quinta-feira, 26 de abril de 2012

O tsunami que devastou a costa norte do Japão em março de 2011 arrastou consigo tudo o que o jovem Misaki Murakami, 16, tinha: casa, roupas, objetos pessoais. Um deles, de grande valor sentimental, porém, deve voltar para o jovem agora: uma bola de futebol, com mensagens escritas por amigos quando mudou de escola, em 2005. Ela foi encontrada, com os textos intactos, no Alasca, depois de navegar por mais de 5.000 km durante um ano. David Baxter, técnico de radares morador de Kasilof, no Estado americano, achou a bola em uma ilha e, com ajuda da mulher, Yumi, e de um jornalista, encontrou o dono. O casal pretende ir ao Japão em maio, mas não planeja entregar a bola ao garoto pessoalmente, para não criar muita comoção. "Eu perdi tudo no tsunami, então estou encantado", disse o garoto à rede japonesa NHK. "Eu realmente quero dizer 'obrigado' por terem achado a bola."
Com um ano de reformas políticas abrangentes, esta cidade há muito tempo negligenciada já apresenta alguns indícios de pujança. Empresários estrangeiros são conduzidos por ruas esburacadas com prédios decrépitos para encontrar potenciais parceiros. Os donos de hotéis, cujas empresas sofreram durante anos de regime militar e má gestão econômica, estão aumentando os preços dos poucos quartos disponíveis. E os valores dos imóveis em áreas da cidade de Yangon, a capital econômica do país, e de seus arredores triplicaram no último ano. "Mianmar tem um grande potencial de crescimento e poderá se tornar a próxima fronteira econômica da Ásia", disse Meral Karasulu, diretor do Fundo Monetário Internacional em Washington que conduziu uma missão a Mianmar em janeiro. De fato, para os investidores estrangeiros e bancos de investimentos que ignoraram o país durante décadas de regime militar, Mianmar é um mercado potencial onde apenas 4% da população têm celulares e poucas pessoas possuem máquinas de lavar, ar-condicionados ou carros. E, conforme o país se abre, muitos em Mianmar estão preocupados com o risco de que os problemas do país possam limitar o crescimento. A lista de obstáculos é longa, incluindo antigos problemas -a ausência de um sistema jurídico sólido, a corrupção profundamente enraizada e a infraestrutura dilapidada- e outros novos, que incluem preços surpreendentemente altos. Uma das preocupações mais perturbadoras, segundo empresários, é a falta de mão de obra qualificada. Embora o governo de U Thein Sein, o presidente de Mianmar e principal promotor da liberalização, esteja no cargo apenas desde março de 2011, já há escassez de algumas categorias de trabalhadores. "Muitas empresas estão pedindo diretores de vendas e marketing", disse U Ko Lin, diretor da Career Development Consultancy, uma importante agência de recursos humanos em Mianmar. "Não consigo encontrar as pessoas certas. É muito difícil." Durante os anos de ditadura militar, houve um êxodo de talentos birmaneses, principalmente para Malásia, Cingapura, Tailândia e para os países do Golfo. O governo disse que espera atrair de volta os trabalhadores. Mas, para os birmaneses que ganham bons salários no estrangeiro, voltar para Mianmar pode ser uma questão basicamente financeira. Os altos salários que as empresas devem pagar em Mianmar para atrair trabalhadores experientes prejudicam algumas das vantagens tipicamente associadas aos países menos desenvolvidos. Isto está sendo agravado pelos preços inflados por um aumento acentuado da especulação. Em um dhoteld e luxo de Yangon, The Strand, o quarto mais barato custa US$ 430 a diária. Mianmar é em certa medida mais caro e menos eficiente que seu vizinho muito mais desenvolvido, a Tailândia. Um aluguel médio de escritório na Sakura Tower, no coração do bairro comercial de Yangon, custa o dobro da média pelo espaço no bairro comercial central de Bangkok, disse Surachet Kongcheep, gerente da filial tailandesa da firma imobiliária Colliers International. Mas, ao contrário de companhias em muitas outras grandes cidades asiáticas, as de Yangon têm de enfrentar cortes de energia, serviço de internet falhos e conexões telefônicas pífias. De muitas maneiras, Mianmar é um país que espera ser construído. Setenta e cinco por cento de seus 55 milhões de habitantes não têm acesso à eletricidade, segundo o Banco Asiático de Desenvolvimento. U Soe Aung, diretor da construtora Aung Thukha, disse que espera mais negócios nos próximos anos. Mas ele também advertiu que o velho sistema político de clientelismo, em que os generais e seus parceiros empresariais dominavam a economia, permanece parcialmente intacto. Na velha Mianmar, os empresários sem conexões com os militares sempre temeram as autoridades. Fazer negócios "era como bater a cabeça contra um muro de pedras gigantesco", disse Soe Aung. "O muro está sendo derrubado -mas apenas até certo ponto." Com tanto em jogo, alguns empresários birmaneses afoitos recorrem aos tradicionais adivinhos para prever a sorte. "O sabor do mel será delicioso", disse a advinha Daw Saw Yu Nwe, "mas se você não for hábil poderá se machucar."

