sábado, 26 de março de 2011

ENCONTROS DO CEO

01/04, SALA 500A, 13:00
Muito antes de palavras como "multiculturalismo" e "cozinha fusion" entrarem para o léxico moderno, Aida de Jesus e seus antepassados já misturavam comida, língua e DNA de diversos cantos do globo.
Essa chef de 95 anos, cujos ancestrais provinham de Goa, Malaca e outros antigos postos avançados do império português, cresceu celebrando o Natal e o Ano-novo chinês em ceias à base de linguiça portuguesa, "bok choy" [acelga chinesa] e galinha cafreal, um prato com pedigree africano. Ela falava português na escola, cantonês na rua e um animado crioulo com "as meninas".
"Nós, macaenses, estamos sempre misturando", disse, em inglês, a Senhora de Jesus, como prefere ser chamada, sentada no salão do restaurante que sua família comanda há décadas em Macau. "Somos muito adaptáveis."
Mas, hoje em dia, os macaenses -como são chamados os habitantes mestiços desta ex-colônia portuguesa na China- veem sua rica tradição cultural ameaçada.
Sempre menos numerosos que os migrantes chineses e comerciantes portugueses que lotavam este ponto densamente povoado do delta do rio das Pérolas, os macaenses que permaneceram após Pequim recuperar o território, em 1999, estão em franca minoria -menos de 10 mil numa população de quase 500 mil habitantes, 95% dos quais chineses.
"Há, provavelmente, mais macaenses vivendo na Califórnia e no Canadá do que em Macau", disse o advogado Miguel de Senna Fernandes. "Agora que somos parte da China, estamos enfrentando uma força muito absorvente, dominadora." Não que Fernandes esteja desistindo. Além de organizar eventos sociais na sua Associação dos Macaenses, ele também se tornou o Dom Quixote do patuá, listado pela Unesco como uma língua ameaçada.
Ele ajudou a publicar um dicionário de expressões patuás e há 18 anos encena anualmente uma peça que retoma a "doci papiaçam" -doce conversa- derivada do português arcaico, do malaio e do cingalês, com pitadas de inglês, holandês, japonês e, mais recentemente, uma grande contribuição do cantonês.
Esse é um dos últimos remanescentes dos idiomas crioulos que floresceram na constelação de portos que constituam as possessões asiáticas e africanas de Portugal.
O linguista Alan Baxter, da Universidade de Macau, especialista em crioulos derivados do português, disse que as origens do patuá macaísta remontam ao século 16, quando comerciantes portugueses e seus agregados faziam negócios com africanos, indianos e malaios e, então, seguiam para outras colônias do império.
No começo, essa língua atendeu bem aos macaenses mestiços, servindo de ponte entre os governantes portugueses de Macau e seus habitantes predominantemente chineses. Mais recentemente, depois de começarem a enviar seus filhos a escolas portuguesas, os macaenses se tornaram indispensáveis como gestores e burocratas.
O mesmo sincretismo se dá no cotidiano dos macaenses, muitos dos quais são católicos devotos, mas dão aos seus filhos envelopinhos vermelhos de dinheiro no Ano Novo Lunar.
Nos anos imediatamente anteriores à transferência para a China, milhares de macaenses partiram, e muitos deles se radicaram em Portugal. Mas, na última década, Pequim manteve sua promessa de dar a Macau 50 anos de relativa autonomia, então a emigração parou, e alguns voltaram.
Um atrativo irresistível tem sido o crescimento econômico que chegou a 20% no ano passado, motivado pelo jogo e pela construção.
Filomeno Jorge está determinado a manter viva pelo menos uma faceta da identidade macaense. Toda quarta-feira, ele junta os sete membros da sua banda, a Tuna Macaense, para desfiar um repertório que inclui fados portugueses, baladas cantonesas e pop filipino.
Jorge, 54, está cada vez mais preocupado em encontrar novos talentos para o grupo. "Todos nós na banda já passamos dos 50. Depois que morrermos, nossa música vai morrer, e eu não posso deixar isso acontecer."

