sábado, 21 de maio de 2011

ENCONTROS DO CEO

27/05, SALA 500A, 13:00

MOSTRA NAOMI KAWASE NO CCBB DO RIO

O CCBB do Rio de Janeiro faz uma retrospectiva integral do cinema de Naomi Kawase, e a programação inclui sessões comentadas em mesas redondas composta por especialistas e pesquisadores, e com a presença da diretora, de 17 a 29 de maio.

OPORTUNIDADE DE TRABALHO NO MOMA

Mellon C-MAP Fellow (Influence of the Performative focus) | Painting and Sculpture: The Museum is currently seeking a post-doctoral candidate for a two-year fellowship, renewable for a third year, to support and augment the C-MAP global research initiative focused on the “Influence of the Performative.” This C-MAP group, originates from the Museum’s belief that the artist’s performing body and the notion of performativity have been critical transformative drives for twentieth-century art, particularly from the latter half of the century to the present. The group leader and member who include curators from across MoMA and affiliate MoMA PS1, as well as a representative of the Department of Education, explore performative aspects of postwar Japanese artistic practices. To support this research, they invite local, national, and international scholars for meetings and workshops around such topics as the performative art group Jikken Kobo and Fluxus in postwar Japan, among other subjects. In addition, in keeping with C-MAP’s desire to expand MoMA’s international reach and network, group members travel to Japan to conduct on-site research. Specific responsibilities are as follows: Works with group leader and C-MAP Program Coordinator to organize bi-weekly group meetings.Coordinates with C-MAP group leader and International Program to implement a research plan and schedule to support the needs and activities of the relevant group. Based on this plan, devises an outline of necessary research and practical resources. Conducts independent research and, in dialogue with C-MAP group leader, develops a working annotated bibliography and digital library of resources (including art history, cultural history, exhibition catalogues, and reviews, etc.) to support the group research. May, at times, be required to work directly on the collection. Assists in the identification of qualified outside scholars, curators, and advisors who will be invited to participate in the C-MAP group on a short- to medium-term basis. Works closely with C-MAP group and Assistant Director of the International Program to plan and build research resources that benefit the planning and realization of C-MAP group travel and/or travel by individual group members. Travels to designated geographies with the C-MAP group to conduct research; visits collections, cultural institutions, studios, and other organizations as required; and participates in meetings with outside scholars, artists, and other groups, as appropriate. Actively contributes to, as assigned, the writing, editing, preparation, and production of C-MAP scholarly communications, which may include: blog posts on MoMA.org; catalogue entries; scholarly writing for MoMA publications; travel reports; and formal reports and executive summaries, among other formats. Assists in the organization of and participates in symposia and other forms of discourse related to the C-MAP group research. Reports to Associate Curator, Department of Painting and Sculpture, with a direct liaison to the Museum’s International Program.
Requirements: Doctoral degree (or the equivalent in countries outside the United States) in art history, anthropology, cultural studies, and/or a related field in the humanities; doctoral degree must have been or will be officially conferred within three years of the start date of the fellowship. Strong knowledge of 20th- and 21st-century Western art history within a global context. Specialization in postwar Japanese art is required; an interest in the performative aspects of art-making and a comparative approach and orientation with other geographic/art historical areas desired. Excellent writing and verbal communication skills. Demonstrated research capabilities. Knowledge of basic office procedures and skills. Strong command of written and spoke Japanese is required; working knowledge of French and/or German, and an additional Asian language, such as Chinese preferred.
Em 1970, o cônsul do Japão Nobuo Okuchi foi sequestrado em Higienópolis. O resgate exigido foi a soltura e o exílio de cinco presos políticos.

