segunda-feira, 23 de agosto de 2010

A Coreia do Norte levou sua guerra de propaganda contra a Coreia do Sul e os Estados Unidos a uma nova fronteira: a internet. No mês passado, o país publicou uma série de videoclipes no YouTube satirizando líderes sul-coreanos e americanos.
Em um clipe, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, é chamada de “ministro de saias” e o secretário de Defesa, Robert Gates, de “maníaco de guerra”. O ministro de Defesa da Coreia do Sul, Kim Tae-young, foi tratado como um “cão submisso”, que gosta de ser adestrado pelo “seu dono americano”.
Esse tipo de linguagem era um padrão comum nas propagandas da Coreia do Norte durante a Guerra Fria. Seu renascimento é prova do crescente esfriamento nas relações entre as duas Coreias nos últimos meses. Na semana passada, a Coreia do Norte também começou a administrar uma conta no Twitter chamada @uriminzok, ou “nossa nação”.
No Twitter e no YouTube as contas são operadas por um usuário chamado “uriminzokkiri”. O site uriminzokkiri.com é administrado pelo Comitê pela Reunificação Pacífica da Coreia, a principal agência de propaganda em Pyongyang. Para Lee Jong-joo, porta-voz do Ministério de Unificação, em Seul, “está claro que essas contas têm as mesmas propagandas que as notícias oficiais da Coreia do Norte, mas nós não fomos capazes de descobrir quem as opera”.
As duas Coreias concordaram em cessar sua guerra psicológica depois de um reunião de cúpula em 2000. Em maio deste ano, porém, o Sul acusou o Norte de atacar um de seus navios de guerra, provocando a morte de 46 marinheiros. A Coreia do Norte, que nega o envolvimento, prometeu revidar. Parece ter encontrado uma maneira com o Twitter e o YouTube.
“O YouTube e Twitter deram à Coreia do Norte um caminho de alta tecnologia para sua propaganda”, disse Paik Hak-soon, um analista do Instituto Sjong. “Não é a nova tecnologia, mas a tensão política que move o Norte à provocação diante da pressão internacional."
Durante a era da Guerra Fria, a Coreia do Sul punia as pessoas apanhadas ouvindo transmissões norte-coreanas. Anos atrás, durante a breve era da sua “Política de Claridade” para atrair o Norte, o Sul permitiu que a população visitasse sites norte-coreanos. Mas hoje, quando um usuário de computador na Coreia do Sul clica em um item do Twitter norte-coreano, um aviso do governo aparece alertando contra o “conteúdo ilegal”. Tais bloqueios foram alvos de críticas de que o governo de Seul não confia na capacidade de sua população de formar sua própria opinião sobre o Norte totalitário.
O governo diz que o Norte está usando a internet para espalhar teorias conspiratórias sobre quem está por trás do afundamento do navio de guerra da Coreia do Sul, incluindo o argumento de que um submarino americano teria provocado o naufrágio para causar um clima beligerante no Sul.
A conta do Twitter, que fornece links ao website norte-coreano, tem 928 seguidores desde segunda-feira. Mas alguns clipes no YouTube carregados pelo Norte tiveram milhares de visitas. Em um desses clipes, a Coreia do Norte atacou Yu Myung-hwan, ministro das Relações Exteriores sul-coreano, que criticou recentemente os “jovens a favor da Coreia do Norte” que votaram na oposição nas eleições locais, em junho.
O narrador do clipe chama Yu de “um fiasco a favor dos americanos” e o aconselha a ganhar a vida “esfregando o chão do Pentágono”. Outro clipe alega que a Coreia do Norte vai vencer a guerra contra os “americanos imperialistas” porque está armada com tecnologia de fusão nuclear.
“Não acredito que a propaganda terá algum impacto entre os sul-coreanos”, disse Yoo Ho-yeol, especialista na Coreia do Norte na Universidade da Coreia, em Seul. “As pessoas assistem isso para se divertirem, não para serem influenciadas.”

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