quarta-feira, 23 de setembro de 2015

As lições de Fukushima 

Até agora, acidente nuclear em 2011 não causou nenhuma morte ou câncer por causa da radiação; especialistas questionam se evacuação não foi exagerada

Noell_01
Há quatro anos, o acidente nuclear em Fukushima, no Japão, levou a uma grande evacuação, inclusive de pacientes internados em hospitais. Agora, os especialistas passam a se questionar: será que era mesmo o caso? No último mês, a Agência Internacional de Energia Atômica apontou que, até agora, ninguém morreu ou mesmo ficou doente por causa da radiação emitida no episódio. Mesmo entre os trabalhadores da usina, os dados têm indicado que não haverá casos de câncer além do normal, embora seja preciso aguardar mais anos para ter certeza. O esforço de evacuação, porém, deixou 1.600 mortos. Um pequeno encontro científico em Tóquio discutiu o assunto recentemente. "O governo basicamente entrou em pânico", disse o oncologista Mohan Doss, que participou do evento. "Quando você evacua uma unidade de tratamento intensivo, você não pode simplesmente levar os pacientes a uma escola e esperar que eles sobrevivam." O nível de radiação, dizem os cientistas, não era tão elevado a ponto de justificar tais medidas. Houve várias vítimas fatais também entre pacientes de asilos, cuja fragilidade dificultou sua evacuação. O problema é que era difícil saber a priori que a radiação seria em boa medida levada pelo vento em direção ao mar. Os habitantes com maior exposição teriam encarado 70 milisieverts de radiação, valor não muito maior do que o de uma tomografia de alta resolução de corpo inteiro ao ano desde o acidente. A maior parte dos moradores, porém, não deve ter recebido mais do que 4 milisieverts –a exposição natural de radiação ao ao livre, na terra, é de 2,4 milisieverts por ano. Nos EUA, Doss e outros dois pesquisadores, Carol Marcus e Mark Miller, respectivamente da Universidade da Califórnia em Los Angeles e do Laboratório Nacional de Sandia, no Novo México, fizeram uma petição à Comissão de Regulação Nuclear pedindo revisão das regras de evacuação. De qualquer modo, ainda é difícil saber qual grau de exposição à radiação é seguro –alguns estudos defendem que o melhor é evitar ao máximo, enquanto outros apontam que um pequeno grau seria até benéfico. Estudos com os sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki, por exemplo, são controversos. Como seria imprudente expor pessoas à radiação para testar os efeitos, testes mais controlados são difíceis de se realizar. Um experimento ocorreu sem querer três décadas atrás em Taiwan, quando cerca de 200 prédios, onde moravam 10 mil pessoas, foram construídos a partir de aço contaminado com cobalto radioativo. Ao longo dos anos, os moradores foram expostos a doses de cerca de 10,5 milisieverts ao ano, mais do que o dobro da exposição estimada em Fukushima. Um estudo de 2006 mostrou que não houve mais casos de câncer do que o esperado na população em geral –na verdade, até um pouco menos, embora isso possa ser somente uma oscilação estatística. Toda a discussão sobre a dificuldade de chegar a um protocolo confiável e eficiente de evacuações em casos de acidentes radioativos tem a ver, no final, com a dificuldade humana de lidar com riscos –às vezes, na tentativa de evitar um mal assustador, acabamos criando problemas ainda maiores.

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