quinta-feira, 22 de novembro de 2012




A iraniana Ameneh Bahrami, 34, ficou desfigurada depois que um colega de faculdade com quem ela não queria se casar atirou ácido em seu rosto. Em 2011, ela obteve o direito de aplicar a Lei de Talião, mas, na última hora, perdoou o agressor. Residente na Espanha, Ameneh voltou ao Irã para lançar sua biografia "Auge um Auge" ("olho por olho", em alemão), sem previsão de lançamento no Brasil. Leia o depoimento de Bahrami ao jornal Folha de S. Paulo: "Nasci de um pai militar e de uma mãe professora de escola primária e tive uma infância feliz crescendo ao lado de minhas duas irmãs e dois irmãos em Teerã. Terminado o segundo grau, me inscrevi na faculdade de Engenharia Eletrônica na Universidade Eslamshahr. Em 2003, uma senhora me telefonou dizendo que tinha um filho que estudava comigo e queria me pedir em casamento. Ela me disse seu nome, Majid Movahedi, e então fui conferir quem era. Eu o conhecia de rosto, mas não sabia seu nome. Quando a mãe me ligou de novo, contei que não estava interessada. Não ia com a cara dele e, além disso, ele um dia havia mexido comigo durante uma oficina de laboratório, tocando minhas coxas. Mas ela continuou ligando, dizendo que seu filho era homem e, por isso, tinha direito de escolher quem bem entendesse para ser sua mulher. Após meses recebendo ligações, exigi que ela parasse de telefonar. Ela respondeu que seu filho iria se matar se não se casasse comigo. Meses depois, me formei e consegui um emprego numa empresa de equipamentos médicos. Eu só soube muito tempo depois que Majid naquela época vivia me seguindo e levantando todo tipo de informação a meu respeito, desde horários até nomes de colegas. Certa vez ele me ligou dizendo que estava disposto a me matar se eu não me casasse com ele. Não levei a sério e continuei vivendo normalmente, até que um dia, em outubro de 2004, eu o vi me esperando na frente da empresa. Repeti que não o queria e contei que tinha um marido. Majid respondeu: É mentira, pois sei tudo a seu respeito. Case comigo ou vou arruinar sua vida. Dois dias depois, saí do trabalho por volta das 16h30 e caminhava pela rua quando senti alguém apressado atrás de mim. Deixei a pessoa me ultrapassar e vi que era Majid, com um frasco na mão. Ele atirou um líquido no meu rosto, pensei que fosse água quente. Ele riu e saiu correndo, e minha vista escureceu. A última coisa que meus olhos enxergaram foi o tênis de Majid. Logo senti uma queimação atroz e entendi que o líquido que escorria pelo meu rosto não era água quente, mas ácido sulfúrico. Comecei a gritar no meio da rua e arranquei desesperadamente minha roupa e até meus calçados, que não paravam de queimar. Doía muito e eu não enxergava nada. Trouxeram água e eu molhei minhas mãos e braços, mas o efeito foi pior, pois minha pele começou a ferver. Um homem me disse: Não leve a água à cabeça, senão seu rosto vai se desmanchar. Fui levada de hospital em hospital até ser atendida. Nem na clínica de queimados sabiam o que fazer comigo. Diziam nunca ter visto um caso assim. Cinco horas depois, um médico anunciou que meu olho esquerdo estava perdido e que meu olho direito tinha chance de ser salvo. Com ajuda financeira do então presidente Mohammad Khatami, fui fazer tratamento em Barcelona, onde uma operação bem-sucedida me permitiu recuperar 40% da visão do olho direito. Mas Mahmoud Ahmadinejad, eleito em 2005, cortou a ajuda, e mergulhei numa situação muito difícil na Espanha, sem dinheiro nem teto. Em 2007, peguei uma infecção num abrigo social e perdi de vez o olho direito. Foi aí que decidi voltar ao Irã para pedir a Lei de Talião [olho por olho, dente por dente, criada na Babilônia antiga]. A Justiça argumentou que a lei nunca era aplicada, mas, no ano passado, ganhei a causa. Majid já estava no hospital judiciário para ser cegado quando anunciei que o perdoava. Ele se jogou no chão e beijou meus pés. No fundo eu nunca quis aplicar a Lei de Talião. Jamais poderia fazer isso, não sou selvagem. Eu queria mesmo chamar a atenção para o caso e evitar que outras pessoas passem pelo que sofri. Hoje o que importa é o dinheiro. Quero que ele me pague 150 mil. Mas ele foi solto pela Justiça, que não gostou de eu ter recuado da lei. Há muita complicação, mas continuo atrás do dinheiro. Volto dentro de alguns dias para Barcelona, onde sigo tratamento e vivo com a ajuda que Ahmadinejad retomou depois que eu perdoei Majid. Um médico na Espanha acha que pode recuperar meu olho esquerdo. Enquanto isso, quero que meu livro saia no mundo todo."