terça-feira, 22 de março de 2011

CECÍLIA QUE MANDOU

Aline Gomes Rosa
Voluntariado - Gerente de Projetos Sociais
Ì Cruz Vermelha Brasileira -
Filial do Estado de São Paulo
11 5056-8665
agomes@cvbsp.org.br

domingo, 20 de março de 2011

Por causa das catástrofes no Japão, a operadora TIM decidiu não cobrar dos clientes pelas ligações feitas ao país. O benefício, que funciona nos celulares pós e pré-pagos, começa a valer a partir de hoje e termina no dia 31 de março. Mas para não ter a ligação tarifada, o usuário terá que usar, obrigatoriamente, o código 41 da TIM na chamada DDI.
ときに地球に優しく揺れる
は破壊がそれを作るでしょう。
しかし、ときに激しく揺れ
多くの人命が失われることになります
Jin Sato, prefeito deste tranquilo porto pesqueiro, tinha acabado de fazer um discurso na assembleia municipal sobre a necessidade de fortalecer os preparativos para um tsunami quando ocorreu o terremoto. O tsunami ocorreu pouco mais de meia hora depois, ultrapassando em muito seus piores temores.
Ele e outros sobreviventes descreveram um muro de água marrom espumante que atravessou esta cidade de mais de 17 mil habitantes tão rápido que poucos puderam escapar. As autoridades municipais disseram que mais de 10 mil pessoas podem ter sido engolidas pelo mar. Mesmo muitos daqueles que chegaram a um terreno mais elevado não foram poupados de ondas que os sobreviventes disseram ter chegado a mais de 18 metros de altura.
“Foi uma cena do inferno”, disse Sato, 59 anos, com os olhos vermelhos de lágrimas. “Foi além de qualquer coisa que poderíamos imaginar.”
Grande parte da destruição provocada pelo tsunami, que atingiu a costa nordeste do Japão na sexta-feira, foi registrada pela televisão, para que todos pudessem ver. Mas a devastação mais letal ocorreu em comunidades pesqueiras remotas como esta, onde os moradores disseram que as montanhas íngremes e as pequenas baías ampliaram o tamanho da onda esmagadora, não registrada por helicópteros dos noticiários de TV ou vídeos de Internet.
Os únicos registros agora são os relatos dos sobreviventes e, enquanto a notícia sobre o que aconteceu aqui começa a se espalhar, mesmo o Japão atingido pelo desastre se vê horrorizado.
Nesta cidade, e em outras próximas, o tsunami criou cenas de destruição quase apocalíptica. Sobreviventes traumatizados agora pensam que os vivos e os mortos foram separados por um mero capricho de uma parede de água devoradora, veloz, e por decisões às vezes de fração de segundo.
Yasumasa Miyakawa, 70 anos, que é dono de uma lavanderia no piso térreo de sua casa, disse que ele e sua esposa correram para uma colina quando ouviram o alerta de tsunami. Então Miyakawa voltou, porque esqueceu de desligar o ferro e teve medo de que pegaria fogo.
Quando ele saiu de sua loja, ele ouviu as pessoas na colina acima dele gritando: “Corra!” Uma onda investia contra ele, a cerca de 800 metros de distância na baía, ele contou. Ele entrou em seu carro e quando virou a chave e engatou a marcha, a onda já estava quase sobre ele. Ele disse que acelerou para fora da cidade perseguido pela onda, que se erguia em seu espelho retrovisor.
“Foi como uma das cenas ridículas de um filme de ação, exceto que foi real”, disse Miyakawa, com suas mãos tremendo. “Eu estava a 70 quilômetros por hora e a onda estava me alcançando. Ela foi assim rápida.”
Quando ele voltou na manhã seguinte, ele encontrou sua casa reduzida às fundações e ouviu fracos gritos de ajuda. Ele os seguiu até o prédio de apartamentos vizinho, onde encontrou uma mulher tremendo e molhada em meio ao frio de março. Ele então a levou para um abrigo. “A onda matou muitos”, ele disse, “mas poupou alguns poucos”.
Entre estes estavam as crianças da cidade, cujas escolas ficavam localizadas no alto de uma colina.
