quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Folha de São Paulo
13 de Novembro de 2013
Egito é o pior país árabe para as mulheres
País ocupa lanterna em ranking de 22 nações que considera fatores como leis antiestupro e escolaridade feminina
Má colocação egípcia, tal como as de Iêmen e Síria, mostra que Primavera Árabe trouxe poucos avanços
DIOGO BERCITO DE JERUSALÉM
Três países cuja população saiu às ruas para protestar por liberdade durante a Primavera Árabe estão entre aqueles que mais desrespeitam os direitos das mulheres, de acordo com uma pesquisa divulgada ontem pela Fundação Thomson Reuters.
O Egito ocupa a pior posição (22º) do ranking, que abrange apenas países de maioria árabe. Síria e Iêmen aparecem respectivamente em 19º e 18º lugares, com melhores resultados apenas em comparação à Arábia Saudita e ao Iraque, além do Egito.
Líbia (9º) e Tunísia (6º), por sua vez, tiveram uma melhor avaliação, na pesquisa que levou em consideração questões como o casamento infantil, as leis relativas ao estupro e o nível de educação entre as mulheres.
Especialistas ouvidos pela fundação apontam, entre as razões para as violações aos direitos femininos nesses países, as estruturas políticas patriarcais e a ascensão de movimentos islamitas ao poder --contrariando a vocação da insurgência, em que as mulheres tiveram papel fundamental nas ruas.
A pesquisa foi realizada em agosto e setembro, ouvindo 336 especialistas em questões de gênero, a partir das recomendações da ONU para a eliminação da discriminação contra as mulheres.
A má colocação do Egito surpreendeu observadores, especialmente pelo fato de o país ter registrado pior desempenho do que a Arábia Saudita, em que mulheres precisam de autorização de um guardião masculino para seus afazeres e são proibidas de dirigir.
"Esse resultado foi uma surpresa para nós", diz à Folha Monique Villa, diretora-executiva da fundação. "Sabíamos que as coisas estavam difíceis no país, mas não a esse ponto."
A avaliação egípcia foi prejudicada especialmente pelo assédio sexual. Um relatório recente das Nações Unidas aponta que até 99,3% das mulheres no Egito estão sujeitas a essa prática.
A situação na Tunísia também surpreendeu, apesar da boa avaliação. "Antes da revolução, a situação era melhor. As mulheres representavam parte da vanguarda", afirma Villa.
A melhor colocada na pesquisa da fundação foi Comores, um arquipélago no oceano Índico. Os resultados nesse país foram positivos, exceto no quesito "representação política". As mulheres, ali, ocupam apenas 3% dos assentos no Parlamento. Por outro lado, metade dos prisioneiros no país foram detidos por agressão sexual.
Esta é a primeira vez em que a Thomson Reuters produz um estudo focado nas mulheres do mundo árabe. Não há, portanto, comparação com anos anteriores.

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