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

IMAGENS DO IRà
SESC Vila Mariana
28/11
19:30
Como se aproximar de uma cultura ao mesmo tempo secular e contemporânea? Como identificar os entrelaçamentos culturais entre Oriente e Ocidente e os vestígios da antiga Pérsia? Como abandonar os estereótipos para conhecer estruturas sociais, políticas, econômicas e religiosas extremamente complexas e efervescentes? Qual a importância do cinema iraniano no contexto local e internacional? Como lidar com o confronto das imagens ficcionais que se apropriam do nosso imaginário? Estas são algumas das questões que vão nortear o encontro, que integra a exposição Pulso Iraniano, em cartaz na Unidade, e as experiências de especialistas em cultura iraniana. A curadoria do encontro é de Marco Souza e a mediação da conversa será realizada por Christine Greiner, ambos professores do Centro de Estudos Orientais da PUC-SP. A partir de 16 anos. Retirada de ingressos com 1h de antecedência, na Central de Atendimento. Auditório. 
Grátis 
Endereço: Rua Pelotas, 141 - Vila Mariana, São Paulo, 04012-000 
Telefone: (0xx)11 5080-3000 
Estação metrô: Ana Rosa

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Quando as vendas de sua loja de roupas começaram a cair, alguns anos atrás, In Tae-yeon pôs a culpa na economia fraca. Mas ele não demorou a perceber que o problema era provocado pelos hipermercados que invadiram os distritos comerciais, atraindo os consumidores com seus cartazes brilhantes, descontos enormes e, em suas palavras, "sugando o sangue de pequenos empresários como se fossem vampiros".
A chegada dos hipermercados é um fenômeno relativamente novo na Coreia do Sul. Mas as lojas são singulares no país porque, em sua maioria, pertencem a "chaebols" -conglomerados controlados por famílias, cuja hegemonia em grandes partes da economia vem levando muitos na Coreia do Sul a descrever seu país como a "República do Chaebol".
Cadeias nacionais de hipermercados, supermercados e lojas de conveniência abertas 24 horas por dia constituem os exemplos mais recentes e mais visíveis da tendência de crescimento aparentemente irrefreável dos "chaebols". De acordo com a agência nacional de estatísticas, a receita total dos hipermercados passou de US$ 23,7 trilhões de wons, em 2005, para 33,7 trilhões de wons (US$ 30,3 bilhões), em 2010. Nesse mesmo período, as vendas nos mercados tradicionais caíram de 32,7 trilhões de wons para 24 trilhões, segundo outras estatísticas.
Assim, quando proprietários de lojas pequenas, como In, começaram a resistir, montando piquetes diante de hipermercados e fazendo lobby junto a parlamentares, lançaram um movimento em apoio à chamada "democratização econômica".