Iates balançam ao longo da orla. Nas mesas das calçadas, sobre toalhas impecavelmente brancas, garrafas de vinho suam dentro de baldes de prata. A baía de Zaitunay, novo playground do luxo, é a mais nova aposta do Líbano para voltar ao período pré-guerra da década de 1960 -quando Brigitte Bardot era frequentadora habitual e Beirute era um lugar da moda. Para os visitantes árabes que buscam um alívio da tensão na região e para os libaneses satisfeitos por serem poupados da tempestade, Beirute está de volta. "O Líbano reúne o europeu, o mediterrâneo, o Oriente e o Ocidente", disse Noor al Tai, passeando pelo calçadão com minissaia de couro, botas até as coxas e um colete de pele. Ela explica por que Beirute foi o destino lógico quando ela fugiu da violência no Iraque, o seu país. "Há uma atmosfera muito amistosa aqui." Os moradores de Beirute mal se dão conta de que a baía de Zaitunay fica sobre a Linha Verde, a letal terra de ninguém que separava o leste do oeste da cidade durante os 15 anos da guerra civil libanesa. Na cabeça de muitos ocidentais, o Líbano continua congelado em antigas imagens: massacres sectários, reféns amarrados a radiadores, a invasão israelense, a fumaça se erguendo sobre os prédios da orla. Mas, ao menos para os ricos, o país há muito tempo recuperou seu espírito de diversão e glamour. "Este país não muda. As pessoas gostam da vida", disse a psicóloga síria Sonia Bailouni, tomando sol. As mesmas divisões que causaram a guerra civil libanesa podem ter ajudado o país a se isolar das revoltas árabes do último ano. A guerra terminou em 1990, após uma rígida partilha do poder entre os grupos religiosos. O sistema é ineficiente e propenso a crises, mas permite a dissidência e mantém o Estado fraco, com pouca capacidade para intimidar ou se impor. Em meio à desconfiança mútua entre as facções libanesas, não há uma autoridade única contra a qual se insurgir. E não é que o turismo no Líbano não tenha se ressentido. A ocupação hoteleira caiu de 68% em 2010 para 55% nos primeiros nove meses de 2011, segundo a empresa Ernst & Young.
Muitos ocidentais não percebem que o Líbano continua seguro e divertido. Turistas árabes e iranianos receiam em passar de carro pela Síria, de longe a rota mais barata. Mas a crise seria bem mais grave se não fosse pelos viciados na "joie de vivre" de Beirute: os libaneses da diáspora (os sauditas e jordanianos em suas peregrinações sazonais para fugir do calor) e os moradores ricos de Beirute. Para esses nichos, até a guerra de 2006 contra Israel foi apenas uma perturbação temporária e bares, restaurantes e hotéis reabriram suas portas enquanto ainda havia destroços dos bombardeios israelenses nas ruas. Há benefícios decorrentes do fato de o Líbano ser um refúgio para os sírios, o que ajuda a compensar os prejuízos hoteleiros. O ministro libanês do Turismo disse a um jornal local que os sírios vão passar o fim de semana em Beirute para evitar os confrontos após as preces da sexta-feira. Beirute é também um destino para o capital. Empresários sírios têm transferido dinheiro para bancos libaneses e investidores fugindo da crise financeira de 2008 em Dubai contribuem para manter os preços imobiliários elevados. A iraquiana Tai disse que ela e seus irmãos transferiram sua empresa de contabilidade para Beirute em 2004, depois que o bairro deles em Bagdá virou um campo de batalha, com a invasão das tropas americanas ao Iraque. Bailouni está trazendo parentes de Aleppo, na Síria, na crença de que o conflito não se espalhará para o Líbano. "Já passamos por tudo e pelo pior", disse ela. Mas alguns libaneses anseiam por uma ebulição num país que, apesar de tanta diversão, continua corrupto e estagnado. Um jornalista libanês explicou assim a ausência de uma "Primavera Libanesa": "Somos preguiçosos e somos sectários". Os líderes libaneses se esforçam para manter a paz política. O mais poderoso partido do país, o Hizbollah, oficialmente apoia o presidente da Síria, Bashar Assad. Na semana passada, porém, o líder da legenda, Hassan Nasrallah, admitiu em entrevista a um canal russo de TV ter tentado mediar um cessar-fogo com a oposição síria. Partidos rivais ficaram ao lado dos rebeldes sírios e até o líder druso Walid Jumblatt (parceiro de coalizão do Hizbollah) chama Assad de carniceiro. No entanto, tais disputas mal interferem na política local: os partidos relutam em desafiar o sistema no qual disputam cargos. Na orla da baía de Zaitunay, Dina Erfan, uma agente de viagens do Cairo, cumprimentava amigas libanesas jogando beijos no ar. Ela havia acabado de chegar, para dar um tempo da tensão política no Egito. "Aonde mais eu iria?", disse ela. "Síria? Líbia?" Uma amiga riu. "Talvez no ano que vem", disse.

O triplo desastre de 2011 no Japão já é um caso recorde nos anais do cinema-catástrofe. Meses depois dos poderosos terremoto e do tsunami de 11 de março que mataram milhares de pessoas e provocaram o derretimento de reatores na usina nuclear de Fukushima Daiichi, já havia filmes suficientes sobre o assunto para criar um subgênero. No Festival de Cinema de Berlim, em fevereiro, foram exibidos três documentários sobre o "dia seguinte" à catástrofe, tratando de temas como a limpeza dos destroços, a situação das pessoas retiradas dos locais atingidos e o ressurgimento do movimento antinuclear. A Japan Society, em Nova York, marcou o primeiro aniversário da tragédia com a exibição de filmes como "The Tsunami and the Cherry Blossom", curta-metragem documental de Lucy Walker que foi indicado para um Oscar, e "Pray for Japan", cujo diretor, Stu Levy, fez o filme enquanto trabalhava como voluntário na região atingida de Tohoku. Essa nova vertente de cinema pós-traumático também inclui vários filmes de ficção, como "Women on the Edge", de Masahiro Kobayashi, em que três irmãs que viviam distanciadas se reencontram entre os destroços de sua cidade natal, e "Himizu", adaptação de um mangá sobre adolescentes problemáticos que foi reescrito pelo diretor Sion Sono para incorporar um pano de fundo de devastação verídica. Em outubro, o Festival Internacional de Cinema Documental de Yamagata exibiu 29 filmes sobre o terremoto, num programa intitulado "Cinema Conosco". Alguns filmes sugerem impulsos mais profundos. "Tornou-se quase obrigatório fazer algo sobre o terremoto, a tal ponto que tratar de outro tema era visto quase como pecado", disse Toshi Fujiwara, cujo filme "No Man's Zone", sobre as cidades abandonadas na área de Fukushima, foi exibido em Berlim. Chris Fujiwara, diretora artística do Festival Internacional de Cinema de Edimburgo e ex-professora da Universidade de Tóquio, observou que muitos dos filmes "tratam explicitamente ou fazem alusão a um contexto muito mais amplo e rico de compreensão do que o desastre revelou sobre a sociedade japonesa". Alguns dos documentários exibidos em Yamagata provocaram discussões acirradas, revelou Asako Fujioka, diretora do festival em Tóquio. Ela disse que os filmes "revelam o mal-estar do cineasta dividido entre duas emoções: o desejo e o senso de dever de registrar a realidade e o sentimento de culpa por estar invadindo e tirando proveito da tragédia das vítimas".
