sexta-feira, 28 de setembro de 2012


Qualquer que possa ter sido o pretexto, e existem várias hipóteses sobre isso, os homens que assassinaram o embaixador dos Estados Unidos na Líbia deram um golpe no islamismo e em seu país. Coveiros de sua fé e de seu próprio futuro.
Na primeira versão dos acontecimentos do dia, o ataque ao consulado americano em Benghazi, no leste do país, faria parte de um movimento de protesto contra um filme americano que insulta o islamismo. Destacando-se dos manifestantes, um comando armado de fuzis de assalto e de lança-foguetes entrou no consulado e abriu fogo. O embaixador Christopher Stevens foi morto, assim como três outros americanos.
Os manifestantes condenavam os trechos de um filme – "A Inocência dos Muçulmanos" - divulgado na internet no aniversário dos atentados do 11 de Setembro. Produzido na Califórnia por um incorporador imobiliário israelense-americano, o filme chama o islamismo de "câncer". Ele retrata o profeta Maomé com traços de especial vulgaridade.
A divulgação desses trechos no YouTube foi feita intencionalmente por seu autor-diretor, que atende pelo pseudônimo de Sam Bacile. Ela foi seguida de uma violenta manifestação contra a embaixada dos Estados Unidos no Cairo, além de passeatas de protesto no Marrocos, na Tunísia, no Sudão e no Iêmen.
Se ele pertence a esse conjunto de reações, a chacina de Benghazi faz parte de uma longa série criminosa que contribuiu muito para dar ao islamismo a imagem de uma religião de violência sectária e de intolerância. Isso vai desde o apelo lançado pelo Irã nos anos 1980 para matar o escritor Salman Rushdie até as ameaças proferidas contra um ou outro caricaturista do profeta Maomé.
Hillary Clinton, a secretária de Estado, disse muito bem: "Os Estados Unidos lamentam qualquer ataque à religião dos outros, mas que fique bem claro que nada, nenhuma justificativa, pode desculpar atos de violência desse gênero".
O debate que pode haver sobre o impacto na internet ou na questão dos limites a ser dado à liberdade de expressão vem depois - só depois. E, caso ocorra, ele não poderia atenuar em nada a condenação a esse tipo de violência.
As autoridades americanas seguiram outra pista. O ataque ao consulado teria sido planejado há muito tempo. O comando teria aproveitado a manifestação para agir, e pertenceria ao movimento islamita mais radical, identificado como uma "franquia" da Al-Qaeda.
O resultado é o mesmo. Levados por uma ortodoxia delirante de uma guerra a ser conduzida "contra os judeus e os cruzados", os jihadistas matam em nome de uma religião cuja imagem eles mancham continuamente. No Estado desordenado da Líbia pós-Gaddafi, é possível imaginá-los aliados com alguns partidários do antigo regime para semear a morte e o caos.
É próprio das ditaduras mais cruéis deixar como legado sociedades exauridas, uma vez abatidas. E que levam tempo para se recompor.

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