segunda-feira, 17 de agosto de 2015


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A competição é dura. Militantes armados com fuzis, aviões bombardeando indiscriminadamente, e Sara Ishaq só tem em mãos uma câmera. Mas essa diretora, de pai iemenita e mãe escocesa, insiste: quer ajudar seu país por meio do cinema.
Autora dos documentários "Indignação Não Tem Muros" e "A Casa das Amoreiras", ela falou à Folha por telefone diretamente de Sanaa, capital do Iêmen, após ser confirmado que ambos os filmes serão exibidos no Brasil.
As produções de Ishaq serão dois dos destaques da 10ª edição da Mostra Mundo Árabe de Cinema, que estreia nesta quarta (12) com mais de 30 filmes no catálogo. Haverá exibições em São Paulo, Rio, Vitória e Belo Horizonte.
"Se um filme incentiva o diálogo e expõe as pessoas a culturas diferentes, ele tem impacto na sociedade", diz a diretora, que recentemente organizou um curso de cinema em Sanaa e tem montado seu próprio coletivo artístico.
Metade da população tem menos de 15 anos no Iêmen, o país árabe mais pobre. "Estão entediados e não sabem se expressar. Decidem participar de conflitos. Se pudessem se expressar pela arte, o país tomaria outra direção."
Ishaq cresceu no Iêmen. Aos 17 anos, mudou-se à Escócia para viver com a mãe, que havia se divorciado. Ela voltou a Sanaa, em 2011, para filmar seu projeto de graduação em cinema. Sua visita coincidiu com os protestos que levaram à saída do ex-ditador Ali Abdullah Saleh.
Os conflitos nas ruas foram material para seu documentário "Indignação Não Tem Muros", indicado ao Oscar. Desde então, ela tem viajado frequentemente ao país para filmar e incentivar outros que filmem também.
"Os padrões de cinema são baixos no Iêmen. Mas mostramos que é possível fazer um filme mesmo com os problemas de segurança e os cortes de eletricidade", diz. "Isso mudou a perspectiva dos jovens e deu esperança para que eles trabalhem, apesar das circunstâncias."
Segundo Ishaq, há suficientes câmeras no país, e os aspirantes a cineasta aprendem a manejá-las com tutoriais na internet. "Mas não há uma cultura de cinema. A abordagem deles é convencional, sem ângulo artístico."
O workshop que Ishaq organizou em Sanaa durou duas semanas, com debates com outros cineastas pelo Skype. "Discutimos com vários artistas do Oriente Médio sobre qual é o impacto da arte nos conflitos", diz.
Esta será a décima edição da Mostra Mundo Árabe de Cinema, e também a sua maior. É a primeira vez que esse evento leva obras a Belo Horizonte e Vitória. "Há demanda pelo cinema árabe em outras regiões", diz à reportagem o curador e diretor Geraldo Godoy de Campos.
O décimo ano da mostra será pautado pela relação entre o cinema árabe e outras modalidades artísticas, como a música e a literatura.
Nessa proposta, um dos principais convidados é o jornalista e crítico de cinema Alaa Karkouti. O festival também terá a participação do produtor musical marroquino Brahim el Mazned.
Haverá debates e apresentações musicais durante os dias de evento. O festival homenageia, neste ano, o escritor Raduan Nassar com a exibição do filme "Lavoura Arcaica" (2001) e a participação do escritor Milton Hatoum ("Dois Irmãos").
Apesar do recente foco nas relações entre cinema e outras artes, a Mostra Mundo Árabe de Cinema não deixará para trás, nesta sua décima edição, uma das questões que marcaram o festival desde seu início: a relação entre o cinema e a política.
A sessão "Cinema Palestino", assim, passa agora a ser parte da estrutura permanente do evento. No dia 29, o ativista palestino-americano Amin Hussain conversa com o público no Matilha Cultural acerca da "responsabilidade do cinema sobre o retrato da questão palestina".
MOSTRA MUNDO ÁRABE DE CINEMA 

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