Nas últimas semanas,
o rabino Stuart Weinblatt tem sido procurado por membros de sua sinagoga, nos
arredores da capital americana, com uma preocupação bem mais terrena que as
habituais dúvidas espirituais: o acordo nuclear com o Irã.
"Alguns chegam
com lágrimas nos olhos", DIZ Weinblatt, um proeminente líder da comunidade
judaica de Washington. "O temor é real".
A preocupação com os
riscos à segurança de Israel é compartilhada por uma parcela considerável da
comunidade judaica americana. Mas muitos de seus integrantes apoiam a
iniciativa, por confiarem na tese do presidente Barack Obama de que ela
neutraliza o potencial iraniano de produzir armas nucleares e reduz a ameaça a
Israel.
As diferenças de
opinião se transformaram em uma batalha midiática movida a milhões de dólares
entre os principais lobbies pró-Israel dos EUA, com o objetivo de convencer o
público e membros do Congresso, onde o acordo será votado em setembro.
Na última quinta (6),
o time do "não" ganhou um aliado de peso. O senador democrata Chuck
Schumer, considerado o político judeu mais influente do Congresso, declarou que
não apenas votará contra o acordo, mas se esforçará para persuadir seus colegas
do partido governista a fazerem, o mesmo.
A decisão, explicou
Schumer em um longo comunicado, foi tomada após leitura cuidadosa do acordo
alcançado em julho entre Irã e o grupo P5+1, formado por EUA, Rússia, China,
França, Reino Unido e Alemanha.
Embora o governo
americano tenha lançado uma cruzada de relações públicas para defender o trato,
para o senador os argumentos do lobby contrário foram mais convincentes: o
sistema de inspeções é insuficiente, o fim das sanções econômicas ajudará o Irã
a financiar atividades terroristas e, em dez anos, o país estará livre para
desenvolver armas atômicas.
"O risco de que
o Irã não se tornará moderado e usará o acordo para alcançar seus objetivos
nefastos é grande demais", afirmou Schumer.
A decisão foi uma das
maiores vitórias do principal lobby pró-Israel dos EUA, o Comitê
Americano-Israelense para Assuntos Públicos (Aipac, na sigla em inglês).
Determinado a
torpedear o acordo no Congresso e desacreditá-lo ante o público, o Aipac
investirá de US$ 20 milhões a US$ 40 milhões numa campanha que inclui anúncios
na TV e palestras.
O foco, segundo o
jornal "Washington Post" são as áreas onde há forte presença judaica
e os congressistas democratas judeus, vistos como fiéis da balança na votação
do acordo. Será uma tarefa difícil: para barrar um veto presidencial à eventual
reprovação do pacto no Congresso, são necessários ao menos 44 votos democratas na
Câmara e 13 no Senado.
Obama, no entanto,
não quer correr nenhum risco de ver uma das maiores conquistas em política
externa de seu governo ser derrotada.
A conversa com
aliados na semana passada, incluindo outro grupo pró-Israel, J Street, o
presidente pediu para que não baixem a guarda. "O lobby do outro lado é
feroz e implacável", disse.
Criado em 2009, ano
em que Obama tomou posse, o J Street se espelha na tradição da esquerda
israelense de que a paz com os vizinho é a melhor forma de garantir a segurança
de Israel.
Embora tenha muito
menos recursos financeiros que o Aipac, o grupo também lançou sua campanha
sobre o acordo com o Irã, travando um duelo nas páginas de jornais e canais de
TV que exacerbou as diferenças entre os principais lobbies judaicos.
O racha transcende a
política, diz Greg Rosenbaum, presidente do Conselho Nacional Judaico
Democrata, ligado ao partido de Obama.
"Passamos do
ponto de ter um debate civilizado, [a disputa] agora é quase fratricida",
disse ele a jornalistas israelenses. "Já não
sei se podemos reparar o estrago."
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