Muitas das questões éticas envolvendo a documentação de desastres giram em torno da dificuldade de conciliar as perspectivas de pessoas de fora com as experiências das pessoas diretamente afetadas. Para Chris Fujiwara, no caso dos filmes sobre o 11 de março essas preocupações podem também "ser afetadas pelas noções culturais japonesas de decência e vergonha". Em "311", um dos filmes mais controversos mostrados em Yamagata, quatro cineastas de Tóquio registram sua viagem à área de Fukushima. O que começou como uma "road trip" em tom de humor negro, com câmeras filmando medidores de radiação, torna-se perturbador quando eles entrevistam moradores traumatizados, documentam a retirada de corpos e são obrigados a pararem de filmar. Nos últimos meses, o programa "Cinema Conosco" percorre o Japão. Fujioka disse que algumas plateias, sobretudo nas zonas de desastre, ficaram comovidas, mas que falta interesse em outras regiões. "As pessoas, especialmente os jovens, querem seguir adiante com a vida, agora que não estão correndo perigo", disse ela. "Sente-se um pouco de fadiga do desastre."


Uma jovem anulou legalmente um arranjo para casamento feito quando ela ainda era uma criança, no que seria o primeiro caso do tipo na Índia. Laxmi Sargara, de 18 anos, se casou com Rakesh no Estado do Rajastão, no norte do país, quando ela tinha somente um ano de idade e ele, três. Ela cresceu com sua família e só descobriu que estava casada quando seus sogros foram "exigi-la" esse mês. Casamentos forçados de crianças são ilegais na Índia, mas ainda são comuns em muitas regiões do país, especialmente em comunidades rurais e mais pobres. Depois de apelar para seus pais sem sucesso, Laxmi procurou a ajuda da ONG local Sarathi Trust. "Ela ficou deprimida. Ela não gostava do garoto e não estava preparada para cumprir a decisão dos pais", disse o funcionário da ONG Kriti Bharti à agência de notícias AFP. "É o primeiro exemplo que conhecemos de um casal que se casou na infância querendo a anulação do casamento e esperamos que outros se inspirem", afirmou. A ONG diz que, no início, Rakesh queria seguir adiante com o casamento, mas mudou de ideia. Laxmi e Rakesh assinaram uma declaração juramentada de que o casamento é nulo na presença de um tabelião em Jodhpur. Narayan Bareth, um jornalista na capital do Rajastão, Jaipur, diz que segundo uma pesquisa recente, 10% das meninas do Estado são casadas antes de completarem 18 anos. De acordo com correspondentes, há casos raros no país de meninas que se recusaram a casar. A Unicef afirma que 40% dos casamentos forçados de crianças do mundo acontece na Índia, mas que os esforços recentes para acabar com a prática diminuíram esse número.

domingo, 1 de abril de 2012






http://www.guardian.co.uk/world/2012/apr/01/china-crackdown-bloggers-coup-rumours



http://www.lemonde.fr/culture/article/2012/03/29/ea-sola-danse-son-vietnam-meurtri_1677661_3246.html



http://lolipop-banzai.blogspot.com.br/2011/04/japanese-beauties.html






http://drugoi.livejournal.com/3710218.html 

http://drugoi.livejournal.com/3710487.html
Uma visita de quatro semanas à Índia me fez sentir que agora já vi a dança em um lugar onde ela é verdadeiramente fundamental para uma cultura. Na utopia disciplinada de Nrityagram, povoado situado a uma hora de carro a oeste de Bangalore e totalmente dedicado à dança, não é incomum que as pessoas dancem de manhã, à tarde e à noite, geralmente com música ao vivo. A companhia do vilarejo, a Nrityagram Dance Ensemble, dirigida por Surupa Sen, é um exemplo magnífico do odissi, uma das danças clássicas da Índia. Passei quatro dias no povoado, observando a companhia preparar-se para uma turnê no exterior que fará neste mês e que vai incluir escalas em Nova York, Louisiana, Iowa e México. Em abril, a companhia fará workshops no Mark Morris Studio, no Brooklyn. As viagens da empresa ao exterior ajudam a manter o povoado financeiramente estável. Nrityagram foi fundado em 1999 como gurukul (aldeia residencial de estudos) pela atriz Protima Bedi, uma grande expoente do odissi. A Índia possui nada menos que oito estilos de dança oficialmente considerados clássicos. Mas a complexa história política e social do país levou a maioria desses estilos à quase extinção na década de 1950. A maioria das danças estava ligada às "devadasis", uma casta legendária e hoje virtualmente extinta de dançarinas de templos. Algumas delas eram concubinas, algumas faziam voto de castidade e ainda outras eram prostitutas. Embora esses estilos de dança tenham voltado a ganhar presença, foram extensamente reconstruídos no século passado. Para os indianos, o classicismo está estreitamente ligado ao espírito de independência nacional e ao orgulho dos diferentes Estados do país. É também uma maneira de restabelecer o contato com uma tradição que já existia antes das invasões coloniais ocidentais. A dança odissi nasceu no Estado de Orissa, na costa leste da Índia, e alguns puristas desse Estado dizem que Nrityagram distancia o estilo de sua cultura original. A verdade, porém, é que a origem do povoado coincidiu com a disseminação mundial da odissi como cultura de dança. O que há de especial nessa dança? Suas características mais singulares são os movimentos sensuais em que as dançarinas deslocam seu peso (criando várias curvas a partir dos joelhos, do torso e do pescoço), o fraseado rítmico e a ligação com esculturas de dança da antiguidade. Como muitos dos estilos de dança do Sudeste Asiático, a odissi é derivada do Natya Shastra, tratado sobre as artes cênicas escrito entre 200 a.C. e 200 d.C. Mas esta dança antiga é também uma dança nova. Algumas de suas características básicas foram codificadas apenas na memória viva e ainda são temas de discussão. A extensão e a beleza do odissi sem dúvida alguma justificam que o estilo seja considerado clássico. Como vários outros estilos clássicos na Índia, o odissi possui grande capacidade de forma pura (nritta) e expressão poeticamente dramática (abhinaya). Em Nrityagram, nas partes de abhinaya, é fascinante observar a mobilidade facial das dançarinas e sua profunda comunicabilidade gestual.
A produção que está prestes a sair em turnê é um projeto conjunto que reúne dançarinos e músicos de Nrityagram com um guru, coreógrafo, percussionista e duas dançarinas da Companhia de Dança Chitrasena, de Colombo, Sri Lanka (as danças "kandyanas" de Sri Lanka, apresentadas pelas dançarinas do Chitrasena, formam mais um dos muitos gêneros do subcontinente indiano). Intitulado "Samhara", o espetáculo é um diálogo sutil entre os dois estilos. As dançarinas de Nrityagram aludem à companhia Chitrasena como a contraparte masculina do estilo odissi. As duas bailarinas de Sri Lanka que participam do projeto são jovens belas, esbeltas e de pernas e braços longos. Mas a diferença entre a linguagem delas e a de Nrityagram não demora a se evidenciar. As mulheres do grupo Chitrasena cobrem muito mais espaço que as dançarinas de odissi, tanto no levantar vertical fácil de seus membros quanto em seus deslocamentos horizontais. Elas exibem poucas das curvas horizontais arrebatadoramente sensuais que são fundamentais no odissi. E demonstram seu entusiasmo facial com sorrisos largos, enquanto as dançarinas de Nrityagram, como é o caso na maioria dos estilos clássicos indianos, conservam a compostura facial em trechos de dança pura. E, enquanto as dançarinas de odissi usam uma corrente de sinos que dá três voltas em seus tornozelos, as de Chitrasena usam tornozeleiras de bronze com sinos, presas ao tornozelo e ao segundo dedo do pé. Um observador ocidental acha que tudo na dança indiana pertence ao "outro". Mas a dança indiana contém múltiplos "outros".
As danças indianas multiplicam os dualismos: elementos masculinos e femininos, qualidades esculturais e sinuosas, forma abstrata e mímicas, movimento e descanso. Os contrastes no interior do idioma garantem infinita expressividade.
