quinta-feira, 29 de abril de 2010





LUNA

Pavarotti deu o pontapé inicial. Na ocasião em que fez um concerto em 1986 para uma multidão de 10 mil chineses no Grande Auditório do Povo em Beijing, o tenor expressou um único pesar, de que “a capital do país mais populoso do mundo não tivesse um teatro de ópera à altura”.
Levou apenas alguns anos para corrigir isso. Os teatros de ópera ocidentais se espalharam por toda a china, destacando-se o Centro Nacional para Artes Performáticas na praça Tiananmen, a bolha de vidro e titânio de US$ 350 milhões de Paul Andreu com seu teatro de 1.416 lugares comparável a qualquer outro na Europa ou nos EUA.
Na China, a cultura ocidental dos espetáculos se adequa a uma classe média que usa Prada e lê a Vogue. Essas mesmas pessoas querem que a ópera seja cara, exótica, “de marca” - de Maryinsky ou La Scala.
Produções locais não fazem tanto sucesso, deixando poucas oportunidades para os cantores dos nove principais conservatórios chineses e uma série de escolas particulares. Eles são obrigados a olhar para o exterior. E os cantores chineses de fato estão abrindo caminho na cena europeia e norte-americana.
O país ainda tem que produzir um Pavarotti ou Renne Fleming, mas nomes como Hang Jiang Tian, cantor regular da Metropolitan Opera, ou Liping Zhang – um aclamado Liu e Madame Butterfly no Royal Opera – aparecem frequentemente. Hoje todos os olhos estão em He Hui, uma soprano dramática nascida em Xian que cantou Tosca no La Scala em 2007 e cantará Aída no Met em 26 e 31 de março. A pessoa que vem apoiando a carreira de muitos dos principais cantores de ópera chineses é Zhou Xiaoyan, de 93 anos. Filha de um rico banqueiro de Wuhan que fez amizade com o premiê chinês Zhou Enlai e eventualmente deu a maior parte de sua fortuna para os comunistas, “Madame Zhou” foi levada à elite privilegiada de Xangai dos anos 30, quando a vida musical era dominada por russos e judeus. Ela frequentou uma escola católica italiana e em 1936 entrou para o Conservatório Nacional de Música, que mais tarde se transformaria no Conservatório Xangai.
Quando seu professor declarou que sua voz era “muito gutural”, Zhou decidiu treinar na Europa, entrando primeiro na Ecole Normale em Paris e depois no Conservatoire de Russos, na cidade, que na época era coordenado por Nikolai Tcherepnin, pai do compositor Alexander, cuja mulher era chinesa e colega de Zhou. Lá ela desenvolveu uma coloratura lírica como a de um sino, com uma pureza de tom ideal para papeis como Gilda no “Rigoletto” de Verdi e Lakme no trabalho homônimo de Delibes. Mas, diz ela, “como a China não tinha ópera na época”, ela dedicou-se a um repertório de concertos que incluíam músicas de Faure e Debussy.
Depois da guerra ela ficou na Europa, dando recitais em Luxemburgo, Paris e Londres. Convidada para cantar no primeiro Festival de Praga em 1946, ela conviveu com músicos como Shostakovich, David Oistrakh, Leonard Bernstein e Sviatoslav Richter e ganhou o apelido de “rouxinol chinês”. Em 1947, entretanto, seu pai pediu que ela voltasse a Xangai.
“A cidade estava num estado de tumulto chocante”, diz Zhou. “Os japoneses havia saído, mas o Kuomintang dominava a cidade. A pobreza estava por toda parte e havia muita violência”. Isso durou até uma noite fatídica em 1949, quando ela se lembra dos “soldados de chapéus de palha e uniformes amarelos que tomaram as ruas de fora” enquanto as forças comunistas entravam na cidade.
Ela conheceu Zhou Enlai durante a primeira conferência de literatura e arte do novo regime, em 1949. “Fiquei emocionada por ele se lembrar do meu irmão, que morreu lutando contra os japoneses”, disse. “Pedi desculpas por não ter feito nada pela revolução”, ao que ele respondeu: “Não importa quando você se junta à revolução. O mais importante é que você está do lado do povo.”
Durante os dez anos seguintes, foi exatamente do que Zhou fez, apresentando-se em fábricas e portos e participando de turnês oficiais na Polônia, Índia, Coreia do Norte – e, é claro, na União Soviética, onde compositores como Shostakovich e Khachaturian eram a favor de Xangai.
Um dia em 1965, entretanto, Zhou chegou a Conservatório Xangai saqueado e encontrou seu nome escrito em letras grandes e riscado com tinta vermelha.
