terça-feira, 8 de julho de 2014


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Os líderes da Índia talvez tenham entendido melhor do que quaisquer de seus pares internacionais o poder de comunicação da roupa. Mahatma Gandhi adotou o "dhoti" (pano retangular de 4,5 metros de comprimento amarrado em torno da cintura e das pernas, formando uma saia longa). Houve o casaco de Jawaharlal Nehru e os sáris de Indira e Sonia Gandhi, feitos do tradicional "khadi" indiano (pano de algodão cru, seda ou lã tecido à mão). Agora, é a vez de Narendra Modi.
O novo premiê indiano já usou uma peça de vestuário tantas vezes que ela passou a ser conhecida oficialmente por seu nome: é o Modi Kurta, ou "kurta" de Modi, versão da clássica túnica indiana com mangas curtas.
O alfaiate responsável por ela, Bipin Chauhan, da cadeia de butiques Jade Blue, registrou a marca do estilo e o está levando ao Reino Unido, Estados Unidos e Sudeste Asiático. A kurta de Modi tem hashtag próprio no Twitter (#ModiKurta), e há um site de comércio eletrônico (modimania.com) que se dedica a seguir o visual de Modi -isso porque, segundo o site, Modi "virou marca registrada não apenas na Índia, mas em todo o mundo".
Tudo isso revela o êxito de Modi em associar seu estilo pessoal a sua plataforma política, em benefício de ambos. A Modi Kurta não representa um avanço estético extraordinário, mas simboliza um conjunto de valores -e é essa a razão da atração que exerce. "Nunca antes houve uma convergência tão forte entre o que um político indiano representa e as roupas que ele traja", observou Priya Tanna, editora da "Vogue" indiana.
Para ela, a escolha da kurta por Modi ressalta uma imagem cultural "100% indiana".
Ela é democrática -qualquer pessoa pode se vestir assim. Ela apoia a indústria local.
Destaca as origens humildes de Narendra Modi (seu pai era vendedor ambulante de chá). O fato de a kurta que ele traja estar sempre limpa e bem-passada e de com frequência ser colorida (ele já foi visto em kurtas cor de laranja, verde-esmeralda e azul-claro, entre outras cores) forma um contraste nítido com algo que a revista "India Today" descreveu como "a era dos políticos barrigudos e desgrenhados, mascadores de bétele, trajando dhotis amassados e kurtas descoloridos". Sugere uma adesão nítida ao profissionalismo e ao pragmatismo.
As kurtas de Modi são feitos de materiais que incluem o algodão e a seda orgânicos, acompanhando seu pendor declarado por belos relógios (ele possui um Movado) e óculos de sol (Bulgari). É um tipo de estilo indicativo de aspirações, algo que reflete a visão que Modi tem para a Índia e suas indústrias.
Esse fato é sublinhado ainda mais pela história de seu alfaiate, que começou a costurar na calçada diante de confecções e que hoje possui uma rede de lojas e virou celebridade, graças a seu cliente famoso.
Chauhan confidenciou certa vez: "Modi me disse que há três coisas das quais faz questão de cuidar bem: seus olhos, sua voz e suas roupas". Esse tipo de criação confessa de imagem gera um ponto de vulnerabilidade. O líder do partido rival Samajwadi, Mulayam Singh Yadav, acusou Modi de "trocar de kurta 500 vezes por dia" durante a campanha.
Mas a criação de uma espécie de símbolo visual que é largamente reconhecido e -a julgar pelo número de pessoas que começaram a se vestir como Modi- aprovado parece ter valido a pena.
Agora que Modi está no poder, a pergunta é se seu estilo e sua mensagem vão mudar.
Em sua posse, por exemplo, Modi trocou sua kurta de mangas curtas por uma versão de mangas longas, com punho abotoado. O fato suscitou discussões no Twitter sobre se o visual mais formal era ou não um sinal positivo.
A discussão significa que o premiê indiano criou a ideia de que as roupas que veste carregam um sentido que merece ser analisado. Essa talvez seja a tendência que mais valha a pena ser observada.

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