domingo, 15 de maio de 2011

NAKBA

As autoridades judiciais iranianas adiaram a execução da pena que condenou um homem a perder a visão por ter cegado e desfigurado com ácido uma mulher que mora atualmente na Espanha.
As autoridades não explicaram o motivo do adiamento, nem anunciaram uma nova data para a aplicação da sentença, segundo a agência Isna.
Em aplicação à lei do talião (olho por olho) prevista pela sharia (lei islâmica) em vigor no Irã, Majid Movahedi foi condenado em 2008 a ficar cego com a administração de gotas de ácido nos olhos por ter desfigurado e cegado, em 2004, Ameneh Bahrami, que não aceitou se casar com ele.
Bahrami, de 30 anos, que vive em Barcelona com uma pensão de invalidez concedida pelo governo espanhol, repetiu recentemente que gostaria de aplicar a sentença.
"Sofri muito nos últimos anos, mas agora sou realmente feliz", declarou Bahrami em entrevista ao jornal Haft-e Sobh.
"Gostaria eu mesma de aplicar a pena, mas não é possível, será um médico", completou a jovem, que viajou ao Irã para assistir a aplicação da sentença.
Ela explicou que deseja a execução da lei do talião "não para que o culpado tenha os mesmos sofrimentos, e sim para que isto possa dissuadir os que pensarem em cometer este crime no futuro".
Segundo o Haft-e Sobh, a execução da pena seria uma novidade no Irã.
A Anistia Internacional denunciou na sexta-feira a decisão de aplicar a pena por considerá-la um "castigo cruel e desumano equivalente a um ato de tortura".
A associação de defesa dos direitos humanos destacou que não deseja minimizar a gravidade do crime cometido contra Ameneh Bahrami, mas ressaltou que o Irã tem a responsabilidade de seguir as leis internacionais e não aplicar a pena.
Majid Movahedi lançou ácido na cabeça de Ameneh Bahrami porque a estudante, que frequentava a mesma universidade que ele, não aceitou seus pedidos de noivado.
A vítima ficou completamente desfigurada e perdeu a visão, apesar das 17 cirurgias a que foi submetida na Espanha.
A lei do talião é aplicada no Irã em casos de assassinato. A família da vítima deve pedir expressamente a aplicação, que depende da apreciação do juiz.
Na semana anterior à retomada das aulas, a escola de ensino fundamental ainda era um necrotério improvisado. Mas os corpos foram removidos e o chão foi desinfetado, então a Escola Fundamental de Kirikiri pode receber de volta os alunos, pela primeira vez desde que o tsunami destruiu a maior parte desta cidade portuária.
“Nesse desastre, perdemos muitas coisas preciosas”, disse Nagayoshi Ono, diretor de uma das duas escolas que estão compartilhando o prédio desde que a Kirikiri reabriu há duas semanas, uma vez que é a única escola de ensino fundamental que sobreviveu na cidade de Otsuchi. “Enfrentamos um desafio como um país em guerra, e a forma como respondemos a esse desafio depende de nós.”
Dois meses depois do terremoto e do tsunami que devastaram a costa norte do Japão, os sobreviventes estão tentando juntar os cacos. Como em muitas áreas duramente atingidas, professores e alunos dessa minúscula escola parecem compartilhar uma convicção de que, ao retomar as rotinas anteriores ao desastre, podem fazer com que suas comunidades devastadas deem mais um passo em direção à cura emocional.
Esse esforço para retornar à normalidade vem num momento de adversidade que não era visto desde os obscuros dias após a 2ª Guerra Mundial.
Os alunos caminham ou pegam ônibus para ir à escola, atravessando planícies de escombros compactados, onde antes ficavam os bairros. Eles chegam a um prédio onde 300 alunos precisam de alguma forma caber no espaço construído para um terço deste número. A maioria das aulas de educação física foram canceladas, porque o campo da escola está cheio de apartamentos pré-fabricados para alguns dos milhares de desabrigados de Otsuchi. Metade dos estudantes estão vivendo em abrigos, e muitos perderam o pai, a mãe, ou ambos.
Além disso, duas alunas do oitavo ano não sobreviveram ao 11 de março, quando o terremoto e o tsunami deixaram mais de 1.600 mortos ou desaparecidos nessa cidade de 15 mil habitantes. Delicados buquês de pequenas flores azuis foram colocados sobre suas carteiras vazias.
“Sinto que elas estão aqui conosco, em algum lugar”, disse Ono, 55, diretor da Escola Fundamental de Otsuchi, cujos alunos agora atravessam uma montanha até Kirikiri de ônibus depois que o tsunami engoliu sua escola. “Eles querem que nós perseveremos.”
Apesar da tristeza e da perda, Ono e os outros pareciam determinados a sustentar uma alegria quase desafiadora. À medida que os ônibus de alunos da Escola Fundamental de Otsuchi chegavam em Kirikiri numa manhã recente, Ono e meia dúzia de professores estavam parados na entrada da escola, recebendo os alunos com saudações animadas de “bom dia!”. Os alunos retribuíam o cumprimento se curvando, alguns sorrindo com relutância ou fazendo piadas rápidas para seus professores favoritos.
Durante o dia inteiro, os professores pediram repetidas vezes para que os alunos sorrissem e “perseverassem” – ou “ganbaru”, uma palavra muito ouvida no Japão atualmente.
Os professores disseram que, embora a escola esteja longe de ser um ambiente ideal para o aprendizado, era importante trazer as crianças de volta. Eles querem que a escola ofereça aos alunos uma fuga do estresse de viver nos acampamentos para desabrigados, e uma chance de compartilhar com os colegas suas experiências durante o desastre.
“Esses alunos perderam seus lares e seus pais”, disse Noriko Sasaki, 36, professora de inglês do sétimo ano, que cumprimentava os alunos. “A escola permite que eles voltem para uma situação familiar e segura.”
Muitos alunos concordaram.
“Eu normalmente não gosto da escola, mas queria vir hoje para falar sobre o que estávamos fazendo durante o tsunami”, disse Kiyoshi Kimura, 14, aluno do oitavo ano que contou que sua casa foi destruída e vários familiares morreram.
Ele compartilhou suas memórias do tsunami com os colegas reunidos num estreito corredor.
“Parecia mais uma nuvem se aproximando do que uma parede de água”, ele exclamou num momento, referindo-se à poeira que as ondas levantaram à medida que derrubavam os prédios em seu caminho.
Kota Iwai, 14, era colega de classe de uma das meninas que morreu. Embora ele estivesse triste por sua morte, estava contente de sair um pouco do abrigo no ginásio da escola fundamental onde ele e sua família estão dormindo desde que perderam sua casa.
“Não vi meus amigos desde o tsunami”, disse ele. “Ficamos todos espalhados.”
Muitos professores esperam que o fato de reabrir a escola seja terapêutico não só para os alunos, mas também para a cidade. Uma espécie de estado de choque parece pairar sobre Otsuchi, onde o tsunami destruiu mais da metade da cidade e matou o prefeito.
“Ver as crianças indo para a escola é um pequeno passo na direção de fazer com que a cidade volte ao normal”, disse Gouei Kanno, 38, que dá aula de estudos sociais para o sétimo ano.
Kanno e outros professores disseram que um dos maiores desafios ao reabrir a escola é observar os sinais de dificuldades emocionais entre os alunos. Os professores disseram que receberam duas horas de treinamento sobre estresse pós-traumático e identificação de sintomas, incluindo comportamentos como falar demais e com muito entusiasmo e explosões de raiva.
“Nós estamos com nossas antenas ligadas”, disse Kanno, cuja casa sobreviveu porque ele mora afastado da costa.
Outra preocupação é se os alunos da Escola Fundamental de Otsuchi, que ficava numa parte mais industrial da cidade, conseguirão se entrosar com os de Kirkiri, um pacato vilarejo pesqueiro. Para evitar as brigas ou o bullying, um problema constante nas escolas japonesas, as duas escolas terão aulas separadas.
Para quebrar o gelo e criar um ambiente de apoio mútuo para as crianças traumatizadas, as escolas pediram que os alunos organizem sua própria cerimônia de abertura. Os grupos de torcida organizada das duas escolas cumprimentaram um ao outro no ginásio recém-desinfetado, ao som dos tambores taiko.
“Bem-vindos, bem-vindos, Escola Fundamental de Otsuchi!”, gritou o garoto que liderava a equipe de Kirikiri, enquanto dava socos no ar, numa elaborada mímica de luta.
“Nossa escola foi destruída! Vamos perseverar juntos!”, gritou o líder da torcida de Otsuchi em resposta.
Ono, diretor da Escola Fundamental de Otsuchi, disse para um grupo de alunos de sua escola para ficarem bem comportados, porque estavam compartilhando uma escola lotada. Todo o espaço extra da Kirikiri, incluindo a sala e artes e a biblioteca, foi transformado em salas de aula.
Os alunos fizeram fila para massagear os ombros uns dos outros, numa demonstração de apoio em grupo. Depois, na aula de educação física, eles fizeram um jogo chamado “queimada cooperativa”, no qual os alunos mais fortes ajudavam os mais fracos.
“Muitos de nós perdemos nossas casas e posses num instante”, disse Megumi Nakagawa, professora de inglês, aos alunos da Otsuchi. “O mais importante agora é dar o primeiro passo para um futuro melhor.”
Em um agradável dia de primavera, com o vento soprando do sul, a pitoresca cidade turística de Imjingak –com seu parque de diversões Terra da Paz, com suas barracas de souvenires e banca de frango do Popeye– dificilmente pareceria um possível estopim para hostilidades violentas entre a Coreia do Norte e a do Sul.
Imjingak, local de uma batalha feroz durante a Guerra da Coreia, se transformou em local favorito de lançamento para alguns ativistas sul-coreanos, que enviam balões de propaganda para o norte. A campanha de balões enfurece tanto a Coreia do Norte que seus militares ameaçaram –mais recentemente na última sexta-feira– bombardear “impiedosamente” Imjingak e outras cidades de fronteira se os lançamentos continuarem. Unidades de artilharia norte-coreanas estão posicionadas a poucos quilômetros de distância, do outro lado da fronteira mais militarizada do mundo.
Agora é temporada de balões, com ventos robustos soprando pela Península Coreana, e os ativistas estão ávidos por colocar seus balões e panfletos no ar. Alguns dos baloeiros são agitadores políticos, outros são proselitistas cristãos, desertores norte-coreanos em sua maioria. Se o vento estiver a favor, eles dizem, milhões de panfletos serão lançados nas próximas semanas.
“A Coreia do Norte disse que fará ataques cirúrgicos contra aqueles entre nós que enviarem balões, de modo que essa reação altamente alérgica mostra que o que estamos fazendo está funcionando”, disse Park Sang-hak, 43 anos, filho de um ex-espião norte-coreano que desertou juntamente com sua família em 1999.
Park atualmente chefia a Combatentes por uma Coreia do Norte Livre, um grupo de direitos humanos que se tornou o mais agressivo grupo sul-coreano lançador de balões.
Park e outros baloeiros têm seus oponentes políticos domésticos, principalmente as organizações que buscam um retorno à chamada política Luz do Sol da Coreia do Sul, que defende uma abordagem conciliatória em relação ao Norte. Alguns desses grupos tentam ocasionalmente sabotar os eventos de balões mais chamativos, e Park, que conta com proteção policial 24 horas desde 2008, já disparou uma arma de gás lacrimogêneo durante um confronto violento em Imjingak.
“São feitas ameaças contra ele com frequência”, disse um policial à paisana que estava protegendo Park antes de um recente lançamento.
Por grande parte da década anterior, o governo sul-coreano tentou impedir os lançamentos de balões, o que levou os ativistas a trabalharem clandestinamente. Mas a política mudou dramaticamente no primeiro semestre do ano passado, após o afundamento de um navio de guerra sul-coreano, o Cheonan, com a morte de 46 marinheiros. A Coreia do Sul atribuiu a culpa a um ataque com torpedo norte-coreano; a Coreia do Norte nega seu envolvimento.
“Nós tentamos persuadir os baloeiros a não fazerem nada porque afetava negativamente as relações intercoreanas”, disse um alto funcionário do Ministério da Unificação, falando anonimamente por não estar autorizado a comentar publicamente sobre o assunto. “Mas após o Cheonan, nossa posição mudou”, disse o funcionário. “Nós não os impedimos agora. É um assunto que deixamos para a polícia local.”
A polícia permite que os lançamentos de balões prossigam em Imjingak –não é necessária uma permissão especial– e ela intervém apenas quando há violência.
Park, um homem envolvente e cheio de energia, aperfeiçoou sua técnica juntamente com Lee Min-bok, um cristão evangélico e outras importantes figuras na campanha de balões. Em 2003, quando estavam à procura de uma forma de espetar o regime norte-coreano, eles começaram amarrando alguns poucos panfletos escritos à mão a pequenos balões de crianças comprados em lojas de artigos de festas.
Antes colegas dedicados, os homens agora são rivais amargos.
“Eu sou o original”, disse Lee, que foi um cientista agrícola na Coreia do Norte. Ele disse que fugiu em 1995, após suas sugestões para reformas econômicas não terem sido bem recebidas por seus superiores.
Sua operação é financiada por doações de igrejas e cristãos conservadores. Ele disse que lança 1.500 balões por ano e é responsável por 90% de todos os panfletos de propaganda enviados para a Coreia do Norte, aproximadamente 250 milhões até o momento.
Lee, que usa vários locais de lançamento secretos ao longo da fronteira, ridicularizou os lançamentos de Park em Imjingak como pouco mais que golpes publicitários. Ele disse que as condições dos ventos costumam ser tão desfavoráveis que os balões de Park frequentemente acabam voltando para a Coreia do Sul.
Park, por sua vez, chama Lee de um “cristão fanático” que foi afastado de seu grupo secular há vários anos, porque queria enfatizar a religião em seus panfletos.
Ambos os homens usam balões e técnicas semelhantes. Os balões tubulares, feitos de vinil, têm 12 metros de comprimento e são cheios com hidrogênio. (O hélio é mais seguro, dizem os ativistas, só que é mais caro.)
Os panfletos, geralmente impressos em uma película plástica à prova d’água, são levados em um saco de vinil na base de cada balão, aproximadamente 60 mil panfletos por balão. Eles apresentam mensagens calamitosas sobre a atrasada Coreia do Norte e o regime corrupto de Kim Jong-il. Um tema de contraponto –de que a Coreia do Sul é melhor em todos os aspectos– inclui mensagens positivas sobre a riqueza material e a liberdade política na Coreia do Sul.
Os ativistas às vezes enviam drives USB e DVDs, mas isso necessariamente significa menos panfletos.
Lee ocasionalmente envia pequenos rádios, aspirinas, canetas e pastilhas para indigestão. Mas ele nunca envia Bíblias, dizendo que os norte-coreanos seriam severamente punidos se fossem pegos com uma.
As mensagens de Park frequentemente contêm ataques altamente pessoais contra Kim, o líder norte-coreano, e ao plano dinástico para que seu filho mais novo assuma o poder. Um vídeo de rap em DVD inclui charges ridicularizando Kim como um travesti de salto alto, como um Elvis obeso em macacão branco e como um bêbado de nariz inchado com boné dos New York Yankees.
Os lançamentos de balões geralmente ocorrem em pontos isolados próximos da fronteira, apesar de Park preferir a zona turística de Imjingak por seu potencial de publicidade. Os moradores locais, apesar de concordarem com suas posições políticas, não gostam da presença dele. Por um lado, eles prefeririam não ficar na mira dos morteiros norte-coreanos. E como os eventos com balões aqui podem causar confrontos, muitos turistas sul-coreanos acabam evitando o local, o que enfurece muitos donos de negócios locais. Os ônibus de turismo acabam se dirigindo para outros lugares, as bancas de souvenires enfrentam dificuldades e o movimento nos restaurantes caiu mais de 50%.
Lee Nam-soon, 78 anos, sem nenhum parentesco com Lee Min-bok, está entre aqueles que desaprovam os lançamentos de balões como sendo um obstáculo para a paz com o Norte. Ela passa grande parte de suas manhãs em Imjingak, coletando assinaturas para uma petição pedindo por novas negociações internacionais para a desnuclearização da Coreia do Norte.
“Esses homens com balões, eles têm o direito de fazer isso”, ela disse. “Mas é infantil e tolo.”
“Eles são como meninos. Meninos brincando com fogo.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Informações levantadas pelo tablóide britânico Daily Mail afirmam que os funcionários das fábricas chinesas da Foxconn estão sendo obrigados a assinar um “termo de não-suicídio” para continuarem trabalhando na empresa.
Conhecida por montar gadgets para gigantes como HP, Nokia Dell e Apple, nos últimos tempos a companhia se tornou destaque na imprensa internacional também pelo número de suicídios entre os membros de força de trabalho – 13 mortes num período de 12 meses.
Segundo dados da publicação, a prática foi descoberta pelo Sacom (Centro de Pesquisas sobre Empresas Multinacionais e Estudantes Contra o Mal Comportamento Corporativo, sediado em Hong Kong) que depois de uma investigação diz ter se deparado com “condições terríveis” de trabalho, como “humilhações públicas”, falta de proteções contra químicos e jornadas semanais de 80 a 100 horas de trabalho, sem parada para refeições.
A Sacom diz que a “Foxconn falhou em suas promessas de melhorar as condições para os trabalhadores” e diz que a planta de Chengdu, que produz apenas aparelhos para a Apple, “é a mais problemática”.
De acordo com o órgão, um dos termos do “acordo” é que “em caso de ferimento não-acidental (incluindo mutilação e suicídio)”, o funcionário concorda que “a empresa agiu corretamente e de acordo com as leis e regulamentos pertinentes e que não irá tomar medidas legais que poderão prejudicar sua reputação ou normas operacionais”. “Todas essas práticas refletem que o gerenciamento humano dos trabalhadores da Foxconn é apenas um slogan”, completa.
Nos últimos tempos a Foxconn foi festejada por aqui ao anunciar a instalação de uma unidade produtiva no Brasil, destinada à produção do iPad.

