sábado, 20 de fevereiro de 2010




ENCONTROS DO CEO

26/02/10, SALA 500C, 13:OO

PIN QUE MANDOU:

WAR OF INTERNET ADDICTION

Machinima é um termo criado a partir das palavras da língua inglesa machine (máquina) e animation (animação), é tanto uma coleção de técnicas de produção associadas quanto um gênero fílmico, ou filme criado por tais técnicas de produção.
Como uma técnica de produção, o termo diz respeito à computação gráfica produzida através de máquinas domésticas, em oposição à produção através das complexas máquinas programas 3D dos profissionais. Jogos em primeira pessoa costumam ser utilizados.
Como gênero fílmico, o termo refere a filmes criados pelas técnicas descritas acima. Usualmente, machinimas são produzidos usando ferramentas e recursos disponíveis em um jogo
War of Internet Addiction é uma Machinima chinesa feita em protesto contra a censura da China a internet. Em 64 minutos, a produção expressa as frustrações dos internautas chineses em relação ao controle chinês sobre os usuários e os sites da net. Misturando mockumentary com Sci-Fi, satiriza-se, ironicamente e criticamente, toda uma série de fatos e de práticas em torno da internet chinesa. A animação alcançou tamanha popularidade que obteve mais acessos e mais público que as exibições e os downloads do filme Avatar na República Popular da China.
Link do YouTube para o início das 7 partes de WIA
No Ocidente, um julgamento um tanto quanto condescendente sobre as mulheres japonesas há tempos é o de que elas são muito submissas e parecidas com bonecas. Durante quase uma década, a mídia japonesa incentivou as mulheres a lutarem contra essa imagem, endurecendo e se emancipando.
No ano passado, entretanto, esse tipo de conversa recebeu cada vez menos atenção entre algumas jovens que na verdade querem se parecer com bonecas.
Elas estão divididas em dois gêneros diferentes: as cada vez mais populares “Mori”, ou garotas da floresta, e as “Ageha”, ou garotas-borboleta. As garotas da floresta usam camadas de vestidos finos de algodão, meias grossas e botas, maquiagem despretensiosa e bolsas de tecido, com a intenção de parecer com uma boneca feita a mão de algum cenário romântico da Floresta Negra.
As garotas da floresta surgiram a princípio sem chamar muita atenção na cena cultural pop de Tóquio na última primavera, embora de primeira fosse difícil distingui-las das garotas eco, vestidas de forma parecida. Mas à medida que os meses passaram as diferenças se tornaram claras. As garotas da floresta querem ser discretas e suprimir toda a sexualidade, enquanto as garotas eco são naturais, esportistas, apoiam políticas ambientais consistentes e têm uma dose saudável de sensualidade.
Midori Yokokawa, editora da revista de moda “Forest Girl”, que foi lançada em outubro para acompanhar esse novo fenômeno, diz: “As garotas da floresta são cautelosas em relação a todos os tipos de agressividade ou autoconfiança. Elas são apenas muito frágeis, ou gostariam de ser dessa forma.
“Elas querem viver o suficiente para existir, preferencialmente num nível metafísico.”
As Ageha, ou garotas-borboleta, começaram a aparecer em 2008 e mostram uma desconfiança similar do mundo real. Seu objetivo é parecer o máximo possível com as bonecas infláveis que os homens compram online, mas com uma maquiagem extravagante.
Naolo Kamiyuo, 19, que vive para comprar cosméticos, roupas e acessórios de cabelo, diz: “Não sou muito bonita, mas adoro me montar. Quero mudar a mim mesma, ser irreconhecível. Quem quer passar pela vida sendo apenas ela mesma?”