De fato, as crianças disseram que nem mesmo perceberam a onda. Ryusei Tsugawara, um estudante de 13 anos, disse que percebeu que algo estava errado quando a aula chegou ao fim e os professores não deixaram as crianças irem para casa. Em vez disso, as crianças permaneceram na escola até o dia seguinte, quando seus pais vieram buscá-las.
Alguns pais não vieram, e as crianças desafortunadas foram colocadas aos cuidados de amigos e parentes, disseram as autoridades municipais. “A cidade desapareceu e tenho medo de permanecer aqui”, disse Ryusei.
Uma decisão de subir na cobertura da prefeitura provou ser fatídica para muitos. Sato, o prefeito, disse que ele e outros funcionários municipais correram para observar a onda que se aproximava do alto do prédio, que por estar a três andares de altura e a 800 metros da costa parecia ser um local seguro.
Em vez disso, disse Sato, a água atingiu o prédio e varreu seu teto, o prendendo contra uma grade de ferro, com sua cabeça pouco acima da água. Ele disse que foi o único motivo para ter sobrevivido. Das 30 pessoas que estavam na cobertura, apenas 10 sobreviveram se agarrando à grade ou à antena.
Após o recuo das águas, Sato e outros sobreviventes trêmulos na cobertura reuniram pedaços de madeira e espuma para acender uma fogueira. Na manhã seguinte, eles usaram algumas cordas de pesca para descer. Aproximadamente 7.500 sobreviventes se reuniram em abrigos nas colinas, onde permanecem sem eletricidade, aquecimento ou água encanada, aguardando por ajuda de fora.
As autoridades municipais disseram que aproximadamente 10 mil moradores estão desaparecidos, apesar de não saberem exatamente quantos, porque muitos dos registros e documentos da prefeitura foram destruídos pela onda. Mil corpos já foram encontrados, segundo o noticiário local, um número que as autoridades se recusaram a confirmar ou negar. Muitos mais devem estar presos em escombros, ou enterrados sob a lama marrom que o tsunami deixou para trás.
De modo semelhante em Kesennuma, a aproximadamente 25 quilômetros ao norte daqui, as autoridades disseram que uma baía de 10 quilômetros que acolhia uma cidade também provou ser sua ruína, canalizando e comprimindo o poder do tsunami até, no final, a onda se erguer a quase 15 metros de altura.
A escala da destruição, disseram as autoridades, ultrapassou em muito os modelos de pior cenário das projeções dos especialistas em tsunami. A onda arrasou completamente aldeias de pescadores e enclaves residenciais de cima a baixo de um estreito, destruiu a usina de tratamento de esgoto da cidade e destruiu mais de 2,5 quilômetros de lojas e apartamentos em seus arredores.
Ela avançou por um rio e alagou o novo distrito de varejo, saltou por cima do muro do porto, virou à esquerda e arrasou quadras inteiras do centro velho da cidade, invadindo prédios inteiros 100 metros ou mais.
Segundo o mais recente levantamento, aproximadamente 17 mil ficaram ilhados, ou mais de um entre cinco habitantes, e havia 211 mortos no necrotério.
Haverá mais, pois a simples escala dos estragos impede os esforços de contar os mortos e desaparecidos. As autoridades de emergência dizem que os cadáveres presentes em centros comunitários periféricos ainda não foram computados. Equipes de resgate de Tóquio e outros lugares estão apenas iniciando as buscas em muitas áreas.
Mas as autoridades não estão preocupadas com o número de mortos por ora. Há muito mais o que fazer.
“Ao longo da costa, tudo desapareceu”, disse Komatsu Mikio, o chefe das finanças em Kesennuma. “Ela foi totalmente varrida. Nós não estamos priorizando a recuperação dos corpos. Nós precisamos liberar estradas, restabelecer o fornecimento de eletricidade e água. Essa é nossa meta principal. E enquanto fizermos isso, nós encontraremos os corpos.”