WUXIA CINEMA-10/05 20/05-CCSP

Wuxia é um gênero chinês de ficção sobre romances e aventuras com artes marciais. Tradicionalmente, nasceu como gênero literário e estendeu seu sucesso para outros meios de expressão artística, como televisão, quadrinhos (manhua), óperas e cinema. Diferente dos tradicionais filmes de kung fu chineses, o cinema Wuxia insere alguns elementos românticos e tradicionais às narrativas, tirando um pouco o foco da ação e da luta coreografada, dando mais atenção a roteiro, fotografia e trabalho com atores, trabalhando em proporções épicas, tradições, lendas e o folclore chinês. A mostra Wuxia Cinema traz os filmes mais representativos do gênero e alguns equivalentes ocidentais que tentam retrabalhar os elementos do Wuxia dentro da cultura ocidental.
Taxa: R$1,00 - retirada de ingressos: na bilheteria (terça a domingo, das 10h às 22h), somente na semana de exibição de cada filme
Sala Lima Barreto (100 lugares)

ENCONTROS DO CEO

13/05, SALA 500A, 13:00
Os moradores que fugiram das imediações da central nuclear de Fukushima, no nordeste do Japão, são recusados pelos centros de acolhida, pelo temor de que estejam contaminados por radiação e prejudiquem outras pessoas.
Os que tiveram que deixar suas casas, suas fazendas, seus animais, em razão da crise na central Fukushima Daiichi (N°1), precisam de um certificado oficial provando que não estão contaminadas para que possam entrar nos centros de acolhida de desabrigados.
Os equipamentos de detecção de radiação instalados na entrada dos locais tornaram-se postos de controle que dão acesso a um lugar para dormir ou mesmo para que recebam cuidados médicos, mesmo que os especialistas afirmem que as pessoas que deixaram as áreas afetadas não representam risco algum para as outras.
"A menos que não sejam funcionários da central, as pessoas comuns não são perigosas", explicou Kosuke Yamagishi, do departamento médico da Prefeitura de Fukushima.
"As pessoas estão simplesmente muito preocupadas e, infelizmente, isso pode levá-las a uma discriminação", declarou à AFP.
Uma menina de oito anos originária de Minamisoma, localidade situada a vinte quilômetros das instalações atômicas, foi recusada por um hospital da cidade de Fukushima porque ela não tinha certificado de não radioatividade, indicou o jornal Mainichi.
Mas os responsáveis pelos centros de evacuação mantêm suas instruções.
Todas as pessoas que moram em um raio de 30 quilômetros em torno da central "devem apresentar um certificado", afirmou um deles. "Se elas não tiverem, devem ser submetidas a um exame no local."
"Isso é feito para que as outras pessoas retiradas dos locais de risco se sintam seguras", acrescentou ele, que se recusou a se identificar.
O episódio reavivou as lembranças de discriminações sofridas pelos "hibakusha" -- sobreviventes dos ataques americanos com bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki -- que foram discriminados devido ao medo de que contaminassem outras pessoas.
Os certificados foram fornecidos pelo governo da Prefeitura de Fukushima.
Dezenas de milhares de pessoas foram obrigadas a deixar uma área de 20 quilômetros de raio em torno de Fukushima Daiichi ou a se confinarem em suas casas em uma área de mais 10 quilômetros.
O governo, que elevou na terça-feira de 5 para 7, o grau máximo, o nível de gravidade do acidente de Fukushima, acrescentou cinco localidades no plano de evacuação, incluindo algumas situadas além dos 30 quilômetros.
Um assessor do governo do primeiro-ministro Naoto Kan, Kenichi Matsumoto, declarou à imprensa que a região em torno da central de Fukushima poderá permanecer inabitável durante 10 ou 20 anos.
Kenji Sasahara, que dirige um centro de detecção em Minamisoma, declarou que muitas pessoas que deixaram o local sentiram-se ofendidas por terem que apresentar um certificado.
"De mais de 17.000 pessoas examinadas, nenhuma representava risco, a não ser três funcionários da central", indicou. "As pessoas estão furiosas. Minamisoma tem agora a imagem de uma cidade contaminada", disse à AFP por telefone.
A desconfiança se estende mesmo para além da região. Uma moradora da Prefeitura de Fukushima escreveu em seu blog que um hotel da Prefeitura de Saitama, ao norte de Tóquio, tinha se recusado a receber ela e sua família.
"Mesmo quando eu expliquei que não vínhamos de uma área de evacuação, o receptionista do hotel respondeu: 'vocês não podem ficar aqui se vocês não têm provas de que não são hibakusha'."
Desde quando Deng Xiaoping sinalizou em 1978 que não era ruim ficar rico, grande parte da China pareceu voltar-se para essa meta. Mas alguns governos estaduais gostariam que aqueles que tiveram sucesso não ficassem acima dos outros, ao menos no que diz respeito às últimas homenagens.
Desde o mês passado, os cemitérios desta megalópole montanhosa no Centro-sul da China, os enterros modestos estão em voga. As tumbas rebuscadas estão fora.
Os lotes para cinzas são limitados a 1,5 metro quadrado e as lápides não podem ter mais que 1 metro, apesar de não estar claro se este limite será fiscalizado.
Aqueles que vendem lotes de tamanho superior foram advertidos de multas severas, até 300 vezes o preço do lote.
“Pessoas comuns que passam e vêem essas tumbas luxuosas podem não conseguir segurar suas emoções”, disse Zheng Wenzhong, quando visitou o local de descanso relativamente modesto de um parente no cemitério do Templo da Lamparina Acesa.
Isso é aparentemente o que muitas autoridades temem. Após um quarto de século no qual a distância entre ricos e pobres aumentou gradativamente, os excessos dos abastados são cada vez uma preocupação do governo chinês.
A desigualdade de renda na China, pelo padrão chamado coeficiente Gini, agora está comparável à de alguns países da América Latina e África, de acordo com o Banco Mundial. Justin Yfu Lin, economista chefe do banco, no ano passado identificou a disparidade crescente como um dos maiores problemas econômicos da China.
Li Shi, professor de economia na Universidade Normal de Pequim, disse que em 1988 a renda média dos 10% mais afluentes era cerca de 12 vezes a dos 10 % mais pobres. Em 2007, os 10% superiores recebiam 23 vezes mais aos 10% da base.
As soluções de longo prazo da China para a discrepância incluem reformas de mercado, programas mais fortes de seguridade social, impostos reduzidos para famílias de baixa renda e controles mais rígidos para a renda ilícita. Mas enquanto Pequim não implementa suas políticas, os governos locais estão buscando formas de disfarçar a diferença.
Uma regra divulgada no mês passado no site da Administração para Indústria e Comércio de Pequim, por exemplo, proibiu propagandas promovendo tendências “insalubres”, que incluem: “hedonismo, feudalismo e realeza, adoração de coisas estrangeiras, aristocracia suprema e gostos vulgares”.
Segundo Li, as medidas regulando propagandas de luxo ou tumbas podem “aliviar, até certo ponto, o ódio geral contra os ricos”, mas essencialmente não são mais do que fracas substitutas. Ainda assim, Chen Changwen, diretor do departamento de sociologia da Universidade de Sichuan, disse que via o mérito em evitar o conflito social.
“É claro que não podemos mudar o fato de haver disparidade entre ricos e pobres, mas ao menos podemos diminuir o impacto dela sobre a sociedade e a propaganda”, disse ele. “Muitas pessoas não conseguem suportar as formas extravagantes desta primeira geração de ricos. Realmente irrita o público.”
Tumbas ostentadoras são particularmente repugnantes, disse ele, porque para muitos chineses qualquer lápide está além de seus meios. Em uma demonstração da frustração ampla, há uma expressão para designar uma pessoa que luta para pagar os custos de um funeral: “Escravo de enterro”.
“Há muitos exemplos de como os ricos podem pagar para enterrar seus mortos, mas o homem comum não consegue. Isso deixa muitas pessoas muito revoltadas”, disse Zheng Fengtian, professor de desenvolvimento rural na Universidade Renmin de Pequim.
Um exemplo espetacular ocorreu no mês passado em Wenling, cidade costeira de cerca de cinco milhões de pessoas ao sul de Xangai. Cinco irmãos usaram as terras de uma escola de ensino médio para dar adeus a sua mãe, com pompas de um funeral de Estado.
Milhares de pessoas assistiram a cerimônia que tinha nove limusines enfeitadas com flores, uma banda uniformizada e salvas de tiros com 16 armas. Um dos irmãos disse ao repórter que a mãe queria ser enterrada com “estilo”.
Em agosto último, porém, Wenling aprovou uma lei contra a “extravagância e desperdício” nos funerais. A lei limita o número de carros e de coroas de flores e proíbe procissões por escolas e hospitais. O diretor da escola, o vice-diretor e o diretor de práticas fúnebres da cidade foram demitidos, de acordo com a mídia, e a família foi multada em US$ 450 (em torno de R$ 750).
Na província de Hunan, no Sul, as autoridades começaram a investigar no ano passado um cemitério privado com 67 degraus levando a uma “pagoda”, construída pela família de um ex-funcionário do governo, após a mídia ter comparado a tumba com um sepulcro imperial. E em 2009, as autoridades determinaram a derrubada de um mausoléu em uma aldeia perto de Chongping, no centro da China, após um jornal local comparar seu tamanho com o de uma quadra de basquete.
Os preços crescentes lançaram uma luz pouco enobrecedora na indústria de enterros na China. Zheng, professor da Universidade Renmin, disse que os governos locais em parte eram culpados pela inflação porque eles limitavam a competição.
A maior parte dos cemitérios é controlada diretamente pelo governo, disse ele; o resto depende de licenças do governo, que é proprietário da terra. A Secretaria Estadual de Assuntos Civis disse no ano passado que o governo local administrava 1.209 cemitérios, 853 unidades de administração funerais e cerca de 7.000 funcionários.
“Eles controlam tudo, seja rejeitando novos projetos ou aprovando muito, muito poucos”, disse Zheng.
No papel, os enterros baratos são a política nacional desde ao menos 1997, quando o Decreto 225 determinou que a terra de cemitério fosse conservada e que “arranjos funéreos simples” fossem promovidos.
O maior cemitério de Chengdu, o Pinheiro da Longevidade, aparentemente não recebeu esse memorando.
Na “seção artística”, sobre morros de árvores da paz em flor, fileiras e fileiras de túmulos enormes são enfeitadas com garanhões de pedra, livros gigantes abertos e mesas e bancos de granito.
Em recente manhã, Zhou Dongmei, diretora de vendas, cuidadosamente afastou os dois visitantes para longe dessa seção para as séries de lotes com lápides simples e menores que são vendidos por uma fração do custo. “Esse é o único tipo de lote que vendemos agora”, disse ela, acrescentando: “É um processo para as pessoas aceitarem isso.”
De fato, a maior parte dos moradores de Chengdu entrevistados expressou dúvidas quanto aos limites dos túmulos. No cemitério do Templo da Lamparina Acesa, Kuang Lan, 42, disse: “Minha opinião pessoal é que se você tem dinheiro para fazer um tumulo maior, então faça. Se não, faça um menor.”
Mas Yang Bin, 48, que ganha em torno de US$ 150 por mês esculpindo lápides no cemitério de Zhenwu Shan, criticou os excesso dos “capitalistas” que “estão em toda parte agora”.
“Os chineses são assim”, disse ele, após descer o forte declive do cemitério com seus finos sapatos de pano preto. “Quando têm dinheiro, querem se mostrar. Se não têm, têm que trabalhar”.
Bicicletas temerárias, caminhões carregados de volumes mal equilibrados, motos sobre as quais famílias inteiras passam, encarapitadas : tanto durante o dia quanto à noite, a estrada que liga Daca ao norte do país é sempre movimentada. De ambos os lados do calçamento irregular, mulheres e garotas caminham ao logo da estrada Nacional 3, com um passo regular e resignado que lembra uma procissão religiosa. As filas inteiras por elas formadas mergulham em terrenos no meio dos quais se erguem, mais parecendo formigueiros gigantes, as fábricas de confecção.
Todas as manhãs, três milhões de pessoas percorrem essa estrada, a das quatro mil fábricas que formam o cinturão industrial da capital. Mais de três quartos dessas pessoas são mulheres : ponteadoras, cortadoras, costureiras, encarregadas da manutenção... Mão de obra barata, as operárias de Bangladesh aguçam o apetite das grandes marcas têxteis e da distribuição ocidentais. Wal-Mart, H&M, Tommy Hilfiger, GAP, Levi Strauss, Zara, Carrefour, Marks & Spencer… ou levaram suas unidades de produção para lá, ou fazem ali suas compras.
O setor têxtil, que se caracteriza por uma industrialização mínima e um investimento humano maciço, é um dos pilares econômicos da Ásia de Leste. Foi assim que inúmeros países da região deram início à sua fase de industrialização. Bangladesh começou já nos anos 1970, antes do boom do setor de vestuário, nos anos 1990. As primeiras mulheres que trabalharam no setor eram as divorciadas, as repudiadas, as viúvas. Com os filhos no colo, elas fugiam da miséria da zona rural, com destino a Daca. Em situação precária, sem qualquer tipo de rendimento, elas já não tinham receio de enfrentar as recriminações dos meios mais tradicionalistas, que viam nesse êxodo rural um risco para as estruturas de uma sociedade patriarcal e muçulmana. Depois delas, outras mais se seguiram : as que sonhavam com um futuro melhor, as que queriam escapar de casamentos arranjados, as que desejavam poder oferecer aos filhos uma educação... Assim, as fábricas de confecção participaram da reestruturação da sociedade, por meio da emancipação das mulheres mais pobres. E se nos anos 1970 as operárias eram mal vistas, depois a tendência se inverteu : hoje elas é que ditam as condições do casamento e dispõem de um dote.
A crise econômica afetou duramente muitos países exportadores de artigos têxteis do setor de vestuário, mas Bangladesh passou sem um arranhão por essa fase. Zillul Hye Razi, conselheiro comercial da Delegação da União Europeia em Bangladesh, explica que “ a reação de muitas empresas foi se implantar em Bangladesh, pois ali a mão de obra é das mais baratas do planeta ”. Os salários são mantidos no nível mais baixo possível, e o fato de a grande maioria dos funcionários serem mulheres está ligado a isso.
Bangladesh é o terceiro país fornecedor da União Europeia (EU), no setor têxtil - vestuário, depois da China e do Vietnã, e já passou à frente de seu colossal vizinho, a Índia. O setor se desenvolveu a ponto de representar 13 % do PIB (Produto Interno Bruto) e 80 % das exportações. A Campagne Vêtements Propres1recenseou cerca de 6,5 bilhões de euros de roupas exportadas entre junho de 2005 e junho de 2006. Um verdadeiro maná, para esse pequeno país do qual os deuses se esqueceram : a densidade populacional é das mais elevadas do mundo, num território minúsculo (147 570 Km2), que não conta com os recursos naturais da vizinha Birmânia, e que além de tudo está voltado para a Baía de Bengala, que é periodicamente varrido por ciclones. As turbulências ambientais provocaram o êxodo rural e a explosão urbana, com a pauperizaçao e a insegurança inevitavelmente decorrentes. Espremido por dois gigantes que o esmagam, Bangladesh não tem confiança no futuro. Quanto aos políticos, eles tratam de enriquecer o quanto podem, antes que o navio afunde : a International Transparency2classificou Bangladesh como um dos países mais corruptos do mundo.
Essa incúria do governo pesa enormemente sobre a população, da qual 40 % vivem na linha de pobreza3– com 1,25 dólar por dia –, o que relega o país à 146ª posição, dentre 182 países, no índice de desenvolvimento humano4. Um profundo mal-estar tomou conta da população. Prova disso são os frequentes movimentos de protesto que têm sacudido o país. As revoltas de 2008 contra a fome foram das mais marcantes. Os operários e operárias do setor têxtil – cerca de 40 % da mão de obra industrial – se insurgem regularmente, revoltados com a distorção entre os salários que recebem e os ganhos embolsados pelos fabricantes e pelos exportadores, protegidos pela Associação dos Produtores e Exportadores de Vestuário de Bangladesh. As últimas manifestações, desencadeadas em 2010, mobilizaram cerca de cinquenta mil trabalhadores. Prolongando-se por meses e meses, elas irrompem intermitentemente. Sistematicamente reprimidas pelas Forças Armadas, elas já provocaram dezenas de mortos e centenas de feridos.
