domingo, 14 de março de 2010

Escondidas no abafado sudoeste tropical da China estão as aldeias do povo dai, famoso em todo o país por uma animada tradição anual: um festival da água, em que os dai molham uns aos outros durante três dias nas ruas, usando qualquer recipiente que encontrarem.
Mas em Manzha e em quatro aldeias vizinhas o festival da primavera no hemisfério Norte adquiriu mais um significado -ou insignificância, dependendo de como se vê. Em um local chamado Parque da Minoria Dai, as brincadeiras de espirrar água ocorrem todos os dias.

Chineses ricos chegam em ônibus para participar de um frenesi de molhar-se, chapinhar e se ensopar com cem mulheres dai vestidas nas cores vivas -rosa, amarelo e azul- dos trajes tradicionais. "Nossas mais cálidas e gentis princesas dai", anuncia um apresentador.
"Muitos turistas querem ver isto, mas [o festival] só acontece durante alguns dias por ano", disse Zhao Li, um dos funcionários da administração, que são virtualmente todos da etnia han, o grupo dominante na China. "Por isso, decidimos fazê-lo todos os dias."
O Parque Dai, com suas casas de madeira sobre palafitas, palmeiras bem cuidadas e estátuas de elefantes, faz parte de uma forma de diversão cada vez mais popular na China -o parque temático étnico, onde pessoas de classe média da etnia han vão experimentar os elementos mais exóticos de seu vasto país. O Parque Dai, cujo terreno abriga 333 famílias dai verdadeiras, atrai 500 mil turistas por ano, que pagam US$ 15 cada um.
Os parques são empreendimentos para ganhar dinheiro. Mas estudiosos dizem que também servem a um objetivo político -reforçar a ideia de que a nação chinesa abrange 55 minorias étnicas fixas e seus territórios, todos governados pelos han.
"Eles são uma peça do quebra-cabeça do projeto maior da China, de se representar como um Estado multiétnico", disse Thomas S. Mullaney, historiador da Universidade Stanford, na Califórnia, que estuda a taxonomia étnica chinesa. "Há um objetivo final político, que é a unidade territorial."
O parque mais famoso, o Parque das Nacionalidades, em Pequim, é uma combinação de museu e feira. Trabalhadores e técnicos de toda a China se vestem com seus trajes nativos para turistas principalmente han. Em alguns parques, os trabalhadores han se vestem como nativos -prática que foi legitimada pelo governo quando crianças marcharam nos trajes típicos de 55 minorias durante a cerimônia inaugural da Olimpíada de 2008.

Cerca de 500 moradores trabalham na aldeia dai e apresentam um show diário, incluindo festivais de água e corridas de barcos-dragão realizadas no rio Mekong. Alguns turistas pagam para dormir em casas de família que permanecem fiéis à tradição dai. "Se você sabe dirigir uma empresa, pode se beneficiar do parque", disse Ai Yo, pai de dois filhos que é dono de 1 das 27 pousadas oficiais. "Mas, se você não fizer negócios, não há uma vantagem real."

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