quinta-feira, 12 de março de 2015

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 As ruínas de Nimrud, outrora capital do Império Assírio, sobreviveram à pilhagem de seus inimigos durante o século 7º a.C e, enterradas pelo descaso, resistiram à passagem dos séculos. Até a chegada das britadeiras dos militantes do Estado Islâmico.
Essa organização terrorista tem levado a cabo, nas últimas semanas, uma violenta campanha de destruição do patrimônio histórico da região, onde impérios se empilharam uns sobre os outros e deixaram vestígios fundamentais à compreensão da Antiguidade.
Além de Nimrud, sofreram locais como Mossul, Hatra e Khorsabad.
A justificativa da facção fundamentalista, que controla áreas na Síria e no Iraque, é de que tais artefatos, anteriores à chegada da religião islâmica à região, são alvo de idolatria. Os objetos seriam condenados por essa interpretação rígida do islã.
"Pense em elementos essenciais à trajetória da humanidade", diz à Folha Marcelo Rede, professor de história antiga na USP. "A domesticação de animais, o aparecimento da agricultura, os primeiros textos. Destruir isso é condenar parte do passado ao esquecimento."
Rede faz parte de um laboratório francês que atua na região. Em 2014, a França não permitiu a viagem de uma equipe de arqueólogos ao Iraque, após a escalada da violência. "Tive muito medo, e fiquei bem contente por amigos que conheço há quase 20 anos não terem arriscado a vida ali", diz.
Para o professor da USP, o Estado Islâmico usa a destruição do patrimônio como "propaganda de guerra". "Os locais destruídos estão no imaginário de muitos, muitas vezes porque são citados na Bíblia ou por autores clássicos, como Heródoto", diz.
O norte do Iraque é especificamente rico nesses resquícios arqueológicos. "A má coincidência é que essa região, que foi o coração da Assíria, está sob domínio do Estado Islâmico."
As autoridades ainda investigam a dimensão do dano. "Estátuas foram esmigalhadas a marretadas. Para esse tipo de dilapidação, dificilmente haverá possibilidade de restauração", diz Rede.

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