domingo, 27 de outubro de 2013


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 Meena, 20, também foi uma menina de aldeia, então é capaz de reconhecer as mudanças que acontecem quando as meninas do interior chegam à cidade para estudar e tomam seus primeiros goles de liberdade.
A calça jeans, proibida em casa, está amarrotada num canto da mochila para uma mudança de roupa no meio do dia. Um telefone celular foi adquirido e mantido no modo silencioso.

Ela sempre diz: você nunca sabe quem pode estar olhando. Se a notícia chega à aldeia de que uma jovem pisou fora das fronteiras morais da aldeia --pode ser algo tão simples quanto ser vista conversando com um grupo de amigos homens depois de uma aula-- sua vida pode se destruir em um dia.
"Digo a elas: temos que ter cuidado", disse Meena. "Talvez elas não estejam cientes de que alguém pode vê-las e contar na aldeia."
À medida que as jovens indianas deixam suas casas na zona rural para concluir sua educação nas cidades, muitas vezes no papel de primeiras mulheres de suas famílias a fazerem isso, elas agem como os estudantes universitários de toda parte, ultrapassando os limites de sua independência. Mas aqui na região agrícola do Estado de Haryana, onde os códigos morais medievais são policiados por uma rede de vizinhos e parentes homens, a experiência é um pouco diferente. Há sempre o risco de que alguém esteja coletando informações na surdina.
O velho e o novo estão continuamente se esbarrando na Índia, mais drasticamente em lugares como Haryana, um Estado em grande parte rural e conservador adjacente a Nova Déli, cujos habitantes podem viajar até 32 quilômetros para trabalhar em casas noturnas e prédios de escritórios. Mas suas aldeias são lugares sonolentos, em que búfalos pesados e de pelo brilhante patrulhando as ruas.
As aldeias são governadas por khap panchayats, conselhos não eleitos compostos apenas por homens que desempenham um forte controle sobre a vida social, inclusive sobre o comportamento das mulheres. Esse trabalho se torna muito mais difícil uma vez que as mulheres vão embora para a cidade. Quando um líder khap listou as lojas da cidade que permitiam que as jovens guardassem seus telefones celulares e se trocassem para vestir roupas ocidentais, outro sugeriu colocar informantes fora as lojas com câmeras para gravar provas fotográficas das mulheres que entravam e saíam.

