sábado, 28 de março de 2015


http://i.ytimg.com/vi/9FNEvOIeAjY/hqdefault.jpg

Cantos e danças receberam um triunfante Binyamin Netanyahu em Eli, então um novo assentamento com 959 moradores, pouco depois de ele se tornar primeiro-ministro de Israel pela primeira vez, em 1996.
"Estaremos aqui permanentemente, para sempre", declarou o premiê na vizinha Ariel no mesmo dia, prometendo renovar a construção de comunidades judaicas no território que os palestinos planejavam e planejam para seu futuro Estado.
Disputando o apoio dos colonos antes da recente eleição em Israel, Netanyahu voltou em fevereiro a Eli, hoje uma cidade com mais de 4.000 habitantes que se estende por seis colinas entre aldeias e fazendas palestinas.
Sua presença foi uma declaração. Há dezenas de assentamentos isolados cuja expansão e fortalecimento ameaçam as perspectivas de uma solução de dois Estados para o conflito entre israelenses e palestinos, e Eli é um deles.
O crescimento constante de assentamentos em toda a Cisjordânia ocupada e Jerusalém oriental, que a maioria dos líderes ocidentais considera violações do direito internacional, complica ao mesmo tempo a criação de uma Palestina viável e o desafio de um dia desterrar os israelenses, que hoje estão criando a segunda e a terceira gerações em áreas disputadas.
Ao longo da estrada de Eli a Ariel, em uma tarde recente, um palestino conduzia vacas e adolescentes voltavam da escola para casa. No assentamento, um centro comunitário de 28 mil m2 e US$ 3,8 milhões estava em construção. Uma placa dizia: "Eli, um ótimo lugar para crescer".
Enquanto Netanyahu buscava seu quarto mandato, ele declarou que não permitiria o estabelecimento de um Estado palestino. Isto pareceu ser uma tentativa de capturar votos da direita. Depois da vitória, Netanyahu tentou desmentir sua declaração. "Eu quero uma solução pacífica e sustentável de dois Estados, mas para isso as circunstâncias têm de mudar", disse em uma entrevista.
O histórico de Netanyahu sobre assentamentos é um elemento central em seu relacionamento conturbado com Washington e está no centro das crescentes críticas europeias a Israel.
Uma análise de dados de planejamento, construção, população e gastos nas últimas duas décadas mostra que Netanyahu foi um construtor agressivo em seu primeiro mandato como primeiro-ministro, nos anos 1990, quando a população de colonos na Cisjordânia aumentou cerca de três vezes mais que o ritmo total de Israel.
Desde que voltou ao poder, em 2009, ele obteve um registro semelhante ao de líderes menos conservadores, com os assentamentos inchando duas vezes mais depressa que Israel como um todo. Netanyahu deu vários passos que tornam especialmente problemático desenhar um mapa com dois Estados, e declarou: "Não pretendo desmanchar qualquer assentamento".
Com as negociações estagnadas entre os palestinos e os israelenses, o número de colonos na Cisjordânia hoje supera 350 mil -incluindo cerca de 80 mil que vivem em assentamentos isolados como Eli e Ofra. Além disso, outros 300 mil israelenses vivem em partes de Jerusalém que Israel capturou da Jordânia na guerra de 1967 e que anexou ao seu território, em um gesto que a maioria do mundo considera ilegal.
"Todos os outros primeiros-ministros que construíram assentamentos conseguiram aplacar Washington ao participar de algum esforço significativo para negociar e concluir um acordo de paz com os palestinos", disse Aaron David Miller, que assessorou seis secretários de Estado americanos sobre o Oriente Médio. "Netanyahu nada fez nesse sentido."
Eleito pela primeira vez em 1996 com a promessa de reverter um congelamento de quatro anos na expansão dos assentamentos em quase todas as áreas, Netanyahu endossou o conceito de dois Estados ao recuperar o cargo máximo de Israel em 2009, dizendo em seu famoso discurso na Universidade Bar Ilan: "Não pretendemos construir novos assentamentos ou desapropriar mais terras para os assentamentos existentes".