“Reclamei que eu não era diretora do conservatório”, diz ela, “e eles me acusaram de atividades contrarrevolucionárias”.
Zhou e seu marido foram enviados para as províncias para cuidar de porcos e galinhas, e só voltaram em 1970.
O dia em da morte de Zhou Enlai foi “um dia sombrio”, mas ela nunca perdeu a fé de que “o povo chinês não iria permitir que quatro pessoas conseguissem destruir nossa cultura”. No final daquele período sombrio, ela se encheu de alegria ao ver que a Gangue dos Quatro, uma facção política composta de quatro funcionários do Partido Comunista que haviam ganhado importância durante a Revolução Cultural, havia sido considerada corrupta.
Mesmo assim, ela se mostra imparcial em relação à Revolução Cultural. “É claro que foi difícil. Eu tive que perceber que conhecia muito pouco sobre o meu país. Foi quando aprendi o que é ser chinês – antes eu era muito cosmopolitana”, diz ela com um sorriso.
“Não foi tão brutal. Zhou Enlai não podia me ajudar diretamente, mas de certa forma acho que ele protegeu minha família, que estava na maioria em Beijing. Os guardas vermelhos nunca foram à casa deles.”
O retorno da ópera começou com a abertura de Deng Xiaoping. Percebendo que os cantores chineses precisavam de treinamento não só no canto mas no trabalho em conjunto, línguas, análise estilística e preparação musical, Zhou montou seu centro de ópera de elite, o Centro de Treinamento para Cantores de Ópera Zhou Xiaoyan Young, no quarto andar de um bloco mais afastado do Conservatório de Xangai.
Isso foi em 1988. No ano seguinte, o “Rigoletto” em chinês foi produzido pelo governo de Nanjing, que apoiou um festival local e a orquestra. O centro de Zhou forneceu os solistas. Um programa de intercâmbio estabelecido entre o Conservatório de Xangai, a Ópera de Xangai e a Ópera de San Francisco resultou na primeira produção em língua original do “Romeu e Julieta” de Gounod em 1996, seguida por “Carmen” de Bizet um ano depois com Wei Song, aluno de Zhou, como Don Jose.
Em 1998, o Grande Teatro de Xangai, o primeiro auditório requintado de ópera do país, foi inaugurado com uma montagem de “Aída” de Florença. Todas as três óperas foram produzidas pelo jovem magnata chinês Bonko Chan. Quando ele foi preso por corrupção em 2001, a capacidade da cidade produzir óperas parecia enfraquecida.
Entretanto, naquela época seus cantores começaram a buscar coisas fora. Um de seus alunos mais talentosos, o tenor Jianyi Zhang, ganhou a competição Belvedere em Vienna e depois disso cantou o Fausto e Des Grieux no Metropolitan Opera com James Levine. Liao Changyong, vencedor do prêmio de ópera Placido Domingo em 1997, juntou-se a Domingo em “Il Trovatore” em Tóquio e em Washington, sob a regência do tenor. Nascido na província rural de Chengdu, ele também fez sucesso na Opera da Cidade de Nova York como Ezio em “Attila” em 2001.
Atualmente o barítono mais famoso da China, Liao divide seu tempo entre compromissos de ópera – incluindo Rodrigo em “Don Carlo” em 2008 e “Rigoletto” no ano anterior em Xangai – e a coordenação do departamento vocal do conservatório. Liao chegou até Zhou quando era um rapaz tímido do interior, diz ela, “sem saber inglês e com uma voz seca e fina. Ele ouvia CDs incessantemente e havia aprendido árias como um papagaio. Mas ele era entusiasmado e inteligente, e logo começou a demonstrar sua individualidade.”
Guanqun Yu, a última descoberta de Zhou, superou inúmeros outros cantores ao ganhar a competição Belvedere de 2008, com uma apresentação poderosa que incluiu uma ária de “Manon Lescaut” de Puccini. Guanqun foi chamada para cantar uma ópera de Mozart na Itália.
As competições proliferaram na China e são vistas por muitos como o caminho para seguir adiante. A incansável Zhou trabalha para ter certeza que eles estão bem preparados e não iludidos.
Outra aluna do conservatório, a soprano de 22 anos Fang Ying acabou de receber o prêmio máximo no Golden Bell Award, uma competição nacional de canto em Guangdong, com a coloratura “Da Tempeste” do Julio César de Handel, uma escolha corajosa uma vez que o compositor quase não teve nenhuma exposição na China.
“Handel dá a oportunidade de inventar vocalmente, então adoro embelezar e decorar e colocar personalidade na música”, diz a soprano, que vem da província de Zhejiang. “Madame Zhou me ajudou a encontrar a confiança para fazer isso.”

