segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Para Atsushi Nakanishi, desempregado desde o Natal, seu lar é um cubículo pouco maior que um caixão - um de dezenas de leitos empilhados em um dos decrépitos "hotéis-cápsulas" de Tóquio.

"É apenas um lugar para chegar e dormir", disse ele, torcendo o pescoço e dando batidinhas em seu terno preto - um dos dois que ele possui, pois se livrou do resto de seu guarda-roupa por falta de espaço. "Você se acostuma", disse.

Quando o Capsule Hotel Shinjuku 510 abriu, há quase duas décadas, o Japão estava apenas começando a sair de sua bolha econômica, e os minúsculos cubículos de plástico do hotel ofereciam um refúgio noturno para trabalhadores assalariados que tinham perdido o último trem de volta para casa.

Hoje, as cápsulas do Hotel Shinjuku 510, que não medem mais de 2 metros de comprimento por 1,5 metros de largura, e são tão baixas que uma pessoa não consegue ficar de pé, se tornaram uma opção acessível para quem não tem outro lugar para ir, enquanto o Japão sofre com sua pior recessão desde a Segunda Guerra.

Exportadores que antes atravessavam um acelerado crescimento realizaram demissões em massa em 2009, à medida que a crise econômica mundial encolhia a demanda. Muitos dos recém-empregados, forçados a sair de suas casas patrocinadas pela empresa ou incapazes de conseguir pagar o aluguel, ficaram sem casa.

As desgraças do país levaram o governo a disponibilizar abrigos de emergência no feriado de Ano Novo em um esforço nacional para evitar os sem-teto. O Partido Democrático, que chegou ao poder em setembro, quer evitar o destino do antigo governo pró-negócios, que foi pego desprevenido quando trabalhadores desempregados armaram tendas perto de repartições públicas, no ano passado, para chamar atenção para seus problemas. "Nesta temporada gelada de fim de ano, o governo pretende fazer tudo que for possível para ajudar os que estão em dificuldades", disse o primeiro-ministro Yukio Hatoyama em um vídeo divulgado no YouTube no dia 26 de dezembro. "Você não está sozinho".Recentemente, ele visitou um abrigo em Tóquio que acolhia 700 sem-tetos, dizendo a repórteres que "a ajuda não pode esperar".

Nakanishi se considera um homem relativamente sortudo. Após trabalhar em empregos diversos, como uma linha de montagem da Isuzu, em jogos de maquininhas pachinko e como segurança, Nakanishi, 40 anos, se mudou para o hotel-cápsula no distrito Shinjuku em abril para economizar aluguel, enquanto trabalhava à noite para uma empresa de entregas.

Nakanishi, que estudou economia em uma universidade regional, sonha em se tornar advogado e estuda manuais jurídicos durante o dia. Porém, desempregado desde o Natal, ele não sabe por quanto tempo poderá pagar por uma cama-cápsula.

O aluguel é surpreendentemente alto para um espaço tão pequeno: 59 mil ienes por mês, ou cerca de US$ 640, para uma cama alta. No entanto, sem o depósito adiantado ou cobranças adicionais por água e luz, além de cortesias como lençóis limpos e uso gratuito de um banheiro e sauna comuns, o custo é muito menor que o aluguel de um apartamento em Tóquio, diz Nakanishi.

Mesmo assim, é difícil dormir profundamente aqui. As cápsulas não têm portas, apenas telas que sobem e baixam. Todas as batidas de ombro nas paredes de plástico, todas as tosses abafadas ecoam alto através das fileiras de cama.

Cada cápsula é mobiliada apenas com uma luz, uma pequena TV com fones de ouvido, um gancho para casaco, um lençol fino e um travesseiro duro de casca de arroz.

A maioria dos objetos dos hóspedes, de camisas a creme de barbear, deve ser guardada em armários trancados. Há uma sala de uso comum com sofás velhos, uma área de refeição e fileiras de pias. Fumaça de cigarro está em toda parte, assim como as câmeras de segurança. No entanto, os funcionários do hotel fazem o máximo para deixar os hóspedes à vontade: "Bem-vindo ao lar", dizem os funcionários na entrada.

"Nossos principais clientes eram assalariados que ficavam bebendo e perdiam o último trem", disse Tetsuya Akasako, gerente do hotel.

Porém, há cerca de dois anos, o hotel começou a notar que os hóspedes ficavam ali por várias semanas, depois meses, disse ele. Este ano, o hotel passou a oferecer um aluguel reduzido para hóspedes que permaneciam um mês ou mais; agora, cerca de 100 das 300 cápsulas são alugadas por mês.

Após pedidos de seus moradores de longa data, o hotel recebeu uma permissão especial do governo para permitir que as pessoas registrem suas cápsulas como seu domicílio oficial; isso facilitou a obtenção de entrevistas de trabalho.

Às 2h da madrugada em uma noite de dezembro, duas jovens assistiam ao seriado americano "24 horas" em uma TV dentro da sauna. Uma disse ter viajado para Tóquio, vinda de sua cidade natal Gunma, ao norte, em busca de trabalho. Ela pretendia ser hostess em um dos cabarés da capital, onde mulheres se envolvem em uma conversa com homens por um preço.

A moça, de 20 anos, espera conseguir um emprego em um clube noturno, cujo salário a permita mudar para um apartamento. A jovem se recusou a fornecer seu nome, pois não queria que a família soubesse da sua situação.

"É difícil viver assim, mas não vai ser por muito tempo", disse ela. "Pelo menos há mais trabalho aqui do que em Gunma".

O governo afirma que cerca de 15.800 pessoas moram nas ruas no Japão, mas grupos de ajuda afirmam que os números são muito maiores, com pelo menos 10 mil pessoas apenas na capital, Tóquio. Esses números não contam os sem-tetos "escondidos" da cidade, como os que vivem em hotéis-cápsulas. Há também uma população flutuante que dorme nos vários cybercafés e saunas 24 horas do país.

O índice de desemprego, atualmente em 5,2%, atingiu uma alta recorde, e o número de lares que recebem ajuda do governo aumentou acentuadamente. O índice de pobreza do país, de 15,7%, é um dos maiores entre os países industrializados.

Essas estatísticas ajudaram a dissipar uma imagem, considerada desde a ascensão do país como uma potência industrial na década de 1970, de que o Japão é uma sociedade sem classes.

"Quando o país passa por um rápido crescimento econômico, os padrões de vida melhoram e as diferenças de classes são ofuscadas", disse Hiroshi Ishida, professor da Universidade de Tóquio. "Com uma economia em estagnação, as classes ficam mais visíveis novamente".

O governo investiu dinheiro para reforçar o sistema de assistência social do Japão, prometendo pagamentos em espécie para famílias com crianças e abolindo taxas de educação em escolas públicas.

Mesmo assim, Naoto Iwaya, 46 anos, está prestes a se unir àqueles que já não têm mais esperanças. Ex-pescador de atum, ele mora em outro hotel-cápsula de Tóquio desde agosto. Seu trabalho mais recente foi em um aterro no aeroporto Haneda, mas acabou em dezembro.





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