No fim das contas, Bui Van Vui viveu apenas três meses na casa nova que duas filhas suas, casadas com sul-coreanos, o ajudaram a construir aqui. Morrendo de câncer na garganta, ele havia pedido pressa ao empreiteiro. O enorme sobrado ofusca a acanhada estrutura de concreto vizinha, a antiga casa da família. O elegante telhado vermelho do novo imóvel pode ser visto à distância neste recanto rural do litoral norte do Vietnã, perto de Haiphong. "Esta casa era o sonho dele", disse a viúva de Bui, Nguyen Thi Nguyet, 60. O casal, como muitos outros no interior vietnamita, havia prosperado nos últimos anos graças a filhas que, estimuladas pelo sonho de uma vida melhor e pelo ideal confucionista de amparo aos pais, emigraram para se casar com sul-coreanos. O dinheiro que elas e outras moças transferem regularmente para pequenas localidades no Vietnã costuma rapidamente se transformar em casas novas. As jovens vietnamitas geralmente se casam com sul-coreanos mais velhos, que, por causa da baixa renda ou de casamentos anteriores, têm dificuldades para encontrar uma noiva do seu próprio país. O acirrado mercado nupcial sul-coreano deu origem à florescente atividade empresarial de agenciadores de casamentos, que levam esses homens em excursões ao Vietnã, onde eles escolhem mulheres para casar em rápidos encontros. Foi durante uma viagem dessas, em 2007, que uma das filhas de Bui e Nguyen, Bui Thi Thuy, então com 22 anos, conheceu o seu marido, o viúvo Kim Tae-goo, um cinquentão produtor de maçãs. No karaokê Lucky Star, em Hanói, nenhuma das mais de 20 moças presentes se interessou de imediato por Kim. Mas Thuy e duas outras se animaram depois que o homem prometeu enviar US$ 100 mensais aos pais da mulher que o aceitasse.
Thuy e Kim se instalaram numa localidade rural da Coreia do Sul e tiveram uma filha, mas se separaram há um ano. Thuy hoje vive em Seul com uma irmã mais nova, também casada com um sul-coreano. No casamento de Thuy e Kim, ocorrido em 2007 em Hanói, Bui não conseguia esconder sua frustração pelo fato de sua filha estar se unindo a um homem com a idade dele próprio. Mas Kim o lembrou dos US$ 100 que prometera enviar a cada mês. "Ele não manteve a promessa", disse Nguyen. Em quatro anos de casamento, o ex-genro mandou apenas US$ 880. "Ele é pobre", acrescentou a ex-sogra. Kim não quis ser entrevistado para esta reportagem. Por outro lado, contou Nguyen, ela recebeu mais de US$ 100 por mês da filha mais nova e do marido sul-coreano dela. Ela enviava parte do salário que recebia num emprego de meio período, além do dinheiro do marido. O casal forneceu quase metade dos US$ 20 mil necessários para a construção de uma nova casa, segundo Nguyen. No começo de 2010, Bui soube que tinha câncer na garganta e procurou tratamento em Hanói. Como não adiantou, ele passou a concentrar as suas energias em terminar a casa, o que aconteceu em outubro de 2010. Nos seus últimos três meses de vida, Bui ficou tão fraco que não conseguia nem mais subir ao segundo andar da casa. O tumor da garganta inchou até ficar do tamanho de uma laranja, impedindo-o de conversar com a família -inclusive com Thuy, que voltou da Coreia do Sul. Logo depois do enterro do pai, Thuy regressou a Seul. Mas seus pais haviam reservado um pequeno lote de terra para ela. "Depois que a filha dela crescer", disse a mãe, "talvez Thuy possa voltar para viver aqui".