domingo, 18 de abril de 2010

ENCONTROS DO CEO

23/O4, SALA 500C, 13:00




BANGALÔ DA MICHIKO

A cidade de Sialkot no Paquistão produz até 60 milhões de bolas de futebol costuradas à mão durante um ano de Copa do Mundo. As empresas aqui estão ficando sem novos funcionários desde que o trabalho infantil foi abolido. Os compradores ocidentais podem ter a consciência tranquila, mas as crianças de Sialkot agora trabalham à exaustão nas olarias locais.
O vilarejo é cercado por plantações verdejantes. Chaminés vermelhas das fábricas de tijolos, com suas pontas escurecidas pela fuligem, projetam-se no céu. Prédios compridos e em ruínas são pontilhados de janelas parecidas com ameias [pequenas aberturas nas muralhas dos castelos]. Eles parecem celeiros ou depósitos de grãos.
Em uma dessas casas em Sambrial, a poucos quilômetros de Sialkot, na fronteira do Paquistão com a Índia, Shaukat está sentado numa cadeira baixa próximo de outros 20 homens. Ele tirou suas sandálias e as colocou perto da cadeira. Em março, é quente o suficiente para trabalhar descalço. Shaukat é um homem forte de 20 anos. Ele trabalha para a fábrica independente Danayal há oito anos. A Danayal produz bolas de futebol feitas à mão para as ligas profissionais.
Num canto da sala há uma velha televisão transmitindo um jogo de futebol, mas os homens não prestam nenhuma atenção, enquanto costuram e conversam. Eles acham o críquete bem mais interessante. A maioria deles nunca jogou futebol. Mas Shaukat está contente com o fato de que milhões de pessoas em todo o mundo gostam de futebol – talvez não no Paquistão, nem em toda a região do sul da Ásia, mas sim no resto do mundo. Esse amor global pelo esporte bretão foi responsável pelo sustento de Shaukat durante anos. Na entrada da fábrica há um quadro de avisos mostrando as quantias pagas. Dependendo do modelo, o empregador paga entre 55 e 63 rúpias paquistanesas por bola (US$ 0,65 a US$ 0,75). “Num dia bom, consigo fazer seis bolas”, diz Shaukat. São oito horas de trabalho. “Não é muito dinheiro”, diz enquanto força a agulha através do grosso couro sintético e costura dois pedaços juntos. Seu chefe está parado ali perto, então ele logo acrescenta: “Mas também não é pouco”. Ele recebe o dinheiro todo sábado e tem de alimentar uma família de seis pessoas com seu salário.
Em média, as pessoas de Sialkot ganham US$ 1.370 por ano, duas vezes a média nacional, graças ao setor de bens esportivos. Fabricantes de instrumentos cirúrgicos, itens de couro e instrumentos musicais também contribuem para a prosperidade da cidade. Todas as bolas e bisturis manufaturados aqui são exportados. Políticos e executivos examinaram os mercados estrangeiros e adotaram os padrões ocidentais. Cerca 500 mil pessoas moram aqui – 3 milhões considerando a zona metropolitana – e a maioria delas têm orgulho de si mesmas e de sua cidade. As ruas são melhores e os carros mais novos que nas outras regiões do Paquistão. Sialkot tirou vantagem da globalização.
Há uma montanha de bolas de futebol brancas empilhadas na sala ao lado. O material – para cada bola, são 20 retalhos hexagonais e 12 pentágonos de couro sintético, além da câmara e da linha – é fornecido pela companhia Forward Sports. Toda noite um caminhão chega para coletar as bolas confeccionadas. No momento, a Forward Sports é a maior produtora de bolas feitas à mão de Sialkot. Ela fornece para mais de 100 oficinas de costura como a Danayal. Ela vende as bolas para a companhia esportiva alemã Adidas por 5 a 10 euros por bola, ninguém aqui quer revelar qual é o preço exato. A Adidas tem contratos de fornecimento com outras companhias em Sialkot além da Forward Sports.
É um longo caminho desde as oficinas de costura em Sialkot até os campos de futebol profissionais da Europa e da América. Em primeiro lugar há os terceiros – fábricas de costura, oficinas de fundo de quintal, pessoas que trabalham por conta própria. Acrescente a isso as firmas de transporte, as alfândegas, as gigantes de artigos esportivos, o setor publicitário, as lojas de material esportivo e as lojas de departamentos. Essa cadeia transforma uma bola de 63 rúpias num produto que custa mais de 100 euros. Todos querem uma fatia. E alguém precisa pagar milhões de euros para os astros do futebol, os caros garotos-propaganda das marcas esportivas.
A demanda por bolas de futebol é enorme, especialmente nos anos de Copa do Mundo. Desde meados dos anos 80, a cidade de Sialkot tem sua própria alfândega, o que significa que os fabricantes não precisam transportar seus produtos para o porto de Karachi. Eles chamam o centro de carregamento de “porto seco”. No ano passado a cidade inaugurou um aeroporto moderno para permitir que os executivos da Adidas, Nike, Pumma and Co voassem direto para Sialkot e recebessem os carregamentos mais urgentes através de transporte aéreo.
Recentemente, entretanto, dificilmente algum executivo ocidental ousou viajar para o Paquistão, embora não tenha havido nenhum ataque terrorista em Sialkot. As gigantes esportivas têm tanto medo do terrorismo que nem chegaram a construir uma rede de distribuição no país, embora a maior parte de seus produtos sejam manufaturados aqui. Os executivos paquistaneses têm dificuldade de conseguir vistos para os Estados Unidos ou Europa. Mas os negócios continuam indo bem, dizem eles.
