segunda-feira, 25 de março de 2013






Um pinheiro que sobreviveu ao terremoto seguido de tsunami que atingiu o norte do Japão em 11 de março de 2011 se tornou agora um memorial em homenagem às vítimas da tragédia. A árvore chamada de "pinheiro milagroso" foi artificialmente restaurada e virou um monumento de 27 metros de altura, em um projeto que custou cerca de 150 milhões de ienes (R$ 3,1 milhões). A ação durou seis meses e foi finalizada no início de março deste ano, quando a tragédia, que deixou aproximadamente 19 mil mortos, completou dois anos. O pinheiro foi a única de 70 mil plantas da costa de Rikuzentakata, na Província de Iwate, a sobreviver à catástrofe, mas suas raízes ficaram seriamente deterioradas. A a árvore tornou-se símbolo da reconstrução da cidade.  Partes do pinheiro têm sido reaproveitadas e reutilizadas de formas diferentes e sustentáveis pelo projeto.


 O governo islamita conservador lançou uma campanha de "liberalização" destinada a retirar as restrições impostas ao uso do véu islâmico em nome da laicidade
A divulgação não autorizada no Twitter de uma foto de comissárias de bordo, no início de fevereiro, provocou algumas turbulências na Turkish Airlines. Na imagem era possível ver uma tripulação usando uniformes de design conservador, com camisas de gola alta, saias largas e, em alguns casos, chapéu.
Piadas e manifestações de preocupação inundaram a internet e a mídia nacional. A companhia turca se apressou em explicar que versões "mais modernas" estavam sendo estudadas e que o novo uniforme ainda não havia sido definido.
Mas os laicos que acusam o partido islamita conservador que está no poder --o AKP (Partido da Justiça e do Desenvolvimento)-- de "transformar o modo de vida dos turcos" veem essa iniciativa como mais uma prova de que suas preocupações são justificadas.
As bebidas alcoólicas já foram eliminadas de alguns voos e há alguns meses as funcionárias de solo passaram a ser autorizadas a usar o véu islâmico. O hijab austero à moda turca é o símbolo da difusão dos costumes conservadores na esfera pública.
Após alguns anos de prudência sobre a questão, algo que foi criticado duramente pelos meios mais conservadores no final de seu primeiro mandato, o governo de Recep Tayyip Erdogan vem retirando um a um todos os obstáculos que restringiam a visibilidade desse símbolo religioso.
O Conselho de Estado aboliu em janeiro uma regra que previa que o uso do véu fosse proibido nos palácios de Justiça. Alguns dias mais tarde, o pequeno tribunal de Kadiköy, em Istambul, teve seu primeiro episódio envolvendo o tema.
A advogada Sule Dagli Gökkliç compareceu à corte usando seu lenço. "Eu estava nervosa. O juiz me perguntou: "Você vai entrar na audiência assim?" Eu o lembrei da decisão do Conselho de Estado", ela conta. O magistrado entrou com um recurso. O ministro do Trabalho, Faruk Çelik, também pediu pelo fim de todas as restrições aplicadas ao funcionalismo público em nome da laicidade. "A proibição do uso do véu não é compatível nem com os direitos humanos, nem com os princípios democráticos", ele afirmou.
Uma ampla campanha de "liberalização" foi lançada pelo sindicato de funcionários públicos Memur-Sen, próximo do AKP. A petição, que reuniu 12,3 milhões de assinaturas, entre elas a de Erdogan, foi submetida no dia 9 de março ao gabinete do ministro Faruk Çelik.
"Uma proibição que não está na Constituição não pode ser protegida pela Constituição", disse o primeiro-ministro turco, que considera essa regra "uma herança do golpe de Estado militar do dia 28 de fevereiro de 1997" e "um atentado aos direitos humanos". Tendo um grande apoio eleitoral sobre o tema, o governo se prepara para autorizar o uso do véu no funcionalismo público.
Uma certa tolerância já se instalou nos hospitais e uma diretiva foi enviada às universidades, que passaram a admitir as estudantes com véus a partir de 2010. O ministro do Esporte, Ömer Çelik, quer uma maior flexibilidade para as atletas.



