsequentes", disse Mahlouji.
"Queremos criar um elo entre nossa situação no Irã nos anos 1960 e 1970 e o que aconteceu no país depois da revolução cultural dos anos 1980. Começamos por inserir Kaveh no mapa artístico."

Brothers of the Spear #1-18 (1972)

Os trocados de Yusa Nishimura podem estar minando o plano econômico do primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe. Sempre que pode, Nishimura, 23, guarda moedas de 500 ienes, que valem um pouco menos de US$ 5, numa espécie de livro que facilita sua contagem.
Juntar um pé-de-meia como o de Nishimura fazia sentido num Japão que crescia lentamente, onde durante 15 anos de deflação o dinheiro dela valia cada vez mais com o passar do tempo.
Seus planos de fazer uma extravagância num spa provavelmente ficariam mais baratos se ela esperasse mais.
Mas, na sua luta para tirar o Japão da deflação, Abe está fazendo um chamado aos poupadores, como Nishimura, para que mudem seu modo de pensar -para o bem da economia e também para o seu próprio bem.
Nishimura, como boa parte dos japoneses, não está convencida. "Nunca vivenciei inflação. Não me parece real", disse Nishimura, que trabalha numa empresa de tecnologia em Kobe.
O resultado dessa incerteza poderia ser uma recuperação econômica difícil para o Japão, que tem experimentado certo ressurgimento sob Abe.
Dados recentes apontam para um fraco crescimento econômico no quarto trimestre. O governo disse que a economia tinha crescido ainda mais lentamente do que o previsto, apenas 0,7% no acumulado de um ano, afetada por um consumo ainda menor que o esperado.
Se mais pessoas previssem um futuro de preços e salários em alta, avalia Abe, elas gastariam agora, antes de as mercadorias ficarem mais caras. Para combater a alta dos preços, elas também colocariam seu dinheiro em investimentos de rendimento mais alto. As empresas, confiantes em uma nova era de maiores vendas e lucros, iriam elevar preços e salários. Um grande obstáculo no caminho do Japão, diz Abe, são as atitudes arraigadas. "Não é fácil alterar uma mentalidade de deflação que está em vigor aqui há mais de 15 anos", afirmou o premiê.
No Japão, os preços em geral não sobem desde o fim dos anos 1990. Um Big Mac custa aqui aproximadamente o mesmo que em 1988: cerca de 300 ienes, ou quase US$ 3. O preço de outra opção de fast-food -a tigela de arroz e carne da rede Yashinoya- caiu de 400 ienes no final dos anos 1990 para 280 hoje.
A renda média do trabalhador também diminuiu.
Abe adotou políticas agressivas para pôr fim à deflação. Sua primeira medida, que duplicou a oferta de moeda, já elevou os preços ao enfraquecer o iene e empurrar para cima o custo da energia e dos alimentos importados.
Mas mesmo uma elevação ínfima nos preços foi recebida com perplexidade. As empresas que estão promovendo aumentos demonstram pesar. "Dói realmente em nossos corações anunciar que em breve revisaremos nossos preços", disse a cervejaria Kidoizumi, em Chiba, a leste de Tóquio, num anúncio recente.
O lento avanço no combate à deflação reflete as dificuldades de superar expectativas e comportamentos enraizados, especialmente entre os japoneses mais jovens, que nunca vivenciaram aumentos de preços, disse Taro Saito, economista sênior do Instituto de Pesquisa NLI, em Tóquio.
Gerações mais velhas ainda se lembram dos "choques do petróleo" dos anos 1970, que fizeram os preços no varejo darem um salto e também provocaram a bolha nos ativos do país nos anos 1980. Mais recentemente, eles se lembram de como o Japão caiu na deflação depois que a sua bolha econômica estourou, no início da década de 1990.
Uma pesquisa feita no ano passado pelo governo demonstrou disparidades intergeracionais extremas: famílias chefiadas por pessoas dos 60 aos 69 anos elevaram seus gastos em 2,7%, ao passo que as famílias chefiadas por japoneses com menos de 30 reduziram-nos em 0,8%.
Alguns economistas estão começando a questionar se os obstáculos para derrotar a deflação estão nas políticas de Abe, não entre os consumidores.
No restaurante Manrai, adorado pelos moradores de Tóquio por sua sopa de porco e alho-poró -e pelo antigo compromisso com os preços baixíssimos-, o ambiente era de consternação quando os preços recentemente subiram pela primeira vez em mais de duas décadas, de 200 para 250 ienes.
"Não acredito", disse Ryo Bobayashi, funcionário de uma agência de recrutamento. "Se os preços começarem a subir em todo lugar, não poderei mais comer fora de casa."
O Manrai elevou os preços não por estar confiante no futuro das vendas, mas porque estava sob a pressão dos custos mais altos.
Em vez de dar início a um renascimento da economia, essa inflação "empurrada pelos custos", como os economistas a definem, poderá se tornar uma crescente ameaça aos japoneses aferrados a uma mentalidade deflacionária. Eles poderão ver suas economias serem corroídas, alertou Yukio Sakurai, analista de moradia em Tóquio.
As opções que faziam sentido durante a deflação -alugar, por exemplo, em vez de comprar- poderão sobrecarregá-los com custos cada vez maiores e barrar seu acesso a quaisquer benefícios de uma economia mais forte.
"Os japoneses mais jovens precisam mudar agora sua mentalidade ou ficarão para trás", disse Sakurai. "Eles fariam bem em conversar com os pais e avós."