Agora Netanyahu explica suas iniciativas de construção como uma acomodação inevitável ao crescimento natural e diz que só adicionou "algumas casas nas comunidades existentes". Ele refuta qualquer sugestão de que os assentamentos são o núcleo do conflito, notando que árabes e judeus disputavam essa terra muito antes que eles existissem.
Mas o americano que chefiou a última rodada de negociações fracassadas entre israelenses e palestinos, Martin S. Indyk, disse que a "atividade de assentamentos galopante" teve "um impacto drasticamente prejudicial".
Um relatório do grupo antiassentamentos Paz Agora mostrou que o governo emitiu licitações para a construção de 4.485 unidades em 2014. Dois terços da construção nos últimos dois anos, como mostra o relatório, estavam no lado palestino de uma linha traçada pela Iniciativa de Genebra, grupo de trabalho internacional que produziu um modelo de acordo em 2003.
A maior parte do crescimento foi em três blocos de assentamentos perto de Jerusalém e Tel Aviv definidos para trocas de terras com os palestinos em um futuro acordo de paz. Mas apesar de os líderes palestinos terem aceitado o conceito de trocas, nunca entraram em acordo sobre a marcação desses blocos -nem os EUA.
O maior assentamento e de mais rápido crescimento é Modiin Illit, um enclave ultraortodoxo pouco além da linha de 1967 que se espera de modo geral que continue em Israel. Hoje ele tem mais de 60 mil habitantes.
Netanyahu declarou diversas vezes que não criou qualquer novo assentamento, mas isso é uma questão de semântica. Não longe de Eli fica um pequeno lugar chamado Leshem, que começou há dois anos com 104 famílias. O governo diz que Leshem é um novo bairro do assentamento de Alei Zahav, que existe há várias décadas na mesma estrada. Há um surto de construção ainda maior alguns quilômetros a leste, em Bruchin, um dos três postos avançados legalizados retroativamente em 2012 por iniciativa do governo.
Um lugar onde há amplo consenso de que os assentamentos continuarão é o bloco de Etzion, que se estende ao sul de Jerusalém pela Rodovia 60. Havia comunidades judaicas por lá antes do estabelecimento de Israel em 1948. Mas nessa área também as iniciativas de Netanyahu aprofundaram o dilema para os emissários da paz. Efrat, com quase 10 mil moradores, é para os israelenses a capital do bloco de Etzion. Os palestinos, porém, não a aceitam como parte do bloco, porque fica no lado leste da Rodovia 60 -seu lado no mapa da Iniciativa de Genebra. Mas, nos últimos quatro anos, foram publicadas licitações para mais 1.100 novas unidades em Efrat, e a terra preparada estenderia o assentamento ainda mais para leste.
"O que você está fazendo é na verdade afetar a delimitação dos blocos, mas de modo unilateral", disse Gilead Sher, que lidera o grupo Futuro Azul e Branco, que pressiona pelo esvaziamento de alguns assentamentos e o reforço de outros. Sobre Netanyahu, ele acrescentou: "Ele fala sobre a solução de dois Estados, mas faz tudo o que está a seu alcance para deslegitimar essa solução".
São poucos os colonos que veem Netanyahu como um salvador. Dani Dayan, líder do conselho de colonos, disse que Netanyahu vê os assentamentos como "uma ferramenta política", não como uma questão de princípios.
No início de seu primeiro mandato, Netanyahu assinou o acordo de Hebron, retirando israelenses de 80% da cidade bíblica. Mais ou menos na mesma época, porém, ele aprovou Har Homa, um novo bairro no sul de Jerusalém que os palestinos -com os EUA e a Europa- contestaram por bloquear o acesso entre Belém e Jerusalém oriental, que eles reivindicam como sua futura capital. Har Homa tem mais de 25 mil moradores hoje.
"O que está impedindo uma solução do conflito é a recusa a reconhecer Israel como o Estado do povo judeu, certamente não a construção em Gilo", disse Netanyahu em 2013, referindo-se a um bairro de Jerusalém perto de Har Homa.
Foi o anúncio de 700 novos apartamentos em Gilo em 2014 que fez John Kerry, o secretário de Estado americano, desistir de sua iniciativa de paz.
Netanyahu disse, alguns meses depois: "Os franceses constroem em Paris, os ingleses constroem em Londres e os israelenses constroem em Jerusalém".

Nenhum comentário: