terça-feira, 15 de abril de 2014


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Os diplomatas estão comemorando nos corredores do ministério egípcio das Relações Exteriores. Depois de Londres ter anunciado, no dia 1 de abril, uma investigação sobre as atividades da Irmandade Muçulmana em seu território, Washington decidiu, na quarta-feira (9), inscrever o grupo Ansar Beit al-Makdis no registro das organizações terroristas estrangeiras. A célula, que está ativa desde a destituição do presidente Mohamed Mursi pelo exército em julho de 2013 e estaria baseada no norte do Sinai, reivindicou os principais atentados que abalaram o Egito nos últimos meses.
"É um passo à frente na condenação do terrorismo. Em breve teremos condições de provar as relações existentes entre esse grupo e a Irmandade Muçulmana", afirmou um porta-voz da diplomacia egípcia no jornal do governo "Al-Ahram".
Em dezembro de 2013, a confraria foi classificada como "organização terrorista" pelo governo egípcio. "No entanto, por ora nada prova que a Irmandade Muçulmana tenha optado pela violência armada", relativiza Adel Souleimane, general aposentado, hoje à frente de um think tank especializado em estratégia militar.
No entanto, o Cairo não poupa esforços para ter a adesão dos países árabes e da comunidade internacional à sua luta contra o terrorismo. As embaixadas ocidentais mencionam que está sendo feito um trabalho em todas as direções, ainda que o pedido não tenha sido formulado explicitamente pelas autoridades egípcias. O Ministério das Relações Exteriores afirma estar cooperando e trocando informações com vários países. "Nós forneceremos todos os documentos necessários para que esses países nos ajudem contra o terrorismo", declarou um de seus porta-vozes.
Adly Mansour, o presidente interino, viajou para a cúpula anual da Liga Árabe, no final de março, no Kuait, para levar a mensagem do Egito. Mansour pleiteou reativação da convenção antiterrorista, texto não restritivo e jamais aplicado, ratificado em 1998 por 18 Estados dentre os 22 membros da organização pan-arábica. "Essa iniciativa diplomática não é nova," observa Hicham Mourad, professor de relações internacionais na Universidade do Cairo. "Nos anos 1990, o Egito de Mubarak, que na época era atingido por uma onda de terrorismo, esteve na iniciativa dessa convenção."
A Arábia Saudita foi a primeira a classificar a Irmandade Muçulmana como "organização terrorista" em seu território, no início de março. "Para a família real, a Irmandade Muçulmana representa uma ameaça real, pois ela constitui uma alternativa política séria à monarquia", explica Mourad.
No entanto, com exceção dos Emirados, do Kuait e da Arábia Saudita, que apoiaram abertamente o golpe de Estado militar contra a confraria, é pouco provável que outros países árabes respondam favoravelmente ao apelo egípcio. "Na Tunísia e no Marrocos, a Irmandade Muçulmana é protagonista na vida política", observa o acadêmico. "No início de março, a Jordânia se recusou publicamente a incluí-los em uma lista terrorista."
A questão toda é saber o que a designação "terrorista" inclui. Se do lado de fora o governo egípcio tem praticado um lobby mais ou menos insistente, do lado de dentro de suas fronteiras ele se acelerou, estendendo o campo de aplicação de sua legislação antiterrorista no início de abril. Agora, "atentar contra a unidade nacional", a "ordem pública" e os "sistemas de comunicação" será passível de pena de morte. Essas emendas ao código penal devem ser assinadas em breve pelo presidente interino.
Em um comunicado conjunto, 15 organizações de defesa dos direitos humanos egípcias denunciam a volta de um estado de emergência velado. "Enquanto o governo recorrer à tortura, ao assassinato de opositores e a penas de morte em massa, ele não conseguirá acabar com as ações terroristas", avisam os signatários.

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