O prefeito Shohei Muroi sabe que é difícil conseguir que novas empresas invistam nesta cidade industrial em crise, a apenas 95 quilômetros da usina nuclear mais famosa do Japão. Por isso, em setembro Muroi fez o impensável. Ele foi à China para pedir a um fabricante de máquinas pesadas que se instale em sua cidade. Foi uma inversão de papéis notável, em um país habituado a enviar empregos fabris para a China. "Chegamos a um ponto no Japão em que não podemos mais crescer sem ajuda externa", disse Muroi. "Se você estiver baseado na China ou nos EUA, por favor venha fazer negócios em Aizu-Wakamatsu." Um ano depois que as catástrofes natural e nuclear obrigaram a uma mudança na economia japonesa, que já estava frágil após vários anos de redução, o país está descobrindo que deve fazer o que há muito tempo evitava: aprovar a vinda de fábricas estrangeiras. Isso também indica uma mudança de poder regional. Uma quantidade cada vez maior de capital estrangeiro vem da China, que no ano passado superou o Japão como segunda maior economia do mundo. Outros acordos industriais recentes com os chineses incluem planos para uma fábrica de plásticos em Tottori e uma de máquinas pesadas em Kochi. O investimento direto da China no Japão saltou 20 vezes em quatro anos, para US$ 314 milhões em 2010, segundo o Ministério das Finanças japonês - embora como porcentagem total do investimento no Japão o dinheiro chinês continue pequeno. "Os chineses começam a parecer salvadores", disse Kotaro Masuda, um economista do Instituto para o Comércio e Investimento Internacionais em Tóquio, afiliado ao governo. O Japão quer duplicar o fluxo de investimento direto estrangeiro no país na próxima década. Um enfoque especial é para os três municípios mais afetados pelos desastres de março de 2011: Iwate, Miyagi e Fukushima, onde fica Aizu-Wakamatsu. A nova abertura vai exigir que o Japão rompa décadas de hábitos que desencorajavam o investimento estrangeiro aqui: regulamentação forte, altos custos operacionais e fiscais e fracos estímulos do governo -para não citar a xenofobia declarada.
O influxo de investimentos estrangeiros diretos no Japão chegou a apenas 0,24% de seu PIB em 2009 -e até se tornou negativo nos dois anos seguintes. Muitas empresas do Japão preferem colocar seu dinheiro em oportunidades no estrangeiro e não no país. Dados do Ministério das Finanças mostram que o investimento externo líquido do Japão alcançou 9,1 trilhões de ienes (US$ 113 bilhões) em 2011. "Todo mundo teme que as empresas japonesas se mudem para o exterior. Se isso acontecer, o Japão deverá se equilibrar abrindo-se cada vez mais para o investimento estrangeiro", disse Kyoji Fukao, professor de economia na Universidade Hitotsubashi. Os chineses estão comprando empresas japonesas em dificuldades. No ano passado, a empresa de máquinas de lavar roupa e geladeiras Sanyo Electric foi comprada pela chinesa Haier. Em 2011, pela primeira vez na história, o número de fusões e aquisições de companhias chinesas no Japão superou o de empresas americanas no país. Para as empresas chinesas, aprender a conquistar os exigentes consumidores japoneses também pode ajudar a refinar produtos e serviços para sua economia doméstica -e torná-la mais competitiva. "Nosso objetivo é construir produtos que satisfaçam os padrões japoneses", disse o presidente da Zoomlion, Zhan Chunxin. O governo central designou bairros em Iwate e Miyagi como "zonas especiais de reconstrução do desastre", que oferecem incentivos e deduções fiscais para novos investidores. Os subsídios mais generosos poderão ser em Fukushima, que alocou 225 bilhões de ienes (US$ 2,8 bilhões) para a indústria, incluindo 30 bilhões de ienes para novas empresas. Uma companhia atraída pelos subsídios, a Canadian Solar, está em negociações para montar uma fábrica de painéis solares em Miyagi ou Fukushima. Cidades regionais como Aizu-Wakamatsu poderão ser cruciais para o esforço japonês de atrair investimento estrangeiro, disse Shojiro Nakamura, um consultor da empresa global de consultoria Accenture. O aluguel e outros custos estão mais baratos em Aizu-Wakamatsu do que em Tóquio e a cidade tem uma força de trabalho capacitada, disse Nakamura. Mas o desafio em longo prazo para Aizu-Wakamatsu, segundo ele, é criar empregos duradouros que não dependam de subsídios ou custos baixos. Uma iniciativa da cidade com uma universidade local e a Accenture quer tornar Aizu-Wakamatsu um centro de pesquisa e desenvolvimento, uma "cidade inteligente" que funcione com energia renovável e apoie empregos de alta tecnologia. O investimento da China é bom, diz Nakamura, "mas na verdade queremos ser mais como o Vale do Silício".