sábado, 7 de novembro de 2015


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Em uma cultura em que os funerais são acontecimentos elegantes que duram três dias, com centenas de convidados, o velório de Song In-sik foi modesto. Tinha um só convidado —um voluntário para realizar um ritual para uma pessoa que não conhecia.
Park Jin-ok colocou uma mesa de frutas, peixe seco e flores artificiais diante da unidade que continha os restos mortais de Song no necrotério do Hospital Sungae. Ele queimou incenso e se inclinou antes que o diretor do mortuário lhe pedisse para sair.
Song, 47, teve sorte de ter uma cerimônia. Um número crescente de sul-coreanos está morrendo sozinho, sem nenhum parente para fazer um ritual que eles acreditam ser essencial para a passagem para o outro mundo.
O aumento das chamadas mortes solitárias —de 682 em 2011 para 1.008 no ano passado— oferece uma visão de como a estrutura familiar está mudando na Coreia do Sul.
Apesar de a maioria ter se beneficiado da pujança econômica das últimas décadas, as famílias sofrem a pressão do crescimento econômico e demográfico.
“Os que ficam para trás são cada vez mais solitários, porque, ao contrário dos pobres de antigamente, eles veem suas comunidades destruídas”, disse o reverendo Kim Keun-ho. “Os pobres e velhos não têm para onde ir.”
Kim e outros situam o problema na crise financeira asiática dos anos 1990, quando o emprego vitalício desapareceu. Muitos que perderam seus empregos então nunca os recuperaram.
Sua queda simboliza o desmoronamento de um contrato social confuciano que regeu os coreanos durante eras. Os pais gastavam todas as suas economias em prol do sucesso dos filhos, e contavam com seu apoio na velhice. Hoje, muitos se veem sem poupanças para a aposentadoria ou filhos capazes de sustentá-los.
“Uma sociedade que deixa seus pobres e abandonados morrerem sozinhos e partirem sem funeral está morrendo em seu coração”, disse Park, cujo grupo, Nanum & Nanum, é um dos que fazem funerais para quem morrem só. “Eles passam seus últimos dias temendo que seus restos sejam tratados como lixo.”
Na Coreia do Sul, a posição de uma família é medida durante um funeral. Centenas de parentes, amigos e colegas podem aparecer para fazer reverência diante do retrato do falecido.
Os convidados com frequência se sentam no chão e conversam, enquanto a família lhes oferece comida e bebida. Os convidados geralmente trazem dinheiro para ajudar a família. Mas para os pobres tal acontecimento está fora de alcance. Alguns não conseguem sequer recuperar o corpo.
A Coreia do Sul tem uma das sociedades que envelhecem mais depressa no mundo. Hoje os maiores de 65 anos representam 13,1% da população, contra 3,8% em 1980. Cerca de 30% das famílias mais antigas têm renda inferior ao nível de pobreza absoluta.
O medo do destino desconhecido perturbava Ham Hak-joon, 87, que vive sozinho em um quarto alugado por US$ 130 ao mês em um bairro decadente.
Seu temor foi superado quando a Nanum & Nanum concordou em realizar seu funeral. “Estou preparado agora, pronto para morrer”, disse ele.

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