sábado, 8 de março de 2014



Seu telefone celular não está tocando. Seus programas de bate-papo online estão ociosos. Suas camisinhas continuam nas embalagens. As pessoas não procuram mais Denny para fazer sexo pago.
"Em Dongguan temos uma coisa chamada serviço no estilo Dongguan", disse o rapaz de cabelos castanhos tingidos, sentado em um restaurante de hotel, que aceitou falar sob a condição de que só seja usado seu apelido em inglês. "É a capital do sexo. Já é famosa. É como se tivesse um certificado ISO 9000" - uma referência ao padrão de qualidade internacional para indústrias de serviço de todo tipo.
"Agora tudo parou", disse ele.
A China está tomada pela campanha contra o vício mais dura montada pelo governo em muitos anos, e a repressão já cobra um preço para a economia de Dongguan, cidade no sul do país, com mais de 8 milhões de habitantes. É um centro de manufatura para o setor de exportações e uma meca para trabalhadores migrantes, mas também a "capital do pecado" da China. Hoje, a indústria da prostituição aqui está em recesso.
Os clubes noturnos e as casas de massagem, sejam em hotéis cinco estrelas ou em becos obscuros, foram fechados. Os motoristas de táxi que antes faturavam comissões dos bordéis veem suas carteiras cada vez mais magras. Alguns senhorios têm dificuldade para alugar apartamentos, pois as prostitutas deixam a cidade ou decidem não voltar das férias do Ano Novo lunar.
A repressão é tão severa, e a indústria do sexo em Dongguan é tão grande, que os policiais de Hong Kong, que fica próxima, manifestaram preocupações sobre a chegada de uma potencial enxurrada de prostitutas desalojadas.
A campanha parece ser o último elemento em um amplo esforço do presidente Xi Jinping, chefe do Partido Comunista, para sanar a imagem de corrupção associada às autoridades chinesas.
O Ministério da Segurança Pública em Pequim prometeu no mês passado aplicar um golpe contra os "três vícios" - prostituição, jogo e uso de drogas -, mas o foco da repressão é evidentemente ao comércio sexual.
A campanha nacional começou em 9 de fevereiro, quando a Televisão Central da China transmitiu o que foi anunciado como documento sigiloso, mostrando ligações por dinheiro nos hotéis de Dongguan. No dia seguinte, o chefe do partido na província de Guangdong, que inclui Dongguan, ordenou que a cidade fechasse os locais de entretenimento durante três meses. A polícia realizou batidas em algumas saunas, boates e bares de karaokê, o tipo de lugares que têm uma reputação de imoralidade em toda a China.
Hotéis de redes internacionais não foram poupados. O Sheraton local tem um salão de massagem nos pés no quinto andar que foi fechado, e o spa vizinho a ele tem selos da polícia nas portas. (Um gerente do Sheraton disse que uma companhia externa dirige o spa, mas uma ligação para o telefone do mesmo foi atendida pelo departamento de serviços aos hóspedes do hotel.)
O Ministério de Segurança Pública ordenou que os departamentos de polícia de toda a China realizem batidas semelhantes. Uma piada que circula diz que, para conter o surto recente da gripe aviária, Xi Jinping mandou "eliminar as galinhas", mas a ordem foi enviada acidentalmente para o Ministério da Segurança Pública em vez do da Saúde e os policiais pensaram que se referisse às prostitutas.
Até agora, a maior baixa política foi o chefe de polícia de Dongguan, Yan Xiaokang, que foi demitido e colocado sob investigação. Mas são as prostitutas que enfrentam as consequências mais duras.
"Esta é a campanha mais séria até agora", disse um amigo de Denny, um michê com um boné de caminhoneiro e unhas pintadas de preto. "É a mesma coisa em todo lugar, por isso não podemos sequer ir para outras cidades."
Antes da repressão, disse o amigo de Denny, ele ganhava mais de US$ 100 em uma noite boa. Mas hoje teme o contato de potenciais clientes porque podem ser policiais "plantados" para prender pessoas, e os clientes têm os mesmos temores em fazer contato.
No início da campanha, em 10 de fevereiro, a polícia de Dongguan anunciou que tinha inspecionado quase 2 mil locais de entretenimento na cidade, tinha descoberto que 39 deles eram "locais amarelos" ("amarelo" é uma gíria chinesa para erótico) e havia prendido 162 pessoas. Nos primeiros seis dias, segundo o site do Ministério da Segurança, mais de 2.400 locais amarelos em todo o país foram fechados, 73 círculos de prostituição foram rompidos e mais de 500 pessoas, detidas.
Os clubes dão aos clientes cardápios com dezenas de serviços, alguns com nomes que têm floreios poéticos tipicamente chineses ("fênix erguendo-se do banho"). Duas horas com uma mulher em um local elegante custa geralmente 1.000 renmimbis (iuanes), ou cerca de US$ 160. O cliente pode contratar uma prostituta para ser uma amante exclusiva: um anúncio de emprego publicado nas ruas na área de Houjie dizia que a trabalhadora poderia ganhar de US$ 1.640 a US$ 4.900 por mês. O mesmo anúncio dizia que uma "princesa da sala", uma mulher que "empurra" bebidas para os clientes nos clubes de karaokê, poderia ganhar US$ 1.300 por mês mais gorjetas. A clientela vai além do continente: empresários de Taiwan e outras partes da Ásia muitas vezes incluem uma escala em Dongguan quando viajam à China.
"Não acredito que Dongguan tenha mais prostitutas ou as mais caras, mas definitivamente tem a indústria de sexo mais avançada e madura", disse Ai Xiaoming, um professor de literatura e estudos de gênero na Universidade de Guangzhou, a capital da província.
Um diretor do BB Club estimou que o fechamento custava a sua empresa cerca de US$ 10 mil por dia em despesas e receitas perdidas. "O governo fez isto por motivos secretos", disse ele, e rapidamente fez um repórter estrangeiro sair do prédio quando as autoridades do departamento de cultura local chegaram para uma inspeção.
Um motorista particular disse que os hotéis e clubes da cidade não seriam viáveis sem a indústria do sexo. "Quem vai a um bar se não houver garotas?", disse ele. "Você não consegue beber se não houver garotas para acompanhá-lo." O motorista, que só deu seu sobrenome, Liu, disse que ele às vezes ganha US$ 120 por noite em comissões dos bordéis por levar clientes. "Isso afetou todos os motoristas", ele disse sobre a repressão. "Eu terei de ser mais econômico."
De baixo do apoio para o braço em seu carro, Liu tirou uma pilha de panfletos com fotos de mulheres nuas, números de telefone e listas de serviços. Ele disse que conhece um homem de Cingapura que pagou para fazer sexo com cinco mulheres ao mesmo tempo. Hoje em dia, disse, um cliente teria sorte de conseguir os serviços de uma única mulher em Dongguan.

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