Os pais dela primeiro imploraram para que ela “voltasse ao normal”, mas agora eles a deixam em paz para seguir seus sonhos de boneca Barbie.
“Fico entediada quando não estou montada”, diz Naoko. Ela acorda às 5 da manhã e passa pelo menos duas horas colocando cílios postiços, extensões de cabelo, camadas de base e outros complicados procedimentos de maquiagem.
Como a maioria das mulheres japonesas, as imitadoras de boneca não recorrem à cirurgia plástica.
De acordo com a jornalista de cosméticos e beleza Yuko Ito: “A mulher japonesa tem um certo medo de entrar na faca. Elas acham que é um pecado contra seus pais. É por isso que elas preferem optar por cosméticos e roupas dramáticas. Esta também é a razão por trás da impressionante variedade de cosméticos disponível neste país”.
Ito tem razão. A gigante dos cosméticos Kanebo lançou um rímel de alta tecnologia que na verdade faz com que os cílios fiquem mais longos (mesmo que apenas por algumas horas), e a Shiseido há muito vende produtos para clarear a pele das japonesas o máximo possível, como marfim.
“A mulher japonesa não está interessada em qualquer produto de maquiagem”, diz Ito. “Elas querem melhorar a sua aparência e ao mesmo tempo tratar e clarear sua pele, alongar os cílios, encher os lábios, etc.”
Mas não são só os cosméticos que produzem a aparência. As roupas também importam.
“Gosto quando tudo em mim parece artificial”, diz Kiyomi, 23, que gosta de comprar suas roupas na Jesus Diamante, uma boutique especializada no visual Ageha.
Kiyomi diz que ela nunca sai de casa a menos que esteja usando tamancos decorados com botões de rosas, seu cabelo tingido de loiro penteado em cachos rococó ao redor do rosto, e os seios aumentados por espessos enchimentos de gel dentro do sutiã.
Apesar de tudo isso, entretanto, Kiyomi não tem um namorado e passa suas noites livres trocando informações de moda com um círculo de amigas Ageha.
“Adoro sair com rapazes, mas raramente tenho uma oportunidade”, suspira. “O triste em ser uma Ageha é que a maioria dos homens preferem mulheres com aparência mais natural e nós não gostamos nada disso.”
Este parece ser o lado ruim das garotas que querem ser bonecas: poucos homens de fato estão dispostos a bater em suas portas. Tanto as Moris quanto as Agehas continuam sendo minoria, “cults” demais para os homens leigos entenderem, e tecnicamente difíceis de acompanhar. Consequentemente, elas têm em torno de si um ar de sociedade secreta.
Na Jesus Diamante, onde a lingerie rendada é exposta sobre uma cama cor-de-rosa, tirar foto de qualquer coisa, incluindo da equipe de vendedoras vestidas de forma extravagante, é um tabu.
“Faz sentido”, diz Kiyomi. “As bonecas não deveriam precisar falar, muito menos explicar qualquer coisa.”







sábado, 6 de fevereiro de 2010




Há meses os franceses estão envolvidos em um debate público centrado em sua identidade nacional e em uma possível proibição da burca, o véu islâmico. O ministro da Imigração, Eric Besson, um ex-socialista, é o homem por trás do debate agressivo, o que faz dele um dos políticos mais controversos da França.
As temperaturas estavam abaixo de zero e o céu de inverno era de um cinza gélido quando o presidente francês, Nicolas Sarkozy, chegou ao cemitério militar de Notre-Dame-de-Lorette, no norte da França, na última terça-feira. Ele foi prestar as últimas homenagens a outro francês, um homem chamado Harouna Diop, um soldado e pai de seis filhos. Nascido no Senegal, Diop tinha apenas 40 anos ao morrer no Afeganistão, em 13 de janeiro, quando insurgentes explodiram seu veículo militar blindado.
"Harouna Diop foi um francês. Harouna Diop foi um muçulmano", disse Sarkozy diante de um campo de cruzes brancas. "Ele morreu pela França."
O elogio de Sarkozy foi uma tentativa de resgate, uma manobra retórica no auge do aquecido debate que se trava na França sobre a identidade nacional. Ele divide o país há meses, causou gafes racistas e contribuiu para um clima de forte suspeita contra os muçulmanos franceses.
O debate gira ao redor dos valores da República, da nação francesa, da burqa e da questão do que causa orgulho a este país e o que é importante para ele - em suma, muitas das coisas que unem os franceses, ou uniram um dia.
O homem que provocou esse debate está de pé ao lado de Sarkozy no cemitério militar: Eric Besson, 51 anos, ministro da Imigração, Integração e Identidade Nacional. A revista "Le Nouvel Observateur" o chama de "servidor desavergonhado de seu amo", enquanto o semanário "Marianne" conclui que ele é "o homem mais odiado na França". Quanto ao presidente, chama Besson de "meu espadachim".
Besson é um político suave. Usa camisas lilás com gravatas roxas, tem o hábito de pressionar as pontas dos dedos das duas mãos enquanto fala e gosta de posar para fotos em seu escritório, entre o reboco dourado e um globo antigo. Besson, que se chama de patriota, acaba de escrever um livro, "Para a Nação", um hino literário a sua França natal, que segundo ele "amou e idolatrou" desde sua adolescência. O ministro da Imigração nasceu em Marrakech, no Marrocos, e só veio para a França aos 17 anos.

