domingo, 14 de setembro de 2014


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Para um estrangeiro, aprender a ler na China pode ser como o jogo dos sete erros, aquele em é preciso encontrar as diferenças entre duas imagens quase idênticas.
Compare, por exemplo, o caractere para "especial" () e o para "apertar" (): é o mesmo, a não ser  pelo tracinho a mais na parte superior esquerda do primeiro, e pelo tracinho horizontal no pé esquerdo do segundo. Essas (para o olho estrangeiro) mínimas diferenças conferem significados distintos a cada um deles. Também são pronunciados de forma diferente: o primeiro, "te" (som fechado), e o segundo, "chi" (som aberto). Na primeira vez que me deparei com os dois caracteres, minha resposta foi apenas " não é justo".
Memorizar milhares de caracteres não é fácil. Durante os seis anos de estudo obrigatórios, os alunos de escolas chinesas passam várias horas por dia decorando pelo menos 3 mil caracteres, o mínimo para se ler o jornal. No fim do ciclo, as variações no domínio da leitura são muitas.
Infelizmente, há uma minoria que não aprende a ler como deveria - na China e em muitos outros lugares. A dislexia é considerada um problema grave de leitura entre estudantes de inteligência normal. De acordo com a Dyslexia Internacional, organização de apoio a disléxicos, entre 5% e 15% da população sofrem com esse distúrbio, dependendo do critério usado para se definir dislexia. Isso significa que 700 milhões de pessoas em todo o mundo apresentam traços desse problema.
Até pouco tempo atrás, assumia-se que a dislexia tinha origem biológica, independentemente do idioma de leitura. Mas ser disléxico na China é diferente de ser disléxico nos Estados Unidos, segundo Wai Ting Siok, da Universidade de Hong Kong. Seu grupo de estudo mostrou que tanto a leitura como a dislexia ativam partes diferentes do cérebro em usuários de alfabetos de letras, como o inglês, e de alfabetos icônicos, como o chinês. A leitura em chinês usa mais a parte frontal do hemisfério esquerdo do cérebro, enquanto a leitura em inglês usa mais uma parte posterior do órgão.
Aprender a ler com um alfabeto de letras implica conhecer o som das palavras, a visão mapeia o som de cada vocábulo. Quando se trata de um alfabeto iconográfico, como o chinês, a visão mapeia a imagem do caractere para memorizar seu sentido. A fonética de cada caractere chinês não corresponde necessariamente à sua forma, enquanto para ler em inglês, é preciso decodificar o som de cada segmento da palavra.
"O fato dos disléxicos ocidentais e chineses apresentarem diferenças na ativação do cérebro durante a leitura pode indicar que estamos falando de distúrbios diferentes de acordo com a cultura", analisa Siok. Outra conclusão de seu estudo é que o leitor chinês disléxico não é necessariamente disléxico em outro idioma com alfabeto de letras. O contrário também é verdadeiro: alguns ocidentais não disléxicos podem apresentar o distúrbio ao aprender o chinês ou outro idioma com alfabeto iconográfico.

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