sábado, 19 de março de 2011

Hirosato Wake olhou para as ruínas da sua pequena cabana de pescador: esqueletos de prédios destroçados, telhas metálicas retorcidas, corpos com as mãos crispadas como se fossem garras. Somente em uma outra ocasião ela havia visto algo como aquilo: na Segunda Guerra Mundial.
“Eu sobrevivi aos bombardeios aéreos a Sendai”, diz Wako, 75, referindo-se aos bombardeios dos aliados contra esta que é a maior cidade do nordeste do Japão. “Mas isto aqui é muito pior”.
Para os idosos que moram nas vilas ao longo da costa do nordeste do país, esta catástrofe representa um retorno a um passado de privações que os filhos deles nunca conheceram. Assim como ocorreu em grande parte do interior do Japão, muitos jovens daqui foram embora, procurando emprego na cidade. Os idosos que ficaram estão se deparando com a devastação e uma possível contaminação radioativa, um desafio que só se equipara ao problema que essa geração enfrentou quando a sua nação derrotada e desesperada teve que ser reconstruída a partir das ruínas da guerra.
Nesta cabana em Yuriage, a busca por sobreviventes se transformou em uma procura por corpos. E a maior parte desses corpos era de pessoas velhas – muito velhas para fugirem do tsunami.
Yuta Saga, 21, estava catando os cacos de copos quebrados após o terremoto quando ouviu as sirenes e gritos de “Tsunami!”. Ele pegou a mãe pelo braço e correu para a escola de segundo grau, a construção mais alta da área. O tráfego ficou inteiramente congestionado, já que os motoristas em pânico colidiam os seus veículos. Ele foi capaz de avaliar o avanço da onda pelas nuvens de poeiras que iam sendo criadas à medida que os prédios desmoronavam.
Quando chegaram à escola, Saga e a mãe encontraram a escada que levava ao telhado inteiramente tomada por pessoas idosas que pareciam não ter forças para subir. Algumas estavam simplesmente sentadas ou deitadas nos degraus. No momento em que o andar inferior começava a ficar superlotado com as pessoas que fugiam, a onda atingiu o prédio.
No início, as portas suportaram o choque. Mas depois a água começou a entrar pelas frestas e a inundar o aposento. Em pânico e desesperados para chegarem ao telhado, os moradores mais novos começaram a empurrar os outros e a gritar, “Rápido!” e “Saiam da frente!”. Eles passaram por cima daqueles que não estavam se movendo e os imprensaram para os lados com cotoveladas.
“Eu não podia acreditar naquilo que via”, disse Saga. “Eles chegaram a empurrar os velhos para abrir caminho. Os idosos não tinham como se salvar por conta própria. As pessoas não se importam umas com as outras.”
Foi então que as portas não resistiram e se escancararam, e a água invadiu o lugar. Logo todos estavam com água pela cintura. Saga viu uma mulher idosa, sem forças ou vontade para ficar de pé, sentada na água, que chegou ao seu nariz. Ele correu até a idosa, pegou-a pelas axilas e subiu com ela pela escada. Uma outra pessoa na escada pegou a velha e a passou para outra pessoa que estava alguns degraus acima. Os homens formaram uma corrente humana, carregando os idosos e algumas crianças até o topo do prédio.
“Eu vi o lado feio das pessoas, e depois vi o lado bom”, conta ele. “Algumas pessoas só pensam em si próprias. Outras param para ajudar”. Saga diz que uma mulher entregou a ele o filho pequeno. “Por favor, pelo menos salve o bebê!”, suplicou ela, com a água já à altura do peito. Saga disse que pegou o bebê e subiu a escada correndo com ele. Muitas das pessoas que ainda estavam ao pé da escada foram arrastadas pelas águas.
Ele se juntou a cerca de 200 pessoas que estavam no segundo andar do prédio. A mãe do bebê subiu a escada correndo, e ele colocou a criança nos braços delas. Das janelas, eles viram casas e carros sendo carregados pela onda. Ele conta que as pessoas não falavam. Elas só choravam e gemiam, com um ruído coletivo, enquanto observavam a destruição se propagar.
Saga viu um dos seus colegas de escola, cujos pais tinham voltado para casa para pegar alguns objetos quando a onda chegou e não conseguiram chegar até à escola. O amigo dele estava sentado no piso, chorando.
A família de Saga estava segura, incluindo o seu irmão de 15 anos, Ryota, que fugiu para a escola de bicicleta. Na segunda-feira, os dois irmãos retornaram a Yuriage pela primeira vez. A casa deles ficou completamente destruída; dela só restaram as fundações. Quando chegaram lá, um alarme de tsunami soou. Eles correram para um lugar mais elevado, e o garoto mais novo começou a chorar. “Ele não consegue apagar a memória daquilo que aconteceu”, diz Saga. “Muitos dos meus amigos estão desaparecidos”, diz Ryota.
Hisako Tanno, 50, trabalhava em um depósito de mercadorias quando houve o terremoto. Ela seguiu para casa a fim de pegar o pai de 77 anos de idade. Ao estacionar o carro em frente à casa, ela escutou gritos. Tanno olhou para a rua e viu uma “montanha de lixo” movendo-se pela rua em direção a ela. Era a onda.
“Só tive tempo de pegar a minha bolsa e correr”, diz Tanno.
Os vizinhos telefonaram para Tanno, e ela correu até o segundo andar da casa deles. Foi aí que ela se lembrou de que havia deixado o pai para trás.
Ela podia ver a sua casa da janela dos vizinhos. Ao atingir a casa, a onda derrubou as portas de correr. Neste momento, horrorizada, ela viu o pai ser arrastado para fora. A água tinha agora a altura de uma casa de um andar. Ela viu o pai agarrar-se à base da grade de ferro da varanda do segundo andar da casa.
“Ele estava tentando içar-se para fora d’água, mas a perna dele não funcionava muito bem”, conta Tanno.
Em meio à água que subia sem parar, o pai dela conseguiu de alguma maneira subir na grade de metal. Ele ficou agarrado à grade, lutando pela sobrevivência.
“Eu não sabia que ele tinha tanta força”, diz ela. “Ele tinha tanta vontade de viver que acabou encontrando aquela última reserva de energia”.
Depois do terremoto, Jun Kikuchi, 33, que é dono de uma companhia local de táxi, foi até às casas de seis moradores com mais de 70 anos de idade e perguntou se eles desejavam ir para um local mais elevado. Eles se recusaram, argumentando que não tinha havido nenhum alerta de tsunami, de forma que permaneceriam em casa.
Kikuchi sobreviveu ao terremoto subindo para o segundo andar do escritório da sua companhia, que resistiu à força do tsunami. Na manhã seguinte, quando ele finalmente se aventurou a sair, as casas de todos os seis idosos que ele visitara tinham sido arrastadas pelas águas. “Os idosos não são capazes de se proteger em um desastre desse tipo”, explica Kikuchi. “Eles não tiveram a menor chance”.