Três meses atrás, o ministro anunciou o início de um debate construtivo na "pátria dos direitos humanos". Ele estava convencido de que a propriedade do conceito de nação havia sido deixada por muito tempo para o extremista de direita Jean-Marie Le Pen e sua Frente Nacional. Não havia nada errado em lançar esse debate, que atualmente agita vários países europeus, em parte como reação ao crescente número de muçulmanos que vivem na Europa.
A discussão se concentra em seus direitos e obrigações e em sua aceitação dos valores ocidentais. A proibição da burca não está sendo discutida apenas na França, mas também na Dinamarca e na Itália, e em dezembro os suíços votaram em um referendo contra a construção de minaretes.
Mas é difícil conduzir essa discussão de maneira objetiva, especialmente porque em muitos lugares ela faz parte de uma tentativa de excluir os muçulmanos. Cidadãos, políticos e jornalistas se envolveram em discussões agressivas, e em alguns casos racistas, sobre até onde se pode permitir a visibilidade do islã na vida cotidiana da República, e quão franceses são ou deveriam ser os 5 a 6 milhões de muçulmanos que vivem na França.

No site na web que Besson criou para o debate sobre a identidade nacional, os censores logo se viram obrigados a deletar muitas mensagens xenófobas. E nos fóruns de cidadãos que o Ministério da Imigração organizou por todo o país muitos cidadãos expressaram o que chamaram de seu "medo da dominação árabe".
Em um desses fóruns, o prefeito de Marselha disse estar satisfeito com os moradores muçulmanos da cidade, mas não com o fato de eles recentemente terem marchado pelas ruas carregando a bandeira argelina, e não a francesa, depois que um clube de futebol local venceu uma partida. Mais tarde Besson pediu desculpas pela gafe do prefeito.
Durante meses, a oposição socialista acusou Besson de usar o debate sobre identidade nacional para deliberadamente escapar dos verdadeiros problemas do país: o déficit orçamentário, a montanha de dívida, o desemprego e as promessas não cumpridas de Sarkozy, que assumiu o cargo como o "presidente do poder aquisitivo". Segundo a oposição, o único objetivo da campanha de Besson é manter esses problemas prementes fora da agenda política antes das eleições regionais em março.
Essas críticas são muito familiares para o ministro. Afinal, Besson foi membro do Partido Socialista (PS), e ainda na campanha presidencial de 2007 trabalhou como assessor da candidata do partido, Ségolène Royal, escrevendo panfletos sobre Sarkozy, em que zombou dele como um "neoconservador americano com passaporte francês".
Mas então ele teve um desacordo com Royal, deu as costas ao partido, escreveu uma crítica aguda dos socialistas e, antes da eleição decisiva, desertou e ofereceu seus serviços ao adversário de Royal, Sarkozy. Ele teria ajudado Sarkozy a se preparar para o grande debate na televisão entre os dois candidatos, chegando a fazer o papel de Royal nos ensaios. Os socialistas chamam Besson de traidor desde então.

Como protegido do presidente, Besson ocupa constantemente as manchetes. Ele está em toda parte. Seguindo as pegadas de Sarkozy, que quando foi ministro do Interior fechou o campo de refugiados de Sangatte no litoral norte, em 2002, o atual ministro da Imigração mandou evacuar à força um campo de refugiados perto de Calais em setembro passado, diante de câmeras de TV e com a ajuda de forças de segurança agressivas.
Como Sarkozy, Besson é ruidoso e provocador. Ele vocifera contra os casamentos de fachada com que os imigrantes adquirem a cidadania francesa, persegue os imigrantes ilegais e registra números recordes de deportações. Ele também foi a escolha ideal de Sarkozy para dirigir a campanha de identidade nacional. Um antigo esquerdista do norte da África, nos últimos meses Besson mantém um relacionamento com uma tunisiana de 23 anos. Não poderia ser mais perfeito para o papel.
Em aparições em Paris, Besson diz que quer promover "o orgulho de ser francês". Ele está até considerando ligar a concessão da cidadania a um "pacto com a República". Mais de 350 fóruns de cidadãos foram realizados, e o site na web já atraiu mais de 55 mil comentários. Besson recentemente chamou o esforço de "um sucesso imensamente popular" - para aplauso da plateia quase exclusivamente branca, em um evento em que ele falou.
O debate sobre a identidade de Besson se fundiu com outra polêmica: a questão de se as mulheres muçulmanas devem ter permissão para usar em público o véu completo ou niqab (comumente chamado de burqa). Adversários afirmam que isso contraria os valores da República e que a burca não pertence à França secular, que já aprovou em 2004 uma lei que proíbe os lenços de cabeça islâmicos nas escolas.

Na última terça-feira, enquanto Sarkozy e Besson prestavam homenagem ao soldado muçulmano, uma comissão parlamentar francesa sobre o uso do véu completo recomendou que ele seja proibido em todas as instalações públicas. A recomendação pediu que se proíba as mulheres que usam a burca ou niqab o acesso às repartições públicas, hospitais, escritórios de serviço social, escolas e transporte público. Agora cabe ao Parlamento transformar a recomendação em lei.
Na superfície, a tarefa da comissão era determinar se a burqa é compatível com a dignidade das mulheres. Mas a questão mais fundamental é a de quanto islamismo a França secular pode tolerar. "Eu acho que temos de proibir a burqa", diz Besson, "no interesse das mulheres." Sarkozy pediu a mesma coisa em junho de 2009, quando disse: "A burqa não é bem-vinda no território da República Francesa". Sua mulher, Carla, estava sentada ao lado dele e assentiu. A comissão entrevistou mais de 150 especialistas, discutiu se usar a burca é uma exigência religiosa e até considerou o argumento de que uma proibição poderia melhorar a segurança no trânsito. Mas isso significaria incluir motociclistas e membros de outras profissões na proibição de usar "coberturas de cabeça que limitem o campo de visão".

André Gerin, o presidente da comissão e há 24 anos o prefeito comunista de Vénissieux, um subúrbio de Lyon, disse que embora os muçulmanos claramente tenham o direito de viver na França eles "terão de assimilar-se a nossa sociedade". Isto coloca o comunista Gerin na mesma página que o ex-socialista Besson. Ambos têm nostalgia de uma França que não existe mais, e muitos franceses aparentemente compartilham sua nostalgia. É como uma melodia cotidiana, escreve o jornal "Le Monde", "que sugere ao público que a França não é mais como antes, porque os imigrantes, especialmente muçulmanos com suas famílias, se estabeleceram aqui".
O sociólogo Vincent Geisser diz que "o debate da burca, juntamente com a discussão da identidade nacional, contribui para radicalizar as posições de muçulmanos moderados praticantes". Segundo Geisser, uma proibição legal da burqa poderia fazer das mulheres muçulmanas vítimas ainda maiores do que são hoje.
Parece que Besson perdeu o controle do debate e agora até os conservadores temem que a campanha de propaganda seja prejudicial. Sua promoção ao cargo de vice-líder do partido no governo, o conservador União por um Movimento Popular (UMP), também causou certas críticas. Os estrategistas do partido se perguntam se emprestar os slogans da extrema-direita não servirá apenas para mobilizar seguidores da Frente Nacional durante as eleições regionais.
Sarkozy já modificou seu tom no início do ano, quando, ao adotar um tom de estadista, pediu a união nacional e que os franceses "discutam sem nos rasgar, sem nos insultar e sem nos dividir". O presidente deverá pôr um fim, por enquanto, ao debate sobre a identidade nacional nesta quinta-feira. A polêmica sobre a proibição da burca também foi adiada para depois das eleições. Por ora, o Conselho Constitucional examinará se a proibição é até constitucionalmente aceitável. Mas resta a questão de se será possível encerrar a discussão tão rapidamente quanto ela começou, e se as relações entre muçulmanos e não muçulmanos na França sofreram danos permanentes.
"Nosso país não pode permitir a estigmatização de cidadãos franceses de fé muçulmana", disse Sarkozy junto ao túmulo de Harouna Diop. "Hoje o islamismo é a religião de muitos franceses." Eric Besson, o homem por trás da campanha de identidade nacional, teria balançado ligeiramente a cabeça em resposta aos comentários do presidente.