Os "chaebols" são vistos como os líderes do crescimento econômico sul-coreano, exportando bens tão diversos quanto telefones celulares, carros e navios. Os cinco maiores "chaebols" -Samsung, Hyundai Motors, SK, LG e Lotte- geraram vendas de 653 trilhões de wons, ou US$ 57,7 bilhões, em 2010.
Há vários anos, os lojistas da rua comercial tradicional onde In Tae-yon tem sua loja vêm sofrendo queda em suas vendas, devido à concorrência com três hipermercados e uma loja de departamentos. "Eles se comportam como serpentes gigantes que devoram tudo", fala In.
Os pequenos varejistas familiares já foram sufocados por hipermercados em outros países, mas entender como operam os "chaebols" é entender como funciona a economia.
Um "chaebol" típico abrange dezenas de subsidiárias que são controladas por seu presidente através de uma rede de acionistas. Exércitos de empresas menores dependem do "chaebol", com o qual mantêm relacionamentos de patrono e cliente.
A Samsung e outros "chaebols" abriram redes de padarias ou cafés. A CJ abriu uma cadeia de restaurantes especializados no "bibimbap", um prato popular de arroz e legumes servido numa tigela. A LG vende morcela sul-coreana. São alimentos cuja venda garante a subsistência de alguns dos mais pobres sul-coreanos.
"O governo nos disse repetidas vezes que, se os 'chaebols' crescessem, também aumentariam o emprego, as exportações e a classificação de crédito de nosso país", comentou Hong Ji-gwang, 47, dono de uma loja de cosméticos em Seul. "É mentira."
No Parlamento, partidos políticos rivais vêm pedindo que sejam impostos limites aos "chaebols".
Os conglomerados prometeram aumentar o número de empregados novos em 3,4% este ano. Além disso, distribuíram entre seus empregados vales a serem usados na compra de produtos nos mercados tradicionais.
É pouco provável que isso baste para aplacar pequenos varejistas como In Tae-yeon. "Não queremos viver das migalhas que os 'chaebols' nos jogam", disse.

Aos 30 anos, Chen Kuo tinha aquilo com que muitos chineses sonham: um apartamento próprio e um emprego bem remunerado numa multinacional. Mas, em outubro, Chen viajou para a Austrália para começar uma nova vida, sem perspectivas seguras -como centenas de milhares de outros chineses que emigram todos os anos. Apesar do tremendo sucesso econômico da China nos últimos anos, Chen considerou que na Austrália teria um ambiente mais saudável, serviços sociais mais eficientes e maior liberdade para começar uma família. "Era muito estressante na China. Às vezes eu trabalhava 128 horas por semana para a minha empresa de auditoria", disse Chen. "Vai ser mais fácil criar meus filhos como cristãos no exterior. A Austrália é mais livre." A China, cujo Partido Comunista iniciou na semana passada sua troca de liderança, está perdendo cada vez mais profissionais qualificados, como Chen. Em 2010, último ano com estatísticas completas, 508 mil chineses emigraram para os 34 países desenvolvidos que compõem a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). É um aumento de 45% em relação a 2000. Em 2011, os Estados Unidos receberam 87 mil residentes permanentes da China, 17 mil a mais do que no ano anterior. Os imigrantes chineses estão estimulando o mercado imobiliário em locais como Manhattan, onde alguns corretores estão aprendendo mandarim, e Chipre, que oferece uma rota para um passaporte da União Europeia. Poucos migrantes chineses citam razões políticas, mas elas aparecem de forma subjacente em várias das suas preocupações. Esses chineses falam sobre o desenvolvimento desenfreado que arruína o ambiente ou sobre a deterioração do tecido social e moral. "Um 'green card' me dará a sensação de segurança", disse um blogueiro que pleiteia esse visto de residência nos Estados Unidos. "O sistema aqui [na China] não é tão estável, e você não sabe o que vai acontecer no futuro." Turbulências políticas reforçam essa sensação. Desde o começo deste ano, o país está chocado com as