segunda-feira, 7 de março de 2011

ENCONTROS DO CEO

18/03, SALA 500A, 13:00

TOP TEN TRILHAS DE FILMES ASIÁTICOS

O bairro arborizado ao pé da colina se chama Bukchon, um distrito do centro de Seul que constitui a última coleção remanescente das casas com pátio tradicionais da cidade.
Apesar de toda sua tranquilidade aparente e arquitetura silenciosamente elegante, Bukchon também é um lugar de raiva e desconfiança. Os preservacionistas, veja só, estão esganando uns aos outros.
“Eles querem matar meu marido e nos tirar daqui”, disse uma moradora, Jade Kilburn, empresária coreana que, junto com seu marido inglês, David, já comprou briga com os vizinhos, a polícia, os tribunais e uma série de tecnocratas da cidade na tentativa de evitar que as casas tradicionais de Bukchon sejam reformadas ou demolidas completamente.
Uma das rivais de Kilburn é Kim Hong-nam, uma historiadora da arte formada em Yale e ex-diretora do Museu Nacional Popular e do Museu Nacional da Coreia. Ela mora na vizinhança e acha a senhora Kilburn “rígida demais”.
“Ele só reclama”, diz Kim, tomando café e fumando um cigarro em sua casa ensolarada numa tarde recente. “As pessoas daqui não gostam dele.”
Kim e os Kilburns vivem – orgulhosamente – nas chamadas hanok, as tradicionais casas térreas coreanas com telhas de barro.
As hanok de Seul sofreram muito durante a ocupação japonesa de 1910 a 1945, quando as casas com pátios foram divididas e reformadas para se tornarem habitações menores; durante a Guerra da Coreia de 1950 a 1953, quando muitas foram destruídas; e durante a expansão da construção civil que começou em Seul nos anos 70. Embora elas não sejam exatamente antigas, as hanok de Bukchon dos anos 20 e 30 são o que existe de arquitetura residencial histórica aqui.
Não faz muito tempo, Bukchon tinha 2.500 hanok. Agora elas quase não chegam a 800, e apenas uma rua do bairro inteiro continua intocada. Os preservacionistas acreditam que as hanok originais estão em perigo como as baleias ou os pandas. Bukchon, para eles, é a última floresta tropical numa cidade cheia de motosserras.
Kilburn, que tem um jeito gentil e polido, diz que estava fotografando a demolição de uma hanok em 2006 quando foi golpeado no peito pelo arquiteto que supervisionava o projeto. Ele caiu na rua, abriu a cabeça e passou um mês no hospital. No fim, ele próprio foi condenado por atacar o arquiteto.
As brigas entre vizinhos costumam ser banais, quer aconteçam em Seul, Paris ou Nova York. Mas a inimizade em Bukchon diz respeito a questões mais amplas, como por exemplo se os coreanos são tão aficionados pelo novo que ignoram ou menosprezam sua própria tradição arquitetônica. Um paralelo, talvez, seja Beijing, que destruiu totalmente suas próprias casas com pátio tradicionais.
“As pessoas aqui destruiriam voluntariamente essas casas para construir prédios cada vez mais altos, para aumentar a área construída e ganhar mais com os aluguéis”, diz Doo Jin Hwang, um arquiteto notório de Seul que restaurou algumas hanok, escreveu um livro sobre elas e desenvolveu um aplicativo para iPhone sobre as casas de Bukchon.