domingo, 6 de abril de 2014



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Game of Thrones





http://news.nationalgeographic.com/news/energy/2014/04/140402-fukushima-return-radiation/


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A cerveja Kirin Ichiban Shibori tem 10% mais lúpulo. A rival Asahi Super Dry diz ter um sabor mais acentuado devido a um "gerenciamento de levedura" de alta tecnologia. Em outra gôndola do mercado, a novidade é um molho curry mais saudável, com menos óleo e calorias.
O lançamento acelerado de produtos e a reformulação de antigos são algumas das saídas das empresas japonesas para se proteger do aumento do imposto sobre consumo que começa a valer hoje.
O aumento do tributo (de 5% para 8%) acontece simultaneamente a um raro surto de inflação. E, para um país acostumado a deflação desde os anos 1990, esse incentivo duplo para o aumento de preços é um choque não só psicológico como financeiro --e que exige a criatividade dos publicitários.
"Há vários produtos que serão lançados neste mês para que as pessoas não se deem conta de que os preços estão subindo", diz Naoko Miyagawa, da Hakuhodo, a segundo maior agência de publicidade japonesa.
Miyagawa faz parte de uma equipe que está aconselhando as empresas sobre como lidar com a alta do tributo, que deve afetar os gastos dos consumidores.
A mudança nos tributos faz parte da política expansionista promovida pelo primeiro-ministro Shinzo Abe, conhecida como Abenomics, e visa reduzir a dívida publica, que supera os 200% do PIB da terceira maior economia global.
A última vez que o governo japonês tinha aumentado esse imposto foi em 1997, quando teve início uma profunda recessão e cujos efeitos são sentidos até hoje: o período de crise deu início ao processo deflacionário que Abe tenta encerrar agora.
A expectativa é que, com a alta do tributo, a inflação no Japão supere os 2% (o índice anual chegou a 1,3% em fevereiro, no nono mês seguido de aceleração dos preços).
A inflação japonesa ficou acima de 2% pela última vez em 1991, ou seja, há toda uma geração que não conheceu aumento tão forte e isso tem reflexo no mundo publicitário.
"Muitas empresas se acostumaram a fazer campanhas para deflação", afirma Toshihiro Tsujita, que também trabalha na agência Hakuhodo. Ele cita o exemplo da proliferação de alternativas à cerveja --bebidas com pequenas mudanças na receita para pagar menos tributos que o fermentado tradicional. "Agora que os preços estão subindo, elas precisam oferecer mais qualidade para deixar feliz o consumidor", diz Tsujita.
Porém Yoshiyuki Sodegawa, pesquisador do Instituto de Inovação Dentsu, diz que o consumidor está preparado para descobrir se a oferta é apenas uma estratégia, e não uma mudança real.
"A era da deflação deixou os consumidores muito atentos. Para muitos, encontrar um bom negócio é praticamente um hobby."