revelações de que o ex-dirigente comunista Bo Xilai controlava um feudo que, segundo relatos oficiais, se envolveu em casos de assassinato, tortura e corrupção. "Continua havendo muita incerteza e risco, mesmo nos mais altos escalões, mesmo no escalão de Bo Xilai", disse Liang Zai, especialista em migração da Universidade de Albany, no Estado de Nova York. "As pessoas se perguntam o que vai acontecer daqui a dois ou três anos." Mas o movimento não é de mão única. Com economias estagnadas e oportunidades de emprego limitadas no Ocidente, o número de estudantes que volta para a China subiu 40% em 2011 em relação ao ano anterior. O governo chinês também passou a oferecer benefícios temporários para cientistas e acadêmicos que regressarem ao país. A sensação de incerteza afeta também os chineses mais pobres, num país que tem hoje uma das maiores disparidades de classes do mundo. Segundo o Ministério do Comércio, 800 mil cidadãos chineses estavam trabalhando fora do país no final de 2011, contra apenas 60 mil em 1990. "[A emigração] está sendo alimentada pelo medo de ficar para trás na China", disse Biao Xiang, demógrafo da Universidade de Oxford. "Ir para o exterior se tornou uma espécie de aposta que pode trazer oportunidades." Zhang Ling, dono de um restaurante em Wenzhou, conhece bem essas preocupações. Agricultores e comerciantes da sua família juntaram dinheiro para mandar o filho dele para um colégio em Vancouver, no Canadá. A família espera que ele entre numa universidade canadense e um dia receba o direito de residência permanente, talvez permitindo que os parentes também se mudem para o exterior. "É como uma cadeira com várias pernas", disse Zhang. "Queremos uma perna no Canadá, para o caso de uma perna se quebrar aqui." Após anos de prosperidade, milhões de pessoas têm meios para emigrar legalmente, seja por meio de programas de investimentos ou enviando filhos para o estrangeiro, de modo a assegurar uma presença permanente. Wang Ruijin, secretária de uma companhia de mídia em Pequim, disse que ela e o marido estão estimulando a filha, de 23 anos, a se matricular numa pós-graduação na Nova Zelândia, na esperança de que ela fique por lá e abra as portas para a família. "Não sentimos que a China seja adequada para pessoas como nós", disse Wang. "Para progredir aqui, você precisa ser corrupto e ter boas relações. Nós preferimos uma vida estável."

Medidas de austeridade, aumento do desemprego, incerteza sobre o futuro do país na União Européia: a Grécia tem sido uma constante nas manchetes globais. A crise teve o efeito inesperado de empurrar alguns gregos do mundo da moda para novos países e recomeços. Para Christoforos Kotentos, 36, isso aconteceu na forma da Bouclier, uma marca de moda de Los Angeles de tricôs acessíveis, fundada pelo investidor cipriota Adonis Hadjiantonas. Como diretor de criação, Kotentos recentemente supervisionou as primeiras remessas da marca para lojas dos Estados Unidos. "Ver tudo desmoronar ao meu redor e as pessoas caírem na depressão me fez querer mudar de ambiente", disse o estilista, que deixou Atenas em julho de 2011. "Então me mudei para L.A. Lá senti que podia respirar, começar a sonhar e a ser criativo de novo." Kotentos está procurando investimentos para desenvolver sua própria marca. Vasso Consola mudou para Berlim em janeiro. O estilista de 47 anos e seu sócio alemão fundaram a firma VDE GBR em Munique no ano passado. A marca se baseia no vestido "ID", inspirado na antiga túnica grega. As roupas estão sendo compradas por clientes da Áustria, da Alemanha, do Japão e dos Estados Unidos. "Eu amava meu país, mas não reconhecia aquilo em que ele tinha se transformado", disse Consola. "Para mim, tratava-se de começar do zero, mas com experiência, conhecendo minhas forças e fraquezas." O financiamento sempre foi limitado e difícil de conseguir na Grécia. Mesmo nos anos 1970 e 1980, quando os fabricantes locais produziam grandes encomendas para