sexta-feira, 27 de julho de 2012

Os oficiais do Conselho Nacional Sírio (CNS) estão encontrando dificuldades para entrar em acordo quanto à conveniência de uma transição política negociada em Damasco. Um dos porta-vozes do CNS, George Sabra, afirmou na terça-feira (24) que a oposição era a favor de uma transferência de poder a uma “personalidade do regime” de Bashar al-Assad. Uma declaração atacada veementemente por uma outra porta-voz da organização, segundo a qual “nunca se cogitou um governo de união nacional presidido por um membro do regime”. Em um comunicado posterior, o CNS, por fim, ressaltou que “a presidência do governo de transição será atribuída a uma personalidade nacional de consenso da oposição” que “não tenha feito parte do regime”. Essa hipótese seria parecida com a que prevaleceu no Iêmen, onde, após um ano de revoltas, o ex-presidente Ali Abdallah Saleh --no poder desde 1978-- aceitou assinar um acordo segundo o qual passaria o poder a seu vice-presidente por um período temporário, em troca da imunidade para si mesmo e seu círculo. Na segunda-feira, os chefes da diplomacia dos países da Liga Árabe, reunidos em Doha, pediram para que o presidente sírio renunciasse logo ao poder em troca de uma saída “segura” para ele mesmo e sua família, uma oferta recusada por Damasco. O porta-voz, quando lhe perguntaram sobre qual “personalidade” do regime seria aceita pela oposição, afirmou sem grandes detalhes que “a Síria dispõe de personalidades patrióticas mesmo dentro do regime e certos oficiais do exército sírio podem desempenhar um papel”. Um oficial militar iraniano de alto escalão afirmou na terça-feira que os aliados da Síria “não permitirão uma mudança de regime” em Damasco. “Nem os amigos da Síria, nem o movimento de resistência (em Israel, que inclui, entre outros, o Hezbollah libanês) entraram em cena ainda”, ele ameaçou. “Acreditamos que não é tarde demais para que o regime de Assad comece a programar uma transição que permita encontrar um meio de pôr fim à violência”, declarou Hillary Clinton durante uma coletiva de imprensa, acrescentando que o “ritmo dos acontecimentos vem se acelerando na Síria”.
Clinton repetiu que, desde o fracasso, no dia 19 de julho na ONU, de uma resolução à qual a Rússia e a China deram seu veto, os Estados Unidos passaram a trabalhar “fora do Conselho de Segurança” para enviar “uma mensagem clara de apoio à oposição”. “Precisamos trabalhar de perto com a oposição porque ela vem conquistando cada vez mais terreno”, constatou a chefe da diplomacia americana, confirmando que Washington fornecia “uma assistência não letal” à rebelião, ou seja, “meios de comunicação” e “ajuda humanitária e médica”. Mas a secretária de Estado também alertou os rebeldes sírios que estão “cada vez mais organizados” em campo. Eles “precisam se preparar para começar a elaborar um governo interino. Eles devem se comprometer a proteger os direitos de todos os sírios, de todos os grupos sírios. Eles devem garantir a segurança contra as armas químicas e biológicas em poder do regime sírio”, avisou Clinton. Na terça-feira, o Exército Livre Sírio (ELS) acusou o regime de ter transferido armas químicas para aeroportos na fronteira, um dia depois que Damasco ameaçou utilizar essas armas em caso de “agressão externa”. “Nós, do comando conjunto do Exército Livre Sírio no interior, sabemos perfeitamente o lugar onde se encontram essas armas e seus posicionamentos”, afirmou o ELS em um comunicado na terça-feira, explicando que o regime também havia transferido “equipamentos de mistura de componentes químicos” para esses aeroportos, cujo nome ele não fornece. “Segundo nossas informações, o regime começou há meses a transportar seus estoques de armas de destruição em massa [...] com o intuito de fazer pressão sobre a região e sobre a comunidade internacional”, que vêm pedindo continuamente a Damasco para que cesse a repressão há 16 meses, afirmam ainda os rebeldes. Na segunda-feira o regime sírio reconheceu pela primeira vez que possui armas químicas e ameaçou utilizá-las em caso de intervenção militar ocidental, mas jamais contra sua população, suscitando imediatamente alertas internacionais. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, avisou o regime que ele cometeria um “erro trágico” e teria de prestar contas se utilizasse suas armas químicas. A Rússia, por sua vez, lembrou na terça-feira que Damasco havia ratificado em 1968 o Protocolo de Genebra de 1925 “que proíbe o uso de gases asfixiantes, tóxicos ou outros gases do tipo”. O ministério russo das Relações Exteriores pediu a Damasco que cumpra seus compromissos internacionais. O comandante das forças armadas de Israel, general Benny Gantz, afirmou na terça-feira que o regime de Bashar al-Assad “controlava seus estoques de armas”. “Os sírios estão aumentando as medidas de segurança para proteger suas armas. Segundo nossas informações, as armas ainda não passaram para mãos perigosas, mas isso não quer dizer que não acontecerá. Eles podem utilizá-las contra civis ou transferi-las ao Hezbollah”, aliado de Damasco, disse ele. Anteriormente, no mesmo dia, Amos Gilad, alto funcionário dentro do ministério israelense da Defesa, afirmou que, “por enquanto, o conjunto das armas não convencionais está plenamente sob controle do regime”. “Evidentemente existe a preocupação de que o regime seja desestabilizado e que o controle seja também desestabilizado”, disse ele à rádio israelense. De uma semana para cá os Estados Unidos e Israel vêm mostrando abertamente sua preocupação com o destino do arsenal químico sírio, e o Estado judaico diz que está disposto a intervir se armas não convencionais forem transferidas ao movimento xiita libanês do Hezbollah, aliado de Damasco.

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