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Om Prakash Dhankar, um líder Khap que expressou seu apoio a essa abordagem, disse que medidas como essas protegem as jovens de perigos muito piores que podem acontecer se elas cultivam livremente amizades com homens.
"O celular desempenha um papel fundamental", disse ele numa entrevista. "Você ficaria surpreso ao saber como isso acontece. Uma jovem senta-se num ônibus, liga para um amigo, pede para que ele coloque crédito no celular dela. Será que ele vai colocar esse dinheiro no celular de graça? Não. Ele vai encontrá-la num determinado lugar, com outros cinco amigos, e chamarão isso de estupro."
Há uma geração, as mulheres aqui viviam em completo isolamento dos homens, e só podiam aparecer em público usando um tecido leve que cobria completamente a cabeça e a face. Apesar de a tradição estar acabando, muitas mulheres ainda não podem sair de casa sem a permissão de um pai ou marido.
Os khaps de Haryana concentram grande parte da sua energia defendendo uma única proibição antiga: homens e mulheres não são autorizados a se casar com alguém da mesma vila. A interpretação local dos textos hindus antigos considera os moradores de um mesmo vilarejo como irmãos e irmãs, tornando suas uniões incestuosas. Os jovens desafiam a proibição muito raramente, mas aqueles que o fazem às vezes são assassinados por uma gangue de parentes homens. Por mais que os khaps condenem esses "crimes de honra", também são inflexíveis quanto a prevenção desses romances, uma missão que envolve um rígido controle sobre as mulheres.
Meena, que deixou sua aldeia há vários anos para fugir de um casamento arranjado, disse que as mulheres jovens de lá estavam aterrorizados com os anciãos do khap, que examinavam o comportamento delas e emitiam um fluxo constante de críticas. A crítica, por sua vez, amedrontava seus pais, que temiam ser condenados ao ostracismo.
"Eles dizem: 'porque sua filha está andando na aldeia com a cabeça descoberta?'", diz ela. "Se andasse com a cabeça erguida, os khap diziam: 'olhe para o chão, não faça contato visual. Não tenha conversas irrelevantes."
Se a sua influência se estende às jovens universitárias em Rohtak, uma das maiores cidades de Haryana, é outra questão.
Enquanto um fluxo de jovens mulheres saía pelos portões da Maharishi University Dayanand recentemente, andando pela rua na luz dourada da tarde, algumas contavam sobre a alquimia que acontece quando as mulheres jovens dos vilarejos se misturam com colegas das grandes cidades. Algumas embarcam em romances ilícitos, algo estritamente proibido em casa. Mas, para muitas, as mudanças são modestas.
"Nas cidades, as jovens têm telefones, porque os pais lhes dão, mas na aldeia elas não têm telefones", disse Sunita Meham, 23. "Ela vem para a faculdade e vê que outras pessoas usam telefones, de modo que ela também quer usar um. Se os pais concordam, e se seus amigos telefonam para ela naquele número, dizem 'por que você têm tantos amigos?' Para evitar todas essas perguntas, ela tem um telefone secreto."
Satish, que administra uma loja de fotocópias ao lado da faculdade, disse que os khaps estão simplesmente longe demais para monitorar o comportamento das estudantes. Os telefones são muitas vezes trocados como presentes e mantidos em segredo da família, disse ele. "Em geral", diz ele, "todo mundo por aqui tem dois celulares, pelo menos."
Sonal Dangi, 20, deu de ombros para a conversa sobre os controles rígidos. A mudança social abraçou Haryana, disse ela, e ela não poderia ser interrompida.

"Tudo tem seu lado positivo e negativo", diz ela. "Mas eles não podem impedir isso."
Mas outras foram muito mais cautelosas. Os árbitros morais da aldeia têm informantes em todos os lugares, disse Meena. Policiais muitas vezes trabalham com os khap, disseram muitas. Um jovem da mesma aldeia pode informar à família de uma mulher se a viu andando com um homem, disseram outras. Da mesma forma que o condutor de riquixá que a levou para a cidade.
Mesmo dentro dos panchayats khap, parece haver pouco consenso sobre como ou por que manter a vigilância sobre as jovens longe de casa. Em entrevistas, muitos líderes khap locais zombaram da noção de colocar unidades de vigilância em locais onde as jovens trocam suas roupas tradicionais.
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Mas Dhankar não se intimida, e diz que as fotografias poderiam ser mostradas para os pais das meninas ou para policiais amigáveis, que poderiam ameaçar fazer acusações criminais forjadas a menos que o comportamento fosse evitado. Grandes perigos estão à espreita quando uma jovem mulher guarda segredos de sua família, disse Dhankar.
"Começa com uma pequena mentira", disse ele. "Então, elas começam a emprestar dinheiro e fazer outras coisas ruins. O resultado final é que ela cometerá suicídio ou alguém vai matá-la."
Enquanto ele explicava isso, sua filha, professora de ciências do ensino médio de 40 e poucos anos, entrou na conversa com uma forte visão dissidente, e Dhankar admitiu alegremente que as mulheres de sua casa geralmente ignoram o que ele diz.
Mais sério, ele acrescentou que era equivocado ver qualquer colisão de interesses entre as mulheres jovens e os tradicionalistas da aldeia. Eles estão, segundo ele, no mesmo time.
"Enquanto a jovem viver dentro dos códigos morais, ela pode ter tanta liberdade quanto quiser", disse ele. "Se elas forem atrás de casos amorosos ou mais liberdade, então são mortas."









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