companhias globais, havia poucos relacionamentos saudáveis entre a produção e os talentos locais. Hoje, "as marcas de roupas gregas lutam com uma queda muito forte na demanda, assim como margens bastante reduzidas nas vendas que restam", disse Vassilis Masselos, executivo-chefe da marca de lingerie grega Nota e presidente da Associação Helênica da Indústria de Moda. "As compras se limitam ao absolutamente necessário. Até as marcas de preços mais baixos sofrem com isso." Entre os estilistas que decidiram apostar seu futuro no exterior estão Sophia Kokosalaki e Marios Schwab, que escolheram Londres, assim como Mary Katrantzou. Gregos talentosos que não quiseram deixar seu país tiveram de se satisfazer com ateliês e uma produção limitada. "A moda foi a primeira coisa que sumiu de Atenas, muito antes que as pessoas começassem a perder os empregos", disse Angelo Bratis, depois de apresentar uma coleção primavera/verão 2013 na Semana de Moda de Milão. Hoje em Roma, Bratis dá consultoria para grandes marcas e está desenvolvendo a sua própria coleção, que é vendida em lojas elegantes como Amaranto Boutique, em Milão, e Lo Spazio, em Jedá, na Arábia Saudita. "Eu queria uma segunda chance, um próximo passo na minha carreira", disse Bratis. "A situação difícil me incentivou a ousar."

Desde que o épico turco "Conquest 1453" fez sua estreia neste ano, a história da tomada de Constantinopla pelo sultão Mehmet 2°, aos 21 anos, virou o filme de maior bilheteria da história da Turquia. A produção, também lançada em 12 países do Oriente Médio, na Alemanha e nos Estados Unidos, teve um grande impacto ao intensificar o triunfalismo cultural entre os turcos. "Conquest 1453" deu origem a um programa de televisão com o mesmo título e vem incentivando turcos a reencenar batalhas dos tempos de glória do Império Otomano. Os produtores de "Once Upon a Time Ottoman Empire Mutiny" [era uma vez um motim no Império Otomano], um seriado de televisão sobre uma insurreição contra o sultão Ahmet Khan 3°, no século 18, disseram que pretendem erguer um parque temático da era otomana. O período otomano, especialmente nos séculos 16 e 17, foi marcado pela hegemonia geopolítica e pelo avanço cultural. O lento declínio desse império culminou na Primeira Guerra Mundial. Durante anos, esse período foi minimizado na história ensinada nas escolas, já que a República da Turquia, criada em 1923, tentou romper com um passado decadente. Agora, no momento em que a Turquia emerge como líder no Oriente Médio, dinamizada pelo crescimento econômico forte, um novo fascínio com a história nacional vem tomando conta do país. Nas artes plásticas, exemplos enquadrados de desenhos da era otomana, conhecidos como Ebru e associados aos motivos geométricos islâmicos encontrados em mesquitas, vêm ganhando popularidade e adornam as paredes de residências. O Museu Panorama atraiu multidões com uma imponente pintura, em 360 graus e com 14 metros de altura, do cerco de Constantinopla, acompanhada por ensurdecedores disparos de canhão. Telenovelas de temática otomana também proliferaram. Nenhuma delas é mais popular que "The Magnificent Century" [o século magnífico], ambientado durante o reinado de 46 anos do sultão Suleiman, o Magnífico. O programa relata as intrigas da família e do harém imperiais. Foi exibido em 32 países no ano passado, incluindo Marrocos e Kosovo. A reabilitação do império inspira sentimentos mistos entre os críticos culturais. "O 'revival' otomano faz bem ao ego nacional e captou a psique do país neste momento em que a Turquia quer ser uma potência", comentou Melis Behlil, professora de estudos cinematográficos em Istambul. Mas ela admite: "Isso me assusta, porque ego nacional em excesso não é uma coisa boa". Faruk Aksoy, 48, é o diretor de "Conquest 1453". Ele contou que sonhava em fazer um filme sobre a conquista de Istambul desde que chegou à cidade, aos dez anos, vindo de Urfa, e ficou fascinado com sua grandiosidade imperial.