Uma obsessão nacional pela modernidade e uma mania de construir prédios cada vez mais elaborados levaram à destruição de milhares de hanok. Seul vem se empenhando firmemente em destruir o velho e criar o novo.
“Podemos perder nossa história”, diz ele.
Até o prefeito de Seul, Oh Se-hoon, sabe das hostilidades na minúscula vizinhança de Bukchon.
Numa entrevista, Oh considerou “muito exagerada” a visão dos Kilburn de que uma conspiração formada por funcionários municipais, construtores e um círculo influente de mulheres ricas (incluindo Kim) fez com que muitas casas antigas fossem compradas através de intimidação e fraude há cerca de dez anos.
Na visão dos Kilburn, essa campanha transformou Bukchon – que antes era uma área residencial de cortesãs e frequentadores da corte de dois palácios adjacentes da dinastia Chosun do século 15 – num enclave de casas de veraneio para os ricos, ao estilo dos vilarejos falsos de Potemkin. Casas em terrenos de 85 metros quadrados podem custar US$ 2 milhões (R$ 3,39 milhões) ou mais.
Kim restaurou metade de sua hanok da maneira tradicional coreana, usando materiais feitos à mão e carpinteiros experientes no velho estilo. A outra metade é mais europeia do que asiática. A pequena cozinha é elegante e impecável. Uma poltrona de papelão de Frank Gehry é a peça de destaque na sala de estar. A casa poderia estar em Milão ou Nova York.
“Tenho um amor e um respeito imenso pelas coisas coreanas, mas também sou uma pessoa contemporânea”, diz Kim, que diz ter lutado com o conselho de arquitetura de Bukchon por mais de um ano para conseguir aprovar o projeto de sua reforma.
“Não vou ser uma monja ou uma mulher Chosun do século 18. Essa casa é a soma da minha vida, do meu gosto e senso estético. É possível manter um equilíbrio entre o tradicional e o moderno.”
A parte “moderna” é que parece irritar Kilburn. Reformar o interior de uma hanok, acrescentar um porão ou um segundo andar são o tipo de insulto arquitetônico que ele abomina, e teme que a pureza das hanok esteja se desvanecendo.
“Em toda parte você pode ver que são permitidas exceções, uma por vez”, diz ele. “É a morte por meio de milhares de cortes.”
Ele mal pode olhar para as hanok que se transformaram em cafeterias, pizzarias e lojas luxuosas de joias e arte popular. Ele aponta com desdém para uma nova garagem com portas de madeira entalhadas que tentam imitar as características do estilo hanok. Ele reclama que garagem foi construída para guardar o Lamborghini de um vizinho.
“Só queremos manter a herança arquitetônica de Bukchon”, diz Kilburn, jornalista que relata os seus esforços de preservação em seu site, kahoidong.com. “A multa por demolir uma hanok é de apenas US$ 300 (R$ 508). Então as pessoas simplesmente pagam. É uma tragédia.”
Mas o arquiteto Hwang diz que quando alguma coisa tradicional não faz mais sentido prático – como o isolamento feito de argila e terra, por exemplo – ele está disposto a atualizá-la com um material mais moderno, como o material de isolamento Tyvek.
“Cedo ou tarde vou ofender alguém da comunidade arquitetônica daqui”, diz ele. “Mas você não pode preservar tudo em todos os níveis. Esse tipo de simbolismo não funciona mais para nós aqui na Coreia.”
A prefeitura da cidade começou a reajustar as leis de preservação em Bukchon há cerca de 35 anos, determinando inicialmente que não poderiam ser feitas melhorias em nenhuma hanok dali. Os telhados ficaram sem reparos, casas de concreto foram construídas nos jardins dos pátios e os sistemas de aquecimento alimentados por tijolos de carvão foram vencidos pelos notórios invernos de Seul. Como resultado, o bairro de Bukchon ficou abandonado.
O protecionismo exagerado da prefeitura acabou desencadeando protestos organizados dos moradores, muitos deles idosos ou da classe trabalhadora. Em resposta, em 1995, a maior parte das restrições anteriores foram retiradas, resultando na demolição de centenas de hanok, que foram substituídas por prédios de apartamentos de tamanho médio e casas de estilo suburbano que destoavam muito do estilo elegante e das proporções das hanok.
Quando a cidade voltou atrás, seis anos depois, o estrago já tinha sido feito.
“Mais da metade do vilarejo tinha desaparecido”, diz Kim melancólica. “Seis anos foram o suficiente para arruinar o lugar.”
Nisso, pelo menos, ela e Kilburn concordam. O bairro, agora bastante promovido pela prefeitura como um distrito histórico, é invadido quase todos os dias por turistas excessivamente barulhentos. À noite, como a maior parte dos donos fica ausente, ele parece deserto.
“Esse bairro tinha vida”, diz Kilburn. “Não parecia um set de filmagem. Era genuíno. As pessoas viviam suas vidas aqui.
“Mas agora, os vizinhos nunca batem à porta. Se você precisar de uma xícara de alguma coisa emprestada, não há nenhum vizinho para procurar. Basta andar pelas ruas à noite, para ver que não há nenhuma luz em nenhuma das casas. Nenhuma criança. Nenhuma senhora subindo a rua com dificuldade, carregando verduras. Tudo isso se foi.”

