domingo, 11 de maio de 2014


Wave and Smile

Enquanto dezenas de milhares de elefantes são abatidos na África para suprir a alta demanda chinesa por marfim, talvez o melhor lugar para um elefante estar seja aqui, nas florestas tropicais no sudoeste da China.
Nas últimas duas décadas, o número de elefantes asiáticos na província de Yunnan quase dobrou, para cerca de 300, graças a programas alimentares financiados pelo governo, à maior conscientização ambiental e a uma rígida lei de proteção.
Desde 1995, quando quatro pessoas foram executadas por matar um elefante, poucos elefantes domésticos foram caçados, segundo a mídia estatal, e nenhum foi abatido na década passada.
"Os elefantes estão se dando bem aqui, pois contam com proteção e fartura de alimentos", disse Chang Zongbo, funcionário da administração florestal. A maior ameaça para eles é a perda do habitat.
Com as florestas de Yunnan rapidamente dando lugar a seringais e outros cultivos, a cerca de meia dúzia de famílias de elefantes do país tem ficado isolada em reservas sem interligação. A impossibilidade de cruzar com outras manadas ameaça a diversidade genética dos elefantes, deixando-os vulneráveis a doenças.
Nos últimos quatro anos em Yunnan, três pessoas foram pisoteadas até a morte e uma dezena foi ferida por elefantes, muitos dos quais se alimentam de cana-de-açúcar, arroz e abacaxis plantados por aldeões.
Esses conflitos ocorrem todas as noites em Shangzhongliang, perto do Laos, onde a população, formada sobretudo por membros da etnia dai, tenta afugentar os elefantes de uma reserva vizinha, pois eles devastam suas plantações após o anoitecer. O agricultor Xiong Dan, 30, relatou que ele e sua mulher acordam três ou quatro vezes por noite para atirar bombinhas nos campos.
"Esses elefantes são tão inteligentes que vão para outra área e continuam comendo", diz ele.
As autoridades têm tentado atenuar o problema reembolsando os prejuízos dos agricultores, os quais se queixam de que isso não é suficiente.
Funcionários da administração florestal estão criando vastos "refeitórios para elefantes", plantando milho, bambu e outros alimentos de que eles gostam para dissuadi-los de devastar os campos agrícolas. Grupos ambientais compram ou alugam terras cultivadas e restauram as matas para ampliar o habitat e fazer corredores que futuramente interliguem as reservas.
Os elefantes também estão caindo nas graças dos chineses da classe média. Em Jinghong, sede do município de Xishuangbanna, há estátuas do animal em ilhas de segurança para pedestres no trânsito e em shopping centers.
"Quem não adora o elefante?", disse Xiong Qiaoyong, 30, guarda florestal no Vale dos Elefantes Selvagens, um parque ecológico nos arredores de Jinghong que atrai milhares de visitantes por dia. Embora entre 16 a 24 elefantes vivam na reserva de 360 hectares, a maioria dos encontros entre humanos e animais se dá em um empoeirado picadeiro de circo.
No entanto, nem o carinho por elefantes nem as leis contra seu abate podem competir com o fascínio pela borracha. Seringais hoje ocupam quase um quarto de Xishuangbanna, onde estão mais de 90% dos elefantes da China, relatou R. Edward Grumbine, cientista visitante no Instituto Kunming de Botânica.
No papel, mais de 2,8 milhões de hectares em Yunnan foram declarados como reserva, mas Chang disse que é frequente as autoridades fazerem vista grossa a agricultores e incorporadores imobiliários que se apossam de partes dessa área. "É preciso que o governo central tome uma posição firme e ajude, senão os elefantes serão extintos", afirmou A World Wildlife Fund calcula que restam entre 40 mil e 50 mil elefantes asiáticos, o que representa um declínio de 50% desde o início do século 20. Mais de dois terços desses animais estão na Índia e no Sri Lanka.
Em Shangzhongliang, os ataques noturnos estão pondo à prova a tradicional reverência dos dai pelo elefante. "Obviamente adoramos os elefantes, pois eles são um animal protegido em todo o país", afirmou o agricultor Piao Long, 26. Após algumas cervejas, porém, ele revelou o que realmente pensa. "Eles comem tudo o que plantamos, então é claro que os odiamos", confessou. "Se fosse possível, mataríamos todos eles."

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