Nos colégios religiosos, que aumentaram em número nos últimos anos, as professoras podem usá-lo, mas as alunas também. Ainda não é o caso nas escolas regulares ou no setor privado, onde a decisão cabe a cada empresa.
Essa visibilidade não se tornou automática quando o AKP chegou ao poder, em 2002. Erdogan preferiu enviar suas filhas para estudar nos Estados Unidos para escapar da proibição. As instituições turcas ainda eram um baluarte contra o questionamento dos princípios laicos instaurados por Atatürk em 1924 e endurecidos pelos sucessivos regimes militares.
Em 2007, o véu de Hayrunnisa Gül quase impediu seu marido, Abullah Gül, de chegar à presidência da República. Para os generais que por muito tempo boicotaram as recepções oficiais no palácio de Cankaya para evitar cruzar ali com esposas de autoridades políticas usando véus, um limite foi rompido.
O exército era visto como um bastião laico diante "dos ataques dos islamitas". Desde então, ele foi "dizimado" pelos processos judiciais abertos por "complô". Dezenas de oficiais foram presos, e os autores do golpe de Estado de 1997 foram convocados perante os juízes. O tecido acetinado que recobre os cabelos da senhora Gül não a obriga mais a ficar fora do protocolo, como no passado. Ela participa das visitas de seu marido ao exterior, que foi recebido pelo rei da Suécia há alguns dias, e participa de cerimônias oficiais.
E, desde a última recepção dada no palácio presidencial para o feriado nacional de 29 de outubro de 2012, os militares passaram a aceitar os trajes da primeira-dama turca.


Durante as décadas em que foi um movimento islâmico subterrâneo, a Irmandade Muçulmana sempre pregou que o Islã exigia que as mulheres obedecessem a seus maridos em tudo. "Uma mulher precisa estar confinada dentro de uma estrutura controlada pelo homem da casa", disse Osama Yehia Abu Salama, um especialista em família da Irmandade, sobre a abordagem geral do grupo, durante um seminário recente de treinamento de mulheres para se tornarem conselheiras matrimoniais. Mesmo que uma mulher seja agredida por seu marido, "mostre que ela teve um papel no que aconteceu", aconselhou. "Se ele for culpado", acrescentou, "ela compartilha 30% ou 40% da culpa." Agora, com um líder do braço político da Irmandade no palácio presidencial do Egito e seus membros dominando o Parlamento, alguns pontos de vista profundamente patriarcais que a organização há muito tempo ensina a seus membros estão vindo à tona diante do público. As declarações estridentes da Irmandade estão reforçando os temores de muitos liberais egípcios sobre as consequências potenciais da ascensão do grupo ao poder e criando mais constrangimento para o presidente Mohammed Mursi, que se apresenta como um novo tipo de muçulmano, moderado e amigo do Ocidente. Em um comunicado sobre uma proposta de declaração da ONU para condenar a violência contra as mulheres, a Irmandade publicou uma lista de objeções, que explicitou formalmente os seus pontos de vista sobre as mulheres pela primeira vez desde que chegou ao poder. Nesse documento, a Irmandade afirma que as mulheres não devem ter o direito de apresentar queixas legais contra os seus maridos por estupro e que os maridos não devem ser submetidos às punições previstas pelo estupro de uma desconhecida. Um marido deve ter "tutela" sobre sua esposa, e não uma "parceria" de igualdade com ela, declarou o grupo. As filhas não devem ter os mesmos direitos de herança que os filhos. Tampouco a lei deve cancelar "a necessidade de consentimento do marido em assuntos como trabalho, viagens ou uso de contraceptivos" --uma reforma sobre a família que foi promulgada durante o governo do ex-presidente Hosni Mubarak e creditada à sua mulher, Suzanne.
A declaração parece refletir sob muitos aspectos a doutrina de longa data da Irmandade, ainda discutida em aulas como a de Abu Salama e em fóruns de grupos de mulheres. Feministas disseram que a declaração também pode refletir a opinião da maioria das mulheres na cultura conservadora e tradicionalista do Egito.
Em uma entrevista na quinta-feira, Pakinam El-Sharkawy, conselheira política e representante do Egito na comissão da ONU na semana passada, buscou distanciar o governo Mursi da declaração da Irmandade.
A Irmandade, enfatizou ela, não fala pelo presidente --ele se retirou, mas continua sendo um membro do partido político da instituição.
"Será que qualquer declaração feita por qualquer partido político ou grupo representa a presidência?", perguntou. "Não é instituição da Presidência, e não é uma entidade oficial."
O governo egípcio, disse ela, "está trabalhando com todos os seus poderes e políticas para impedir todas as formas de violência contra as mulheres".
O governo contestou a declaração da ONU condenando a violência contra as mulheres, segundo ela, somente nas questões que dizem respeito a descrever as restrições ao aborto como um ato de violência contra as mulheres. Isso ofende as normas culturais em muitos países árabes e africanos, disse ela.
Questionada sobre a aparente tentativa da declaração de evitar que o estupro conjugal possa se tornar judicialmente ilegal, Sharkawy descartou a questão como uma preocupação estrangeira irrelevante.
"Estupro conjugal? Por acaso é um grande problema para nós?", disse, sugerindo que isso poderia ser um fenômeno ocidental, enquanto o assédio sexual nas ruas é uma preocupação muito maior no Egito.
"Devemos importar as suas preocupações e problemas e adotá-los como nossos?", perguntou. "Estamos falando de coisas que não têm um consenso amplo, como o aborto. Nós não podemos dar às mulheres a liberdade de abortar quando quiserem."
Não escolha temas que não são prementes no Egito "e depois venha me dizer que estou em conflito com a comunidade internacional", continuou.
Algumas feministas egípcias, porém, disseram que a declaração prova suas advertências de que a Irmandade pode levar o Egito numa direção mais conservadora e patriarcal.
"Eles não acreditam que, quando a violência doméstica está presente, as mulheres devem recorrer à Justiça ou ao processo legal", disse Ghada Shahbandar, da Organização Egípcia para os Direitos Humanos. "Isso deve ficar dentro de casa, sob a proteção da família --é o que eles reivindicam. E não existe tal coisa como estupro conjugal porque o marido tem o direito de ter relações sexuais com sua mulher sempre que quiser."
"Essa é a primeira vez que ouvimos eles dizerem isso publicamente no cenário mundial", disse ela, "mas essa tem sido sua retórica há séculos".


"Essa é a primeira vez que ouvimos eles dizerem isso publicamente no cenário mundial", disse ela, "mas essa tem sido sua retórica há séculos".
Em seu seminário para futuras conselheiras matrimoniais islâmicas, Abu Salama justificou a abordagem do grupo em relação ao casamento explicando que o Islã também exige que os maridos sejam compassivos, da mesma forma que exige que as mulheres sejam obedientes.
Citando a lei de Mohamed de que um homem "não deve cair sobre a sua mulher como um animal", um livro didático do curso de Abu Salama diz que o Islã instrui os homens a realizarem preliminares antes do sexo e buscar a satisfação da parceira.
Quanto à herança, acadêmicos islâmicos têm argumentado que um filho deve ter uma parcela maior, mas também a obrigação de cuidar do bem-estar financeiro de uma irmã.
Mas Abu Salam também argumentou que os maridos devem manter suas esposas sob rígido controle.
"É da natureza do fraco ir além da estrutura necessária se recebe o espaço e a liberdade, como as crianças", disse ele no seminário.
A maioria das mulheres concordou, assentindo com a cabeça.
Fechando sua declaração, a Irmandade pareceu ir ainda mais longe. As cláusulas discutidas são "ferramentas destrutivas destinadas a minar a família como uma instituição importante", conclui a declaração, e "arrastará a sociedade de volta à ignorância pré-islâmica".