sábado, 14 de março de 2015


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As atrações turísticas imperdíveis da China formam um circuito grandioso: a Grande Muralha, a Cidade Proibida, a Praça Tiananmen e, para os que suportarem esperar em longas filas, o Mausoléu de Mao Tsetung.
Mas há uma nova escala no percurso turístico: o restaurante de fast-food que se tornou um destino obrigatório para os fãs do presidente Xi Jinping. Foi aqui que, no ano passado, Xi encantou o país quando visitou a Casa Qingfeng de Guiozas, pagou pela comida e carregou sua bandeja até uma mesa.
"Estamos seguindo os passos de nosso grande líder", disse Bai Henglin, 29, motorista, enquanto tirava uma selfie com a refeição Combo Presidencial, de US$ 3,50 (guiozas e uma tigela de cozido de fígado de porco). "Os visitantes que vierem a Pequim e não passarem aqui vão se arrepender."
Há outros barômetros da adulação dedicada a Xi desde que ele assumiu o poder, em 2012.
Seu sorriso enfeita pratos ornamentais, e um livro com seus pensamentos sobre governança, traduzido para oito línguas, teve supostamente 17 milhões de exemplares vendidos ou dados de presente. Canções e poemas celebram o "Papai Xi" como um marido virtuoso, amigo dos agricultores e inimigo dos corruptos.
Desde que Mao dominou o país com sua mistura magistral de populismo, fervor e medo, um líder chinês não conquistava tamanha admiração do público. Deng Xiaoping repudiou a mania da era Mao, e desde então a adulação pública aos líderes políticos foi tabu. Parte do apelo de Xi deriva de sua guerra à corrupção e seus slogans positivos como o "Sonho Chinês", a proposta de um país poderoso e rejuvenescido. Mas a adoração também foi intensificada por retratos de Xi como alguém que segura seu próprio guarda-chuva, chuta bolas de futebol e sabe disparar um rifle.
Um dos tributos mais populares a Xi é uma canção: Ele ousa enfrentar qualquer tigre, por maior que seja.
Ele não tem medo do céu ou da terra.
Nós sonhamos em conhecê-lo.
Um teatro daqui apresentou recentemente um musical inspirado na vida e nas políticas de Xi, e, no mês passado, candidatos ao curso de arte na Universidade de Tecnologia de Pequim foram solicitados a desenhar um retrato de Xi como parte de seu exame de admissão. O jornal "Beijing Evening News" sugeriu que os candidatos ficaram maravilhados. "Eu não sabia que teria tanta sorte com essa parte do exame", disse um dos jovens.
Em entrevistas, muitos cidadãos comuns disseram aprovar a liderança carismática, especialmente depois das maneiras secas do antecessor de Xi, Hu Jintao, cujo principal slogan, "Uma visão científica do desenvolvimento", não tinha apelo emocional.
O público chinês aprovou o combate de Xi à corrupção. E suas advertências de que a China reforçaria suas reivindicações territoriais por meio da diplomacia musculosa e de militares reforçados também se revelaram populares. "Você tem a sensação de que o presidente Xi se importa com o homem comum", disse Yang Tianrong, 75, soldado aposentado da província de Hebei. "Ele nos dá esperança de que o governo pode solucionar nossos problemas."
Apesar de desconfiados, muitos liberais disseram duvidar de que Xi reviveria os excessos da era Mao. Mas Bao Tong, autoridade do Partido Comunista que foi expurgado e preso depois dos protestos pró-democracia de 1989, disse que Xi corre o risco de alienar seus defensores dentro do partido ao se projetar como o único capaz de salvar a China. Construir a figura de Xi como um semideus político para sufocar o debate e a dissidência "não vai unificar as pessoas", disse ele.
Xiao Qiang, da Universidade da Califórnia em Berkeley, que monitora a mídia chinesa, concordou. Surtos de propaganda recentes provocaram o ridículo na web, disse ele, especialmente os comentários de Xi em que ele denunciou a "estranha" arquitetura contemporânea e exortou artistas e escritores a servirem às massas, em vez de a seus próprios impulsos criativos. "Isso fez Xi parecer um idiota", disse Xiao.
Alguns analistas dizem que a história da família Xi deveria ter lhe servido de lição sobre os riscos da obediência cega. Seu pai, Xi Zhongxun, um herói revolucionário, foi removido do poder em 1962 depois que Mao o acusou de tentar subverter o partido. Ele foi detido e processado por radicais maoístas durante a Revolução Cultural em 1966.
Mas analistas dizem que Xi e outras figuras políticas de sua geração ainda idealizam certos elementos do regime de Mao, especialmente seu apelo ao orgulho nacional e a imagem que ele cultivou de homem forte, incorruptível e disposto ao próprio sacrifício.

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