sábado, 29 de maio de 2010

A alga marinha que envolve o sushi pode ser igualmente saborosa para um japonês ou um ocidental. Mas o nipônico vai retirar muito mais nutrição dela do que qualquer outro ser humano. Centenas de anos de consumo de algas marinhas alteraram o organismo dos japoneses a ponto de facilitar a digestão desse ingrediente.
As responsáveis foram agora identificadas por uma equipe de pesquisadores na França: bactérias do intestino que adquiriram genes comuns em suas primas que vivem nos oceanos. Os genes são a receita para a produção de enzimas que facilitam a digestão das algas pelas bactérias -no mar ou na barriga de um japonês.
Os trilhões de bactérias presentes no intestino são os amigos mais próximos e mais úteis dos seres humanos. Como lembra o grupo de Mirjam Czjzek, da Universidade de Paris 6, em um artigo na edição de hoje da revista científica "Nature", esses micróbios suprem seus hospedeiros com energia ao usar enzimas que estes não fabricam para quebrar alimentos.
Bactérias intestinais e humanos têm evoluído juntos, em benefício mútuo. Uma estratégia de sucesso no ecossistema do intestino é se tornar proficiente em usar os nutrientes que o hospedeiro consome.
Foi o que fez uma bactéria "esperta", a Bacteroides plebeius. Ela adquiriu genes para digerir as algas marinhas do gênero Porphyra. Nenhuma outra bactéria do mesmo gênero consegue fazer isso.
Os cientistas concluíram que a Bacteroides plebeius obteve os genes por "transferência lateral" -o empréstimo um trecho de DNA adquirido diretamente- de bactérias marinhas presentes nas algas.
O resultado é um elegante exemplo da importância de hábitos culturais na evolução biológica. As bactérias se adaptaram ao ambiente intestinal repleto de uma fonte nova de alimento. E tinha que ser no Japão. Registros indicam que as algas já eram usadas ali no século 8º. E o japonês de hoje consome 14 gramas de algas por dia, um recorde mundial.


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