terça-feira, 1 de julho de 2014


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As ilhas possuem tudo o que se poderia querer de um destino turístico tropical: areia branca, água turquesa e ventos marítimos. Mas elas só tomaram forma nos últimos meses e são motivo de desavença entre a China e seus vizinhos.
A China vem colocando areia sobre recifes e baixios, criando novas ilhas no arquipélago de Spratly. Para autoridades estrangeiras, trata-se de um novo esforço para expandir a presença chinesa no mar do Sul da China. Segundo elas, as ilhas poderão conter grandes construções, inclusive residências e equipamentos de vigilância, como radares.
A construção das ilhas preocupa o Vietnã, as Filipinas e outros países do Sudeste Asiático que reivindicam a soberania das ilhas Spratly. Desde abril, as Filipinas registraram protestos junto à China contra o trabalho de aterramento realizado em dois recifes. Recentemente, o presidente filipino, Benigno S. Aquino 3°, criticou a movimentação de navios chineses que, segundo ele, podem estar envolvidos na construção de ilhas em dois outros pontos.
Numa conferência realizada em maio, o secretário de Defesa dos EUA, Chuck Hagel, repreendeu a China por suas "atividades de aterramento marítimo em múltiplos pontos" no mar do Sul da China.
Críticos dizem que as novas ilhas vão permitir que a China instale mais equipamentos de vigilância e estações de reabastecimento de embarcações do governo. Para alguns analistas, os militares chineses enxergam sua presença nas ilhas Spratly como parte de uma estratégia de longo prazo de projeção de poder no Pacífico ocidental.
Um fato que talvez seja igualmente importante é que as novas ilhas podem permitir que a China alegue ter uma zona econômica exclusiva que se estende por 200 milhas náuticas em volta de cada ilha, algo definido na Convenção de Direito Marítimo das Nações Unidas.
"Ao criar a aparência de uma ilha, a China pode estar querendo reforçar o mérito de suas reivindicações", opinou o cientista político Taylor Fravel, do Massachusetts Institute of Technology.
A China alega que tem o direito de construir nas ilhas Spratly porque elas são território chinês. "A China detém a soberania indiscutível das ilhas Nansha", disse recentemente uma porta-voz do Ministério do Exterior, Hua Chunying, usando o nome chinês do arquipélago. As autoridades chinesas também afirmam que o Vietnã e as Filipinas já construíram mais estruturas que a China na região em disputa.
Mas analistas observam que outros países não construíram ilhas e que, de modo geral, ergueram suas estruturas antes de 2002, quando a China e nove países do Sudeste Asiático firmaram um pacto que prevê que as partes devem "autolimitar atividades" e não devem habitar qualquer área terrestre atualmente desabitada.
Um funcionário ocidental disse que, desde janeiro, a China vem construindo três ou quatro ilhas, projetadas para ter entre oito e 16 hectares cada.
Segundo ele, parece haver pelo menos uma instalação destinada a uso militar, e as novas ilhas poderão ser usadas para o reabastecimento de navios, incluindo embarcações chinesas de patrulha marítima.
A China acendeu alarmes na região e em Washington em maio, quando uma petrolífera estatal posicionou uma plataforma exploratória mais ao norte no mar do Sul da China, ao lado das disputadas ilhas Paracel, perto do Vietnã. A plataforma suscitou desentendimentos diplomáticos e violentos protestos contra a China no Vietnã.
Autoridades dizem que o recife Johnson South, que a China tomou em 1988 depois de matar 70 soldados e marinheiros vietnamitas em uma escaramuça, é o local com mais construções até o momento. "Ela já é a ilha Johnson, não é mais o recife Johnson", disse o funcionário ocidental. Autoridades filipinas divulgaram em maio fotos aéreas mostrando estruturas e um grande navio ali.
Le Hai Binh, do Ministério das Relações Exteriores vietnamita, disse que o Vietnã tem soberania sobre todo o arquipélago Spratly e que a "China vem implementando ilegalmente atividades de expansão e construção" no recife Johnson e outros pontos reivindicados pelo Vietnã.
O arquipélago Spratly abrange centenas de recifes, pedras, bancos de areia e atóis que se espalhavam por uma área de 41 mil quilômetros quadrados. Seis governos reivindicam partes da área. China e Vietnã reivindicam as ilhas Paracel, na área onde ainda se encontra a plataforma exploratória chinesa.
As duas áreas possuem pesca em abundância e algumas reservas de petróleo e gás.
O analista australiano Carlyle A. Thayer disse ainda não ter visto sinais de que a China esteja construindo grandes instalações militares ou uma pista de pouso nas novas ilhas.
Mas ele destacou: "Nada disso é um incidente isolado. Parece ser um novo plano para afirmar a soberania chinesa".
"Não parece ser algo que vá desaparecer, no entanto. Ainda deve alimentar muitas tensões."

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