ANO DO TIGRE


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

BIG SHAWARMA, O MELHOR DO CHURRASQUINHO GREGO

Se você pudesse enxergar o movimento em câmera lenta, veria o seguinte: uma colherada de molho, um pouco de cebola, um tanto de tomate, uma carne colocada por cima, e tudo isso sendo enrolado em um pão sírio.
Mas quem tem tempo de fazer qualquer coisa em câmera lenta? Debaixo do calor sufocante de um dia de verão na Jordânia ou sob o frio de uma noite gelada de inverno, sempre há uma multidão que se comprime diante da Reem, uma casa minúscula de comida para viagem que tem a fama de fazer os melhores sanduíches "shawarma", de carne bovina ou de carneiro, em todo o Oriente Médio.
"Shawarma" é o nome dado para carne ao molho escabeche grelhada em um espeto vertical, cortada às fatias e enrolada em pão sírio. O espeto parece um espeto grego. Atrás do balcão, Alaa Abdel Fattah monta sanduíches tão rapidamente que é difícil distinguir seus movimentos. Leva quatro segundos para cada um. "A gente se acostuma", diz ele.
Com seu espaço ao ar livre para servir os lanches e dois espetos rotatórios verticais, a loja vende mais de 5.000 sanduíches por dia por cerca de US$ 1 cada um. Barracas que imitam a Reem foram abertas por toda parte no Oriente Médio. "Para mim, comer aqui é imprescindível", disse Hamza al Maini, 22. "Venho toda semana. Este lugar é o melhor."
Os jordanianos admitem que o "shawarma" veio originalmente de outro país, provavelmente da Turquia ou possivelmente da Grécia. Mas quem está preocupado com isso? Não as pessoas que comem na Reem.
"É o McDonald's do mundo árabe", comentou Momtaz al Shorafa, contando que pegou carona com seu amigo Muhammad Kiswani. Os dois atravessaram a cidade para comprar dois sanduíches para cada um.

Não há como saber ao certo se o "shawarma" da Reem é ou não o melhor do Oriente Médio. Mesmo em Amã, existem concorrentes. "Experimente o 'shawarma' daqui e o de outro lugar -você não perceberá nenhuma diferença", disse Sameh Shokry, que trabalha em uma barraca concorrente.
A Reem foi fundada em 1976 por Ahmed Ali Bani Hammad, que tinha trabalhado como cozinheiro no Líbano. Ao retornar a seu país, ele abriu sua lanchonete própria. Ela tem largura justamente suficiente para abrigar um caixa, dois fornos a gás verticais para assar a carne e oito rapazes que cozinham, fatiam e servem sem parar.
Pouca coisa mudou desde que Hammad abriu seu negócio, exceto pelo fato de o local ser hoje administrado por seus filhos, Sammer e Khalid. Eles andam num Porsche Cayenne e trajam jaquetas de couro.
"Vocês ganham bem fazendo 'shawarma'?" "Ganhamos, sim", respondeu, rindo, o filho mais velho, Sammer Bani Hammad, que herdou a responsabilidade familiar mais importante após a morte de seu pai, cinco anos atrás: ele é o guardião da receita secreta.
Sammer disse que o segredo do sucesso da Reem é o escabeche da carne. Ele mesmo não cozinha mais. Mas é ele quem mistura o molho, porque ninguém mais pode conhecer seus ingredientes. "É a receita de meu pai", disse.