As exportações alimentaram os estágios iniciais do boom econômico em andamento da China. Agora, entretanto, o governo em Pequim está dando uma maior ênfase ao consumo doméstico. A classe média chinesa, ao que parece, está mais do que feliz em cumprir a ordem.
As multidões se acotovelam enquanto avançam. Homens em uniformes pretos acompanham a cena enquanto montam guarda. Uma convenção do Partido Comunista? Não. Na verdade, é a inauguração oficial da primeira loja da Gap em solo chinês.
Às 10h da manhã, o público já lotava a loja em Xangai. Em um prédio descendo a rua, a rede de aparelhos eletrônicos alemã Media Market também abriu sua primeira loja na República Popular. Os planos de expansão de sua empresa controladora, a Metro, incluem mais de 100 lojas adicionais até o final de 2015.
A chegada das lojas de rede ocidentais simboliza o início da próxima revolução da China. A crescente classe média do país embarcou em uma onda coletiva de consumo, pelo menos no cinturão afluente ao longo da costa leste do país, de Pequim a Xangai e até Shenzhen, no sul.
A liderança do partido na China está dando o exemplo –apesar de que em uma escala muito maior. Na semana passada, o vice-premier Li Keqiang, visto como uma estrela ascendente entre a elite de poder de Pequim, fez uma viagem à Europa durante a qual elogiou a diligência e disciplina alemã, assim como a qualidade dos bens “Made in Germany”. Li passou três dias apenas na Alemanha, e o ministro da Economia alemão, Rainer Brüderle, sem dúvida ficou satisfeito com o resultado: encomendas no valor total de 8,7 bilhões de euros junto à Volkswagen, Daimler e outras empresas.
Um comunista do alto escalão em uma farra de consumo. Logo após sua visita à Alemanha, Li prometeu aos espanhóis que Pequim compraria 6 bilhões em títulos da dívida do país em dificuldades. Na sexta-feira, ele foi recebido pela chanceler alemã, Angela Merkel.
Os mais de US$ 2,6 trilhões em reservas de moeda estrangeira mantidos pela China estão apenas aguardando para serem investidos. E Li, atuando na Europa como o comprador-chefe de fato do país, espera transformar a China em uma nação de consumidores.
A China e Hong Kong juntas já possuem mais de 100 bilionários, quatro vezes mais do que o Japão. Frequentar a feira anual de comércio em Xangai, cujos bens de luxo atendem aos novos ricos da China, é mais importante do que assistir às tradicionais paradas militares. De fato, o partido espera que as demonstrações ostentosas de riqueza estimulem o consumo doméstico.