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Por 10 dias, Monica R. Kelly e seus advogados de aviação de um escritório de direito americano perambulam pelos corredores escuros do Lido Hotel para falar com os parentes dos passageiros a bordo do desaparecido voo 370 da Malaysia Airlines. Eles dizem às famílias que um tribunal nos Estados Unidos poderia potencialmente conceder milhões de dólares por passageiro em um processo contra a Boeing, que produziu o avião, um 777-200. Em uma suíte do hotel, Kelly usa um modelo de um Boeing para mostrar às famílias como o avião pode ter apresentado falha de funcionamento.
"Não é uma questão sobre se as famílias serão indenizadas", disse Kelly recentemente. "É uma questão de quanto e quando". Mas ela reconheceu que o voo 370 é um caso particularmente difícil. "Nós já trabalhamos em mais de 43 acidentes aéreos", ela disse, "mas nunca houve uma situação como esta".
Complica as perspectivas de um processo contra a Malaysia Airlines, Boeing ou outras partes envolvidas o mistério em torno do desaparecimento do avião após ter partido de Kuala Lumpur, a capital da Malásia, a caminho de Pequim em 8 de março. Ninguém pode dizer com certeza que o avião caiu, apesar do governo malasiano ter afirmado que dados por satélite mostram que o voo "chegou ao fim" no sul do Oceano Índico. Os esforços internacionais de busca ainda não encontraram destroços.
Mesmo assim, a pressa é para assegurar a indenização para as famílias dos 227 passageiros do voo, cerca de dois terços deles chineses. As seguradoras chinesas já fizeram pagamentos para alguns parentes. Além disso, as famílias podem esperar receber indenização da Malaysia Airlines, devido às garantias em um tratado internacional. Elas também podem optar por processar a companhia aérea por mais danos, ou processar a Boeing ou algum fabricante de componente. Qualquer processo poderia levar anos para ser concluído.
 A firma de Kelly, a Ribbeck Law, entrou duas vezes na Justiça em Chicago, onde ela está baseada, para forçar a Boeing a divulgar mais informação, mas ambos os pedidos foram rejeitados. A Ribbeck Law enviou seis funcionários para Pequim e seis para Kuala Lumpur, onde as famílias dos passageiros estavam reunidas em hotéis. Firmas concorrentes também estão contatando as famílias. "O próximo passo é conseguir os pagamentos do seguro, não processos", disse James Healy-Pratt, um sócio e chefe do departamento de aviação da Stewarts Law, com sede em Londres.
Algumas famílias chinesas estão relutantes em entrar imediatamente com processos ou em aceitar o pagamento que as companhias aéreas geralmente fazem em caso de um acidente aéreo, como ordenado pela lei internacional na Convenção de Montreal. Muitas se recusam a aceitar que os passageiros estão mortos e insistem que o governo malasiano está orquestrando um acobertamento elaborado. Wang Lee, cuja mãe estava no voo 370, disse que está começando aceitar sua morte, mas que "ainda não é hora para indenizações". "Falar sobre processos ou coisas assim – nós ainda nem sabemos onde está o avião", ele disse.
Algumas das famílias do voo 370 estão aceitando os pagamentos do seguro como um primeiro passo. A China Life Insurance Company, a maior delas na China, disse em seu site que tinha 32 clientes no voo e já pagou US$ 670.400 na cobertura de sete deles até 25 de março. Ela afirmou ainda que o pagamento total para todos os clientes seria próximo de US$ 1,5 milhão. Pelo menos cinco outras seguradoras chinesas também efetuaram pagamentos.
Como a Malaysia precisa cumprir a Convenção de Montreal, as famílias também têm direito a uma indenização mínima de até US$ 174 mil por passageiro. A companhia aérea ou sua seguradora pode tentar persuadir uma família a não concordar em processar em troca do pagamento. Mas os advogados desencorajam as famílias a assinarem essas renúncias de direito (os tripulantes costumam não estar cobertos pelo tratado, mas suas famílias podem obter indenização aos funcionários e entrar com processo).