Os trabalhadores exigiam um aumento de salário para passar a receber 5 000 takas (51 euros) por mês, contra os 1 662 takas (17 euros) habitualmente pagos, a fim de compensar a inflação que atinge os produtos de primeira necessidade. A título de comparação, no Vietnã os operários recebem no mínimo 75 euros, e na Índia eles ganham 112 euros5. Além disso, os manifestantes reclamam ainda o respeito à lei trabalhista : um dia de descanso semanal remunerado, licença maternidade, justa remuneração das horas trabalhadas e das horas-extras, respeito aos direitos sindicais etc.
Reena está aflita. Suas mãos torcem o tecido colorido de sua khamiz – longa túnica usada com um salwar, uma calça bufante. Ela marcou encontro conosco à noite e pede para permanecer anônima. Ela conta : “ Desde os 12 anos, eu trabalho das 8 horas da manhã até meia-noite. Recebo 2 600 takas por mês (miseráveis 27 euros), e com isso preciso sustentar minhas três filhas, meus sogros e meu marido, que não tem trabalho regular. E ainda preciso entregar 50 takas ao supervisor, para que ele me deixe tranquila, pois esses empregos são muito cobiçados. ” A carga semanal de trabalho chega a oitenta horas, ao passo que a lei determina quarenta e oito, com um dia de descanso. Quando temos de atender ao rush dos pedidos das grandes marcas estrangeiras, debruçados sobre as máquinas os funcionários são obrigados a cumprir jornadas de dezessete, dezenove horas seguidas de trabalho ; essas horas suplementares, que muitas vezes nem são pagas, quase sempre são compulsórias.
Se num primeiro momento a primeira-ministra Sheikh Hasdina expressou diante do Parlamento sua preocupação com os trabalhadores do setor têxtil, mostrando-se indignada com seus salários “ insuficientes ”, e até “ desumanos ”6, na fase seguinte o tom endureceu, quando esses mesmos trabalhadores se recusaram a voltar às fábricas, depois do anúncio do aumento concedido dentro do quadro do acordo de 29 de julho de 2010. A pedido do patronato, ela ordenou que o exército pusesse fim “ à anarquia e às degradações ”. Os industriais alegaram não poderem atender às demandas salariais, argumentando que Bangladesh não é capaz de oferecer a mesma competitividade que os outros gigantes do setor têxtil – o Vietnã e a China –, em razão do custo de produção bem mais elevado : falhas de fornecimento de energia elétrica, carências de infraestrutura e transportes... que, afinal, acabam recaindo sobre a base da pirâmide, os empregados.
Em vigor desde 1º de novembro de 2010, o acordo elaborado por um Conselho oficialmente composto de representantes de assalariados e empregadores fez o salário mínimo passar a 3 000 takas mensais – 30 euros. Aumento que está longe de satisfazer os operários do setor têxtil, que mesmo depois desse ajuste continuam sendo os que menos ganham, dentre os países da Ásia : a Asia Floor Wage7estima em 144 euros mensais (10 000 takas) o ganho vital mínimo aceitável, e 5 000 takas mal sendo suficientes para uma pessoa, sem encargos familiares. Há quem tema que essa nova legislação não seja mais respeitada do que as anteriores, pois na verdade inúmeras fábricas demoram a aplicá-la. As reclamações contra os baixos salários persistem, e o sangue continua a correr, nos subúrbios de Daca : em dezembro de 2010, houve quatro mortes, durante as violentas manifestações.
Durante as negociações, os líderes grevistas e os delegados independentes nem chegaram a ser ouvidos : detidos e ameaçados, eles foram afastados das conversas e substituídos por um fantoche. Apesar de Bangladesh ter ratificado em 1967 a convenção de 1948 sobre a liberdade sindical e a proteção do direito sindical, “ raras são as organizações de defesa dos trabalhadores que conseguem a autorização oficial de funcionamento. As que recebem são mancomunadas com o governo e com os empregadores. Quanto às demais, elas vivem nas sombras, sob a terminologia vaga de ‘ associação de trabalhadores ’, e são permanentemente assediadas. Os trabalhadores são firmemente aconselhados a não integrá-las ”, explica Faiezul Hakim, presidente da União Federal do Comércio de Bangladesh. Mishu Moshrefa, presidente do Garment Workers Unity Forum (GWUF) e primeira mulher a dirigir uma organização de defesa das operárias do setor têxtil, foi presa em dezembro de 2010. Sua popularidade irritou o governo, que já mandou detê-la em várias ocasiões, acusando-a de ser ligada a um inimigo externo, impedindo-a de se comunicar com a imprensa estrangeira.
Bangladesh vende um bilhão de camisetas por ano aos países da União Europeia e exporta 85 % de seus produtos têxteis. O país beneficiou do Sistema Geral de Preferência Tarifária da EU, que dá aos membros menos desenvolvidos um acesso preferencial unilateral – sem taxas – ao mercado comum. Todavia, quando interpelada a delegação da EU relativizou as más condições de trabalho. Ela nega ter a intenção de conceder imunidade comercial a Bangladesh, mas defende o uso do método do estímulo positivo (a cenoura), em vez do estímulo negativo (o cassetete) : “ Nós não fazemos nenhum pressão formal, isso seria contra-produtivo. Em vez disso, agimos por meio de conselheiros ”, se justifica Hye Razi. Ele ressalta que o setor “ tem um impacto econômico e social enorme no país, sobre três milhões de trabalhadores, essencialmente mulheres, que se transformaram em arrimo da família, que permaneceu na aldeia. Se classificarmos de exploração essa mão de obra barata, e quisermos mudar isso, é preciso ter em vista o número de pessoas que poderiam ser afetadas, perdendo o emprego ”.
As repetidas greves fragilizaram o setor, a ponto de aterrorizar os donos das fábricas, pois os importadores não pensam duas vezes, antes de mudar o país de destino de um pedido, em caso de problemas. A prática do sourcing faz que as encomendas não sejam concentradas em um único país, e sim divididas em função dos preços e das competências de cada um deles, permitindo assim que as grandes marcas não sofram com os eventuais problemas de produção em um determinado país.
Para acalmar a opinião pública internacional, inquieta com o caráter ético das compras que faz, as marcas mais conhecidas adotaram códigos de conduta. Para Reena, isso não passa de disfarce : “ Quando um comprador estrangeiro visita a fábrica, somos obrigadas a mentir sobre as horas de trabalho efetuadas, e sobre a idade das menores de idade. Eu sou obrigada a assinar minha folha de pagamento, sem nem mesmo receber uma parte do salário que está ali. E assim que os compradores viram a esquina, as garrafas de água, que aqui custam muito caro, são arrancadas de nós. ” O delegado da Auchan Textil em Bangladesh não quis responder a nossas perguntas. Quanto a Razi, ele admitiu que “ mudanças por parte dos compradores dariam provavelmente algum oxigênio a empregadores e empregados ”.
Outro elemento desse conjunto é a terceirização em cascata, rompendo a ligação entre o contratante (quem faz a encomenda) e os operários. A segurança desses operários é a primeira a sofrer as consequências. Todos os anos, várias fábricas sofrem incêndios, e nas instalações com excesso de ocupação e em mau estado de conservação ocorre um sem número de dramas. No último incêndio, em 14 de dezembro de 2010, em uma fábrica na periferia de Daca, pertencente ao grupo Hameen, que é principalmente terceirizada do Carrefour e da H&M, vinte e oito pessoas morreram. Um incidente que está longe de ser um caso isolado, segundo Carole Crabbé, da Campagne Vêtements Propres. As marcas, os empregadores e o governo jogam a responsabilidade um para o outro.
Rubayet Jesmin, a responsável pelas questões econômicas da Comissão Europeia em Daca, é categórica : “ Tudo deriva da responsabilidade dos donos das fábricas, dos compradores e, no final da cadeia, dos consumidores. Quando alguém compra um pulôver que custa 6 euros, deve imaginar que ele foi fabricado por pessoas que trabalham em péssima condições ! ”