O orçamento de US$ 18,2 milhões do filme foi recorde na Turquia, mas, segundo Aksoy, esse valor já foi mais que recuperado: "Conquest 1453" já rendeu US$ 40 milhões na Turquia e na Europa. Numa sessão recente, os espectadores vibraram tanto que gritaram "Deus é grande!" quando os otomanos escalaram as muralhas proibidas de Istambul. "Os turcos sentem orgulho da conquista. Ela mudou não apenas nossa história, mas o mundo", explicou Aksoy. Outros, contudo, avisam que há um chauvinismo cultural perigoso em ação. Burak Bekdil, colunista do "Hurriyet Daily News", escreveu que agora seria um bom momento para o lançamento de filme intitulado "Conquest 1974", que festejaria a invasão turca do Chipre, ou "Extinção 1915", para lembrar o genocídio dos armênios na Primeira Guerra Mundial. Houve ameaças de morte a Bekdil. Aksoy se disse aborrecido porque um filme feito para entreter está sendo politizado. Críticos culturais observaram que o argumento religioso subjacente ao filme o tornou popular num país que, cada vez mais, vem olhando para o Oriente. Melis Behlil comentou que o surgimento de filmes e programas de TV de grande orçamento tratando da era otomana deve algo à popularidade da Turquia no mundo árabe, que está garantindo receitas novas às produtoras de filmes. No ano passado, a Turquia foi a maior exportadora europeia de telenovelas, tendo recebido US$ 70 milhões por isso. Mas é na própria Turquia que os filmes e as séries vêm exercendo impacto profundo. Burak Temir, 24, ator alemão de origem turca que representou um príncipe em "Once Upon...", revelou que, inicialmente, sentiu-se intimidado por retratar uma era sobre a qual sabia tão pouco. Para prepará-lo para o papel, a produção do seriado lhe deu um curso sobre usos e costumes otomanos, no qual ele teve que aprender a cavalgar e manejar uma espada. Mesmo quando não está filmando, hoje ele usa barba como a de um sultão e calças de estilo otomano. "Isso me fez sentir orgulho de ser turco", explicou.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012



Após a turbulência diplomática em torno das Ilhas Diaoyu/Senkaky, reivindicadas tanto pela China quanto pelo Japão, as montadoras nipônicas estão avaliando suas perdas no maior mercado mundial. Entre as três grandes japonesas presentes na China, a grande perdedora se chama Nissan. Na terça-feira (6), a parceira da Renault divulgou resultados decepcionantes, recuando 2,8% no primeiro semestre (abril-setembro), para 1,78 bilhão de euros (cerca de R$ 4,6 bilhões). Para o ano fiscal que termina no dia 31 de março de 2013, a montadora estima um lucro líquido de somente 3,2 bilhões de euros, contra os 4 bilhões esperados até agora. Além do iene forte e da crise na Europa, o grupo confirma o impacto da queda de suas vendas na China, para onde ele escoa mais de um quarto de seus carros: em 2012-2013, ele agora espera registrar ali 1,175 milhão de veículos, ou seja, 175 mil a menos que o previsto. A Honda também está em recuo. No final de outubro, a montadora revisou suas previsões anuais de lucro, passando de 4,7 bilhões para 3,75 bilhões de euros (R$9,75 bilhões). Na China, ela espera por uma queda de 20% no número de unidades vendidas. Somente a Toyota permanece no azul. Na segunda-feira, o grupo revisou para cima sua previsão de lucro anual, de 7,4 bilhões para 7,6 bilhões de euros (R$ 19,76 bilhões). E isso graças à forte recuperação do mercado japonês e à sua volta ao primeiro plano na América do Norte, após uma forte queda em 2011. Para a principal montadora japonesa, “o efeito das atuais relações entre o Japão e a China sobre as vendas ainda não está claro”, ainda que ela antecipe uma queda de 200 mil vendas no último trimestre de 2012 e no primeiro trimestre de 2013, ou seja, uma perda de 292 milhões de euros (R$ 759 milhões). No entanto, a ascensão do sentimento antinipônico junto a consumidores chineses desde o final do verão triunfou sobre a meta de produção de 10 milhões de veículos em 2012 que o grupo estabeleceu para si no início do ano. A partir de agora, a Toyota não está mais “focada nesse número”. Desde setembro, nada mais tem dado certo para as montadoras japonesas na China. As vendas da Toyota caíram 48,9% em setembro, as da Honda 40,5% e as da Nissan 35,3%. Segundo John Zeng, diretor das previsões para a região Ásia-Pacífico da LMC Automotive, as montadoras japonesas deixaram de fazer 110 mil vendas potenciais em setembro, ou seja, US$ 2 bilhões (cerca de R$4 bilhões) em faturamento, enquanto as manifestações estavam em seu auge nas grandes cidades chinesas. “As próprias empresas não podem fazer nada quanto a isso porque é uma questão política, tudo depende da capacidade das duas partes de se entenderem”, constata Zeng. Durante o verão, fotos de carros de marcas japonesas virados e às vezes em chamas circularam pelo Weibo, o Twitter chinês, alimentando a fúria mas também despertando um debate, uma vez que os veículos em questão são produzidos localmente por operários chineses. No mês passado, o riquíssimo empresário Chen Guangbiao adquiriu 43 automóveis da marca Geely para dá-los aos chineses cujos veículos tivessem sido danificados, “como prova de seu patriotismo”. Cercado por bandeiras da República Popular, durante uma cerimônia ele alardeou ter gasto 5 milhões de yuans (quase R$ 1,63 milhão) na operação. Nesse contexto, as montadoras japonesas tiveram de desacelerar o ritmo de suas cadeias de produção. A Nissan fechou suas fábricas durante os feriados em torno da festa nacional chinesa do 1º de outubro, e a produção só voltou no dia 8 de outubro, em um ritmo limitado. A Toyota, que possui nove fábricas na China, havia reduzido pela metade sua produção no início de outubro antes sua queda de 30%, em relação a seu ritmo normal no resto do mês. Às diferenças diplomáticas se sobrepõem os erros estratégicos das montadoras japonesas na China. Enquanto a Volkswagen e a General Motors apresentam continuamente modelos especificamente idealizados para os motoristas chineses, os japoneses oferecem aos consumidores locais veículos pensados para... americanos ou europeus. Foi o que aconteceu com o Toyota Yaris, lançado em 2008 e cujas vendas nunca decolaram. A 11 mil euros, uma fortuna para o chinês médio, seu design lembra mais a frugalidade do que a ascensão social à qual aspiram os chineses. “A Honda e a Toyota foram muito conservadoras em sua abordagem da China”, acredita Steve Man, analista do setor automobilístico chinês do Banco Nomura. No entanto, Man não inclui a Nissan, que adaptou seus modelos aos desejos chineses. Segundo ele, o desacordo sobre as terras no Mar da China oriental jogou as vendas japonesas para seu nível mais baixo em outubro, mas o impacto deverá ser sentido com ainda mais força nos próximos quatro meses, para depois diminuir. Resta saber quem ocupará o espaço nesse mercado agora ultracompetitivo. A coreana Hyundai se gabou de vendas recordes em setembro – 127.800 unidades - , assim como a Ford com seu Focus, com 33 mil unidades vendidas.