As fábricas de Sialkot fornecem 40 milhões de bolas de futebol por ano, e o número sobre para até 60 milhões durante os anos de Campeonato Europeu ou Copa do Mundo. Isto representa cerca de 70% da produção global de bolas de futebol feitas à mão. De acordo com a lenda, a história de sucesso de Sialkot como capital mundial das bolas de futebol começou com um homem que consertou uma bola de couro para os militares britânicos no período colonial há cerca de um século, e depois começou a fazer suas próprias bolas. Ele se chamava Syed Sahib, e a cidade tem uma rua com seu nome.
Os fornecedores paquistaneses têm desfrutado de uma boa reputação entre as empresas esportivas mundiais desde que o trabalho infantil foi oficialmente banido aqui. Crianças de até dez anos costumavam costurar as bolas de futebol até que houve uma indignação internacional contra isso. As companhias esportivas, costumadas a cultivar sua imagem com quantias imensas de dinheiro, ficaram preocupadas com sua reputação. Então elas se juntaram a defensores dos direitos humanos e fizeram pressão. Em 1997, os fornecedores paquistaneses e representantes da Unicef e da Organização Mundial do Trabalho assinaram o Acordo de Atlanta no qual o setor concordava em parar de usar mão-de-obra infantil.
Milhares de crianças perderam seus empregos da noite para o dia. Para tornar mais fácil o controle por parte das companhias esportivas, os grandes produtores proibiram as pessoas de trabalhar em casa e construíram oficinas de costura. O Paquistão tem agora a Associação Independente para Fiscalização do Trabalho Infantil (IMAC), que visita as fábricas regularmente e verifica os documentos dos funcionários. Para evitar suborno, um computador determina randomicamente a hora e o local das inspeções às fábricas. Mas várias pequenas empresas não fazem parte do sistema. “É bem provável que elas continuem empregando crianças”, diz um controlador da IMAC.
“O trabalho infantil é um assunto delicado”, diz Aziz-ur Rehman, chefe da Adidas no Paquistão. Ele diz que a Adidas desenvolveu seu próprio sistema de monitoramento. Além disso, a Forward Sports, fornecedora da Adidas, envia pessoas para as fábricas de bola para se certificar de que não há crianças trabalhando.
O caso da Saga Sports é um bom exemplo do que pode acontecer quando uma criança é pega costurando bolas de futebol hoje em dia. A Nike cancelou seu contrato com a companhia em 2006 por causa disso e a Saga, que já foi um dos maiores empregadores da cidade, está praticamente falida hoje. Os gerentes da Forward Sports, Comet Sports, Capital Sports e de pequenas empresas na cidade prestaram bastante atenção ao destino de sua concorrente.
Os pais agora mandam seus filhos para as olarias e serralherias onde ninguém está preocupado com a imagem corporativa. As famílias precisam do dinheiro para sobreviver. As companhias de material esportivo locais sabem da situação, mas querem satisfazer os desejos dos consumidores ocidentais. Afinal, as pessoas que gastam muito dinheiro em bolas de futebol querem fazer isso com a consciência tranquila. O consumidor de uma loja de esportes não percebe que agora existem meninas empilhando tijolos ao lado da fábrica de bolas Danayal.
“As crianças de dez ou doze anos estavam bem melhor aqui”, diz um gerente que pediu para permanecer anônimo. “Elas aprendiam uma função que garantia a elas uma renda para o resto da vida. Agora temos dificuldade para encontrar novos funcionários.”
Muhammad Ishaq Butt está convencido de que Sialkot irá superar a falta de trabalhadores. Em seu escritório de paineis de madeira no centro da cidade, vestindo um blazer azul com botões dourados, com sua barba grisalha curta e óculos anos 60, Butt, presidente da Câmara de Comércio de Sialkot, parece um empreendedor hanseático. “Estamos construindo uma fábrica onde as bolas serão coladas por uma máquina”, diz ele. É um projeto conjunto do município com investidores privados. Na China e na Tailândia, as bolas são produzidas exclusivamente por máquinas há muito tempo – num padrão tão alto que a Copa do Mundo de 2006 na Alemanha usou pela primeira vez uma bola de futebol que não foi feita no Paquistão, mas sim na Tailândia. O modelo “Jabulani” da Adidas para a Copa do Mundo de 2010 na África do Sul é feito na China.
Muita coisa vai mudar para os costureiros de Sialkot no futuro. “É assim que funciona a sociedade”, diz Butt. “As pessoas aprenderão a operar máquinas”. Entretanto, a demanda por bolas costuradas à mão continua muito alta e a qualidade ainda é melhor do que as bolas coladas ou costuradas por máquinas, acrescenta.
Nas grandes companhias de Sialkot, homens de jalecos brancos estão trabalhando para tornar as bolas feitas à mão ainda melhores. Eles usam computadores para medir se o produto é perfeitamente redondo. Máquinas verificam quanta água uma bola absorve na chuva, a resistência do material e se a superfície é muito escorregadia. O trabalho está compensando, dizem os pesquisadores. Uma bola feita em Sialkot será usada na final da Liga dos Campeões em 22 de maio em Madri.
Então ninguém em Sialkot deveria se preocupar, diz Butt. Fora isso, as empresas aqui aprenderam a compensar pela fatia de mercado perdida para a concorrência no Oriente longínquo, acrescenta. “Estamos fazendo cada vez mais produtos aqui.” Roupas e bolsas esportivas, por exemplo. E ele declara orgulhosamente que sua cidade chegou ao topo em outro setor: ela agora produz mais luvas do que qualquer outra região do mundo.

