domingo, 30 de agosto de 2015


http://i.ytimg.com/vi/Q89OdbX7A8E/maxresdefault.jpg

Ao pressionar o Congresso pela aprovação de um acordo nuclear com o Irã, o presidente Barack Obama encara um dificuldade: o seu principal argumento a favor do pacto é também sua maior vulnerabilidade.
O acordo nuclear com o Irã impõe limites precisos sobre a quantidade de combustível nuclear que o país pode possuir, quantas centrífugas podem funcionar e qual tipo de tecnologia Teerã pode adquirir. Isso tornará extremamente improvável o desenvolvimento de uma bomba atômica pela República Islâmica nos próximos 15 anos.
No entanto, a maior parte das restrições expira após esse prazo, e então o Irã estará liberado para produzir urânio em escala industrial. "Meu principal senão é o fato de que, em 15 anos, eles terão uma capacidade de enriquecimento altamente moderna e internacionalmente legitimada", disse o deputado Adam Schiff, que apoia o pacto.
Mesmo alguns dos mais entusiasmados partidários do acordo temem que Obama tenha exagerado ao dizer que o pacto "bloqueia" todos os caminhos de Teerã na direção das armas nucleares.
Uma descrição mais precisa é que o acordo deverá retardar o programa iraniano em uma década e meia -assim como as sanções e sabotagens contra o Irã fizeram nos últimos anos.
"Claro que existem riscos, e eles têm que ser reconhecidos", disse Nicholas Burns, que foi subsecretário de Estado no governo de George W. Bush e defendeu o acordo em depoimento ao Congresso. "O argumento mais convincente" de Obama, segundo ele, "é que não há alternativa melhor".
Pelo acordo, as sanções econômicas contra o Irã só começarão a ser suspensas depois que o país reduzir para 300 kg o seu estoque de urânio fracamente enriquecido. Esse volume -uma redução de 98% em relação ao estoque atual, de cerca de 12 toneladas- não seria suficiente para fazer nem uma só arma nuclear.
O acordo também prevê inspeções regulares nas instalações nucleares do Irã e determina a retomada das sanções internacionais se os iranianos forem flagrados trapaceando.
Mas o lado negativo é que, depois de 15 anos, o Irã teria autorização para produzir grandes quantidades de combustível para seus reatores, usando centrífugas mais avançadas. Isso pode significar que a margem de reação se o Irã decidir produzir uma bomba às pressas será reduzido para semanas, segundo uma recente análise do Instituto Brookings.
Críticos dizem que, ao fim do prazo determinado no acordo, a economia do Irã estará mais fortalecida, bem como sua capacidade de suportar sanções econômicas, e suas instalações nucleares provavelmente estarão mais protegidas pelos sistemas de defesa aérea que o Irã deverá adquirir da Rússia.
Sob as restrições previstas, o Irã precisaria de um ano para produzir material nuclear suficiente para uma bomba; atualmente, esse prazo seria de dois ou três meses, segundo agências de inteligência americanas. Mas, em dez anos, esse período voltaria a encolher, já que o Irã poderá colocar mais centrífugas em operação.
Autoridades dos EUA argumentam que previram a possibilidade de o Irã querer produzir combustível adequado para armas no futuro, e por isso os negociadores garantiram uma proibição permanente na metalurgia necessária para transformar o combustível em bombas atômicas.
Os defensores do acordo apostam que o aperfeiçoamento das atividades de inteligência impediria o Irã de preparar uma bomba às pressas. O tratado determina que os inspetores poderão monitorar durante até 20 anos a produção de motores e outros componentes para centrífugas, além de fiscalizar durante 25 anos os estoques iranianos de concentrado de minério de urânio.
Para alguns, os EUA deveriam avisar o Irã de que a produção de urânio altamente enriquecido após o término das principais disposições do acordo seria encarada como uma indicação de que Teerã decidiu buscar armas nucleares -e poderia desencadear uma ação militar americana.
Uma questão que atraiu muita atenção é a regra dos "24 dias" para a resolução de litígios se o Irã se recusar a permitir inspeções em locais sob suspeita -outra regra que expira após 15 anos.
Críticos dizem que isso é muito diferente do acesso "a qualquer lugar e a qualquer hora", expressão que pessoas ligadas ao governo usavam meses atrás, mas da qual depois se arrependeram.
Se o Irã rejeitar uma inspeção, uma comissão -que inclui o próprio Irã- poderá decidir sobre medidas punitivas, incluindo a retomada das sanções econômicas. Para isso, basta a maioria simples, de modo que as sanções poderiam entrar em vigor mesmo com a objeção do Irã, da China e da Rússia.
Essa é a teoria. Na prática, a retomada das sanções poderia ser politicamente difícil. O Irã diz que, se as sanções forem restabelecidas, a República Islâmica deixará de cumprir o acordo.

Nenhum comentário: