domingo, 1 de abril de 2012

O prefeito Shohei Muroi sabe que é difícil conseguir que novas empresas invistam nesta cidade industrial em crise, a apenas 95 quilômetros da usina nuclear mais famosa do Japão. Por isso, em setembro Muroi fez o impensável. Ele foi à China para pedir a um fabricante de máquinas pesadas que se instale em sua cidade. Foi uma inversão de papéis notável, em um país habituado a enviar empregos fabris para a China. "Chegamos a um ponto no Japão em que não podemos mais crescer sem ajuda externa", disse Muroi. "Se você estiver baseado na China ou nos EUA, por favor venha fazer negócios em Aizu-Wakamatsu." Um ano depois que as catástrofes natural e nuclear obrigaram a uma mudança na economia japonesa, que já estava frágil após vários anos de redução, o país está descobrindo que deve fazer o que há muito tempo evitava: aprovar a vinda de fábricas estrangeiras. Isso também indica uma mudança de poder regional. Uma quantidade cada vez maior de capital estrangeiro vem da China, que no ano passado superou o Japão como segunda maior economia do mundo. Outros acordos industriais recentes com os chineses incluem planos para uma fábrica de plásticos em Tottori e uma de máquinas pesadas em Kochi. O investimento direto da China no Japão saltou 20 vezes em quatro anos, para US$ 314 milhões em 2010, segundo o Ministério das Finanças japonês - embora como porcentagem total do investimento no Japão o dinheiro chinês continue pequeno. "Os chineses começam a parecer salvadores", disse Kotaro Masuda, um economista do Instituto para o Comércio e Investimento Internacionais em Tóquio, afiliado ao governo. O Japão quer duplicar o fluxo de investimento direto estrangeiro no país na próxima década. Um enfoque especial é para os três municípios mais afetados pelos desastres de março de 2011: Iwate, Miyagi e Fukushima, onde fica Aizu-Wakamatsu. A nova abertura vai exigir que o Japão rompa décadas de hábitos que desencorajavam o investimento estrangeiro aqui: regulamentação forte, altos custos operacionais e fiscais e fracos estímulos do governo -para não citar a xenofobia declarada.
O influxo de investimentos estrangeiros diretos no Japão chegou a apenas 0,24% de seu PIB em 2009 -e até se tornou negativo nos dois anos seguintes. Muitas empresas do Japão preferem colocar seu dinheiro em oportunidades no estrangeiro e não no país. Dados do Ministério das Finanças mostram que o investimento externo líquido do Japão alcançou 9,1 trilhões de ienes (US$ 113 bilhões) em 2011. "Todo mundo teme que as empresas japonesas se mudem para o exterior. Se isso acontecer, o Japão deverá se equilibrar abrindo-se cada vez mais para o investimento estrangeiro", disse Kyoji Fukao, professor de economia na Universidade Hitotsubashi. Os chineses estão comprando empresas japonesas em dificuldades. No ano passado, a empresa de máquinas de lavar roupa e geladeiras Sanyo Electric foi comprada pela chinesa Haier. Em 2011, pela primeira vez na história, o número de fusões e aquisições de companhias chinesas no Japão superou o de empresas americanas no país. Para as empresas chinesas, aprender a conquistar os exigentes consumidores japoneses também pode ajudar a refinar produtos e serviços para sua economia doméstica -e torná-la mais competitiva. "Nosso objetivo é construir produtos que satisfaçam os padrões japoneses", disse o presidente da Zoomlion, Zhan Chunxin. O governo central designou bairros em Iwate e Miyagi como "zonas especiais de reconstrução do desastre", que oferecem incentivos e deduções fiscais para novos investidores. Os subsídios mais generosos poderão ser em Fukushima, que alocou 225 bilhões de ienes (US$ 2,8 bilhões) para a indústria, incluindo 30 bilhões de ienes para novas empresas. Uma companhia atraída pelos subsídios, a Canadian Solar, está em negociações para montar uma fábrica de painéis solares em Miyagi ou Fukushima. Cidades regionais como Aizu-Wakamatsu poderão ser cruciais para o esforço japonês de atrair investimento estrangeiro, disse Shojiro Nakamura, um consultor da empresa global de consultoria Accenture. O aluguel e outros custos estão mais baratos em Aizu-Wakamatsu do que em Tóquio e a cidade tem uma força de trabalho capacitada, disse Nakamura. Mas o desafio em longo prazo para Aizu-Wakamatsu, segundo ele, é criar empregos duradouros que não dependam de subsídios ou custos baixos. Uma iniciativa da cidade com uma universidade local e a Accenture quer tornar Aizu-Wakamatsu um centro de pesquisa e desenvolvimento, uma "cidade inteligente" que funcione com energia renovável e apoie empregos de alta tecnologia. O investimento da China é bom, diz Nakamura, "mas na verdade queremos ser mais como o Vale do Silício".

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