A carne é imersa no molho escabeche em uma cozinha central e depois colocada em espetos. Fatias espessas de carne se alternam com outras de gordura para garantir um sanduíche úmido, gorduroso e saboroso. A carne tem um leve aroma de cardamomo, um tempero indiano, ou talvez de canela, e é extremamente salgada.
Enquanto ela assa, sua parte externa vai ficando preta. É nesse momento que um dos fatiadores, como Fattah, começa a trabalhar, cortando de cima para baixo com uma lâmina longa e afiada para tirar só a parte bem assada e então deixando-a sob o espeto de carne e gordura, para assar mais um pouco no calor.
A lanchonete usa mais de 450 kg de carne por dia. "Os fregueses são de todas as classes sociais", disse Sammer. "Há religiosos, trabalhadores, atores -todos vêm para cá e todos aguardam na fila, como os outros."


A China proibiu pessoas físicas de registrarem nomes de domínio de internet, na mais severa medida adotada por Pequim até o momento em sua campanha por reforçar a censura sobre a mídia on-line.
Agora, as pessoas que quiserem registrar nomes de domínio na China têm a obrigação de apresentar um carimbo de empresa e uma licença empresarial, informou o China Internet Network Information Center (CNNIC), um órgão vinculado ao governo, em comunicado.
"Começamos a revisar os nomes de domínio registrados por indivíduos, como determinou o CNNIC", disse um representante do HiNet, um dos maiores provedores chineses de acesso à internet.
Funcionários do governo disseram que a medida é parte de uma campanha de repressão ao conteúdo pornográfico, mas blogs e ativistas de internet a interpretaram como parte de uma tentativa mais ampla de impor maior censura à internet.

"Caso eles realmente imponham essa decisão, teremos de registrar nossos sites fora da China", disse um blogueiro. A decisão se segue a uma série de medidas de repressão à internet e ao conteúdo da mídia, devido ao nervosismo cada vez mais perceptível do governo chinês com relação ao conteúdo gerado por usuários, que as autoridades estão lutando para controlar.
Pequim controla a internet por meio de um sistema sofisticado. Ele inclui vigilância em todos os níveis de governo, mas também depende fortemente dos portais e de outros sites que hospedam conteúdo e exercem funções de censura em nome das autoridades.


O sistema vem sofrendo pressão cada vez maior dada a ascensão rápida da mídia social, dominada pelo conteúdo gerado por usuários. Sites pessoais são um incômodo para o governo porque censurá-los é mais complicado do que fiscalizar o conteúdo gerado por usuários em sites de hospedagem maiores.
Na semana passada, a Administração Estatal do Rádio, Cinema e Televisão fechou alguns sites de vídeo, mencionando violações de direitos autorais e conteúdo inapropriado. Na mesma semana, o governo anunciou que mais de 3.000 pessoas haviam sido detidas por suposto envolvimento com a distribuição de conteúdo pornográfico via internet.
Neste ano, as autoridades bloquearam diversos sites de mídia social, entre os quais YouTube, Facebook e Twitter, e alguns de seus clones locais.
Como no caso de outras questões consideradas sensíveis pelo governo, a propriedade de nomes de domínio por indivíduos sempre foi uma área cinzenta na China, em termos judiciais. "O governo jamais abriu o registro de nomes de domínio por indivíduos. Havia apenas algumas lacunas", disse Xue Hong, especialista do setor. "A CNNIC agora agiu para reforçar a regulamentação."


