terça-feira, 4 de novembro de 2014


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Num dos maiores protestos pró-democracia em Hong Kong, na noite de 4 de outubro, a cantora pop local Denise Ho apresentou uma nova canção, "Raise the Umbrella", referência aos guarda-chuvas que muitos manifestantes do local vêm usando para se proteger contra spray de pimenta. Dezenas de milhares de pessoas extáticas agitaram no ar seus celulares ligados.
Mas é pouco provável que Ho cante a mesma música na China continental, de onde, conforme revelou outro dia, ela recebe 80% de sua renda, principalmente de shows. Ela não recebe convites para cantar na China desde o verão, quando começou a demonstrar publicamente seu apoio ao movimento pró-democracia.
Recentemente, uma grife de moda cancelou um trabalho com ela, sem citar qualquer motivo especial para isso.
Anthony Wong, outro cantor de Hong Kong, contou que dois shows que ele faria em novembro na China continental foram "adiados por tempo indeterminado" pelos organizadores e que não tem mais convites pendentes para se apresentar lá.
"É só um palpite, mas acho que querem nos proibir porque têm medo de ouvir posições divergentes", disse Wong. "Têm medo que possamos difundir nossas posições. É uma tentativa de nos punir, claro."
Wong, Ho e outras figuras artísticas de Hong Kong e Taiwan -incluindo atores como Chow Yun-fat e Tony Leung e um cineasta, Shu Kei- estão entre os rostos mais reconhecíveis vistos nos protestos que ocupam partes de Hong Kong há semanas. Representantes da mídia estatal chinesa os acusam de deslealdade a seu país.
Fotos de uma lista que continha os nomes de Anthony Wong, Denise Ho e outros artistas circularam recentemente nas mídias sociais. Consta que seria uma lista negra enviada a veículos de mídia noticiosa e empresas de entretenimento da China continental, com instruções de não mencionar ou citar os artistas incluídos.
Uma celebridade americana, o saxofonista de jazz Kenny G, parece ter se envolvido em controvérsia quando postou na internet fotos dele próprio em um dos locais dos protestos.
Mais tarde, o músico, que tem muitos fãs na China continental, deletou as fotos e divulgou declarações dizendo que não teve a intenção de manifestar apoio aos protestos. Num comentário, a agência de notícias estatal, a Xinhua, deu a entender que haverá outras consequências para as celebridades de Hong Kong.
"Vocês violaram os princípios de 'um país, dois sistemas', contestaram a autoridade do partido central, ignoraram a Lei Básica e ganharam muito dinheiro, mas depois se voltaram contra sua pátria e a repreenderam", diz o comentário, citando por nome Denise Ho, Anthony Wong e um ator de Hong Kong, Chapman To. "É assim que tratam o país que deu à luz a vocês e os criou?"
"Chapman To e todos, não pensem que podem comer nossa comida e destruir nossas panelas ao mesmo tempo", avisou o comentário.
Não está claro com que rigidez será aplicada uma lista negra, se é que ela existe. Por exemplo, a emissora pública CCTV não cancelou a transmissão do filme "Mr. Cinema", de 2007, protagonizado pelo ator Anthony Wong Chau-sang, cujo nome estaria na lista negra, mas livros do autor popular Giddens Ko foram tirados das estantes das principais livrarias da China continental.
Os protestos criaram uma divisão entre as celebridades de Hong Kong.
Muitas delas ficaram em silêncio, enquanto outras criticaram os protestos abertamente. Numa mensagem postada no Sina Weibo o diretor de cinema Wong Jing declarou que estava tirando Denise Ho, Chapman To e Anthony Wong, o cantor, de sua lista de amigos.
Wong prometeu continuar a apoiar os protestos.
"Isso nos afeta muito porque boa parte de minha renda vem da China -mais da metade", disse. "Mas acho que é isso que precisamos fazer. Nosso mercado e dinheiro na China não são mais importantes que a necessidade de dizer o que pensamos."

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