A mudança é um prazer para as grandes marcas ocidentais. “Agora é precisamente o momento certo para nós entrarmos no mercado chinês”, diz Redmond Yeung, o chefe das operações da Gap na China. Yeung planeja abrir outra loja em Xangai e duas em Pequim quase simultaneamente. Concorrentes, como as lojas de roupas H&M e C&A, já possuem filiais na China.
Na China, essas redes de moda cultivam uma imagem mais luxuosa do que em seus mercados domésticos. Na nova Gap, por exemplo, uma calça jeans de edição limitada custa 1.969 yuans (aproximadamente US$ 297), quase o dobro do salário médio mensal de um trabalhador em Xangai. A nova classe média chinesa está preparada para pagar ainda mais por grifes estrangeiras do que os consumidores no Ocidente.
Isso também vale para Zhang Lizhong, 29 anos, e sua esposa Xu Bingqin, 26 anos, ambos funcionários de uma empresa de consultoria. É manhã de sábado em Xangai e eles estão sentados no sofá de seu apartamento. Enquanto ele digita algo em seu telefone inteligente, ela corre para pegar seu iPad. Eles estão fazendo planos para um fim de semana de compras e jantar em restaurantes, as duas atividades de lazer mais populares na China. Quatro dos 10 maiores shopping centers do mundo estão em solo chinês.
“Marcas famosas são muito importantes para nós quando compramos”, diz Zhang. “Elas representam qualidade.”
Em vez de imitar a geração de seus pais e trabalhar muito para produzir bens baratos para os consumidores ocidentais, ele e sua esposa querem desfrutar de sua nova prosperidade.
A China está se transformando em um mercado promissor para as empresas ocidentais, particularmente diante da acolhida calorosa que frequentemente recebem dos planejadores econômicos do governo. O consumo se tornou uma forma aceitável de patriotismo. A experiência internacional, diz o vice-premier Li, nos ensina que “o processo de desenvolvimento de qualquer grande potência deve ser liderado pela demanda doméstica”.
Para fortalecer o poder de compra –e após uma série de suicídios entre funcionários da Foxconn, uma fornecedora para a gigante de tecnologia americana Apple– os líderes chineses até mesmo permitiram aos trabalhadores em muitas fábricas que fizessem greve por maiores salários. Em seu próximo plano de cinco anos, Pequim planeja pela primeira vez dar prioridade ao consumo como motor de crescimento.
Se a estratégia funcionará ou não dependerá, em parte, de quão bem o governo coloque a inflação sob controle. Mas de qualquer forma, moradores urbanos ricos como Zhang e sua esposa Wu não são detidos pelos preços mais altos. De fato, Pequim, ao que parece, gostaria que a próxima grande compra deles fosse um carro. Desde o início da crise financeira global, o governo tem estimulado a compra de carros por meio da redução de impostos. O Grupo Volkswagen sozinho vendeu mais de 1,9 milhão de carros na China no ano passado, um aumento de 37% em relação ao ano anterior. Apesar do governo municipal de Pequim ter colocado um teto no número de novos registros de veículos que permite, ele representa apenas um pequeno obstáculo no plano em grande escala para estimular o consumo.
Para muitos chineses, ser dono de um carro é o segundo símbolo de status mais importante após comprar um apartamento. “Eu prefiro chorar em uma BMW do que sorrir em uma bicicleta”, disse recentemente uma candidata de um popular programa de namoro na TV, ao descrever seu marido ideal. O episódio deu origem a um novo termo na Internet, “mulher BMW”, uma referência a este tipo particular de mulher materialista chinesa.
Ainda assim, Zhang sabe seus limites. “Assim que tivermos um filho”, ele diz, “nós teremos que começar um plano rígido de poupança”. Os moradores de Xangai gastam mais dinheiro na educação de seus filhos do que em qualquer outra coisa.
Enquanto isso, os aproximadamente 700 milhões de moradores das áreas rurais da China enfrentam problemas completamente diferentes. Tradicionalmente, eles poupam grande parte de sua renda para tempos de doença e velhice. Mas agora o partido lançou campanhas para transformar agricultores frugais em consumidores, os encorajando a comprar aparelhos de televisão, refrigeradores e computadores.
Autoridades por todo o país estão promovendo a construção de shopping centers gigantes, como parques de diversões, para servirem como templos da nova religião do consumidor. Wuhan, uma cidade de 9 milhões de habitantes, também aspira conquistar fama mundial por seus shoppings. O mais luxuoso desses complexos é o Wuhan International Plaza, e – como uma promessa do que virá– ele se ergue acima da poluição que envolve esta cidade produtora de ferro e aço quase o ano todo.
“Muitos cidadãos de nossa cidade não podem comprar os produtos que estão em exposição, pelo menos ainda não”, diz uma vendedora dali com um sorriso tímido. “Eu também não posso comprá-los. Os clientes são em sua maioria autoridades e executivos. “Quando eles fazem compras”, ela acrescenta, “eles gastam 10 mil yuans ou mais, de uma só vez” – mais do que ela ganha o ano todo.

quinta-feira, 3 de março de 2011

CINEMA JAPONÊS: 80 FILMES, 80 SEGUNDOS; AQUI NA VERSÃO 31 FILMES, 1 MINUTO E 26 SEGUNDOS

1935 1-Esposa como uma Rosa (Tsuma yo bara no yo ni)
1936 2-As Irmãs de Gion (Gion no kyodai)
1943 3-Saga do Judô (Sugata Sanshiro)
1949 4-Começo de Primavera (Banshun)
1950 5-Rashomon
1952 6-Viver (Ikiru)
1953 7-Contos da Lua Vaga (Ugetsu Monogatari)
1954 8-Sete Samurais
1961 9-Yojimbo
1969 10-Tora-San É Triste Ser Homem (Zoku Otoko wa Tsurai yo)
1973 11-Saga da Yakuza 1 (Jingi naki tatakai)
1976 12-Império dos Sentidos (Ai no corida)
1983 13-A Balada de Narayma (Narayama bushiko)
1984 14-Nausica, o vale do vento (Kaze no Tani no Naushika)
1988 15-Túmulo dos Vagalumes (hotaru no haka)
1988 16-Meu Vizinho Totoro (tonari totoro)
1989 17-Chuva Negra (kuori ame)
1993 18-Madadayo
1995 19-Carta de Amor (Love Letter)
1997 20-Hana-Bi
1998 21-O Chamado (Ring)
1998 22-Dr. Akegi (Kanzo Sensei)
1999 23-Audição (odishon)
1999 24-Depois da Chuva (Ame Agaru)
2000 25-Battle Royale
2001 26-A Viagem de Chihiro (Sen to Chihiro no Kamikakushi)
2001 27-O Pacto-Clube do Suicídio (jisatsu saakuru)
2004 28-Ninguém Pode Saber (Dare mo shiranai)
2006 29-Sol da Meia-Noite (Taiyou no Uta)
2006 20-Death Note
2007 31-Não Fui Eu (Soredemo boku wa yattenai)