Estimativas indicam que pessoas físicas respondam pela maioria dos domínios registrados no mundo. Mas a China não divulga estatísticas sobre nomes de domínio discriminados por categoria de proprietário.
Segundo a CNNIC, a China tinha 16,3 milhões de nomes de domínio em junho deste ano, 80% dois quais com o sufixo nacional ".cn". Os demais usam ".org", ".net" ou ".com".
Nazila Fathi
Um dia em junho passado, quando eu saía da garagem, notei um homem me encarando em um Peugeot branco, do outro lado da pacata rua de Teerã onde eu vivia. "Aí está ela", ele disse, e se apressou em ligar seu carro. Olhei pelo retrovisor. Atrás de mim havia um carro cinza, já me seguindo. Logo em seguida, dois homens desgrenhados numa moto. Então, eu disse a mim mesma, estou sendo vigiada. Eles mandaram uma equipe inteira. Voltei para casa e liguei para um advogado. Passei três dias dentro do meu prédio. E fui de lá direto para o aeroporto. Era hora de deixar o Irã. Sou iraniana, uma jornalista hoje vivendo no exílio como centenas, talvez milhares de outros. Fomos levados a partir do país depois da eleição de junho, amplamente considerada fraudulenta, e dos protestos e da repressão subsequentes. Nosso crime foi tê-los coberto a fundo demais. Durante períodos de turbulência, aprendi a ser discreta e noticiar o que podia, alertada de que algumas coisas -slogans dos manifestantes, até execuções anunciadas internamente- eram delicadas demais para serem contadas fora do Irã. Mas achava que o governo iraniano estava aprendendo a nos tolerar. Tudo isso mudou em junho. Confrontado com furiosos protestos de uma inconsolável oposição política, o governo se empenhou extraordinariamente em suprimir qualquer notícia sobre as consequências da eleição. Um dia, o telefone tocou, e uma fonte linha-dura, mas solidária, me alertou que eu seria alvejada por franco-atiradores se fosse vista nas ruas. Mesmo assim, continuei saindo para trabalhar.


Só depois que a equipe de vigilância chegou, cerca de dez dias depois, minha família e eu decidimos partir. Fiquei aliviada por ter escapado por pouco. Mas um grande pedaço de mim ansiava por ficar. As ruas de Teerã estavam agora convulsionadas por alguns dos maiores e mais sangrentos protestos desde a revolução de 1979; eu queria contar a história, continuar a fazer parte do destino do Irã. Mais do que qualquer coisa, eu temia cair naquilo que os jornalistas iranianos chamam de "síndrome do exílio" -minha compreensão sobre o Irã ficaria congelada no momento da partida, e eu seria incapaz de me manter atualizada. Sem dúvida o governo esperava o mesmo de mim e de outros. Não poderíamos estar mais errados. Três coisas fizeram toda a diferença: o alcance global da internet; a capacidade de criação de redes entre jornalistas exilados e nossas fontes; e a engenhosidade dos dissidentes iranianos em enviarem informações e imagens para o exterior. Fui a Nova York cobrir uma greve de fome em apoio à oposição iraniana. Fiquei surpresa por ver mais de uma dúzia de ex-fontes minhas -ex-parlamentares, ativistas e blogueiros- que haviam partido para o exílio anos antes. Em vez de ficar isolada, travei contato com outro Irã -um Irã virtual na internet, ligando reformistas no exterior a blogueiros e manifestantes ainda dentro do país, e jornalistas e fontes fora. Na verdade, ao acompanhar blogs e vídeos de celulares que vazavam para fora do Irã, de certa forma eu podia divulgar notícias com mais produtividade do que quando eu tinha de temer e driblar o governo. Eu podia noticiar, livre dos éditos governamentais, que os protestos estavam entrando em uma nova fase. Há uma ironia nisso tudo; os vários anos de controle autoritário haviam educado grande parte do Irã sobre a necessidade de burlar as restrições na internet, e agora eu estava vendo e ouvindo os resultados no meu computador e na minha TV.

No mês passado, durante e depois do funeral do grão-aiatolá reformista Hossain Ali Montazeri, uma das ferramentas mais úteis dos manifestantes foi o sinal de rádio de curto alcance do Bluetooth, que os americanos usam principalmente para ligar o celular a um fone de ouvido, ou uma impressora ao laptop. Há muito tempo, os dissidentes iranianos descobriram que o Bluetooth pode com a mesma facilidade ligar celulares entre si numa multidão. E isso deu origem ao verbo "bluetoothar" no Irã. Um manifestante "bluetootha" um vídeo para outros por perto, e estes fazem o mesmo. De repente, se as autoridades querem impedir que uma imagem escape do local, têm de confiscar centenas ou milhares de telefones e câmeras. Em novembro, as autoridades anunciaram que uma nova unidade policial, o "ciberexército", iria varrer a dissidência da web. Ela bloqueou notas do Twitter por algumas horas em dezembro e um site oposicionista. Mas outros blogs e sites brotaram mais rapidamente do que o governo poderia acompanhar.