segunda-feira, 2 de maio de 2011


São Paulo, abril de 2011 – A Matilha Cultural se propôs a dar voz às ações do povo egípcio e auxiliar na propagação e reflexão das suas idéias. A exposição “Egito em Obras: Expressões da Revolução” fica em "processo" de 29 de abril a 18 de junho e tem o objetivo de mostrar a força de articulação que as pessoas comuns tem para mudar os rumos da política de seu país e promover uma reflexão e um olhar da realidade a partir de obras de arte de documentações ativistas que vão muito mais longe do que a mídia consegue cobrir.
Em meio aos confrontos com as forças contra-revolucionárias de Hosni Mubarak, que resultou em centenas de mortos e a sua queda como ditador, a Matilha Cultural conseguiu realizar o difícil trabalho de mapear um conjunto de ativistas revolucionários e iniciativas culturais independentes autênticas que pudessem traduzir o momento de agora e também algumas expressões artísticas que participaram do processo de resistência e levante do povo egípcio.
São manifestações que vão desde fotos de graffiti nas ruas até ações táticas de guerrilha de informação envolvendo video-arte, um apanhado de elementos e ações que demandaram inclusive um novo formato de exposição para a Matilha. Um formato que fosse capaz de se articular com programas de rádios on-line feitos especialmente, conversas em tele-conferência, realizar intervenções conjuntas entre São Paulo e Cairo, contextualizar os documentos seqüestrados do prédio do serviço de inteligência egípcio pelos revolucionários, além de debates, vídeos, filmes, fotos e etc.
"Poderia se chamar até de festival, mas também não é o caso. O 'work in progress' é um termo que inspira essa idéia de processo e que é capaz de abordar a ação participando dela. Foi o próprio resultado da pesquisa que demandou esse novo formato de exposição - que outra forma poderiamos falar de uma revolução que está em andamento?", adianta Demétrio Portugal, curador da exposição e diretor de programação da Matilha Cultural.
A primeira fase deste processo poderá ser vista, a partir de 29 de abril, na forma de fotos, vídeos e artes enviadas diretamente do calor dos acontecimentos. A Matilha, ao trazer este projeto, busca chamar atenção para a necessidade da luta pelos direitos e trazer um registro de um processo ativista, por meio de um intercambio entre centros culturais, ativistas e artistas do Egito e do Brasil, nesse momento que o povo egipcio está vivendo as transformações na sua maior intensidade. A abertura será durante o happy hour Mondo Cane.
Dia 17 de maio, no happy hour Aquecimento Central, tem inicio a segunda fase, com uma exposições de video-arte obras e vindas do Egito para dialogar com uma seqüência de conversas, tele-conferências e um ciclo de cinema com material do festival Medrar de Cinema Experimental do Cairo e uma programação de longas propostos pela Icarabe - realizador da Mostra Mundo Árabe e também Festival Imagens do Oriente.
Um dos destaques é o artista Aalam Wassef com um apanhado de vídeos e táticas de guerrilha de informação realizadas desde 2007 sob o pseudônimo de Ahmad Sherif. Altamente subversivos e satíricos, os vídeos mostram um unidade clara a partir da uma identidade estética. Por medo da repressão, Wessef destruiu todos os originais de seus trabalhos desse período só restando cópias dos vídeos na internet. Ele é um dos convidados para as conversas em teleconferência.
Representando a linguagem urbana foram trazidas as fotos compiladas e feitas por Maya Gowaily, uma jovem egípcia que lidera um projeto para documentar o graffiti feito para revolução. Percebendo que as intervenções criadas durante as revoltas estavam sendo rapidamente apagadas, ela criou a página Graffiti Revolution no Facebook www.facebook.com/graffitiegypt, onde qualquer pessoa pode adicionar suas imagens. A idéia tem chamado atenção e está prestes a se tornar um livro.
Mahmoud Refat (100 Projects), fará uma edição do seu programa de rário online especialmente para o projeto da Matilha. Ele possui uma rádio de música experimental www.100radiostation.com, um selo e também um festival de música eletrônica.
Ainda está previsto um dia de debates e conversas sobre o atual momento geopolítico do norte da África e do Oriente Médio e suas repercussões em nível global para contextualizar historicamente os acontecimentos atuais. Além disso, Matilha está disposta a receber grupos de escolas e instituições que queiram visitar a exposição.
Principais parceiros:
Darb 1718 www.darb1718.com
Organização sem fins lucrativos, situada no Cairo, com a missão de ser um trampolim para o avanço do movimento da arte contemporânea emergente no Egito e ao mesmo tempo esforçando-se para colaborar com diversos grupos sociais e culturais.
Cairo Jazz Club www.cairojazzclub.com
Um dos clubes mais populares do Cairo. Com um programação eclética com encontro de bandas e DJs.
100 Projects www.100radiostation.com
Programa de rádio online de música experimantal comenando por Mahmoud Refat, diretamente do Cairo.
Mohamed Allam www.medrar.org
Estabeleceu uma iniciativa com a "Medrar de Arte Contemporânea", que visa a promoção das práticas artísticas contemporâneas de artistas jovens, no Egito.
Maya Gowaily www.facebook.com/GraffitiEgypt
Maya Gowaily é uma jovem egípcia, do Cairo, que lidera um projeto para arquivar o graffiti saido da
revolução no Egito, Líbia e outros países do Oriente Médio.
Artellewa www.artellewa.blogspot.com
O artellewa é um espaço independente de arte contemporanea, sem fins lucrativos, criado por Hamdy Reda com o apoio de amigos. Fundado em janeiro de 2007no Cairo.
Town House www.thetownhousegallery.com
A galeria Town House, localizada no Cairo, é um espaço para as artes independentes, visando a promoção das artes contemporâneas na região e internacionalmente.
Icarabe www.icarabe.org.br
O Instituto da Cultura Árabe, baseado em São Paulo, Brasil, é uma entidade civil, autônoma, laica, de caráter científico e cultural. Visa integrar, estudar e promover as várias formas de expressão da cultura árabe, antigas e contemporâneas, e encorajar o reconhecimento de sua presença na sociedade brasileira. Está aberto à participação de todos os que acreditam ser premente assegurar o respeito às diferenças.
Oboré www.obore.com.br
Empresa prestadora de serviços que atua com comunicação popular. Nasceu em 1978, como uma cooperativa de jornalistas e artistas, para colaborar com os movimentos sociais e de trabalhadores urbanos na montagem de seus departamentos de imprensa e na produção de jornais, boletins, revistas, campanhas e planejamento de comunicação.
MATILHA CULTURAL
A Matilha Cultural é uma entidade independente e sem fins lucrativos, instalada em um edifício de três andares, localizado no centro de São Paulo. A Matilha integra um espaço expositivo, sala multiuso e café, além de um cinema com 68 lugares. Fruto do ideal de um coletivo formado por profissionais de diferentes áreas, a Matilha foi aberta em maio de 2009 e tem como principais objetivos apoiar e divulgar produções culturais e iniciativas sócio-ambientais do Brasil e do mundo.
Egito em Obras: Expressões da Revolução
Abertura: 29 de abril, às 18h
De 29 de abril a 18 de junho.
Rua Rego Freitas, 542 – São Paulo
Tel.: (11) 3256-2636
Grátis / Livre