Os pagamentos são feitos por um consórcio de companhias que são conhecidas como resseguradoras. Neste caso, a principal empresa é a Allianz Global Corporate and Specialty, parte da Allianz da Alemanha. A empresa disse que ela e outras resseguradoras já começaram a efetuar os pagamentos.
Dois anos após outro mistério da aviação, a queda de um Airbus da Air France no Atlântico em 2009, um juiz francês determinou que o pagamento obrigatório da companhia aérea, segundo a Convenção de Montreal, seria de 126 mil euros por passageiro. A Air France diz que já chegou a acordos extrajudiciais confidenciais com a maioria das famílias dos passageiros a bordo daquele voo. As famílias que aceitaram o acordo não podem buscar um ressarcimento adicional, mesmo se a investigação criminal francesa levar a um julgamento e uma indenização seja ordenada pelo juiz. A Airbus não realizou nenhum pagamento e só o fará se for legalmente obrigada pela Justiça.
Os valores concedidos em processos ligados ao voo 370 podem variar de acordo com a jurisdição do processo. Os tribunais americanos oferecem aos querelantes uma melhor chance de obtenção de acordos multimilionários, disseram vários advogados de aviação. Esses tribunais dão maior valor econômico às vidas individuais do que os tribunais em outros países, e também impõem regularmente danos punitivos às empresas. As jurisdições para os processos são ditadas pela Convenção de Montreal.
O máximo que um tribunal chinês concedeu aos querelantes em um acidente aéreo fatal foi de cerca de US$ 140 mil por passageiro, em um episódio envolvendo a Henan Airlines em 2010. Zhang Qihuan, um advogado que está conversando com os parentes dos passageiros do voo 370, disse que um tribunal provavelmente não concederia mais que isso em qualquer acidente, para evitar estabelecer precedente. Mas ele disse que as famílias podem chegar a um valor extrajudicial muito maior se concordarem em ficar em silêncio.
Alguns advogados dizem que é cedo demais para começar a discutir processos, pois há evidência insuficiente para estabelecer o motivo do desaparecimento do avião. Análise forense dos dados de voo e das gravações de voz da cabine – as caixas pretas – ou dos destroços do avião poderiam ajudar a sustentar um caso. As autoridades malasianas não acusaram ninguém de nada.
Robert A. Clifford, um advogado de acidentes aéreos de Chicago, disse que foi contatado por um colega do Texas que alegava falar em nome de uma família do voo 370. Mas ele enfatizou que ninguém deve se apressar em um processo. "Não é preciso entrar com um processo por reflexo", ele disse. "Trata-se de um procedimento, não um evento, e é uma corrida que nem sempre é vencida pela pressa".
As autoridades malasianas e a Malaysia Airlines estão se preparando para as consequências legais e financeiras do desaparecimento do voo. Hishammuddin Hussein, o ministro da Defesa da Malásia e ministro dos Transportes em exercício, disse na semana passada que o governo pediu ao ministro da Justiça do país que começasse a avaliar as implicações legais da perda do avião. O presidente-executivo da Malaysia Airlines, Ahmad Jauhari Yahya, disse aos repórteres na semana passada que a empresa começou a discutir indenização com os parentes e com "várias partes legais".
A Malaysia Airlines ofereceu US$ 5 mil a cada família para ajudá-las a lidar com os problemas financeiros imediatos, incluindo as despesas com viagem. A companhia aérea disse na segunda-feira que conta com cobertura de seguro adequada para atender "todas as despesas razoáveis" que possam resultar da perda do avião.
Kelly, a advogada, disse que as famílias nunca acreditam que dinheiro possa compensar por sua perda. Mas em um de seus casos, ela disse, o marido morreu durante um voo com a amante, e "a esposa ficou feliz em receber o dinheiro".