sexta-feira, 9 de abril de 2010




O Ministério da Educação, Cultura, Esportes, Ciência e Tecnologia do Japão oferece bolsa para pós-graduação no Japão em 2011. Há três palestras neste mês, a primeira hoje, na Unicamp. Informações: 0/xx/11/ 3254-0100, r 356;
http://www.sp.br.emb-japan.go.jp

Companhia Flutuante apresenta o espetáculo de dança
“E eu disse:”
De 15 a 18 de abril no Centro Cultural São Paulo
“E eu disse:”, contemplado com o Prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna 2009 do Ministério da Cultura, faz 4 apresentações em São Paulo. Com criação e interpretação de Letícia Sekito, o solo “E Eu Disse:” , de 2007, continua a pesquisa sobre a relação entre corpo e cultura, iniciada com o solo "Disseram que eu era japonesa" e adentra no terreno escorregadio e controverso sobre as possibilidades de reconstruir e reinventar identidades transitórias no corpo. O espetáculo integra a trilogia composta por "Disseram que eu era japonesa" (CCBB-2004) e “O Japão está aqui?” (Exposição Tokyogaqui 2008).
As apresentações estão integradas no projeto de "Circulação e Difusão de atividades da Companhia Flutuante, nas regiões norte, centro-oeste e sudeste", contemplado com o Prêmio Funarte de Dança KlaussVianna 2009 do Ministério da Cultura.
O espetáculo foi desenvolvido com subsídios do programa Rumos Itaú Cultural Dança 2006/2007 e apoio cultural da Fundação Japão.
Foi estreado em março de 2007 e apresentado no “Festival de Artes da FAP 2007” - Curitiba, “Festival 1, 2 na Dança” – Belo Horizonte, no “Festival Internacional da Nova Dança 2007” – São Paulo e “III Interação e Conectividade 2009”, Dimenti –Salvador. Ganhador do Prêmio ProAC 2008 da Secretaria de Estado de Cultura de São Paulo, para circulação em 8 cidades do interior paulista, co –realização SESC SP e apoio cultural da Fundação Japão/São Paulo.
“E eu disse:”
Espetáculo de dança solo
Data: de 15 a 18 de abril de 2010
Horário: de quinta a sábado às 21h e domingo às 20h
Duração: 50 minutos
Entrada Franca
Bilheteria abre uma hora antes do espetáculo
Recomendável para maiores de 10 anos.
Local: Sala Paulo Emílio do Centro Cultural São Paulo
Rua Vergueiro, 1.000 - Tel: 3397.4002
ccsp@prefeitura.sp.gov.br
Ficha técnica
Direção, dança, cenário, figurino e adereços: Letícia Sekito
Iluminação: André Boll (criação) e Ligia Chaim (operação)
Música original : Natália Mallo, participação Neca Zarvos e Jorge Peña
Operador de som: André Mesquita
Vídeo: Kika Nicolela
Preparação Corporal: Aikido(Respiração pelas solas dos pés), Mara Guerrero (Pilates)
Preparação Vocal: Sandra Ximenez
Fotos: Gil Grossi
Vozes em off: Ching C. Wang, Jorge Peña, Laurence Leclercq, Libia Harumi S. de Freitas, Neca Zarvos e Simona Mariotto
Apoio Cultural: Sala Crisantempo e Lado B Digital Filmes.Produção: Companhia Flutuante
Espetáculo realizado com subsídios do prêmio Rumos Dança Itaú Cultural 2006/2007 e patrocínio Prêmio FUNARTE de Dança Klauss Vianna 2009, Ministério da Cultura.