domingo, 1 de maio de 2011


Tariq Harb, que foi um advogado militar no governo de Saddam Hussein e hoje é um advogado constitucional e comentarista de televisão, ficou feliz ao ver o álcool correndo novamente no café ao ar livre da União dos Escritores Iraquianos. Mas muitos outros iraquianos não ficaram. "Estamos combatendo os educadores religiosos, os imames, os pregadores, que são extremistas."
Essa é a luta para definir a democracia emergente no Iraque, e se ela pode equilibrar religião e secularismo. Se a questão do álcool representa algum indício, a iniciativa continua sendo uma obra em progresso.
O Iraque serve como laboratório volátil para testar quão islâmica pode ser uma democracia e vice-versa. Os islâmicos rígidos ainda não venceram, e isso pode indicar algumas lições.
Em janeiro, bares e clubes, incluindo a União dos Escritores, foram objeto de batidas policiais, o que muitos iraquianos consideraram um passo do governo na direção de interpretação mais estrita da lei islâmica. Mas, pouco depois, enquanto começavam os protestos por reformas em outras questões, os "antros da bebida" tiveram permissão para reabrir. Desde então, Bagdá viu surpreendente renascimento da vida noturna.
Não foi o único sinal neste ano sobre o afastamento do islã em direção a uma visão mais abrangente das liberdades pessoais. O novo ministro da Educação reabriu cursos de arte e música que o ministro anterior havia banido. Uma tentativa de exigir que as funcionárias públicas usassem o véu foi bloqueada no Parlamento. Até Moqtada al Sadr, o religioso antiamericano, reagiu à proibição do véu feminino na França com uma declaração que pareceu notavelmente um apoio à tolerância democrática: "Segundo a lei muçulmana, não é obrigatório usar o niqab ou não usá-lo, ambos são aceitáveis".
Uma Constituição com lugares para o islamismo e a democracia não é necessariamente paradoxal. Mas o esforço para encontrar um equilíbrio entre eles causa muitos empurrões e vai testar a força da democracia. Na verdade, tanto o islã como a democracia estão consagrados na Constituição que os americanos ajudaram a escrever seis anos atrás.
Ultimamente, a gangorra se inclinou para longe do islamismo estrito, mas os militantes islâmicos mantêm a opção da violência se seus legisladores não prevalecerem; até hoje, as lojas de bebidas são, frequentemente, atingidas por explosões.
"O grande problema que o Iraque enfrenta não é islã ou democracia, mas divisões no corpo político e no Estado", disse Noah Feldman, um professor de direito de Harvard que assessorou a Autoridade Provisória da Coalizão para escrever a Constituição.
No final de fevereiro, inspirados por levantes árabes em outros países, os iraquianos realizaram seus protestos na Praça Al Tahrir (da Liberdade) em Bagdá. Eles foram atacados por forças de segurança, e os protestos não floresceram em nível nacional. Mas parece que uma acomodação que as autoridades fizeram foi reiniciar a repressão à vida noturna.
A questão das bebidas alcoólicas é apenas um aspecto de como valores islâmicos e seculares podem se chocar. Questões mais graves estão em jogo, como a posição das mulheres, a violência doméstica, o alcance da própria lei e a natureza da punição por violá-la.
Mas o modo como a questão da bebida se desenrola oferece pelo menos uma visão do que poderá estar à frente na mediação do debate mais amplo. "Proibir o álcool não contradiz os fundamentos da democracia", disse o professor Feldman. "Essa é uma questão política de quão islâmico deve ser o Estado." O interessante no Iraque é que "em nenhum outro lugar do Oriente Médio esse é um tema de debates, artigos e votações. Ele deve ser, e é, um tema animado para o debate democrático".
A questão também está sendo discutida dentro de outro trecho do território constitucional: o federalismo. "Nas áreas curdas, ninguém proíbe o álcool", disse Feldman, referindo-se à região do norte. "Nas áreas dominadas pelos xiitas, há um esforço."
Poucas vozes aqui defendem a ideia ocidental de separação estrita entre religião e Estado, e até políticos declaradamente seculares como Ayad Allawi, um xiita que liderou a coalizão influenciada por sunitas à vitória nas eleições parlamentares do ano passado, encontram um papel para o islamismo na política.
"Fé é fé", disse Allawi em entrevista recente. "É algo entre indivíduo e Deus. Eu acho que a inspiração para a Constituição deve vir da cultura da região, e uma parte importante é o islã."
Hoje em dia, porém, as correntes políticas parecem contrariar a conduta islâmica rígida, e a vida noturna na capital tornou-se mais animada e liberal do que muitas pessoas podiam se lembrar. As noites de quinta e sexta-feira são uma longa cena de comemorações embriagadas na Rua Abu Nuwas, um calçadão à beira-rio que leva o nome de um poeta árabe-persa, legendário beberrão, que era gay e gostava de escrever sobre temas que ofendiam os islâmicos rígidos. Então, talvez seja uma pequena medida do progresso do Iraque para se afastar da guerra interna o fato de que os oficiais de um posto de controle na Rua Abu Nuwas pareciam se preocupar mais com bêbados do que com bombas.
"O governo abriu os clubes noturnos e lojas de bebida novamente por causa da dor de cabeça que os manifestantes estão causando", disse um oficial, Salem Abbas. "Em vez de se reunir e criar problemas na Praça Al Tahrir, hoje sempre há lutas entre pessoas embriagadas nas ruas e nos clubes. Precisamos ficar em estado de emergência a noite toda."
Quando o terremoto aconteceu, às 14h56 de 11 de março, a última gueixa de Kamaishi estava em casa, preparando-se para cantar naquela noite em um "ryotei" -uma espécie de restaurante exclusivo- fundado há 117 anos nesta cidade, onde ela começou a trabalhar quando tinha 14 anos de idade, sete décadas atrás.
A gueixa já tinha vestido as meias brancas que usaria com seu quimono e se preparava para arrumar o cabelo em um coque típico. Contratada para entreter um grupo de quatro pessoas que festejavam a transferência de um colega de Kamaishi, ela tinha escolhido a canção exatamente certa para a ocasião, uma canção para preparar o espírito de jovens samurais que partiam para sua primeira batalha.
Mas um tsunami inundou a cidade 35 minutos depois, e a gueixa -Tsuyako Ito, 84 anos- lutou para sobreviver. Ela tinha sobrevivido a três tsunamis anteriores em Kamaishi e, quando menina, ouvira as histórias de sua avó sobre o grande tsunami de 1896.
No primeiro tsunami da vida da gueixa, em 1933, sua mãe a carregou sobre as costas até um lugar de segurança. Desta vez, quando suas pernas não aguentaram mais, um admirador carregou Ito sobre suas costas até um lugar mais alto.
Ito -que planejava aposentar-se em seu 88° aniversário, ocasião que é visto como marco no Japão- sobreviveu ao quarto tsunami de sua vida, "o mais assustador". As ondas carregaram seu shamisen, um instrumento de três cordas, e seu quimono, artigos essenciais para a arte de uma gueixa.
Beldade famosa, Ito dançava e tocava o shamisen, sendo que a maioria das gueixas sabe apenas tocar o shamisen, disse Setsuko Kanazawa, cuja família é proprietária do Saiwairo, o ryotei onde a gueixa se apresenta. Para os preservacionistas culturais desta região, Tsuyako Ito é a guardiã de uma cultura local que estava em processo de desaparecimento.
"Eu adorava dançar", disse Ito. "E eu queria me tornar a gueixa principal de Kamaishi."
Depois de casar-se com o proprietário de um restaurante de sushi, ter uma filha e se divorciar, Ito foi a Tóquio para estudar dança. Na fase em que a economia de Kamaishi começou a crescer, na década de 1950, ela e uma dúzia de outras gueixas eram constantemente procuradas pelos ryotais. Kamaishi é o lugar onde nasceu a indústria siderúrgica do Japão. Com o passar dos anos, os negócios foram diminuindo, e a demanda por gueixas caiu. Mesmo assim, Ito ainda era chamada, ocasionalmente por clientes antigos e, mais recentemente, por clientes novos, fato que reflete a nova ordem econômica do mundo.
No dia 11 de março, enquanto Ito se preparava para se apresentar, o tsunami atingiu Kamaishi e acabou chegando até a casa onde ela e seu sobrinho viviam, longe da costa. Uma parede de sua casa desabou, e a gueixa começou a tentar fugir, lentamente. Foi quando Hiroyuki Maruki, 59, dono de uma loja de saquê e presidente de um grupo dedicado à preservação de uma melodia antiga chamada "Canção do Litoral de Kamaishi", chegou à procura da gueixa. "Ela é a única que sabe cantar essa canção", disse Maruki. Quando Maruki carregou Ito morro acima, ela recordou "ter sentido o calor macio das costas dele".
Tendo sobrevivido a mais um tsunami, a gueixa disse que o que ela lamentou foi não ter podido cantar naquela noite. "Eu tinha ensaiado na noite anterior e, depois de refletir, pensei que essa canção seria apropriada", contou. "No fim, eu não cantei. E é uma canção tão bonita!"