Quando as autoridades
da Tailândia interceptaram grandes quantidades de marfim em meio a cargas de
feijão e folhas de chá, as apreensões foram descritas como um marco na
colaboração policial internacional.
No entanto, houve uma
grande omissão na operação, que esteve em curso durante os últimos quatro meses
e localizou mais de 1.300 presas de elefantes: não houve cooperação nem
detenções no país ao qual o marfim se destinava, o Laos.
Vizinho da Tailândia,
o Laos nos últimos nos se tornou um importante ponto de trânsito para diversas
espécies animais exóticas e ameaçadas.
Muitos países em todo
o mundo reforçaram suas campanhas contra as quadrilhas de tráfico de animais
que estão despovoando as selvas asiáticas e a savana africana de elefantes,
rinocerontes e outras espécies, muitas das quais consideradas como raras
iguarias em partes da Ásia. Porém, o Laos, dirigido por um governo comunista
misterioso e autoritário, destaca-se como bastião de impunidade.
Quadrilhas de
criminosos se aproveitam da fraqueza das leis no Laos, disse Steven Galster,
diretor executivo da Freeland, organização de combate ao tráfico de animais
sediada em Bancoc. "Fica bem claro que bandidos chineses e vietnamitas
estão usando o Laos como área de trânsito e trasbordo preferencial."
Phonesavanh
Sophakhamphanh, diretor assistente da divisão de inspeção de fauna no
Departamento de Inspeção Florestal do Laos, negou que autoridades laocianas
estejam se beneficiando do tráfico e sustentou que seu país se tornou destino
para esse comércio involuntariamente. "O Laos não é o país que está
matando os animais", disse Phonesavanh. "Eles são mortos em países
africanos. Estamos prontos a coordenar nossas ações com todos os
envolvidos."
No entanto,
autoridades policiais e de justiça nos países vizinhos e grupos de combate ao
tráfico de animais dizem que informações muito específicas foram fornecidas ao
Laos em diversas ocasiões e que nada foi feito com elas.
Um dos mais
proeminentes traficantes de animais do planeta, dizem as autoridades norte-americanas,
é o empresário laociano Vixay Keovasang. Ele tem tão pouco medo de ser apanhado
que em uma ocasião ordenou o envio de presas de rinoceronte diretamente para
seu endereço, de acordo com documentos submetidos no julgamento de um de seus
comparsas na África do Sul.
Da mesma forma, um
embarque de 270 quilos de presas de elefante interceptado em 2009 pelas
autoridades quenianas estava sendo enviado à companhia de Vixay no Laos.
Em 2013, os EUA
ofereceram US$ 1 milhão a qualquer pessoa que ajudasse a desmantelar a rede de
tráfico de animais de Vixay. Ele continua livre.
Em abril, as
autoridades tailandesas localizaram o maior dos três embarques para o Laos
interceptados recentemente: mais de 700 presas em um contêiner de feijões da
República Democrática do Congo. O valor da apreensão foi estimado em US$ 6
milhões. "Pelo que sabemos, há muito feijão no Laos", disse Chamroen
Photiyod, da alfândega tailandesa. "Não entendemos por que eles precisavam
importar feijões do Congo. "
A alfândega
tailandesa contatou a embaixada laociana, disse Chamroen. No entanto, a
embaixada insistiu em que os pacotes fossem embarcados para o Laos. As
autoridades tailandesas os abriram mesmo assim.
Phonesavanh disse que
as autoridades laocianas investigaram o endereço que constava da carga e só
encontraram "pessoas rurais", que lhes disseram "nada
saber" sobre o marfim.
"Não há prova
alguma", disse. "Não podemos prender pessoa alguma. Não temos
pistas".
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