Na programação do projeto "Encontros de Dança 2010", com curadoria de Christine Greienr e Vanessa Lopes, a Companhia Flutuante apresentará a performance "Experimento portátil - uma ação sob encomenda", com Leticia Sekito.
Após a performance teremos o artista visual Roberto Freitas (SC) e a jornalista e pesquisadora em dança Ítala Clay de O. Freitas (AM) como convidados para um bate papo com a companhia e o público.
Realização Corpo Rastreado
Sobre a performance:
“Experimento portátil – uma ação sob encomenda ” propõe uma reflexão sobre possíveis relações entre corpo feminino, fetichismo visual, olhar estrangeiro, comunicação e cultura.
Com duração aproximada de 45 minutos, “Experimento portátil – uma ação sob encomenda” é uma performance de dança contemporânea, onde Letícia inicia uma reflexão sobre imagens fetichistas femininas - como a da aeromoça, da garçonete, da dançarina havaiana - aliadas `a idéia do olhar estrangeiro na metáfora presente nos vídeos utilizados na cena.
A performance é desenvolvida com a presença da ironia e comicidade cênica, propondo uma interação direta com o público, que é claramente considerado um voyeur e um “cliente”.
A performance foi originalmente criada para o “Seminário Performático Fetichismos Visuais, Metrópole Comunicacional, Mercadoria Digital, Corpos Panoramas”, do antropólogo cultural Massimo Canevacci, no SESC Avenida Paulista, em agosto de 2007. Em 2009 foi apresentada no “CorpoInstalação”, SESC Pompéia e no festival de vídeo dança PLAYREC 2009, em Recife.
Não recomendada para menores de 18 anos.
Ficha técnica
Dança : Letícia Sekito
Iluminação: Ligia Chaim
Figurino, adereços e objetos cênicos: arquivo pessoal da artista
Produção: Companhia Flutuante
Vídeo: Lado B Filmes Digital
Fotos: Gil Grossi
Agradecimentos: Christine Greiner, Cristina Salmistraro, Margarida Maria Costa (Idinha), Massimo Canevacci, Lado B Digital Filmes.
Serviço:
Dia 13 de Abril, terça feira, `as 20h.
Local TUCARENA
RUA MONTE ALEGRE, 1024, PERDIZES, SaO PAULO
Entrada pela Rua Bartira
www.teatrotuca.com.br
tel. 11 3670 8453
Entrada gratuita, retirada de ingresso 30 minutos de antecedência da performance. 45 lugares.


O Centro Cultural São Paulo (CCSP) apresenta a mostra cinematográfica “Kung Fu Cinema – O Cinema de Ação de Hong Kong”, de 6 a 22 de abril, de terça a domingo. A entrada para todas as sessões é Catraca Livre.
A mostra apresenta um panorama do cinema de artes marciais da China e de Hong Kong, sua evolução e a influência que exerceu sobre o cinema de ação no mundo, principalmente, o norte-americano.
Destaque para os longas “Os Cinco Superlutadores” – clássico que definiu uma série de elementos dos filmes de kung fu de hoje, como a relação entre o jovem e o mestre e as coreografias espetaculares características – e “A fúria do dragão”, filme que projetou o astro das artes marciais Bruce Lee para além de Hong Kong.
http://www.centrocultural.sp.gov.br/programacao_cinema.asp

