terça-feira, 20 de agosto de 2013


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Como o Japão, a Coreia do Sul é pobre em recursos naturais e há muito tempo depende da energia nuclear para oferecer eletricidade barata às suas indústrias e assim alimentar seu crescimento econômico.
Por anos, o país atendeu a um terço de suas necessidades de eletricidade com a energia nuclear, o que representa um nível de dependência semelhante ao vigente no Japão antes do desastre na usina nuclear de Fukushima, em 2011.
Agora, revelações sobre subornos e falsificações de certificados de segurança para equipamentos críticos nas usinas sul-coreanas ressaltam outra semelhança: os programas nucleares de ambos os países sofrem de uma cultura de conluio que solapa a segurança.
Promotores públicos indiciaram funcionários de uma empresa responsável pelos testes, acusando-os de falsificar certificados de peças das usinas.
Funcionários de uma empresa (financiada pelo Estado) que projeta usinas nucleares também foram indiciados sob a acusação de receber subornos dos funcionários da companhia de testes em troca do recebimento de peças abaixo dos padrões.
Ainda pior, investigadores descobriram que peças sem segurança comprovada estão instaladas em 14 das 23 usinas nucleares da Coreia do Sul. O país já fechou temporariamente três reatores, já que os componentes que traziam riscos tinham papel importante ali. Novos fechamentos podem acontecer.
A Promotoria recentemente conduziu buscas nos escritórios de 30 fornecedores suspeitos de vender componentes com certificados de qualidade falsificados e disse que investigará outras companhias de teste.
De acordo com investigadores do governo, uma empresa que deveria testar peças de reatores pulava partes dos exames, manipulava testes de dados e chegava a emitir certificados de segurança para componentes que não haviam passado nos testes. Entre os componentes que falharam, estavam cabos que enviam sinais de ativação de medidas de emergência.
"O que foi revelado até agora pode ser apenas a ponta do iceberg", diz Kune Suh, professor de engenharia nuclear na Universidade Nacional de Seul.
A segurança é a maior preocupação, mas as revelações também causaram danos econômicos. Em um momento de desaceleração, o governo vinha promovendo ruidosamente planos de trabalhar na construção de usinas em outros países.
A corrupção, disse Suh, torna difícil "alegar a capacidade de construir rapidamente usinas nucleares confiáveis".
O fechamento de três reatores, além de três outros que estão desativados como parte de seu cronograma regular de manutenção, levou a liderança do país a ordenar uma campanha nacional de economia de energia, em meio a um verão especialmente quente. Nos campi das universidades, os alunos trocaram as bibliotecas por cafés de internet, e grandes empresas desligaram sistemas de ar-condicionado.
A Coreia do Sul só tem uma empresa que fornece energia nuclear: a estatal Korea Electric Power Corporation, ou Kepco. Uma de suas subsidiárias, a Korea Hydro and Nuclear Power, opera todas as usinas. Outra, a Kepco Engineering and Construction, projeta as construções e tem a tarefa de inspecionar as peças fornecidas pelos fornecedores e de fiscalizar os certificados de segurança.
Ao longo dos anos, funcionários das duas empresas encontraram, ao se aposentar, empregos à sua espera nos fornecedores e nas companhias de teste.
A porosidade entre membros da cadeia de suprimento resultou no que as autoridades definiram como "uma cadeia inamovível de corrupção".
"Nos últimos 30 anos, nosso setor nuclear se tornou uma comunidade cada vez mais fechada, que permitia pouca fiscalização e intervenção externa", afirmou o Ministério do Comércio, Indústria e Energia aos legisladores. "Isso gerou uma corrente de corrupção, um sistema opaco e práticas de negócios repletas de complacência".
Dirigentes da Korea Hydro são acusados de ordenar que a Kepco E&C ignorasse certificados falsos fornecidos pela companhia de teste Saehan Total Engineering Provider Company. Os principais dirigentes e investidores da companhia de testes incluíam atuais e antigos empregados da Kepco E&C e membros de suas famílias.
Na casa de um dos dirigentes da Korea Hydro, investigadores encontraram caixas cheias de dinheiro. Os investigadores que estão tentando identificar a origem do montante recentemente detiveram dirigentes da Hyundai Heavy Industries, grande fornecedora de componentes, sob a acusação de suborno.
Em meio à indignação pública, o governo demitiu os presidentes das duas subsidiárias da Kepco. Também prometeu que proibiria os aposentados de obter empregos nas companhias de teste e nos fornecedores.
Oponentes da energia nuclear dizem que outros mudanças são necessárias, apontando que a principal agência regulatória, o Korea Institute of Nuclear Safety, tem 60% de seu orçamento coberto pela Korea Hydro.

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