sábado, 3 de abril de 2010

ENCONTROS DO CEO

09/04, SALA 500C, 13:00




Quando um funcionário da Agência da Casa Imperial anunciou repentinamente que a princesa Aiko, 8, estava se recusando a ir à escola por ser vítima de "bullying", ele fez mais que simplesmente revelar o fato de um membro da antiga monarquia do Japão, que vive cercada por sigilo, enfrentar um problema mundano.
Ele também acrescentou um elemento a mais a um dos dramas mais intrigantes e misteriosos do Japão: os sete anos de depressão e isolamento da mãe de Aiko, a princesa herdeira Masako, ex-diplomata formada em Harvard. Aiko é a filha única de Masako e seu marido, o príncipe herdeiro Naruhito, e é fato sabido que é uma das poucas fontes de alegria da princesa herdeira, em meio a seus problemas.
O episódio voltou a chamar a atenção da impiedosa imprensa tabloide japonesa para a história infeliz da princesa Masako. A mídia descreveu seu casamento, em 1993, como a união de conto de fadas entre uma plebeia e um príncipe. Porém, mais tarde, passou a criticar a incapacidade de Masako de ter um filho homem, que pudesse herdar o Trono de Crisântemo. Acredita-se que as pressões tenham contribuído para o que parece ter sido um colapso nervoso.
Desde o anúncio recente, a princesa Masako, 46, emergiu para levar sua filha à escola e até mesmo sentar-se ao lado de Aiko na sala de aula de segundo ano da princesinha. Alguns comentaristas especularam se os problemas de sua mãe não teriam deixado Aiko excessivamente sensível.
A dúvida agora é se a divulgação do fato de sua filha ter sofrido intimidação na escola vai deixar os japoneses mais solidários com a situação da princesa ou se vai intensificar as críticas a ela. Fontes dizem que os problemas de Aiko podem até reforçar os chamados de conservadores para que seu pai, de 50 anos, desista de ser sucessor do pai dele, o imperador Akihito, 76.
"Muitas pessoas não querem que os futuros imperador e imperatriz venham de uma família tão pouco saudável", disse Akira Hashimoto, autor de livros sobre a família imperial. "Se os problemas de Aiko continuarem, isso vai colocar mais pressão sobre o príncipe."
O caso começou quando o grão-mestre da Agência da Casa Imperial, Issei Nomura, que administra os assuntos do príncipe herdeiro e sua família, disse em uma entrevista coletiva que Aiko estava faltando à escola devido a dores de estômago e ataques de ansiedade. Então Nomura disse acreditar que a princesa tinha sido alvo de "atos violentos" por parte de meninos em sua escola. Ele não deu detalhes.
Feita aparentemente de improviso, a queixa foi bastante incomum, vinda de um integrante do círculo interno da tradicional família imperial japonesa, e imediatamente desencadeou uma cobertura frenética por parte da mídia.
Respondendo aos comentários do grão-mestre, o diretor da escola, Motomasa Higashisono, disse que Aiko se assustou quando dois meninos quase colidiram com ela por acidente, quando corriam pelos corredores da escola.
De forma indireta, a saga também intensificou as preocupações de conservadores que têm dúvidas quanto às condições do príncipe Naruhito de assumir o trono.
Naruhito compartilhou a culpa pelo fato de sua mulher não ter tido um filho homem, fato que motivou uma discussão politicamente carregada sobre a conveniência de se romper com séculos de tradição e permitir que uma mulher assumisse o Trono de Crisântemo, uma das monarquias hereditárias mais antigas do mundo.
A discussão foi encerrada três anos atrás, quando a mulher do irmão mais jovem do príncipe herdeiro, o príncipe Akishino, deu à luz um filho, garantindo a presença de um sucessor do sexo masculino por ao menos mais uma geração.
Para outros, entretanto, o incidente da escola pode ter o efeito oposto. "Isto vai mostrar ao público que a princesa Masako tem problemas iguais aos nossos", disse Takeshi Hara, professor da Universidade Meiji Gakuin e especialista na monarquia. "Isso pode acabar gerando mais apoio para ela e para o príncipe herdeiro."


Nojoud Ali tinha nove anos no dia em que se deparou, ao voltar da escola, com a casa cheia de convidados dançando e comendo. Ela adorou ser maquiada, penteada e vestida pelas mulheres do vilarejo. A alegria de Nojoud se esvaiu quando ela descobriu, já no final da noite, que a festa era para celebrar o seu casamento com um homem desconhecido.
Após dois meses lutando para escapar dos abusos do marido, Nojoud conseguiu fugir e ganhou na Justiça o direito de se divorciar. O caso, ocorrido em 2008, teve repercussão internacional e abriu um precedente histórico no pobre e conservador Iêmen.
Há três semanas, uma segunda criança casada à força teve seu pedido de divórcio acatado pela Justiça, acirrando o atual debate em torno de uma proposta parlamentar para proibir matrimônios antes dos 17 anos.
A legislação em vigor não determina idade mínima para casamento, mas estipula que só pode haver relações sexuais após a puberdade da mulher. Nojoud ganhou a causa alegando que o marido teve sexo com ela antes da hora.
"Eu só queria ir para a escola e brincar e, da noite para o dia, me tornei esposa, longe da família e de tudo o que eu gostava. É preciso reformar a lei, para evitar que outras meninas passem pelo que passei."

O inferno começou na noite de núpcias, assim que o marido apagou a luz, relata Nojoud. "Ele corria atrás de mim, enquanto eu chorava e gritava. Foi assim todo o tempo em que moramos juntos", afirmou.
Nojoud aproveitou um final de semana na casa dos tios para ir ao tribunal. Ela passou a manhã sentada sozinha num banco de madeira até que um juiz perguntou o que ela queria. "Largar meu marido", disse.
Pobres e analfabetos, os pais relutaram em apoiar a filha. Além do sentimento de honra ferida, eles encaravam como uma pequena fortuna os US$ 750 de dote e apostavam numa vida melhor para Nojoud, cujo marido ao menos tinha um emprego -era motoboy.
A história chegou aos ouvidos da advogada Shatha Nasser, uma conhecida feminista do Iêmen, que assumiu o caso.
Meses após a vitória na Justiça, Nasser e Nojoud viajaram aos EUA para receber em conjunto o prêmio de Mulher do Ano concedido pela revista americana "Glamour". "Adorei os EUA, mas quero morar no Iêmen", diz Nojoud.
Hoje reinstalada com os pais, Nojoud divide o tempo entre a escola, onde diz tirar notas boas, e as viagens pelo mundo para promover sua biografia, redigida por uma jornalista francesa. Direitos autorais para um projeto de filme permitiram à família comprar uma casa na capital iemenita.


Muhannad Haddad cresceu e frequentou a escola na Jordânia, arrumou emprego em um banco de lá e viajou a países estrangeiros com um passaporte de lá. Até que, um dia, as autoridades disseram que ele não era mais jordaniano e, assim, retiraram sua cidadania e comprometeram sua capacidade de viajar, estudar, trabalhar, buscar atendimento médico, comprar imóveis e até dirigir.
As autoridades efetivamente lhe disseram que agiam assim para o bem dele próprio. Afirmaram que, como milhares de outros jordanianos de ascendência palestina, ele estava sendo privado da sua cidadania para preservar o seu direito de um dia voltar à Cisjordânia ou a Jerusalém Oriental.
"Eles me deram um papel que dizia: 'Você agora é palestino'", contou Haddad, lembrando do dia que mudou sua vida, há três anos.
Em um relatório recente intitulado "Apátridas de novo", a ONG Human Rights Watch disse que 2.700 pessoas perderam sua cidadania na Jordânia de 2004 a 2008 e que pelo menos outras 20 mil permanecem vulneráveis, especialmente as que em algum momento se mudaram ao exterior atrás de trabalho.
O governo diz que está tentando ajudar, ao solicitar que jordanianos descendentes de palestinos que fugiram da Cisjordânia ou de Jerusalém após a guerra de 1967 mantenham válidos seus documentos israelenses. Isso ganhou maior urgência recentemente, segundo analistas e fontes do governo, por causa da ascensão de um governo israelense de direita, com um chanceler ultraconservador, Avigdor Liberman.
"Não é segredo que alguns elementos em Israel gostariam de ver as áreas palestinas sem as pessoas", disse Nabil Sharif, ministro e porta-voz do governo da Jordânia. "Não queremos ser parte disso."
Críticos e militantes dos direitos humanos, no entanto, veem uma motivação diferente. Afirmam que o governo jordaniano agiu para preservar os seus próprios interesses, tentando agradar jordanianos não palestinos, preocupados com a crescente influência política e econômica dos cidadãos de origem palestina, uma acusação que Sharif negou. Esses críticos dizem também que aparentemente o governo local está assustado com rumores de que a Jordânia seria declarada o lar nacional palestino, como alternativa a um Estado palestino na Cisjordânia e em Gaza.
Os críticos acusam o governo de agir de modo arbitrário, frequentemente dividindo famílias entre cidadãos e não cidadãos, às vezes com base na época do nascimento, e de não oferecer caminhos efetivos para recursos contra decisões relativas à cidadania.
Já faz anos que as autoridades jordanianas manifestam a preocupação em preservar o equilíbrio demográfico nessa nação de 6 milhões de habitantes, dividida de forma quase igual entre pessoas oriundas da margem leste do rio Jordão e as oriundas da margem oeste, a Cisjordânia ocupada.
"O governo não está fazendo isso para apoiar os palestinos no seu direito de retorno", disse Fauzi Samhouri, diretor de uma entidade de direitos humanos em Amã. Em vez disso, afirmou, o governo está reagindo a pressões políticas, porque "algumas pessoas acham que esses procedimentos irão reduzir o percentual da população que é de origem palestina".
Sete homens palestinos que perderam sua cidadania descreveram uma sequência de fatos semelhantes. Eles contaram que tudo aconteceu durante uma interação de rotina com o Estado -ao solicitar uma carteira de motorista, um passaporte ou um certificado de alistamento militar.
O governo diz que isso não tem nada a ver com equilíbrio demográfico, que os números são muito pequenos e que apenas uma fração da sua população palestina está sujeita a esse tipo de revisão. Afirma ainda que esse processo tem ocorrido desde logo depois de 31 de julho de 1988, quando o então rei Hussein proferiu um discurso em que abriu mão de qualquer reivindicação de soberania sobre a Cisjordânia e Jerusalém Oriental.
Um porta-voz militar israelense disse que, sob a lei militar em vigor na Cisjordânia, cidadãos palestinos que deixaram a região após 1967 e antes de 1988 podem perder sua cidadania após três anos, mas depois têm outros três anos para reivindicá-la novamente.O porta-voz disse que decisões a esse respeito são passíveis de recurso perante uma comissão israelo-palestina, mas admitiu que há anos esse comitê não se reúne.